Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Prendam o precário

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais (só diplomados) do Estado de São Paulo decidiu adotar a política de Joseph McCarthy. E como radicalizou. No dia 17 de abril, tomado pelo espírito macartista, o diretor do interior Alcimir Antônio do Carmo botou a polícia na minha cola. Motivo: exercício ilegal da profissão. Não sou diplomado em Jornalismo.

O inquérito nº 184/06, sob o comando do delegado Genival Ribeiro Santos, titular do 1º Distrito Policial de São José do Rio Preto, já está em pleno andamento e bem gordinho de informações a meu respeito. Nos próximos dias serei interrogado sobre as razões que me levam a usar o título de jornalista, sem nunca ter freqüentado uma aula sobre a teoria da comunicação. Eis o crime atribuído a este réu. Devo confessar que nunca fui à faculdade para aprender a ser jornalista. Não estou confessando crime algum, pois minha licença no Ministério do Trabalho e Emprego, embora ‘precária’, ainda está em plena vigência, mesmo com a contrariedade do sindicato paulista e da Fenaj.

O sindicato e a Fenaj brigam desde de 2001 pela manutenção da obrigatoriedade do diploma. Só mesmo a partir de 2001 os dirigentes dessas entidades resolveram defender o diploma como credencial para o exercício da profissão. Antes da ação do Ministério Público, tais entidades não falavam sobre o assunto. Defendem o diploma como sinônimo de ética. Desconhecem os textos e as frases do saudoso Cláudio Abramo.

A tônica da argumentação dos dirigentes da Fenaj e dos sindicatos a ela agregados é a ética jornalística. Como se ética fosse coisa mutante de acordo com a profissão ou a posição ocupada pelo cidadão. Cláudio Abramo disse que sua ética era a mesma do marceneiro. Ele tinha razão. Temos jornalistas sem diploma e sem ética. Mas, não faltam jornalistas diplomados, pós-graduados e mestres desprovidos do mínimo de ética. Aliás, na direção do sindicato temos exemplos. O jornal da entidade, o Unidade, embora sempre ataque os jornalistas com registro precário, nunca ouviu um deles. A questão ética está ligada ao caráter de cada cidadão. Seja o jornalista ou o engraxate, a ética deve ser a mesma. Desnecessário um código de ética exclusivo para o jornalista. O que precisamos é de um código que determine posturas e medidas coerentes de nossos sindicalistas.

Visitas de amigos

Bernardo Kucinski, em sua obra Jornalismo na era virtual (Editora Unesp e Editora Perseu Abramo) questiona o fim do jornalismo por vocação. Para Kucinski, um jornalista por vocação ‘pode deixar de sê-lo por não ser formado’. Os sindicalistas e defensores do diploma também apontam para este rumo. Na concepção da Fenaj e seus aliados, os jornalistas que militam há décadas, mas não têm o dito diploma, devem ser extirpados do mercado. Postura fascista.

A mensagem dos defensores do diploma segue linha de raciocínio segundo a qual a faculdade é o centro da ética. Quem não se formou não tem ética, portanto, não pode estar no mercado. É uma conclusão idiota. Particularmente nada tenho contra o diploma de Jornalismo, apenas penso que não pode ser uma obrigatoriedade. Também não defendo a atuação de pessoas despreparadas nas redações, inclusive diplomados.

O pedido de abertura de inquérito contra mim, não me assusta nem me preocupa. Pode ter faltado a adoção de critérios mínimos para sua expedição quando os registros precários foram concebidos e concedidos, mas sua validade é uma realidade. Recentemente o ministro José Delgado, por liminar, suspendeu a portaria 03/06 de 16 de janeiro que cancelava os registros precários. Mesmo assim, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais insiste em me afastar do mercado. Vou aguardar os desfecho do inquérito com tranqüilidade. Caso seja preso a pedido do sindicato, espero receber visitas de amigos ‘precários’ e de muitos diplomados.

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Jornalista, editor de política do jornal online www.riopretonews.com.br, São José do Rio Preto (SP) e Rádio Metrópole AM