Chegou o momento de solucionar o problema crônico da desvalorização do professorado brasileiro.
A este respeito, caberá à mídia acompanhar o que for realizado para que a profissão docente ganhe o prestígio social compatível com sua importância no desenvolvimento do país. A valorização do professor é indispensável na luta por uma educação melhor. Precisamos criar o professor sine qua non. O professor sem o qual falar de educação de qualidade será, no mínimo, perda de tempo.
Na revista Época desta semana (nº 658), Ilona Becskeházy, diretora-executiva da Fundação Lemann, enfatiza em seu artigo – ‘O grande desafio é valorizar os professores’ – que esta valorização inclui aumento salarial, treinamento, supervisão e avaliação de desempenho. Em outras palavras, valorizar é investir e, investindo, propor e esperar melhores resultados.
Escrevendo para a edição especial da revista CartaCapital (22/12), o professor Vladimir Safatle diz (clareza maior, impossível) que ‘o sucesso do processo educacional tem, como condição necessária, a existência de um corpo de professores altamente qualificado e motivado’. Essa motivação, que muito ajuda na hora da formação, está vinculada, sim, à questão salarial. Safatle denuncia o cinismo de quem nega essa vinculação:
‘[…] outros gostam de falar que o que motiva professores não é necessariamente o salário, mas ‘a grandeza da profissão’, ‘o prazer de ensinar’ e outras pérolas do gênero. Alguém deveria sugerir uma lei para limitar o cinismo desses arautos do altruísmo alheio.’
A década da valorização docente
Seria o caso também de denunciar quem cobra altíssimos cachês (há quem mande a conta em euros!) para, em suas palestras e conferências, escamotear a discussão aberta e urgente sobre a remuneração dos professores, associada sempre, devemos lembrar, às exigências decorrentes da função educativa.
Em editorial publicado no domingo (19/12), ‘Brasil nota 6’, a Folha de S.Paulo menciona como ponto fundamental do PNE (Plano Nacional de Educação 2011-2020), enviado ao Congresso este mês, a valorização do professor da rede pública na educação básica. Tal valorização requer a definição de um rendimento médio que leve em conta o tempo de escolaridade necessário para formar um docente.
A permanência de Fernando Haddad no MEC é, em princípio, a garantia de que, para alcançar as metas de uma educação melhor, o tema da valorização docente deixará de ser um tema a mais. Deve tornar-se questão crucial, como dá a entender o próprio ministro:
‘Se nós não fizermos da próxima década a década de valorização do professor será muito difícil cumprir as metas de qualidade. As metas exigem que nós tenhamos atenção maior com a formação e a remuneração do docente.’ (iG Brasília, em 15/12).
O MEC, porém, não é todo-poderoso. Metas não se cumprem magicamente. O diálogo entre governo federal, governos estaduais e municipais deve concentrar-se na busca de caminhos concretos para que essa década de valorização docente comece a contar desde o primeiro mês, janeiro de 2011. E que a sociedade, com a ajuda da mídia, acompanhe esse diálogo com o devido interesse.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br