Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Políticos não levam em
conta pesquisas de opinião

Mais uma vez, o povo se manifestou contra a impunidade no Brasil. Agora, foi através de uma pesquisa realizada no Senado, cujos dados revelam que 87% das pessoas querem punição igual para adultos e menores criminosos. 69% defendem que não haja teto de 30 anos para cumprimento de pena. 93% não admitem benesses para crimes hediondos. 75% acham que a punição de caráter perpétuo resolveria a insegurança nas ruas (Agência Senado, 18/4/2007). Só a esfera política não se toca para esta triste realidade.


Enquanto a população brasileira pede providências urgentes contra a violência no país, no Congresso Nacional a preocupação é outra. Como mostrou Ranier Bragon (Folha de S.Paulo, 10/5/2007), a Câmara Federal aprovou, na quarta-feira (9/5), aumento de 28,5% nos salários dos 594 congressistas, do presidente da República, do vice e dos 34 ministros, apesar de recuos de última hora e bate-bocas entre governo e oposição. Sorrateiramente, os deputados aproveitaram o foco da imprensa para a chegada do papa ao Brasil e não deu outra… Engordaram seus contracheques.


Por que se preocupar com segurança pública, se eles e seu milionário séqüito de servidores estão seguros, cercados de regalias e privilégios, distantes do país cruel e perigoso em que os pobres brasileiros teimam em viver? Por que se preocupar com quem vive se esgueirando de bala perdida em cada esquina? Por que não deixar as coisas como estão, se na próxima eleição o voto está garantido? Por que criar medidas contra a impunidade, se elas podem se voltar contra eles próprios? Nem pensar!


E a guerra continua…


Depois, culpam a imprensa por serem tão desacreditados entre a população. Ainda mais quando a mídia mostra senador denunciado pela Polícia Federal por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro (Folha Online, 5/5/2007). O Conselho de Ética da Câmara decide não abrir processos contra os deputados acusados de irregularidades em legislaturas anteriores (Folha Online, 26/4/2007) e até juizes e desembargadores envolvidos com o crime organizado, maculando a imagem de um dos poderes que, até então, se mantinha livre de arranhões.


Mas, nem só de podridão vive a política nacional. Há aqueles que propõem novas opções para combater o crime organizado, como a criação do programa Tolerância Zero, como fizeram os norte-americanos em Nova York. Só que tal projeto é sugerido apenas pela minoria do Congresso Nacional. A maioria, composta de políticos ‘bonzinhos’, não aceita punição rigorosa aos bandidos nem apresenta alternativa contra a criminalidade. Para eles, a vítima da barbárie não merece sua atenção. Quem merece cuidado especial é o bandido.


Um exemplo aconteceu em 25/4/ 2007, quando a Comissão de Constituição e Justiça aprovou o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que reduz a maioridade penal para 16 anos. Naquela data, o Brasil assistiu a uma das cenas mais patéticas dos últimos tempos. Uma senadora, inconformada com o resultado da votação, saiu aos prantos da sessão da CCJ (jornal O Povo, 28/4/ 2007). Apesar das lamúrias, a senadora não ofereceu solução alguma como tratar o menor infrator. Ou ela quer deixar as coisas como estão? Enquanto isso, a guerra urbana continua…

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Jornalista, Salvador, BA