A tortura contra presos praticada por Carlos Alberto Brilhante Ustra e sob seu comando, no DOI-Codi de São Paulo, foi reconhecida por uma Câmara do Tribunal de Justiça paulista. Cabe recurso da sentença, que cria novo caminho para que se considerem a tortura, outras violências e assassinatos inadmissíveis em quaisquer circunstâncias.
Na segunda-feira (13/8), a Comissão Nacional da Verdade assinou acordo de cooperação com a OAB do Rio de Janeiro para receber depoimentos de ex-presos vítimas da tortura. A OAB-RJ criou sua própria Comissão da Verdade e já colheu em vídeo dois depoimentos – de Cid Queiroz Benjamin e de César Queiroz Benjamin. Os vídeos estão no site da entidade. O jornalista Cid Benjamin, que dirige a área de Comunicação da OAB-RJ, falou na terça-feira (14/8) ao Observatório da Imprensa.
Cid Benjamin −Foi assinado um termo de cooperação entra a Comissão Nacional da Verdade, montada pelo governo federal e a OAB/RJ, que montou também sua própria comissão da verdade, com foco no papel da Justiça Militar na repressão política da ditadura e já fez a entrega solene à Comissão Nacional da Verdade dos dois primeiros depoimentos que colheu. A comissão da OAB vai continuar colhendo depoimentos com esse foco da Justiça Militar. A visita dessa Comissão Nacional da Verdade começou ontem [segunda, 13]; ela fez uma audiência pública na sede da OAB do Rio. Houve uma exposição, por parte de alguns dos seus membros, de como está sendo organizado o trabalho, a estrutura e comparação com outras comissões da verdade montadas em países latino-americanos. Houve uma audiência pública com a sociedade civil, em que familiares de mortos e desaparecidos puderam falar e, na da tarde ontem, houve uma mesa-redonda discutindo antecedentes, contexto e razões do golpe militar, e uma segunda mesa-redonda sobre estrutura da repressão, locais de tortura e mortes no Rio de Janeiro.
>> A guerra dos conteúdos
O jornalista Clovis Marques traduziu o livro de Frederic Martel Mainstream – A Guerra global das mídias e das culturas, agora lançado no Brasil. Clovis, veterano do jornalismo cultural e da tradução, falou ao Observatório sobre o livro:
Clóvis Marques – O livro do Martel é uma investigação muito séria. Foi um trabalho de muitos anos de viagens pelo mundo inteiro para fazer um levantamento da situação disso que ele chama de cultura mainstream. Cultura mainstream é o que todo mundo consome, são os meios de comunicação, a televisão, o cinema, a música industrializada e tudo isso. Ele tem uma curiosidade investigativa sensacional. Ele viu tudo, ele conhece tudo, e tende a considerar que o que está em vigor, o que é muito consumido, o que é preferido pelas massas, é interessante e vai avaliando e analisando o que é que está inserido nessa corrente do que ele chama de mainstream –que é o que prevalece na cultura de massas – e o que está ficando para trás ou por fora. E a busca dos diferentes países, das indústrias culturais do mundo inteiro, é que vai se inserir ou não nessa corrente central. Ele acha que a expressão indústria cultural não exatamente reflete a realidade; ele fala de indústrias de conteúdo e mostra também como essa indústrias estão atrás de público, públicos que são eminentemente jovens.
Segundo Clóvis Marques, o autor do livro não acredita que os Estados Unidos impõem padrões, mas oferecem um modelo bem sucedido que todos querem copiar.
C.M. – Uma das coisas que eu achei mais interessante é ele mostrar como a diversidade, a curiosidade, a pesquisa universitária associada à indústria cultural nos EUA, toda uma série de tendências, inclusive a variedade étnica, todas as tendências da diversificação nos EUA favorecem paradoxalmente a multiplicação do modelo norte-americano para o resto do mundo, ao passo que [dificulta] a Europa de acompanhar esse mundo da diversificação e da pluralização, que é o mundo das comunicações hoje em dia.
Do ponto de vista do jornalista dos assim chamados “cadernos de cultura”, que praticamente no jornal diário não o são mais…
C.M.– [Sobre] o jornalismo cultural, em relação a esse livro, tem ali muita informação. O que não pode faltar ao jornalismo cultural no Brasil hoje em dia é senso crítico e vontade de resistir aos pensamentos dominantes.