Os jornais celebram o acordo entre a União e o governo paulista com relação ao aumento da violência na região metropolitana de São Paulo. Basicamente, trata-se da criação de uma agência de inteligência, integrada por órgãos federais e estaduais, para monitorar as atividades do crime organizado, transferência e isolamento de chefes de facções criminosas em presídios federais, ampliação das atividades de contenção, com operações em portos, estradas, rodoviárias e aeroportos, para combater o tráfico de drogas e armas, criação de uma central de perícias técnicas, controle das finanças de criminosos e suspeitos e desenvolvimento de um programa de combate ao consumo de crack.
Segundo especialistas ouvidos pela imprensa, trata-se de medidas que deveriam fazer parte das políticas de segurança pública em todo o país e que, na circunstância que se vive em São Paulo, não prometem resultados imediatos no que se refere ao estado de guerra entre a Polícia Militar e a principal organização que controla o tráfico de drogas e outros crimes no estado.
O convênio lembra muito o conjunto de medidas tomadas no Rio de Janeiro, há dez anos, quando traficantes atacavam instalações policiais, queimavam ônibus, cometiam atentados a bomba e ordenavam o fechamento do comércio e de escolas.
Vive-se em São Paulo situação semelhante, embora com menor intensidade, na qual a insegurança faz com que lojas e escolas sejam constantemente fechadas por conta de boatos ou após avisos explícitos de emissários do crime.
Clima de torcidas
No Rio, essa primeira medida de integração levou ao projeto das Unidades de Polícia Pacificadora, que vem produzindo resultados mas tem sido acusada de permitir, em alguns casos, a substituição dos traficantes por milícias de policiais corruptos, que acabam por repetir em algumas comunidades o mesmo esquema de dominação que submete a população à tirania de criminosos organizados.
De qualquer maneira, é um passo importante o fato de os dois níveis de governo haverem abandonado, pelo menos temporariamente, a disputa política que coloca em campos opostos PT e PSDB, em benefício do interesse público.
O permanente clima de confronto entre os dois partidos que representam as principais forças políticas do país tem produzido grandes atrasos em questões essenciais para o desenvolvimento do Brasil.
Ainda nas edições de quarta-feira (7/11), os jornais noticiam uma derrota do governo na votação do projeto sobre royalties da exploração do petróleo e uma iniciativa de parlamentares da oposição pedindo à Procuradoria Geral da República a reabertura de investigações sobre corrupção com o objetivo de atingir o ex-presidente Lula da Silva. O noticiário se concentra na disputa partidária, mas não esclarece o significado dos fatos para o interesse do leitor.
A disputa política é parte do jogo, mas produz distorções quando a imprensa entra em campo como agente ativo e engajado, o que pode ser constatado quase diariamente.
No caso da segurança pública, o que provocou atraso nas medidas destinadas a conter a onda de violência em São Paulo foi justamente o clima de torcidas de futebol que nasce nas fileiras partidárias e encontra grande repercussão e protagonismo na imprensa. Por conta dessa distorção, perde a sociedade.
Lavagem de dinheiro
Por exemplo, repetem-se afirmações sem fundamento, como a tese de que é possível conter o tráfico de drogas com o patrulhamento das fronteiras, ou a hipótese de que o maior rigor na abordagem de suspeitos, durante as ações policiais, é suficiente para conter a criminalidade.
O acordo entre os governos federal e estadual, conforme divulgado pelos jornais, pode ter efeitos no longo prazo, principalmente no que se refere ao maior controle das finanças do crime organizado.
Em São Paulo, a imprensa tem publicado, esporadicamente, denúncias de agentes policiais segundo as quais a principal facção em atividade no estado costuma lavar o dinheiro do crime investindo em postos de gasolina.
Há dois anos, por exemplo, foi detido um empresário do setor que se havia candidatado a deputado federal e acabou perdendo o registro eleitoral ao se constatar que era ligado ao grupo criminoso conhecido como Primeiro Comando da Capital.
Colocado em liberdade, segue circulando pela cidade a bordo de uma portentosa Ferrari, sem ser incomodado.
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