O radialista João Carlos Alckmin, da Rádio Eldorado AM 1290, afirma que teve seu telefone grampeado por ordem do Ministério Público do Estado de São Paulo. Segundo Alckmin, o grampo aconteceu quando falava com um dos clientes de sua esposa, a advogada Tânia Nogueira. Disse ainda que a degravação está incompleta e que nela é citado como advogado que não é e nunca foi.
O radialista comanda programa Show Time, onde são feitas graves denúncias contra autoridades policiais e do judiciário. Talvez por causa disso, o radialista já foi baleado em pleno centro de São José dos Campos, SP, e quase ficou paraplégico.
Na manhã do dia 7 de setembro, entrevistamos João Alckmin e ele nos confidenciou: ‘Quando o traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía foi extraditado para os Estados Unidos, teria deixado aqui para cuidar do caixa o Manuel Penágos, conhecido como El Negro, que acabou preso durante uma noitada numa boate gay, em São Paulo. Com ele estava a mulher do dono do Sonda Supermercados, algo que a imprensa tenta mascarar ou encobrir.’
‘Tenho conhecimento de Direito’
E o que tem?
João Alckmin – A polícia deu o bote e levou todos, inclusive ela, que posteriormente afirmou ter sido extorquida em R$ 300 mil. Um dos advogados dos Supermercados teria arrecadado a quantia na empresa e mandado pagar. O que me causa estranheza é o gerente financeiro do Sondas ser advogado e mandar outro advogado à sede do Denarc para ver o que estava acontecendo e não comunicar o fato à corregedoria. Além disso, não é comum levantar R$ 300 mil em dinheiro vivo num supermercado, quando a maioria dos clientes paga em cheque ou cartão de crédito.
Por que se interessou pelo caso?
J.A. – Porque minha mulher é advogada de um dos policiais e mesmo que não fosse eu me interessaria, dei atenção e fiz entrevistas com o Everardo Tanganelli, que sofreu algumas acusações quando diretor do Denarc. Entrevistei outros delegados supostamente envolvidos em vários problemas e vou continuar fazendo.
E essa de grampearem o seu telefone?
J.A. – Desta vez, a pedido do Ministério Público, a Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo começou a fazer uma série de gravações de conversas minhas com um investigador. Até aí tudo bem, já que vivemos no país do grampo e da falta de privacidade. Mas, não posso admitir me gravarem como advogado. Eu não sou advogado e disse isso numa representação que fiz à corregedora: ‘Talvez eles tenham se enganado pelo grande conhecimento que tenho de Direito, que vem do fato de ser filho de desembargador, sobrinho e primo de desembargador, pai de advogado e casado com uma delas que é mestre e doutora em Direito pela PUC. Com certeza, tenho mais conhecimento de Direito de que muito delegado, juiz e promotor que estão por aí.’
‘Não entendo o que anda acontecendo’
Como soube que estava sendo grampeado?
J.A. – Para mim, para o Percival de Souza, para o Carlos Brickmann e outros jornalistas, não existe segredo de justiça. Eu fiquei sabendo através de alguns promotores que me disseram: ‘Cuidado que você caiu no grampo.’ Corri atrás e levantei.
E como está a degravação?
J.A. – Basicamente, sou eu perguntando a ele o que tinha acontecido e se ele confirmava ou não os fatos envolvendo a mulher do dono do Sondas Supermercados. Me parece que é isso que não querem que venha a público.
Isso é grave…
J.A. – Mais grave do que isso é a caixa-preta em que se transformou a distribuição do Tribunal de Justiça. A 15ª Câmara Criminal foi criada para julgar prefeitos, policiais civis e militares e funcionários públicos no geral. Entretanto, eu levantei 50 ações de policiais distribuídas a várias câmaras, uma delas a do Roberto Monteiro de Andrade Junior, envolvido no caso dos caça-níqueis. Foi trancado um processo contra ele, que corria em São José dos Campos, pelo desembargador Luis Pantaleão, da Terceira Câmara Criminal. Nesse caso, o processo envolvendo os policiais e o traficante El Negro foi distribuído para três câmaras, o de um investigador foi para a 15ª, e o de outro para a 13ª. E a quebra de sigilo foi dada pela 14ª Câmara Criminal. Não consigo entender o que anda acontecendo na distribuição.
‘O malfadado guardião’
Mas, legalmente, podiam ter grampeado você?
J.A. – Legalmente, não podiam porque a minha conversa com ele não tinha nada a ver com o crime. E o mais sério: a advogada dos co-réus também foi grampeada e isso é crime. Não se pode grampear, violar o sigilo telefônico de uma conversa entre o advogado e seu cliente. É uma vergonha.
Está tudo degravado?
J.A. – Sim, tenho cópias e representei à corregedora, dra. Maria Inês Trefilho. E tem mais: nenhum delegado tem mais autoridade do que eu para falar de corrupção policial. Eu vou para a rua e levanto, isso já me custou caro, quase fiquei paraplégico por causa disso.
Que medidas vai tomar?
J.A. – Já pedi aos advogados Paulo Roberto da Silva Bastos e Dirceu do Vale que tomem as medidas cabíveis contra o Ministério Público. Não é possível o MP romper a privacidade e a integridade das pessoas. Fizeram isso comigo e com outros jornalistas. Eu lhe pergunto: se o jornalista está fazendo um trabalho investigativo, eles estão ouvindo, vão lá e prendem o cidadão na frente. Quem é que ele vai achar que deu a fita? O jornalista, é claro. Isso é imoral e criminoso. A polícia parou de investigar, vive de grampos. Hoje, o computador que grava milhares de conversas, o malfadado guardião, está sob a administração do delegado Roberto Monteiro de Andrade Junior que, apesar de processado em São José dos Campos por envolvimento com máquinas caça-níqueis, virou diretor de inteligência da Polícia Civil do Estado de São Paulo. É incrível.
Investigadores são presos
Será que o secretário de Segurança está sabendo disso?
J.A. – Provavelmente, já que a Corregedoria está diretamente ligada ao secretário de Segurança, o dr. Ferreira Pinto. Quando fui ameaçado por supostos policiais, a Corregedoria não fez nada. Quando tomei os tiros em São José, a Polícia Civil não solicitou perícia e a Corregedoria não fez nada. Quando quebraram o meu sigilo e levantaram os meus antecedentes e confessaram na Corregedoria, o delegado Paulo Galvão, primeiro corregedor-auxiliar de São José dos Campos, pediu o arquivamento. O inquérito só voltou a andar porque ganhei uma ação civil e o promotor determinou que eles fossem processados por improbidade administrativa.
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Jornalista, São José dos Campos, SP