ANTI-SEMITISMO
Caio Blinder
Um jornalista e a doença milenar do anti-semitismo, 19/5
‘NOVA YORK – Em sua coluna desta semana na revista ‘Veja’, Diogo Mainardi denuncia o anti-semitismo na Internet, usando como exemplos os e-mails comentando minhas colunas no IG. Obrigado, Diogo. Está aqui um jornalista que não irá te processar. Aliás, tampouco irei processar os anti-semitas, negadores do Holocausto e advogados da destruição do Estado de Israel. É verdade que as ofensas e disparates me incomodam e o IG faz o que pode para impedir a publicação de material com delírios desinformativos, ameaças pessoais, profanidades e calúnias de baixa calão.
Quando o lixo escapa do filtro, eu não aciono os canais competentes para que haja limpeza. Não se trata de uma defesa bocó da liberdade de expressão nem de masoquismo ou exibicionismo. Trata-se de uma ação política. Tenho a esperança, talvez vã, de que as próprias barbaridades, insanidades e patologias contribuam para desmascarar o anti-semitismo. Quem sabe, sejam um tiro pela culatra. Espero que leitores reajam com indignação ou tenham uma noção mais precisa da doença milenar do anti-semitismo.
Não sou um campeão de e-mails. Em vez de quantidade, uma alta incidência de baixa qualidade. Vale lembrar que recebo críticas que merecem ponderações e respostas, assim como e-mails chocantes em que os palestinos são desumanizados. Há até elogios. Mas o grosso (sic) da correspondência, quando o assunto é o conflito do Oriente Médio (ou mesmo quando não), envolve anti-semitismo chulo.
Para alguém como eu, egresso das fileiras do sionismo socialista, ainda é um choque ver como amplos setores da esquerda tentam disfarçar seu anti-semitismo com uma retórica anti-sionista, repudiando o sionismo como um legítimo movimento de libertação nacional, apesar dos seus descaminhos na questão palestina, algo plenamente debatido na vibrante e democrática sociedade israelense.
Judeus devem ser saudavelmente neuróticos e paranóicos diante das cobranças e obsessões em torno de Israel. Mesmo quando alguns leitores concordam com meus comentários sobre Mianmar, Marte ou Mercúrio, não resistem a uma tática que era usada pela propaganda soviética na Guerra Fria. Era o que em inglês é conhecido como ‘whataboutism’, ou seja, qualquer crítica à finada URSS, era respondida com a pergunta: e sobre o imperialismo americano, a exploração dos operários, o racismo? Na semana passada, quando enfatizei o sofrimento das vítimas do ciclone, não deu outra: um leitor perguntou ‘mas, e a faixa de Gaza, que nem teve tufão’?
Israel é um caso especial, realmente de povo eleito. O site eyeontheun.org faz a contagem de resoluções, decisões e informes das Nações Unidas sobre violações dos direitos humanos, confirmadas ou alegadas. Entre janeiro de 2003 e março de 2008, o alvo número 1 foi Israel: 635 condenações. Na sequência, bem distantes, estão países com governos finíssimos como Sudão (280), República Democrática do Congo (209) e Mianmar (183). Aquela coisa horrenda que é a Coréia do Norte se safou com apenas 60 citações. What about it?’
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