Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Qualidade, na educação e na informação

Não peçamos à informação mais do que a informação possa dar. Quem quiser aprofundar em determinados temas deverá realizar pesquisa pessoal, que ultrapasse as páginas dos jornais ou da Wikipédia. Terá de ler tratados, teses, artigos científicos, e o escambau (como se dizia em 1950-1960).

No entanto, num primeiro momento, podemos esperar, sim, informação mais rica, inteligente, provocadora. Isso tem a ver com o nível de exigência do leitor. Em concreto, faz sentido cobrar informação de qualidade quando o tema é educação, como recentemente (e acertadamente) pediu à Folha de S.Paulo seu ombudsman:

‘[…] o simples aumento do espaço e destaque para a educação é pouco. […] Mas importante mesmo é a qualidade da cobertura. […] E ir fundo é essencial quando o assunto é educação.’ (Folha de S.Paulo, 21/6/2009)

Ir fundo nas questões que envolvem greves na USP e na rede pública de ensino, mas também com relação a todos os problemas educacionais que se arrastam há décadas.

Boa reportagem sobre o analfabetismo (‘Bê distante do Bá’), de Rodrigo Martins, na Carta Capital (nº 551, de 19/6). Trazendo, além das estatísticas, opinião de gente conhecedora do assunto: um Miguel Arroyo, um Sérgio Haddad, uma Maria de Salete Silva. E agora… que cada leitor vá à luta da leitura, procurando os livros do próprio Miguel Arroyo e de outros educadores empenhados em equacionar a complexidade da educação brasileira. (Aliás, seria fundamental citar sempre uma bibliografia mínima!)

Bons leitores

Contribuição da imprensa é colocar o dedo (e fundo) na chaga da educação sem qualidade. Reclamações genéricas são insuficientes. No Estado de Minas, a jornalista Glória Tupinambás escreveu matéria detalhada, contundente, e exemplar:

‘Computadores encaixotados, jogados às traças num canto da sala de informática. Ônibus escolares superlotados, pondo em risco a segurança de dezenas de crianças. E professores sem curso superior à frente das turmas. A situação é resultado da falta de vontade política em 257 cidades mineiras, que ainda não cumpriram um dos requisitos básicos para melhorar a qualidade do ensino público. Mais de dois anos depois do lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) pelo governo federal, 30% dos municípios de Minas ainda não elaboraram um diagnóstico completo da realidade da rede escolar.’ (Estado de Minas, 22/06/2009)

Como poderemos lutar por uma educação de qualidade sem a informação que nos eduque a querer o melhor?

A leitura é tema transversal por excelência. Ou deveria ser. Bons leitores tendem a ser bons profissionais, seja qual for o campo de atuação. E a mídia pode, de novo, ir fundo, se insistir no tema, como nesta matéria da Zero Hora (em 22/6), assinada por Anelise Zanoni, em que os pais são chamados a cumprir seu papel de primeiros educadores:

‘Formando novos leitores dentro de casa, os pais contribuem para uma educação de maior qualidade, dentro e fora da escola. Assim, os pequenos demonstrarão cada vez mais autonomia, desejo de entender o mundo, criatividade e bom vocabulário.’

Bons leitores são bons observadores da imprensa. E saberão exigir dela que se torne, em certa medida, formadora de novos bons leitores.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br