Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Trabalhadores parados, telejornal não vai ao ar

Quem ligou seu televisor para assistir ao telejornal Bom Dia Sergipe na manhã de segunda-feira (4/4) tomou um susto ao ver em seu lugar o programa Bom Dia Pernambuco. A mudança na grade de programação da afiliada da Rede Globo em Sergipe se deu às pressas para cobrir o buraco gerado com a paralisação dos trabalhadores da emissora.


A ação, coordenada pelos sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas e com apoio da CUT, CTB, outros sindicatos e parlamentares, contou com a adesão quase total do pessoal de produção e dos jornalistas e radialistas da emissora. Na porta da empresa, de braços cruzados, os trabalhadores pediam em uníssono a saída do atual diretor presidente da empresa, Paulo Siqueira, responsável por implementar uma política de ‘enxugamento’ na emissora, tocada com demissões em massa – 42 já foram demitidos ou pediram para sair por pressão, corte de gratificações, não pagamento de diárias, imposição de banco de horas, perseguição a dirigentes sindicais e assédio moral.


‘Não restou alternativa aos funcionários senão a paralisação. A situação, com o senhor Paulo Siqueira impondo a sua política de terror contra os trabalhadores, tornou-se insustentável. Tentamos, por diversas vezes, o diálogo com a empresa no sentido de contornar essa situação, mas sem resultado prático. Agora, com a paralisação, os donos da emissora sentiram que o negócio é sério e resolveram dialogar para buscar uma solução’, explica o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe, George Washington Silva.


Fernando Cabral, presidente do Sindicato dos Radialistas, lembra que desde julho do ano passado os sindicatos vinham alertando para a política de perseguição e massacre aos trabalhadores da TV Sergipe implementada pelo diretor-presidente Paulo Siqueira. ‘Ele é um gestor autoritário, que fez um estrago na afiliada da Rede Globo do Piauí e quer fazer o mesmo aqui. Ele mostrou que não tem compromisso nem com os trabalhadores e nem mesmo com os sergipanos e sua cultura, a ponto de mandar cortar a programação que a emissora tinha de apoio às quadrilhas juninas e ao São João do estado. Esta aí a resposta dos trabalhadores, e isso é só o começo’, disse Cabral.


Reunião de emergência


O corte na cobertura da emissora para o São João da terra e para o tradicional concurso de quadrilhas juninas levou vários artistas e quadrilheiros à porta da empresa para apoiar o ato dos jornalistas e radialistas.


A paralisação da programação matutina da TV Sergipe, fato inédito ao longo dos 40 anos da emissora, obrigou a vinda, às pressas, dos seus dois acionistas majoritários – o ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal Albano Franco (PSDB) e Lourdes Franco – à sede da empresa para uma reunião de emergência com uma comissão formada por representantes dos trabalhadores e dos seus sindicatos. Ricardo Franco, filho de Albano, também participou da reunião. Após várias rodadas de discussão, dos sindicatos colocarem a pauta de reivindicação dos trabalhadores e de funcionários da emissora exporem, sob promessa de que não seriam perseguidos, os vários problemas surgidos a partir da gestão de Paulo Siqueira, Albano e Lourdes Franco pediram dez dias para buscar uma solução para a crise.


‘Mas a permanência do senhor Paulo Siqueira está fora de negociação. Ou ele deixa a emissora ou não haverá entendimento. Essa é a reivindicação principal a ser atendida’, ressalta Washington, do Sindijor. ‘Ficou claro que os trabalhadores não querem esse gestor e que a permanência dele só irá agravar a crise. É fora Paulo Siqueira!’, completou Cabral.


Para Albano Franco, o caminho para contornar a crise está aberto. ‘Penso que dez dias são bastante razoáveis para que a gente possa dar uma resposta satisfatória e solucionar essa questão de vez. Vou discutir isso com a outra acionista da empresa e juntos devemos apresentar uma resposta que atenda às reivindicações dos funcionários e dos sindicatos’, disse Franco.


Logo após o acordo firmado, a comissão de negociação deixou a sala de reuniões na sede da emissora e seguiu para o portão de entrada, onde os trabalhadores aguardavam o desfecho das negociações. Em assembleia rápida, os funcionários aceitaram o que ficou acordado na reunião e retornaram ao trabalho.

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Jornalista, presidente do Sindijor-SE e secretário de Comunicação da CUT-SE