Nova York, 11 de outubro de 2006 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) homenageará em novembro quatro jornalistas com o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa 2006. Na cerimônia de entrega o CPJ comemorará seu 25º aniversário.
Jesús Abad Colorado, da Colômbia, Jamal Amer, do Iêmen, e Madi Ceesay, de Gâmbia, arriscaram a vida para cumprir seu trabalho informativo, suportando ataques, perseguição e encarceramento. O CPJ distinguirá, postumamente, Atwar Bahjat, correspondente da estação de TV por satélite al-Arabiya e ex-repórter da al-Jazeera, morto a tiros em fevereiro quando cobria um bombardeio próximo a Samarra, no Iraque. Hodding Carter III, editor de jornal, jornalista de televisão, executivo de fundação e professor, receberá o Prêmio em Memória a Burton Benjamin, que o CPJ concederá por sua destacada trajetória.
‘Homenageamos estes corajosos jornalistas de todo o mundo por sua tenacidade no cumprimento de seu trabalho informativo, afrontando o risco pessoal’, destacou o presidente do conselho diretor do CPJ, Paul Steiger. ‘Sua coragem demonstra os perigos que os jornalistas atualmente enfrentam para obter a informação’. O diretor-executivo do CPJ, Paul Simon, disse: ‘Divulgar casos de corrupção, criticar as autoridades por abuso de poder, ou informar direto da linha de frente sobre conflitos locais são apenas algumas das formas pelas quais estes jornalistas cumprem seu trabalho e nos inspiram. Com estes prêmios, o CPJ espera fortalecer a proteção aos jornalistas em todo o mundo’.
Os prêmios serão entregues em cerimônia no Hotel Waldorf-Astoria, em Nova York, em 21 de novembro. Robert A. Iger, presidente e CEO da Walt Disney Company, e John S. Carroll, conferencista no Centro Shorenstein da Universidade de Harvard, co-presidirão o jantar de gala. Chistiane Amanpour, chefe dos correspondentes internacionais da CNN e integrante da diretoria do CPJ, conduzirá a cerimônia.
Os jornalistas agraciados
Jesús Abad Colorado é um fotógrafo free-lance que foi testemunha de alguns dos mais violentos combates da guerra civil colombiana, e capturou poderosas imagens de abusos dos direitos humanos cometidos por todos os atores do conflito armado. Como jornalista regional, Abad conhece de perto as dificuldades enfrentadas por seus colegas em regiões menos próximas à capital, onde o conflito é mais agudo e os jornalistas são, regularmente, ameaçados pela guerrilha, pelos paramilitares e por autoridades locais. Abad, cujo trabalho tem sido amplamente difundido na Colômbia, demonstra coragem e determinação ao cumprir com seu trabalho informativo na linha de frente. Foi seqüestrado em duas ocasiões pela guerrilha; em uma delas, em outubro de 2000, foi seqüestrado numa barreira na estrada por integrantes do Exército de Libertação Nacional (ELN), que o mantiveram detido por dois dias.
Abad foi reconhecido por seu trabalho após o massacre de San José de Apartado, em fevereiro de 2005. Seu relato jornalístico e fotografias, publicados no diário El Tempo, apontaram a participação militar no massacre e um padrão de estreita cooperação entre militares e paramilitares na região. Abad destaca que suas fotografias contam a história do desastre e da desolação, e espera que sirvam como testemunho da tenacidade dos colombianos.
Jamal Amer é o corajoso editor de um dos semanários mais independentes do Iêmen, o al-Wasat, cujas reportagens sobre corrupção e temas políticos sensíveis têm sido objeto de graves ameaças e atentados. Em agosto de 2005, foi seqüestrado e detido durante seis horas por quatro homens que, suspeita-se, eram agentes de segurança. Os indivíduos o agrediram, urinaram sobre ele, o acusaram de receber pagamento dos governos dos Estados Unidos e do Kuwait e o advertiram sobre o que poderia acontecer se difamasse ‘funcionários’.
Depois, Amer foi conduzido com os olhos vendados ao alto de uma montanha, onde ameaçaram disparar. O seqüestro indignou jornalistas iemenitas, para os quais significou advertência explícita contra o tipo de jornalismo empreendedor que sempre foi a marca do al-Wasat. Alguns dias antes do seqüestro, o semanário havia publicado um artigo afirmando que vários funcionários do governo estavam utilizando bolsas de estudo governamentais para enviar seus próprios filhos para estudar no exterior. Este ano, a família de Amer foi submetida à vigilância do governo, enquanto jornais pró-governo o acusaram de ser um agente do Ocidente.
