Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Relato de uma demissão

Sou fotojornalista, tenho 36 anos, 12 deles passados no aprendizado diário das redações. São 12 anos de muito trabalho, de conquistas e de frustrações inerentes a qualquer trabalhador. Comecei a trabalhar no Estado de Minas em maio de 2003 e permaneci até o dia 08 de fevereiro de 2010, quando recebi sem nenhum aviso anterior minha carta de demissão por justa causa. Motivo: improbidade.

Não recebi sequer uma explicação convincente do que teria feito. Somente umas poucas palavras de meu editor de fotografia que, educadamente, me disse: ‘Releia seu blog’. Só. Do editor de fotografia, fui até a sala do editor-chefe que, também educadamente, me disse que eu poderia ter dirigido as críticas a ele, em sua sala, mas não postá-las na internet, o que me deu a justa causa.

O fato é que não critiquei ninguém, não cito nomes ou faço juízo de alguma pessoa em meu humilde blog. Apenas critico posturas, falo sobre minhas frustrações, sobre fotografia e sobre a mídia em geral. Agradeci aos dois pela oportunidade que me foi dada de aprender algo na minha experiência como profissional e fui embora. Sem dinheiro algum, mas com dignidade. Claro que saí ferido, sem chão, mas acredito em algo maior, em pessoas que têm compromisso e que sabem quem eu sou, o que fiz, e o que posso ainda, fazer, tendo opinião e senso crítico.

Alerta máximo

Fui alvejado num paredão de fuzilamento moral por ter um blog (que, sinceramente, não é lido por mais que três pessoas) e por nele postar observações minhas a respeito do jornalismo, da postura dos jornais, dos acertos e dos erros inerentes ao homem. Critiquei algumas posturas, elogiei outras e fui carimbado como gado com a justa causa, marca que ficará por um tempo pairando na minha cabeça.

Me admira o retrocesso e a arrogância de um jornal que demite um funcionário desta forma pelo fato de pensar. O que se devia esperar de um jornal era a liberdade de expressão, e não o cerceamento de pensamento. Deixei tudo lá, mas saí com minha consciência tranquila.

Vou recomeçar do zero minha jornada e não vou me calar. Espero que a liberdade não dê lugar à censura. Espero que este erro abominável seja reparado e que eu possa, antes de tudo, ser uma pessoa que pensa e que respira. Vou recorrer a tudo o que for possível para ter os meus direitos de volta. Não falo de dinheiro, mas sim, de moral, ética, independência e humilhação. Se censuram um blog hoje, o que farão amanhã?

A única coisa que me lembro dos anos de ditadura foi quando morava em Brasília, nos idos de 1979, e tinha que colocar o nome do general Figueiredo em todas as minhas provas no colégio. No mais não me recordo desse período nefasto. Mas, como num flash, me recordei desses tempos. Espero acordar deste pesadelo e seguir em frente com a cabeça erguida diante dos acontecimentos tão mórbidos e injustos pelos quais estou passando.

Espero que meu calvário sirva de alerta máximo a todos, pois fatos como esse não podem acontecer em pleno Estado Democrático de Direito.

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Sindicato repudia demissão no Estado de Minas

Aloísio Morais (*)

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) vem repudiar e manifestar sua estranheza quanto à demissão do jornalista Emmanuel Pinheiro, que exercia a função de repórter-fotográfico no jornal Estado de Minas.

Pinheiro foi demitido por justa causa sob alegação de falta grave por ‘ato de improbidade’. Segundo ele, a empresa promoveu sua exclusão pelo fato de manifestar opinião em seu blog particular (www.pinheironafoto.blogspot.com) ao fazer comentários e análises comparativas sobre a edição fotográfica de vários veículos de comunicação impressa.

Entendemos que a atitude adotada pela direção do jornal caracteriza desrespeito à liberdade de expressão, já que o jornalista teve ferido seu direito à livre manifestação de expressão e opinião em espaço próprio – direito também defendido com bastante ênfase pelas entidades representativas do setor patronal de imprensa no país.

O SJPMG manifesta sua solidariedade a Emmanuel Pinheiro e, desde já, coloca à sua disposição o seu Departamento Jurídico para que sejam preservados e reparados os seus direitos.

O presidente da entidade, Aloísio Morais, tentou contato com o diretor de redação do Estado de Minas, Josemar Jimenez, para ouvi-lo a respeito, mas não obteve retorno. Ao atender o celular às 15h14 minutos desta quarta-feira, 10/02, Josemar disse que se encontrava em reunião e ficou de ligar dentro de ‘dois minutos’, o que não ocorreu até a redação do texto final desta nota. [Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2010]

(*) Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG