A capa do Paris Match de 12 de julho é a foto de uma bela mulher, de perfil, sorrindo dentro do mar azul, de óculos escuros. Voyeurismo vulgar ou informação?
Atentado à vida privada, pensa a principal interessada, Ségolène Royal, primeira mulher a chegar ao segundo turno da eleição presidencial da França.
A capa de Match e as fotos da reportagem, que a mostram numa praia da Córsega com sua filha Clémence, indignaram Ségolène Royal e reabriram o debate sobre o direito à privacidade. Imediatamente, o advogado da ex-candidata entrou com uma ação na Justiça contra a revista, pedindo a retirada dos cartazes nas bancas e exigindo uma reparação financeira ‘substancial’, não divulgada.
Uma revista tem o direito de publicar fotos de uma personagem política de maiô, na praia, sem o seu consentimento? A publicação dessas fotos é informação, como pretende o diretor da publicação, ou é ‘voyeurismo vulgar’, como entende o advogado da interessada?
Lendo revistas e tomando suco
‘As fotos não têm relação com o texto publicado por Paris Match. Trata-se, pois, de voyeurismo sem relação alguma com o desejo de informar. É uma ilustração sem sentido para um texto pretensamente político’, pensa Jean-Pierre Mignard, advogado de Ségolène Royal, que tentou, sem sucesso, impedir a publicação da foto na capa da revista.
O advogado chamou atenção para um desvio, que considera perigoso, e aconselha os jornalistas a maiores exigências éticas. Ele vê na publicação um atentado à dignidade de uma mulher política visando a reduzi-la a uma dimensão people (de celebridade).
Paris Match foi lançada em 1949 e tem como divisa a frase: ‘O peso das palavras, o impacto das fotos.’ Em matéria de impacto, a publicação atingiu o objetivo. São apenas quatro fotos. A da capa, repetida em uma página interna, e mais três em que Ségolène aparece com sua filha dentro d’água (que ocupa duas páginas), lendo revistas e tomando um suco de melancia. É bem verdade que as fotos são favoráveis, do ponto de vista estético. Em todas, a ex-candidata aparece bonita, descontraída e seu corpo, protegido por um belo maiô inteiro, parece bastante elegante para seus 53 anos.
A ira de Sarkozy
Mas há um problema: as fotos foram ‘roubadas’, são fotos de paparazzo. E Ségolène Royal não admite que sua vida privada seja invadida a esse ponto e exposta aos leitores da revista.
A ex-candidata se disse ‘escandalizada’ pelo fato de ela e sua filha terem sido exibidas ‘sem qualquer respeito à privacidade’. Esta é a segunda vez que fotos de Ségolène Royal na praia são publicadas em uma revista francesa. No ano passado, fotos dela, de biquíni, foram publicadas por Closer e VSD, revistas de celebridades.
O diretor de redação de Paris Match, Olivier Royant, defendeu a publicação das fotos dizendo que as férias de verão das grandes personalidades políticas são um assunto de informação legítima, tanto na França como em outros países.
Mas na França – onde a linha de demarcação entre vida privada e vida pública dos políticos foi até pouco tempo muito clara e estritamente respeitada pela mídia – a situação mudou não faz muito tempo. Sarkozy foi um dos políticos que tentaram misturar os dois campos. Até o dia em que a mesma Paris Match publicou (em 2005) na capa a foto de Cécilia Sarkozy, então separada do marido, com um namorado, em Nova York. Quem pagou a ira de Nicolas Sarkozy foi Alain Genestar, então diretor de redação de Paris Match.
Controle da imagem
Genestar foi demitido algum tempo depois da publicação da foto e deu entrevista ao Monde atribuindo sua demissão ao então ministro do Interior. Por acaso, o proprietário de Paris Match é Arnaud Lagardère, um dos melhores amigos de Sarkozy e que, na época, desmentiu qualquer responsabilidade pela saída de Genestar da revista.
Neste novo episódio, o emprego de Olivier Royant não está ameaçado. Ségolène Royal não é amiga de Lagardère e se dirigiu à Justiça. Em breve, o juiz vai determinar se uma pessoa pública pode ter o controle total de sua imagem.
Se ganhar a causa, poderemos saber qual foi a ‘soma substancial’ exigida pelo advogado da política. E a mídia francesa vai ter mais cuidado com fotos de políticos que não querem passar por ‘celebridades’.
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Jornalista