Madi Ceesay é veterano jornalista independente de Gâmbia, que sofreu atentados e foi encarcerado por seu trabalho. É, também, um destacado ativista pela liberdade de imprensa, presidindo o Sindicato de Imprensa de Gâmbia (GPU, sigla em inglês). O GPU tem liderado os esforços para combater a impunidade nos casos de ataques à imprensa, incluindo o assassinato do editor Deyda Hydara em dezembro de 2004, ainda não resolvido. Em 2006, Ceesay assumiu o cargo de gerente-geral de The Independent, destacado diário privado que tem sido vítima de freqüente perseguição policial e atentados a bomba não- investigados.
Em março, as forças de segurança selaram os escritórios do Independent e detiveram seus funcionários após a publicação de artigos críticos sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. Ceesay e a editora Musa Saidykhan permaneceram detidos por três semanas, sem acusações, pela Agência Nacional de Inteligência (NIA, por sua sigla em inglês). Antes de integrar o The Independent, Ceesay trabalhou por 10 anos no reconhecido seminário independente Gambia News and Report, primeiro como repórter e, depois, como editor-adjunto.
Atwar Bahjat, correspondente da Arabiya e uma das mais conhecidas correspondentes de guerra no mundo árabe, foi assassinada no Iraque em fevereiro, junto com o cinegrafista free-lance Khaled Mahmoud al-Falahi e o engenheiro Adnan Khairallah. Seu corpo baleado foi encontrado um dia após a emissora de TV perder contato com a equipe. No momento de sua morte, Bahjat estava nos arredores de Samarra cobrindo o bombardeio do santuário xiita de Askariya.
Iraquiana, 30 anos, havia se incorporado recentemente à cadeia de televisão al-Arabiya, depois de ter trabalhado como correspondente da al-Jazeera desde 2003. Antes, trabalhara para a televisão iraquiana sob Saddam Hussein. Era repórter obstinada, que conhecia muito bem as dificuldades vividas pelos jornalistas iraquianos. Ao longo de sua carreira, recebeu várias ameaças de morte e sobreviveu à explosão, numa estrada, de uma bomba que destruiu o veículo em que estava. Mas nada disso a dissuadiu de continuar informando: ‘Ela sempre gostou de ser uma repórter de campo’, recordou o apresentador de notícias da al-Jazeera M’ahmed Krichene, que trabalhou com ela em Bagdá.
Prêmio em Memória a Burton Benjamin
O CPJ homenageará Hodding Carter III, cuja diversificada carreira no jornalismo se entende por quatro décadas, com o Prêmio em Memória a Burton Benjamin, outorgado a jornalistas que se destacam a favor da causa da liberdade de imprensa. O Prêmio Burton Benjamin recebe o nome do falecido produtor de notícias da CBS e ex-presidente do conselho diretor do CPJ, que morreu em 1988.
Em 1959, Carter começou a trabalhar no diário Delta Democrat-Times de Greenville, Missouri, de propriedade de sua família, e passou 18 anos trabalhando como jornalista, galgando as posições de colunista, editor e diretor-adjunto do diário. Seu pai, Holdding Carter Jr., fundou o diário em 1936 e ganhou um prêmio Pulitzer por seus editoriais sobre tolerância racial e religiosa, em 1946. Carter também foi bolsista Neiman na Universidade de Harvard, entre 1955 e 1956.
Carter trabalhou nas campanhas presidenciais de Lyndon Johnson e Jimmy Carter. Ele atuou como porta-voz do Departamento de Estado e como subsecretário de Estado para Relações Públicas na administração Carter, de 1977 a 1980. Prosseguiu com uma carreira televisiva de sucesso, trabalhando como cronista, apresentador e comentarista para programas de televisão sobre relações públicas, incluindo ‘This Week with David Brinkley’.
Em 1994, Carter foi designado professor knight de jornalismo em relações públicas na Universidade de Maryland, e deixou o posto há quatro anos para se converter em presidente e CEO da Fundação Knight. Carter deixou o cargo em 2005 e se uniu à Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, onde é professor de liderança e política pública.
Para mais informações sobre os agraciados e sobre o CPJ, visite nosso website.
******
O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo