Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘São tantas as verdades que não se sabe qual é a verdade’, diz Sarney na Folha


Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas. 
 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 7 de agosto de 2009 


 


MÍDIA E POLÍTICA


José Sarney


Paus-d’arco em flor


‘QUANDO A luta política se organizou nas sociedades modernas, os cientistas sociais procuraram desvendar as leis que a governam.


Marx sintetizou a mais forte delas quando iniciou o famoso ‘Manifesto Comunista’, dizendo que ‘a história de todas as sociedades modernas é a história da luta de classes’. Isso levou várias gerações a viverem sob o signo de duas palavras: ‘revolução’ e ‘revolta’. A primeira como uma manifestação coletiva, a segunda como um manifestação pessoal.


Tudo isso é passado, e o mundo é outro, se sabendo que a concepção de classes é uma teoria que não resiste à realidade. Apenas os institutos de pesquisa resistem, considerando classes A, B, C e D, mais por motivos econômicos de renda do que por motivos sociológicos.


A grande novidade que permeia hoje o conflito político é o novo interlocutor da sociedade democrática: a opinião pública. Outros integrantes dela são a mídia, com as novas técnicas de comunicação em tempo real, a sociedade organizada e as ONGs. A democracia representativa já era, e temos de descobrir como vamos institucionalizar essa nova realidade.


Daí a luta contra os políticos, levados à parede numa situação de parasitas da sociedade, como se o mais ético e oportunista fosse falar que a verdadeira vontade do povo é ‘a voz das ruas’. E hoje as ruas não têm mais gente, e sim uma massa que está preocupada com transporte, emprego, renda e tempo para um pequeno lazer.


O conflito político passou da guerra de classes para a guerra da mídia. Nesta guerra, o mais ativo e o mais importante meio é a internet. É aí que reside o verdadeiro embate numa luta de versões, ataques, defesa, notícias e contranotícias, que são digeridas a todo momento -e são tantas as verdades que ao final não se sabe qual é a verdade.


Como o poder econômico sempre acompanha a força de controle da opinião pública, é na internet que existem as maiores fortunas do mundo, e profetiza-se que neste nicho estarão no futuro os maiores donos do dinheiro. A revolução do smartphone, recebendo e-mail, torpedos, notícias e fazendo tudo, é uma mudança que não se sabe onde vai dar.


A ameaça de destruição atinge os livros e até os jornais. Li uma entrevista do dono do ‘El País’, que, indagado se o jornal iria existir daqui a dez anos, disse não ter certeza e que já se preparava para grandes transformações.


Assim, direito de resposta, proteção à imagem são direitos que também vão desaparecer, porque qualquer site destruirá qualquer um com sua capacidade de reprodução em milhões. Lembremos o nosso poeta ‘resistir quem há de?’. Enquanto discutimos essas coisas, a natureza floresce e Brasília está linda, os paus-d’arco em flor.’


 


 


CAMPANHA


Folha de S. Paulo


Delúbio Soares lança revista e diz que irá continuar na política


‘O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares disse ontem que não vai ‘parar de fazer política’. Ao lançar uma revista em sua homenagem, afirmou que ‘essa é uma luta que apenas começou’. E conclamou aliados a fazer campanha de lançamento da revista, batizada de ‘Companheiro Delúbio’, em todos os Estados.


‘Que a gente organize o lançamento em cada Estado para galvanizar a opinião pública e construir um processo de mudança de paradigma no país’, discursou.


Disse que tem ‘tido paciência para entender o momento político que o país atravessa’ e que lançou um blog ‘como instrumento de diálogo com a sociedade’.


‘Decidi fazer a luta criando um blog. Quero colocar minha ideia’.


Com 116 páginas, a revista tem depoimentos em favor de Delúbio, como a defesa apresentada ao PT em 2005 quando foi expulso em meio ao escândalo do mensalão.


‘Participei de todo o processo, mas não fui o único responsável. Divido com todos os acertos e erros’, diz o texto. Segundo aliados, a edição custou R$ 9.200.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Cangaço


‘Na Folha Online, fim do dia, o alagoano Renan Calheiros chamou o cearense Tasso Jereissati de ‘coronel cangaceiro’. No UOL, também manchete, ‘Tasso chama Renan de cangaceiro’. O G1 optou por um contido ‘Bate-boca interrompe sessão’. O ‘Jornal Nacional’, também, ‘Tensão no Congresso. Senadores voltam a se atacar. Os contrários e os favoráveis ao presidente da casa, José Sarney’.


Nos vários sites e portais, os enunciados foram aos poucos trocados por ‘assista’, ‘veja discussão’, com links de vídeo. O que evitou os relatos inclinados para um lado e outro do ‘cangaço’.


UMA CPI


Até o ‘cangaço’, sites e portais apresentavam nova prioridade, com manchetes como ‘Oposição acusa relator da CPI da Petrobras de favorecer o governo’ e ‘CPI da Petrobras aprova plano que adia temas polêmicos’.


OUTRA CPI


Também não ficou sem atenção uma outra vertente de noticiário, em enunciados menores, mas também destacados, como ‘PMDB assina pedido de CPI contra Yeda Crusius’, a governadora gaúcha do PSDB.


BOA VIZINHANÇA


O ‘JN’ achou por bem ressaltar, nas manchetes, que ‘o presidente da Colômbia vem explicar ao presidente Lula o acordo militar com os Estados Unidos’. A agência britânica Reuters despachou depois o título ‘Uribe ganha respeito do Brasil, que pede transparência’. No colombiano ‘El Tiempo’, ‘Brasil considera acordo militar com EUA uma questão soberana da Colômbia’.


A nova ‘Economist’ tratou do esforço de Álvaro Uribe sob o enunciado ‘Bazucas e bases’, com as acusações de lado a lado entre Colômbia e Venezuela, encerrando com um conselho a Lula e demais: ‘Até que consiga a cooperação ativa de todos os seus vizinhos no combate às Farc e a outros traficantes de drogas, a Colômbia vai concluir que precisa do apoio americano’.


RACHAS


A agência americana Associated Press despachou e o ‘New York Times’ postou os primeiros ‘rachas no apoio local’ ao governo instalado em Honduras. Elvin Santos, um dos favoritos à eleição presidencial, declarou à televisão hondurenha: ‘Eu vou para todos os cantos do país para explicar que eu não tomei, de maneira nenhuma, parte nos eventos de 28 de junho’, dia do golpe.


CONTATOS


O ‘Washington Post’ deu longa reportagem de capa, questionando como os ‘contatos especiais’ de Bill Clinton ‘ajudaram na missão’ à Coreia do Norte. O assessor de Segurança Nacional de Obama, Jim Jones, até anteontem no Brasil, pediu sua participação. Ele entrou então com um jatinho da Dow Chemical, depois um Boeing do produtor de Hollywood Steve Bing etc.


PRÉ-SAL LÁ


O ‘Wall Street Journal’ de papel destacou ontem que o ‘Brasil deve controlar a recente descoberta de petróleo’, reportagem do correspondente Antonio Regalado, que abre dizendo que ‘uma proposta do governo para explorar as descobertas gigantes em águas profundas propõe controle estatal direto e deve dar papel-chave à companhia Petróleo Brasileira S.A.’, a Petrobras.


O texto registra que ‘alguns acreditam que o plano subestima as dificuldades de descobrir petróleo’ e cita a Exxon, que diz não ter encontrado ‘quantidade comercial’ num poço. Fecha observando que, ‘se a proposta se mantiver até o fim, não se espera que caia bem junto às grandes companhias de petróleo’.


‘WSJ’ QUER CANA


Em editorial publicado ontem, o ‘WSJ’ questionou Barack Obama por ceder à pressão de um senador por Iowa e enviar mensagem afirmando que vai manter a tarifa sobre importação do etanol de cana do Brasil. O jornal questiona que, para ter o voto do senador para sua reforma da saúde, o presidente obrigue o cidadão americano a pagar pelo etanol mais caro e sem concorrência, de milho.


‘WP’ QUER CANA


Também o ‘WP’ deu editorial em defesa da importação do etanol brasileiro, que quase levou o senador de Iowa a impedir a indicação do novo embaixador no Brasil. O jornal avisa que a taxa ‘irrita a relação com o Brasil, gigante democrático em crescimento com o qual os EUA têm forte relação política e econômica’. A norma que estabeleceu a tarifa ‘expira em 2010’, daí as críticas a Obama.


TESTE DE FOGO


A ‘Economist’ acompanhou experiência que vem sendo realizada em Mato Grosso, com estudiosos estrangeiros queimando a floresta tropical para demonstrar os efeitos das queimadas. Que até aqui ‘são preocupantes’. Árvores maiores sobrevivem, mas não as demais. Visa convencer os fazendeiros a conter as queimadas para plantio’


 


 


VENEZUELA


Folha de S. Paulo


Chavista será denunciada por 9 delitos


‘O Ministério Público da Venezuela atribuiu nove delitos -entre eles o crime de terrorismo- à militante chavista Lina Ron, suspeita de liderar nesta semana o violento ataque à sede da emissora de TV Globovisión, que exerce oposição ao presidente Hugo Chávez.


Imagens do ataque, gravadas por funcionários da própria emissora, mostram cerca de 30 pessoas do partido de Ron jogando bombas de gás lacrimogêneo enquanto invadiam o prédio da TV na última segunda-feira. Os seguranças da emissora foram imobilizados pelo grupo e duas pessoas ficaram feridas.


Ron, que se entregou à polícia na terça-feira depois de ter a prisão decretada, foi apresentada à Justiça na tarde de ontem para depor. Na audiência, seria definido se ela seguirá presa ou responderá às acusações em liberdade. Não houve decisão até o fechamento desta edição.


Apesar de a Agência Bolivariana de Notícias (ABN), alimentada pelo governo, divulgar a imputação de nove delitos pela Promotoria à militante chavista, foi citado apenas o crime de terrorismo, sem a confirmação dos outros oito. Já o Ministério Público não se pronunciou oficialmente sobre o caso.


Na terça, Chávez reagiu ao ataque dizendo que já havia alertado a aliada de que ações ‘contrarrevolucionárias’, como essa, davam ‘gás à burguesia’ para criticá-lo. ‘[A burguesia] pega as imagens e diz que ordenei, mas não [fui eu].’


Em meio a fortes reações internas e externas contra o ato, o presidente afirmou ainda que a ‘companheira Ron’, dirigente e fundadora da União Popular Venezuelana (UPV), pequeno partido que apoia Chávez, sentirá ‘o peso da lei’.


A Globovisión, que apoiou o frustrado golpe de Estado contra Chávez em 2002, tem sido alvo de uma ofensiva do governo, que já aplicou multas e ameaça cassar a licença de transmissão do canal. O dono da emissora, Guillermo Zuloaga, que foi proibido de deixar o país sob acusação de fraude comercial, afirma que sofre perseguição política.


Recentes medidas do governo venezuelano, que tem restringido a liberdade de imprensa no país, motivaram o envio de uma carta anteontem da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Cidh), ligada à OEA, para o Estado da Venezuela. No comunicado, o órgão expressa profunda preocupação pela situação da liberdade de expressão no país.


O ataque violento à Globovisión, o fechamento de 34 emissoras de rádio na semana passada e uma ‘proposta’ de ‘Lei do Delito Midiático’ foram o foco do comunicado.’


 


 


IRÃ


Reuters


Organização de jornalistas é fechada no Irã


‘Autoridades do Irã fecharam a principal organização jornalística do país, disseram ontem membros da própria Associação dos Jornalistas Iranianos.


Segundo a FIJ (Federação Internacional de Jornalistas), homens armados invadiram anteontem à noite a sede da organização em Teerã e a interditaram -segundo um membro, ‘sem razão alguma’.


O fechamento da associação ocorreu no mesmo dia em que o presidente conservador Mahmoud Ahmadinejad deu início a seu segundo mandato, depois de reeleito no contestado pleito de 12 de junho.’


 


 


CHINA


AP


Chinês, 15, morre em centro de reabilitação para vício em internet


‘A China investiga a morte de um jovem que supostamente foi espancado até morrer em um campo cujo objetivo é tratar o vício em internet, informou a mídia estatal do país.


Deng Senshan, 15, morreu no domingo, menos de um dia depois de os seus pais o enviarem ao campo, na Província de Guangxi, informou a agência de notícias chinesa Xinhua.


O caso motiva apelos de especialistas em medicina por leis que regulamentem tais centros de tratamento. A preocupação quanto a esse tipo de comportamento é tão forte, e a demanda por reabilitação tão grande na China, que os centros fazem publicidade na TV.


Deng foi encontrado vomitando e levado a uma clínica, onde morreu. Seus colegas dizem que ele foi espancado por um professor.


A Xinhua cita declarações de representantes do governo local de que diversas marcas foram encontradas no corpo do jovem e informa que quatro treinadores do Campo de Treinamento de Salvação de Qihang foram presos.


A controvérsia quanto aos métodos usados no tratamento levou o ministro da Saúde a promulgar uma notificação, na semana passada, proibindo o uso de terapia de eletrochoque para o tratamento de viciados em internet em um hospital no leste da China.


Tao Ran, diretor da primeira clínica chinesa de tratamento de vício em internet, parte de um hospital militar em Pequim, disse que mortes como essa eram um risco, pois raros campos usam métodos científicos -a maioria opta por disciplina crua, ao estilo militar.


Tao disse que 40% dos viciados em internet também sofrem de distúrbio de deficiência de atenção e hiperatividade, e têm dificuldades para obedecer as ordens na reabilitação.


‘Eles apresentam eficiência de apenas um quarto ou um quinto do normal, em sua vida acadêmica’, disse. O vício em internet é um grande problema na China porque 200 milhões de usuários da internet no país têm entre 15 e 35 anos, e muitos deles não exercem autocontrole, de acordo com Tao.’


 


 


INTERNET


Daniela Arrais


Ataque de hackers tira Twitter do ar


‘Um ataque de hackers derrubou o Twitter durante grande parte do dia de ontem em diversos locais do mundo -usuários tiveram dificuldade para acessar o serviço e postar mensagens de até 140 caracteres.


O serviço de microblog, que conta com 44,5 milhões de usuários no mundo, segundo a consultoria comScore, informou em sua página de status que sofreu um ataque virtual de negação de serviço. No ataque, um grande número de computadores são apontados simultaneamente para o site da vítima, com o objetivo de derrubar servidores e seus serviços.


‘É como se muita gente saturasse um call center com ligações simultâneas, e, nesse caso, aparentemente, com números de telefones de origem falsos’, afirma Luiz Eduardo dos Santos, especialista em segurança da informação.


‘A telefonista atende, pergunta como pode ajudar e quem ligou não fala mais. Diferentemente do mundo real, o servidor (telefonista), por regras de protocolos de redes, tem que esperar um tempo até desligar. Como é muita gente fazendo ligações, todas as linhas ficam ocupadas. E quem realmente quer fazer uma ligação séria não consegue.’


Ele acrescenta, ainda, que, muitas vezes, esse tipo de ataque é consequência de um vírus. ‘O usuário final não sabe que sua máquina está atacando aquele servidor.’


O Twitter afirmou em seu blog que, enquanto se recupera do ataque, usuários podem experimentar lentidão no serviço.


Especialistas afirmam que é difícil rastrear de onde parte esse tipo de ataque. Segundo o site do ‘New York Times’, provavelmente o ataque foi originado na Rússia ou na Geórgia.


A rede social Facebook, o site de vídeos YouTube e o de blogs Live Journal também sofreram ataques ontem. ‘As informações dos usuários não estiveram em risco e nós restauramos o acesso completo ao site para a maioria dos usuários’, disse o Facebook.


Em junho, a audiência global do Twitter cresceu 1.460%, segundo a comScore. O resultado o coloca como o 52º maior site do mundo, acima de sites como o da ESPN.’


 


 


Folha de S. Paulo


Murdoch vai cobrar pelo conteúdo de todos os seus sites


‘O bilionário de origem australiana Rupert Murdoch, dono da News Corp., disse que vai cobrar pelo conteúdo on-line dos sites de notícias do grupo, que incluem jornais como os britânicos ‘The Times’ e ‘The Sun’ e o americano ‘New York Post’ (que hoje têm acesso gratuito).


O modelo deve ser semelhante ao do ‘Wall Street Journal’, que também pertence ao grupo e que combina matérias pagas com conteúdo gratuito.


‘Jornalismo de qualidade não é barato, e uma indústria que dá de graça seu conteúdo está simplesmente canibalizando a sua capacidade de produzir boa reportagem’, afirmou Murdoch em entrevista ontem, um dia após a News Corp. anunciar prejuízo de US$ 3,4 bilhões no último ano fiscal (período de 12 meses encerrado em 30 de junho).


Para o empresário, o modelo de cobrança do site do ‘Wall Street Journal’ é o mais bem-sucedido do mundo e será usado para aumentar o faturamento com todo o conteúdo on-line do grupo. ‘O aumento que temos visto nas assinaturas do ‘Wall Street Journal’ [no fim de 2007] prova para mim que o mercado está disposto a pagar por qualidade.’


Ao lado do adotado pelo ‘Financial Times’, que também cobra pelo conteúdo, o modelo do ‘Wall Street Journal’ é considerado um dos poucos a dar lucro e continuar a se expandir. Outros jornais, no entanto, não tiveram experiências tão promissoras. O ‘New York Times’, por exemplo, passou a cobrar para que os leitores do site tivessem acesso aos material de colunistas. Pouco tempo depois, reverteu a decisão, com o fracasso da iniciativa. Agora, o jornal volta a discutir a cobrança do conteúdo on-line.


Essa discussão ocorre porque os jornais americanos e europeus, além de enfrentar a queda de leitores devido à internet, têm tido queda na receita com publicidade, fruto da crise que chegou antes e com mais força nessas economias.


Questionado sobre por que os leitores vão optar pelo material pago quando podem migrar para sites grátis, Murdoch disse que é preciso ‘tornar o conteúdo melhor e diferenciá-lo do de outras pessoas’. Para o executivo, se a News Corp. for bem-sucedida, esse será o modelo adotado por toda a mídia. Ele disse que a medida será implantada no atual ano fiscal (que se encerra em 30 de junho de 2010).’


 


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


Globo exibirá todos os jogos do Corinthians em agosto


‘A Globo vai exibir todos os jogos do Corinthians neste mês. É a primeira vez que isso ocorre no Brasileirão de 2009.


O motivo dessa preferência é meramente comercial. Não tem nada a ver com a má fase do clube -o planejamento das transmissões foi feito antes do início do campeonato.


Das dez maiores audiências da Globo com futebol neste ano, na Grande São Paulo, oito foram jogos disputados pelo Corinthians. O time do Parque São Jorge tem mais apelo até que a seleção brasileira.


As duas maiores audiências foram as finais da Copa do Brasil, entre Corinthians x Internacional, 34 e 40 pontos. A seleção só aparece em terceiro lugar, com 33 pontos obtidos em jogo contra o Paraguai, em 10 de junho, válido pelas eliminatórias da Copa, e em nono.


Nenhuma das dez maiores audiências foi jogo do Brasileirão. Mas, também no Nacional, o Corinthians domina. São dele as três melhores marcas. Palmeiras (contra Flamengo) aparece em quarto e São Paulo (contra Inter), em sétimo.


Neste mês, a Globo já exibiu Corinthians x Avaí (só para Santa Catarina) e Náutico x Corinthians (SP, anteontem, quarto maior ibope do Brasileirão, com 25,9 pontos).


Domingo, tem Flamengo x Corinthians (SP). No dia 16, é a vez de Corinthians x Atlético-MG (MG). O clube volta a jogar na Globo na quarta seguinte, dia 19, contra o Inter. No dia 23, enfrenta o Botafogo (para toda a rede, menos SP e MG). Retorna no dia 26, contra o Barueri.


O Corinthians só ficará fora da Globo na próxima quarta e no dia 30, quando não joga.


TV ABERTA PAGA 1


A Sky enviou ontem a seus 60 mil assinantes dos pacotes de alta definição (HD) e-mail em que anuncia o início do fornecimento de caixa que permitirá a recepção dos sinais digitais de emissoras abertas.


TV ABERTA PAGA 2


O serviço não será cobrado, como antecipou ontem esta coluna. Mas, para driblar a proibição de cobrança por TV aberta, a Sky tomará R$ 19 mensais, infinitamente, a título de aluguel pela caixa. A operadora não cobra pela caixa de canais pagos.


REFORÇO


A Record contratou ontem a apresentadora Amanda Françozo, ex-TV Gazeta. Ela entrará na bancada do ‘Hoje em Dia’ apenas aos sábados.


PELA VIDA 1


A Globo lança hoje campanha em que promove ‘pequenos gestos’, como ‘cumprimentar o vizinho’, para ‘valorizar a vida’. ‘O simples fato de acordar todo dia merecia uma comemoração. Estou vivo’, diz a propaganda.


PELA VIDA 2


Parece ‘teaser’ de ‘Viver a Vida’, próxima novela das oito. Mas a Globo diz que não é. Afirma que é uma campanha institucional, que sai do ar dia 13, véspera do primeiro ‘teaser’ oficial de ‘Viver a Vida’.


GRADE VOADORA


Deu errado a estratégia da Record de reprisar ‘Bela, a Feia’ às 17h40, reduzindo ‘Geraldo’. Na quarta, teve 5,1 pontos. Perdeu para a Band (5,5).’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Nova série mistura sexo e mistérios no espaço


‘Uma ‘entidade’ se esconde em meio a um grupo no espaço. O mocinho teve um caso de apenas uma noite com a mocinha (que mudou de vez sua vida), mas ela mantém segredo. Já viu essa trama?


O desconhecido é base dos enredos de ficção científica e já foi explorado em várias facetas. Stanley Kubrick o transformou em um computador com inteligência artificial em ‘2001 -°Uma Odisséia no Espaço’; James Cameron criou seres fantásticos no seu ‘O Segredo do Abismo’. A lista é quilométrica.


A série ‘Defying Gravity’ (desafiando a gravidade), que estreou no último domingo na rede ABC norte-americana (ainda sem previsão no Brasil), usa essa mesma premissa: o acompanhante misterioso de uma tripulação numa viagem de seis anos pelo Sistema Solar.


Ao longo dos 13 episódios, o grupo de oito astronautas tem de aprender a conviver uns com os outros enquanto lidam com os percalços da missão.


Muitos deles já se envolveram romanticamente e, logo na estreia, acontece um ‘balé sexual’ entre um casal. A Nasa desliga as câmeras para lhes dar privacidade, enquanto eles se entrelaçam e flutuam numa cabine sem gravidade. Plasticamente bonito, mas dramaticamente dispensável e apelativo.


Ambientada em 2052, a série escolheu não desenvolver o visual do futuro da humanidade. Tudo parece igual a ‘Apollo 13’, filme de 1995 de Ron Howard. Considerando que se passaram 14 anos desde então, o fato só conta contra o programa.


Uma inovação foi imaginada: o banimento do aborto. Isso porque a personagem de Laura Harris, uma bióloga, vai se ver às voltas com a escolha entre a maternidade e a chance de estar numa missão.


Para o papel de herói e narrador, foi escolhido Ron Livingston. Ele é um dos veteranos desta viagem, mas há cinco anos teve um acidente em Marte que o fez abandonar duas pessoas da equipe no planeta vermelho. Imagine se uma delas não era sua namorada…


Todos na nave têm seus segredos. Além do aborto ilegal, que causa alucinações na bióloga, há um alcoólatra, os casos antigos e os tripulantes que sabem sobre a presença ‘da coisa’. É uma espécie de carona em ‘Lost’, mas mal-ajambrada.


Por ter sido criada por James Parriott, roteirista e produtor-executivo de ‘Grey’s Anatomy’, o seriado foi apelidado de ‘Grey’s Anatomy do espaço’, mas é exagero e destrata o bom enredo de ‘Grey’s’.


Não dá para negar semelhanças, como o elenco ser majoritamente formado por bonitões e todo mundo transar com todo mundo, mas a causa talvez seja ‘Defying Gravity’ misturar fórmulas de sucesso.


No final das contas, a série parece ter sua situação bem definida numa das frases de Livingston: ‘Lembro-me tão bem desse momento [de pré-embarque rumo ao espaço]. Tudo está no seu futuro. E tudo parece bem’. No seriado, esse otimismo termina com dois mortos e quase o fim de sua carreira de astronauta.. Resta saber se o futuro será igualmente sombrio para ‘Defying Gravity’.’


 


 


CINEMA


Ana Paula Sousa


As armas de Hollywood


‘Reza a lenda que o modelo tem a idade de ‘E o Vento Levou’ (1939). À época, o estúdio MGM convidou jornalistas para uma viagem a Atlanta. Houve champanhe, hotel cinco estrelas, entrevistas com as estrelas e um brinde: uma máquina de escrever com as iniciais GWW (‘Gone with the Wind’). O aparato, que resultou em páginas e páginas de jornal, ganhou um apelido: ‘junket’.


A palavra ‘junket’ não tem tradução. Mas tem um significado específico: é um evento que reúne a imprensa mundial para a divulgação de um filme. Pode designar também piquenique, festa. ‘Essa ação existe desde que o cinema é indústria. Trata-se, basicamente, de uma estrutura montada para que os ‘talents’ mantenham contato com a imprensa’, define Tito Liberato, diretor de marketing da Fox. Os ‘talents’, cabe esclarecer, são os atores e diretores.


Para que o contato não seja desprovido de glamour, os estúdios engendram viagens e cenários -com o perdão do trocadilho- cinematográficos. ‘O Julgamento de Nuremberg’ (1961) foi exibido num trem, na Alemanha. Em ‘Pearl Harbor’ (2001), jornalistas foram levados ao Havaí e fizeram suas entrevistas em um transatlântico.


Mas, se mudaram os tempos, mudaram também as ‘junkets’. ‘Antes, tinha todo um glamour. Agora é uma relação mais comercial. É tudo na ponta do lápis’, diz Márcio Fraccaroli, da distribuidora Paris Filmes. A Paris, recentemente, convidou a Folha para participar do evento de ‘Lua Nova’, novo título da saga adolescente ‘Crepúsculo’, em Los Angeles.


O convite incluía uma taxa de participação, em dólares: US$ 1.250 para entrevistas em grupo e US$ 1.750 para individuais. ‘Não sou eu que cobro, é o produtor’, diz Fraccaroli. Quando não racha a conta, a empresa gasta cerca de US$ 6 mil por jornalista.


Também indicativo dos novos tempos é que, há duas semanas, uma repórter da Folha foi parar no ‘black book’ (livro negro) -o português não chegou a esse universo- de um estúdio por fazer perguntas ‘indevidas’.


‘Isso é publicidade gratuita. Mas, hoje, os estúdios precisam menos da imprensa. Há comerciais na TV e internet’, diz Edward Jay Epstein, Ph.D. em ciência política em Harvard e autor do livro ‘O Grande Filme – O Dinheiro e Poder em Hollywood ‘, sobre os bastidores da indústria. ‘Mas esses eventos são, ainda assim, um bom negócio. Enquanto uma campanha que inclua TV sai por cerca de US$ 20 milhões, a publicidade gratuita sai, no máximo, por US$ 2 milhões.’’


 


 


***


Entrevista é parte das estratégias de publicidade


‘O jornalista Sergio Augusto tinha 21 anos quando, em 1963, foi a Nova York, a convite da United Artists, para ver ‘Deu a Louca no Mundo’. ‘Pegaram a gente em Nova York, levaram para Los Angeles e, chegando lá, fomos recebidos com tapete vermelho e bandinha’, relata.


‘Ficamos no Beverly Hilton. O [diretor] Stanley Kramer se reuniu com a gente e, depois, houve uma festa na casa dele.


Fiquei bobo. Era uma verdadeira Disneylândia’, conta.


Essa Disneylândia evaporou.


Em seu lugar, surgiu outra terra, a do marketing. É sabido que os estúdios, desde o início do negócio de cinema, têm de criar não apenas os filmes, mas também o público. Hoje, porém, com as mil ofertas de diversão do mundo, as estratégias para fisgar o público se sofisticaram.


‘Agora os estúdios investem no marketing quase o mesmo que investem na produção’, diz o pesquisador Edward Jay Epstein, de Harvard. ‘A realização de entrevistas com o astros fazem parte do marketing.’


O público, ao ver ou ler entrevistas com Brad Pitt ou Harrison Ford, não tem ideia da engrenagem por trás de cada frase, de cada aparição. No caso dos grandes estúdios, os eventos para a jornais, revistas e emissoras de televisão são organizados pela matriz.


Hollywood define até mesmo o número de repórteres que um país como o Brasil terá nas entrevistas. Em geral, são cinco ou seis. ‘Mas recentemente, como a Warner Brasil vem ganhando importância pela expressiva bilheteria, também temos conseguido mais espaço’, contabiliza José Carlos Oliveira, diretor-geral da Warner.


Em boa parte das empresas, o evento, em tese, jornalístico, é organizado pelos departamentos de marketing. É a estratégia comercial que define, por exemplo, se um jornalista participará apenas das entrevistas coletivas ou se ficará a sós com o artista. Cabe também aos estúdios definir quanto tempo cada entrevista durará.


No caso das distribuidoras independentes, que compram títulos de diferentes estúdios, os eventos são organizados por empresas que vendem as vagas. ‘Se eu tiver interesse comercial, vou pagar a despesa de um jornalista para que ele faça uma entrevista’, diz Márcio Fraccaroli, da Paris Filmes. ‘Mas também posso investir só na passagem e no hotel e o veículo arca com a inscrição.’


‘A decisão em participar depende do potencial do filme para o mercado. Depende também do apelo que os atores ou diretores têm junto ao público’, diz Rosa di Sabbato, diretora de marketing da Imagem.


‘Existem outras oportunidades criadas pelo estúdios para atender, por exemplo, as revistas mensais, que têm outros prazos. As filmagens também podem ser uma oportunidade para que haja essa aproximação’, diz Tito Liberato, da Fox.


Estafa


Se, para os estúdios, esses eventos são a chance de criar um falatório em torno do filme e, para a imprensa, de conversar com figuras inacessíveis fora do mundo encantado, para os artistas as maratonas costumam ser uma prova de fôlego.


‘No ‘Jardineiro Fiel’, me mandaram para todos os cantos do planeta. Devo ter falado com uns 300 jornalistas’, conta o cineasta Fernando Meirelles.


‘Nesse período, não conseguia mais dormir, perdi 7 quilos, nem sei dizer por quais cidades passei e não reconheceria as pessoas que me recepcionaram.’ Meirelles admite que, não raro, os jornalistas, também fatigados, patinam em perguntas repetitivas.


Outro aspecto que a grandiosidade imprime aos eventos é o da sedução. Na atmosfera festiva, não tenderiam os jornalistas a gostar mais do filme? ‘Isso é Hollywood. A especialidade deles é envolver as pessoas’, diz Fraccaroli.’


 


 


Fernanda Ezabella


‘Perguntinha desagradável? Não, não e não!’


‘No reino das celebridades, cutucar o rei com vara curta não tem graça. Mesmo se for o ‘rei da comédia’, como vem sendo chamado o diretor e produtor Judd Apatow (‘O Virgem de 40 Anos’). E mesmo se for nos Estados Unidos, o país da imprensa livre.


Eu estava em Los Angeles, no mês passado, quando participei da entrevista coletiva de ‘Funny People’, filme de Apatow com Adam Sandler. Num sábado, jornalistas estrangeiros foram ver o longa. Na saguão do cinema, distribuíam o kit de imprensa, uma papelada com a história do filme, detalhes da carreira dos atores, os créditos de produção e o recibo da limusine de Apatow.


Como? Sim, estava lá, por engano, a ficha da limusine que levaria o diretor, às 7h15 do dia seguinte, ao hotel onde aconteceriam as entrevistas. Preço (US$ 1.375, cerca de R$ 2.750) e endereço de sua casa estavam no recibo do carro, que percorreria 12 milhas ida e volta (20km). Um táxi daria US$ 40.


No domingo, sigo para o hotel à beira-mar. Entre mesas fartas de comida e bebidas, os kits de imprensa continuam iguais. Na entrevista com diretor e elenco, peço o microfone:


‘Tem sido um período difícil com a crise financeira, os estúdios têm cortado empregos e orçamentos’, digo a Apatow e continuo: ‘É uma pergunta desagradável, mas como você justifica ter uma limusine com esse preço te pegando em casa, numa distância tão curta como seis milhas, como nos mostra aqui no material de imprensa?’


Apatow não entende. ‘O quê? Onde?’ O ator Seth Rogen brinca: ‘Uma limo foi te buscar! Mas seis milhas é longe!’


Os jornalistas riem na sala, mas não os assessores. Um deles tira o microfone da minha mão, enquanto eu tento explicar a pergunta ao diretor.


Apatow ameniza: ‘Mas eu não ligo de responder’, diz. ‘É que, após trabalhar 12, 14 horas por dia, é perigoso dirigir […] por isso os estúdios querem assim […]. Mas você pode me buscar se quiser, eu não ligo.’


Sem microfone, retruco: ‘Se você me pagar esse valor, eu também não me importo, ficaria feliz em fazê-lo. Mas é uma soma muito alta, não?’


O diálogo segue atrapalhado, e dois assessores me interrompem novamente. Desisto. Outra jornalista faz a última pergunta: ‘Apatow, quando você se deu conta de que deu certo?’


O diretor não perde a piada: ‘Quando consegui limusines me pegando em casa!’


A mulher de Apatow, Leslie Mann, que também está no filme, tem um chilique com os assessores. ‘Isso não é nem um pouco legal’, diz, olhando o kit. ‘É o endereço da nossa casa!’


Tento sair à francesa, mas sou abordada por uma assessora. Ela tira o kit da minha mão, enquanto os outros assessores arrancam a página ‘maldita’ dos demais jornalistas.’


 


 


Folha de S. Paulo


Estúdio não se pronuncia oficialmente


‘Questionada sobre as razões pelas quais impediu a jornalista da Folha de concluir sua pergunta em entrevista coletiva em Los Angeles, a Universal declarou que não se pronunciaria ‘oficialmente’. Não oficialmente, porém, a assessoria do estúdio no Brasil, comunicada da confusão por colegas estrangeiros, telefonou para a Ilustrada para se queixar da repórter e questionar a publicação do material, poucos dias depois do ocorrido.


Informaríamos que houve vazamento de um recibo? Incluiríamos os dados da nota? A reação à pergunta?


Diante das respostas positivas, a assessoria mudou de estratégia. Disse que, a partir dali, a Folha ‘poderia’ não ser mais convidada para os eventos da empresa.


Quando foi pedida uma posição da empresa, a Universal voltou atrás -disse que o jornal continuará a ter acesso às rodas de imprensa, mas que a repórter Fernanda Ezabella agora faz parte do ‘black book’ (livro negro) de todos os assessores presentes na ocasião. Seu nome poderá ser vetado no futuro.


Informada sobre a publicação desta reportagem, a empresa manteve a recusa de se pronunciar.’


 


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 7 de agosto de 2009 


 


CENSURA


Julia Duailibi


‘A questão da censura é a mesma da crise do Senado’


‘Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), José Arthur Giannotti, um dos filósofos mais respeitados do País, afirmou ontem, em entrevista ao Estado, não ser papel do Judiciário impor restrições à veiculação de informações de interesse público. ‘A questão da censura, ao meu ver, é a mesma questão que está levando à crise do Senado, que está levando à esculhambação da política na América Latina. É uma questão mundial, mas no Brasil acontece de forma muito aguda’, afirmou.


No dia 30, o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibiu o Estado de publicar informações sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de quem é amigo. ‘Quando você tem juízes que estão tomando parte no festim de Brasília, eles entendem perfeitamente que precisam defender o festim’, disse. Para o filósofo, a democracia brasileira, ‘frágil’, propicia situações como essa. ‘Temos sempre de estar vigilantes’, disse Gianotti, que completou: ‘O que temos é uma bagunça generalizada.’ A seguir, trechos da entrevista.


Qual avaliação o sr. faz da proibição imposta ao jornal O Estado de S. Paulo de publicar informações sobre o filho de Sarney?


Em primeiro lugar, isso está dentro de um problema geral na América Latina, que é a ameaça à democracia formal, que é uma democracia de direitos. Passamos por uma época de crescimento, do Brasil em particular. Uma massa grande de cidadãos entrou para o sistema político, e os seus representantes são pessoas que estavam inteiramente de fora da vida política tradicional. E esse pessoal não tem nenhum compromisso com a democracia formal. A questão da censura, ao meu ver, é a mesma questão que está levando à crise do Senado, que está levando à esculhambação da política na América Latina. É uma questão mundial, mas no Brasil acontece de forma aguda.


O sr. acha ser papel do Judiciário impor restrições à veiculação de informações de interesse público?


Não, óbvio que não. Acontece que, quando você tem juízes que estão tomando parte no festim de Brasília, eles entendem perfeitamente que precisam defender o festim.


Decisões do Judiciário são influenciadas por questões políticas?


Quando decisões do Judiciário chegam à Corte Suprema, sempre são influenciadas pelo jogo político. A Suprema Corte é o lugar onde se faz a união entre direito e política, em qualquer lugar do mundo.


No Brasil, por ser ainda uma democracia recente, essa influência ocorre com mais frequência?


Sim, no Brasil temos que resistir ao máximo. Temos que perceber também que isso não é apenas um epifenômeno (fenômeno acessório), não é uma coisa acidental. Está ligado ao aumento da cidadania no Brasil. Na medida em que uma massa enorme entrou no mercado, passou a participar da vida cotidiana, com seus direitos. Eles (integrantes dessa massa), como acabaram de vir, pensam em termos dos ganhos imediatos. Não são capazes de perceber que um ganho imediato pode ser abolido numa perspectiva mais longa. Essa falta de previsão, que marca o governo Lula, leva ao desprezo da democracia formal. Se os nossos representantes tivessem uma cultura política mais aprofundada, isso não aconteceria.


Como conciliar liberdades individuais e direito à informação num País em que a Justiça está sujeita à influência política? São necessárias novas regras?


Não adianta regra. O problema é que você passa a obedecer à regra, e outras pessoas reclamam quando a regra é obedecida. Sempre haverá um desgraçado que vai querer passar a perna na regra.O que tem de ser feito, e ao meu ver está sendo bem feito, é lutar contra a decisão imposta de uma forma férrea e ainda com a bênção de um direito que, afinal de contas, é mal interpretado.


Qual lição o País deveria tirar de episódios como esse?


Que a nossa democracia é muito frágil. E nós temos sempre de estar vigilantes.


Essa censura remete a épocas como a do regime militar?


Acho que não. Na ditadura, tivemos outro processo.Houve uma ruptura do sistema democrático. Não é isso que acontece agora. O que temos é uma bagunça generalizada. Ela reflete a enorme variedade da sociedade brasileira hoje. É a integração dessa massa na vida cotidiana, pública e política.


As instituições brasileiras tendem a se fortalecer com o amadurecimento da democracia?


Tendem, mas também há tendências que são contrárias. Existem países que não dão certo. Nada leva a dizer que o Brasil vai dar certo. Veja o caso da Argentina. Era um grande país, mas se estrumbicou. Nada impede que o Brasil percorra este caminho.


