Em junho, Hwang Woo-suk foi nomeado cientista supremo da Coréia do Sul por sua pesquisa sobre células-tronco publicada na conceituada revista Science. A glória do cientista durou pouco. Dias após a publicação do trabalho, um membro de sua equipe postou uma denúncia sobre a pesquisa em uma lista de discussão confidencial mantida na internet pelo programa de jornalismo investigativo PD Notebook, da emissora sul-coreana MBC. Segundo a denúncia, Woo-suk teria falsificado algumas informações sobre a clonagem de células-tronco humanas.
Seis meses depois, duas edições do PD Notebook sobre os erros de Woo-suk trataram do caso. Depois disso, o cientista e dois ex-colaboradores participaram de uma série de coletivas de imprensa em Seul e nos EUA e confirmaram algumas declarações feitas pelo membro de sua equipe na internet.
Era de se esperar que, depois da denúncia, o programa de TV continuasse sendo um sucesso, mas não foi o que aconteceu. Vários manifestantes fizeram protesto diante da emissora, membros da equipe de reportagem foram ameaçados de morte e fotos de seus familiares foram divulgadas na internet, além de todos os 12 anunciantes terem retirado patrocínio. Depois de 15 anos bem sucedidos, a MBC decidiu tirar o programa do ar. ‘O PD Notebook foi suspenso. Estamos esperando por uma decisão final dos executivos’, informou o produtor-executivo Choi Seung Ho.
O programa foi criticado porque desfez a imagem de um ícone carismático, que representava o lado moderno e de sucesso da Coréia do Sul que os coreanos queriam mostrar ao mundo, e também porque seus métodos de ‘apuração’ seriam questionáveis. Em uma entrevista crucial, Kim Seon Jong, ex-membro da equipe de Woo-suk que trabalha atualmente na Universidade de Pittsburg, é levado a acreditar que seu ex-chefe será preso por fraude. Quando Jong começa a falar sobre a falsificação das fotografias para o artigo da Science, ele pergunta nervosamente se a entrevista está sendo gravada. Não se ouve resposta do entrevistador, que tem uma câmera escondida. Ao contrário, o produtor diz que, se ele cooperar, pode ser protegido da prisão. A MBC desculpou-se pelo incidente publicamente. Woo-suk renunciou a todos os cargos que ocupava em universidades e centros de pesquisa coreanos e internacionais.
A Korean Broadcasting Comission, agência do governo responsável pelas regulamentações de televisão e rádio, revisou as fitas da MBC. Porta-voz da comissão informou que ‘é bem provável que o programa tenha violado as regras de imparcialidade, objetividade e direitos humanos’. Informações de James Brooke [The New York Times, 21/12/05].