Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Prefeito e jagunços agridem diretor de jornal

Madrugada de sexta-feira (4/3), 0h22. Na pacata cidade de Candeias do Jamari, a 28 km de Porto Velho, as ruas eram quase desertas. Poucas pessoas se arriscavam a andar pelas ruas àquela hora. E tinham um bom motivo: o próprio prefeito, Chico Pernambuco.

Chico, cujo nome verdadeiro é Francisco Vicente de Souza, é personagem conhecido pela arrogância e truculência com que resolve seus problemas. Ele prefere, sempre que pode, terminar seus conflitos intimidando com tapas e safanões do que conversar feito gente normal.

Foi o que pôde vivenciar a equipe de circulação do jornal Imprensa Popular (www.imprensapopular.com), semanário de Porto Velho. O jornal havia entrado em recesso no fim do ano – como faz desde sua fundação – e estava retomando suas atividades agora em março, com a edição do n° 55, que circula de 3 a 10 deste mês.

O jornal traz nesta edição, entre suas matérias, uma reportagem sobre a briga pela presidência da Câmara Municipal de Candeias do Jamari, em que um dos pretensos presidentes é o pai da mais nova esposa de Chico Pernambuco [de 55 anos], uma adolescente de apenas 15 anos.

A reportagem foi feita pelos jornalistas Edson Lustosa e Aldrin Willy (fotos). Um trecho do texto traz:

‘A população vive momentos de perplexidade, testemunhando quebra-quebras nas sessões da Câmara e, ao mesmo tempo, como se nada disso estivesse acontecendo, cenas de enlevo e ternura, quando o prefeito vai deixar e pegar a primeira-dama na escola.’

Ameaça e agressão

A equipe de circulação é composta de três pessoas, que distribuem os jornais, mais o diretor, que conduz o carro onde estão armazenados os exemplares. Enquanto os entregadores distribuíam o jornal na Rua Ayrton Senna, o diretor, Gessi Taborda, aguardava em seu carro mais à frente, na mesma rua.

Por volta de 0h20, uma camionete de luxo (Toyota Hilux, cabine dupla, de cor prata) cercou o carro de Taborda (um GM Vectra, de cor cinza). Da camionete saltaram dois homens, já brandindo as armas, e o prefeito Chico Pernambuco. Os dois jagunços colocaram os dois revólveres contra a cabeça de Taborda. Xingando o jornalista de nomes impublicáveis, Chico deu-lhe um tapa no rosto, rasgou-lhe a gola da camisa e ordenou que saísse do veículo.

Taborda recusou-se a sair, temendo o pior. ‘Acha que eu sou maluco de encarar dois homens armados?’, disse ao prefeito. Chico, então, o ameaçou de morte, segurando-lhe o braço agressivamente. O jornalista, num ato de loucura ou coragem, exclamou: ‘Então mate! O que é que eu posso fazer?’

Após isso, Taborda levou na face outro soco, desta vez de um dos capangas, e ao conseguir soltar-se de Chico, arrancou com o carro. Pernambuco ainda chegou a dizer que irá mandar matar o jornalista. Os entregadores do jornal testemunharam toda a ação.

Cinco minutos depois, o diretor de Imprensa Popular registrou uma queixa por lesão corporal contra o prefeito Chico Pernambuco, na delegacia de Candeias, e passou por exame de corpo de delito no IML, em Porto Velho.

Este processo será mais um somado à longa lista de processos que pesa sobre Chico na Justiça. Ele responde a 25 processos, sendo oito em segredo de Justiça.

Segundo fontes confiáveis, Chico tem a sua disposição, para segurança pessoal, uma tropa de cerca de 30 policiais. Eles estariam cedidos pela Secretaria de Segurança Pública. Cabe ao responsável pela pasta, deputado Paulo Moraes, esclarecer essa história.

O jornal Imprensa Popular espera que as instituições de defesa da cidadania, tais como a OAB, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Rondônia (Sinjor), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), entre outros, se posicionem em repúdio ao ato do prefeito de Candeias.

Não foi um ataque a um jornalista ou a um jornal. Foi um atentado a toda a imprensa e à liberdade de expressão, princípio fundamental da democracia.

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