Carlos Lessa


Ex-presidente do BNDES


‘Não acho que seja correto obter uma liminar para não publicar. Se o Estadão está pegando erros do presidente do Senado, está prestando um serviço à sociedade. Quem não deve não teme’


Christiane Torloni


Atriz


‘Qualquer tentativa de volta de censura é um retrocesso histórico. Não foi para isso que se lutou pela democracia. A imprensa tem que comprovar as denúncias. Neste caso, está comprovado’


Ricardo Ismael


Cientista político


‘É papel da imprensa informar o que está acontecendo no País, em particular quando há suspeita de malversação do dinheiro público. Investigações sob sigilo têm restrições, mas se o jornal teve acesso deve publicar’


Jaguar


Cartunista


‘Já levei tanta cacetada da censura. As coisas que estão acontecendo no Brasil são das mais malucas. Volta da censura, volta do Collor. Não tem o menor cabimento falar de censura hoje. Achei que era algo já enterrado’


Alba Zaluar


Antropóloga


‘Significa um grande retrocesso. Por que não se pode noticiar sobre alguém que é filho de fulano e não sobre o filho de outro? Cria um privilégio que não tem cabimento numa democracia’


Ignácio Cano


Sociólogo


‘É uma decisão descabida que atenta contra a liberdade de expressão e o senso comum. Algumas pessoas deste país infelizmente ainda conseguem no Judiciário tolher um direito básico como a informação’


Bete Mendes


Atriz


‘É realmente um absurdo, absurdo, absurdo. Como o ex-ministro Fernando Lyra (da Justiça), que acabou com a censura no País, todos nós lutamos por muito tempo para termos liberdadede expressão’


Roberto Farias


Presidente da Academia Brasileira de Cinema


‘Tenho medo, porque vivi nos tempos da censura do governo militar. Tive um filme censurado. Me impressiona como um símbolo da luta contra a censura, como foi o Estadão, esteja passando por isso’


Carlos Lyra


Compositor


‘Eu não estou proibido de falar. A imprensa é o único órgão que noticia e denuncia. Se não existe liberdade de imprensa, então nós voltamos à ditadura militar ou ao bolchevismo, que é o que existe dentro do governo’


Chico Anysio


Humorista


‘No Brasil, tudo o que é ruim volta. Eu acho isso inadmissível, porque depois vão proibir de se falar da neta, da filha, do próprio Sarney… Ele não é uma pessoa, é uma comunidade. Daqui a pouco vai dizer que não conhece o neto. O Brasil inventou a impunidade’


Lúcia Murat


Cineasta


‘Sou inteiramente contrária a qualquer tipo de censura à imprensa. E acho que toda a sociedade civil também é contra a censura. Numa democracia não se pode impedir que a informação seja divulgada’


Adauto Novaes


Filósofo e jornalista


‘É assustador que num momento em que o País tenta se estruturar pela liberdade e a democracia aconteça uma coisa dessa. Você não sabe onde pode parar. Pode ser a ponta de alguma coisa muito pior’


Giulia Gam


Atriz


‘Acho muito perigoso a censura à imprensa. Se o jornal é irresponsável, se faz uma acusação que não procede, você pode processar. Mas se for verdade, não se pode cercear’


Flavio Marinho


Autor teatral


‘Estou chocado, como ex-jornalista e cidadão brasileiro. Não acredito que a gente tenha levado tantos anos para conquistar a democracia para esse tipo de cerceamento de imprensa acontecer’


Eduardo Dussek


Cantor, compositor e ator


‘É um absurdo, inaceitável. Todo mundo já sabe o que existe no Senado Federal. O que estamos vendo parece coisa de republiqueta da parte de cima da América do Sul’


Marieta Severo


Atriz


‘Fico indignada. O papel da imprensa é importantíssimo para a transparência. Eu quero saber o que está acontecendo e acredito que tenho o direito de ser informada’


Dom João de Orleans e Bragança


Fotógrafo


‘A própria relação do juiz com os Sarney registrada na fotografia mostra que ele não tem isenção para julgar o caso.. A decisão representa censura, algo que abolimos há 25 anos’


Carlos Tufvesson


Estilista


‘Acho que lutamos por muito tempo no período negro da ditadura para ter uma democracia plena num Estado de Direito para vê-la sendo usada da maneira pouco representativa, como tem sido ultimamente’’


 


 


GREVE


O Estado de S. Paulo


Funcionários da TV Cultura podem parar


‘Depois de um piquete e duas assembleias ontem, uma às 12 horas e outra às 16 horas, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo decidiu que, a partir de segunda-feira, parte dos empregados da rádio e TV Cultura pode entrar em greve. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Cultura informa que vai se pronunciar oficialmente hoje, dia em que também tentará uma conciliação com os funcionários. O protesto refere-se ao não-cumprimento do acordo coletivo, que determinou 5,83% de reajuste e 35% de abono salarial.’


 


 


CAMPANHA


O Estado de S. Paulo


Partidos são acusados de propaganda ilegal


‘A Procuradoria Regional Eleitoral em Sergipe ingressou com dez representações contra partidos políticos que fizeram propaganda eleitoral antecipada no primeiro semestre deste ano. De acordo com a procuradoria, PMDB, PT, PC do B, PSDB, PSB, PTB, PP, PR, PSC e DEM utilizaram o horário da propaganda partidária para realizar promoção pessoal de alguns de seus filiados ou para denegrir opositores. ‘A propaganda partidária deve ser utilizada para promoção da agremiação e não de políticos’, disse o procurador regional eleitoral substituto, Ruy Nestor Bastos Mello.’


 


 


INTERNET


O Estado de S. Paulo


Ataques de hackers causam pane no Twitter


‘Um ataque de criminosos digitais derrubou ontem, por várias horas, o Twitter, serviço de microblogs mais popular do mundo. Ele sofreu um ataque de negação de serviço, em que hackers fazem com que milhares de computadores acessem um site ao mesmo tempo, deixando-o inacessível no mundo todo. Mesmo depois de voltar ao ar, na tarde de ontem, o serviço continuou instável.


‘Trabalhamos duro para alcançar a estabilidade técnica e estamos orgulhosos de nossas equipes de engenharia e operações. Mesmo assim, o ataque de hoje, em massa e distribuído globalmente, é um lembrete de que existe muito trabalho à frente’, escreveu Biz Stone, cofundador do Twitter, no blog da empresa.


O Facebook, a maior rede social do mundo, também sofreu um ataque ontem, o que acabou causando problemas intermitentes de acesso.


O fato de um ataque relativamente comum conseguir tirar do ar um site tão conhecido mostra como o Twitter ainda é novo e vulnerável. O serviço se tornou muito popular entre celebridades, empresas grandes e pequenas e até mesmo manifestantes no Irã.


‘Eles claramente precisam de uma infraestrutura mais forte para serem capazes de impedir esse tipo de ataque’, afirmou Graham Cluley, consultor da Sophos, empresa especialista em segurança de computadores. O Facebook não chegou, em nenhum momento, a ficar totalmente fora do ar. Não se sabe se os ataques foram coordenados pelo mesmo grupo de criminosos virtuais.


