Após novas acusações referentes a agressões de soldados contra um jornalista, o exército mexicano deve promover uma série de procedimentos para garantir que a imprensa possa cobrir suas operações, declarou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
O repórter mexicano Jorge Inzunza Bustillos foi acossado e agredido na segunda-feira (11/08) por membros do exército mexicano enquanto cobria um tiroteio na cidade de Culiacán, de acordo com o relato do jornalista ao CPJ.
Inzunza, um repórter que cobre criminalidade e segurança para o jornal diário Sol de Sinaloa, de Culiacán, chegou ao local do tiroteio entre soldados e um grupo de supostos criminosos às 20h30, disse o jornalista. Ele explicou que vestiu um jaleco com a palavra ‘imprensa’ nas costas. Inzunza pegou suas credenciais de imprensa e sua câmera antes de se identificar como jornalista a vários soldados, que permitiram que ficasse entre eles.
Novos procedimentos e treinamento
Enquanto Inzunza fotografava soldados feridos, um militar identificado como integrante das Forças Especiais, ordenou que ele se retirasse. Ao virar-se, Inzunza foi golpeado nas costas com o que afirmou ter sido a culatra de uma arma. Segundo o repórter, pelo menos outros dez soldados o empurraram até que seu rádio e seu telefone celular caíssem no chão. Quando Inzunza se agachou para pegá-los, os soldados o chutaram e arrebentaram sua câmera.
O jornalista disse ao CPJ que somente conseguiu recuperar sua câmera depois de aproximadamente duas horas e que a memória havia sido apagada. O oficial que entregou a câmera o advertiu de que as fotos haviam sido apagadas para protegê-lo, contou ao CPJ.
‘Este tipo de ataque é parte de uma série de agressões similares contra a imprensa durante o último ano, desde o deslocamento de pessoal militar para combater o crime organizado em todo o país’, declarou Carlos Lauría, coordenador sênior do Programa das Américas do CPJ. ‘Além de investigar os responsáveis por esta agressão, é necessário que as forças militares mexicanas promovam novos procedimentos e treinamento para assegurar que os soldados compreendam que os jornalistas têm direito de cobrir tais operações públicas e que seu trabalho não deve ser dificultado por meio da violência.’
Riscos cada vez maiores
Inzunza ressaltou que informou sobre a agressão à Comissão Nacional de Direitos Humanos e à Promotoria Especial para a Atenção a Delitos contra Jornalistas.
Emma Quiroz, porta-voz da operação militar Culiacán-Novolato no estado de Sinaloa, esclareceu ao CPJ que soube do ataque contra Inzunza através das matérias na imprensa. ‘O exército mexicano atua no estrito respeito aos direitos humanos’, declarou Quiroz.
Em fevereiro, agentes federais detiveram e agrediram um fotógrafo que captava imagens de um acidente automobilístico fatal, no qual estava implicada a polícia de Veracruz. Consta, também, que no mês de maio, agentes federais agrediram três repórteres do diário El Debate, de Culiacán, que informavam sobre uma operação montada por agentes da polícia federal.
O México é um dos países mais perigosos para jornalistas na América Latina, segundo pesquisas do CPJ. Nos últimos cinco anos, enquanto a guerra entre poderosos cartéis de narcotráfico se intensifica, os jornalistas locais que cobrem crime organizado e narcotráfico têm enfrentado riscos cada vez maiores. Vinte e um jornalistas morreram no México desde 2000, sete em represália direta por seu trabalho. Desde 2005, outros sete desapareceram. [Nova York, 8 de agosto de 2008]
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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo