Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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‘O preço que os homens pagam pelo aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder’ (Adorno & Horkheimer, 1986).

Na atualidade, o mundo passa por grandes e rápidas mudanças. As organizações nacionais, pressionadas pelo processo de mundialização, substituem cada vez mais o homem pela máquina. Assim, novas tecnologias são implementadas nas empresas, obrigando o trabalhador a adaptar-se rapidamente a elas e impondo-lhe um novo perfil profissional.

Neste novo contexto econômico em que os salários sofrem cada vez mais reduções e a educação emerge como a principal ferramenta de atualização, o trabalho torna-se cada vez mais precário e seletivo. O Estado vem, por meio de uma ideologia neoliberal, retirar e diminuir benefícios e direitos do trabalhador, alterando a relação capital-trabalho; surgem, então, novas relações, como o contrato de trabalho por tempo determinado, que geram, desse modo, o subemprego e o trabalho informal, outra ameaça ao trabalhador, que antes tinha resguardados alguns direitos historicamente conquistados. Outrossim, ‘gurus’ e consultores organizacionais tentam conciliar e harmonizar, com discursos de cooperação e de trabalho em equipe, dois sujeitos historicamente desiguais – capital e trabalho –, perpetuando o paradoxo da necessidade de cooperação em equipe e a competição pela aquisição e manutenção de um posto de trabalho (Heloani, 2000, pp. 17-8; 2003, pp. 30-1).

David Harvey indica que mudanças abissais vêm ocorrendo nas práticas político- econômicas e culturais. Ao explicitá-las, considera que, ‘quando confrontadas com as regras básicas de acumulação capitalista, mostram-se mais como transformações de aparência superficial, do que como sinais do surgimento de alguma sociedade pós-capitalista ou mesmo pós-industrial inteiramente nova’ (Harvey, 1992, p. 7). Desse modo, ainda que fazendo usos reiterados do termo novo – tal como: ‘novo ciclo de compressão do tempo-espaço na organização do capitalismo’, ‘novas condições do mercado de trabalho’, ‘formas industriais totalmente novas’, ‘uso de novas tecnologias produtivas e de novas formas organizacionais’; ‘nova aristocracia do trabalho’ e ‘explosão de novos instrumentos e mercados financeiros’ –, o autor considera a relatividade da alusão ao termo novo frente às invariâncias dos processos capitalistas (Harvey, 1992, p. 7).

De fato, uma das questões mais enfatizadas na era da globalização e do regime de acumulação flexível vai de encontro a um elemento invariante da lógica capitalista: o papel crucial da inovação organizacional e tecnológica. Ao lado desse elemento invariante, Harvey (1992, p. 166) considera outros dois: o capitalismo orientado para o crescimento e a exploração do trabalho vivo.

Ao abordar a questão da flexibilidade e da transição do período de acumulação rígida do fordismo-keynesiano para o período da acumulação flexível, conclui que as referidas modificações radicais convivem com ‘forças plasmadoras invariantes’, afirmando que ‘não há nada essencialmente novo no impulso para a flexibilidade’ (Harvey, 1992, pp. 15 e 178).

Harvey (1992, pp. 145-50) salienta que o surgimento das novas tecnologias se dá em processos produtivos que incluem o retorno às estratégias de extração de mais-valia absoluta por intermédio da retomada de sistemas de trabalho doméstico, familiar e paternalista. Ressalta que, sob a dependência de tais sistemas, colateralmente engendrados, instituições poderosas se fortalecem. Desse modo, a oposição entre a versão retumbante da velha história do capitalismo versus a nova configuração histórica merece ser visualizada não exatamente como uma dicotomia, mas como uma dialética de uma estrutura econômica e social marcada por antagonismos e contradições.

Assim, o que esse autor argumenta é que na transição por ele analisada se estabelece um novo bastante relativo, uma vez que este se coaduna com o ressurgimento da dominação paternalista e de ‘formas antigas de processo de trabalho e de produção pequeno-capitalista’ (Harvey, 1992, pp. 145-50). Assim sendo, o novo não é exatamente novo, mas uma espécie de nova edição, que reedita elementos antigos travestidos em novas linguagens, tanto econômicas quanto produtivas e estéticas.

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Professor da Faculdade de Educação da Unicamp, da FGV e da Unimarco.