‘As pessoas tendem a querer atacar esses sites muito famosos’, disse a analista Shelly Palmer, diretora da Advanced Media Ventures. ‘Você ficaria surpreso ao saber quantos sites de grandes empresas são atacados diariamente.’


No começo da semana, a Gawker Media, dona do blog que leva o seu nome e de outros, também foi atacada.


BALEIA


Não é incomum o Twitter sair do ar por problemas de excesso de usuários.


Os responsáveis pelo site até criaram um desenho de baleia, mantida acima da água por um grupo de pássaros, que colocam na primeira página quando o Twitter não está funcionando.


Os usuários brasileiros até começaram a usar o verbo ‘baleiar’ como sinônimo de serviço fora do ar. Segundo a ComScore, o Twitter teve 20,1 milhões de visitantes únicos nos Estados Unidos em junho, comparados a 593 mil visitantes no mesmo mês de 2008.


FACEBOOK


O Facebook, que tem mais de 200 milhões de usuários, informou que ataques prejudicaram a qualidade do serviço de alguns usuários. Segundo Kathleen Loughlin, porta-voz do Facebook, não houve risco a dados dos usuários durante os ataques e que o acesso foi restaurado para a maioria dos usuários.


‘Continuamos a monitorar a situação para garantir que os usuários tenham a experiência rápida e confiável que eles esperam do Facebook’, disse Kathleen.


O site LiveJournal, serviço de blogs e de diários online, também informou ter sido alvo de ataques de negação de serviço que duraram uma hora. Criado há uma década, o LiveJournal vem perdendo popularidade nos últimos anos.


No mês passado, dezenas de sites americanos sul-coreanos, incluindo os da Casa Branca e da Casa Azul, do presidente da Coreia do Sul, sofreram ataques de negação de serviço, iguais aos que sofreram os sites ontem.


Os ataques de negação de serviço normalmente são realizados por ‘botnets’, milhares de computadores ‘zumbis’, infectados por vírus, que são controlados a distância.’


 


 


PREFEITURA


Diego Zanchetta


Kassab gasta mais com publicidade


‘O corte de R$ 3 bilhões no Orçamento de 2009 feito pela gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM) não atingiu a publicidade oficial do governo. No primeiro semestre, a administração gastou R$ 4,43 milhões a mais do que o total de 2008, ano eleitoral no qual o prefeito disputou e conseguiu a reeleição. Até o dia 30 de junho, foram consumidos R$ 44,1 milhões, e a previsão é de que até o fim do ano sejam aplicados, com a transferência de valores do superávit financeiro, R$ 78,4 milhões – 134% a mais que os R$ 39,7 milhões do ano passado.


Os dados sobre os gastos com publicidade foram enviados no dia 2 de julho pelo secretário municipal de Governo, Clóvis Carvalho, à Comissão de Finanças da Câmara Municipal. Com base nos números, vereadores de oposição acusam o governo de reduzir gastos em setores responsáveis pela manutenção da cidade e de não cortar verbas destinadas à propaganda. Em quatro anos e meio, a gestão José Serra/Kassab já gastou R$ 205,3 milhões em publicidade. O recorde de gastos ocorreu em 2007, quando foram aplicados R$ 66,9 milhões. No seu último ano, em 2004, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) gastou R$ 39 milhões.


Desde 2008, as agências que fazem a publicidade da Prefeitura são a Lua Branca e a Nova SB Comunicação, ambas responsáveis por campanhas realizadas desde 2006 pelo PSDB. ‘Só espero que o prefeito faça as obras antienchente neste ano. Fica claro para o cidadão, que não se cansa de ver o mato alto e os buracos nas ruas, que o corte no Orçamento atingiu a cidade. Só que a publicidade, ao contrário, teve aumento de gastos’, critica o vereador Antonio Donato (PT), integrante da Comissão de Finanças do Legislativo.


Por causa da crise financeira, o prefeito reduziu de R$ 27,5 bilhões para R$ 24,5 bilhões a estimativa das verbas que vão entrar nos cofres da Prefeitura neste ano. A manutenção realizada pelas 31 subprefeituras e a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) já foi atingida pelo corte. Em comparação com os primeiros semestres de 2009 e 2008, a queda na execução orçamentária de obras de manutenção das subprefeituras foi de R$ 114,5 milhões para R$ 93,8 milhões, valores que não incluem as despesas com pagamento de funcionários. Nessa verba entram nove rubricas com gastos de manutenção como, por exemplo, a pavimentação de vias e obras de combate à erosão e melhorias de bairros.


Na Siurb, também houve queda do total empenhado para o primeiro semestre de 2009, na comparação com igual período de 2008.


?PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS?


Foram empenhados até o final de junho deste ano R$ 181,4 milhões; no ano passado, o empenho totalizou R$ 277 milhões no período. Os dados comparativos são da Comissão de Finanças, com base no NovoSeo (sistema de execução orçamentária online). O prefeito afirma, porém, que o congelamento não atingiu os investimentos nas áreas de saúde e educação.


A Prefeitura afirma que a publicidade tem caráter de ‘prestação de serviços’. O fato de não ter sido atingida pelo corte teria ocorrido principalmente em razão de campanhas das áreas de saúde e finanças, como o parcelamento de dívidas, a prevenção contra a nova gripe e o combate à dengue. ‘A Prefeitura tem obrigação de dar publicidade a importantes serviços colocados à disposição do cidadão e também de orientar a população sobre campanhas de alta relevância’, informou, em nota.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Batalha olímpica


‘A Globo se finge de morta, enquanto planta que a concorrência não dará conta de um evento desse porte. Já a Record alardeia que a Globo não tem crédito internacional para entrar na disputa. A briga da vez: os direitos de transmissão da Olimpíada de 2016, uma batalha de US$ 100 milhões. Esse é o valor que Record e Globo – cada uma delas – estaria disposta a desembolsar pelo evento, que ainda não tem sede escolhida. Ah, esse ‘suspense’ também faz parte das negociações, já que o Brasil concorre ao posto de país-sede do evento, acirrando a disputa entre as emissoras locais.


O Comitê Olímpico Internacional (COI) decidirá até o dia 15 de setembro qual das duas redes exibirá os jogos, bem antes do anúncio oficial da sede, que será no dia 2 de outubro. Tática para valorizar a transmissão? Sim, mas na Globo não é isso que importa.


Sem a Olimpíada de 2016, a rede ficaria longe dos jogos olímpicos até 2020, pois já perdeu para a Record a transmissão do evento em Londres, em 2012. Oficialmente, diretores da Globo informam que não farão loucuras por 2016, mas é fato que estão correndo atrás do COI desde o início do ano.’


 


 


 


 


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