Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Um ano depois de massacre, intimidação persiste

O presidente do Uzbequistão, Islam Karimov, está em guerra com as mídias independente e internacional desde o massacre de manifestantes por tropas do governo em Andijan, ocorrido há um ano. ‘O massacre de Andijan foi negro não apenas devido à violação dos direitos civis, mas também da liberdade de imprensa, marcando um ponto decisivo em direção ao autoritarismo do regime’, afirma a organização Repórteres Sem Fronteiras [12/5/06].

A resolução mais recente do governo uzbeque, aprovada em fevereiro deste ano, associa claramente jornalistas a terroristas e permite que os repórteres tenham seu credenciamento retirado. O governo também determinou que não fornecerá mais credenciamento para jornalistas da mídia internacional que ‘interfiram em assuntos internos, violem a integridade nacional ou peçam o fim da ordem constitucional por força’.

Intimidação à imprensa

Da noite do dia 12 para o dia 13 de maio de 2005, um grupo armado cercou a prisão de Andijan, no leste do país, e a revolta virou uma rebelião popular. O governo ordenou à polícia para abrir fogo contra a multidão. Segundo o governo, 187 pessoas morreram; de acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, este número seria de 500 a mil mortos. A mídia ocidental foi acusada de incentivar a rebelião. Na noite seguinte, as autoridades expulsaram no mínimo sete jornalistas do país, para evitar que eles cobrissem as atrocidades. Transmissões de televisão de canais russos, americanos e britânicos foram cortadas e diversos sítios foram bloqueados.

Em junho de 2005, a correspondente da BBC Monica Whitlock foi forçada a deixar o Uzbequistão como resultado de uma ameaça do governo. Seis correspondentes locais da BBC também deixaram o país e dois deles obtiveram status de refugiados pela ONU. Tulkin Karaev, jornalista e colaborador da ONG Institute for War and Peace Reporting (Instituto de Informação para a Guerra e a Paz), ficou sob constante vigilância policial e foi forçado a sair do território uzbeque em julho do ano passado. Nosir Zokirov, correspondente da Radio Free Europe/Radio Liberty, foi preso em agosto de 2005 e condenado por insultar um membro do governo depois de entrevistar um habitante que falou contra o massacre. Zokirov foi libertado em fevereiro deste ano, depois de cumprir seis meses de prisão. A BBC e a Radio Free Europe/Radio Liberty fecharam seus escritórios no Uzbequistão ainda no ano passado.

Em retirada

Os jornalistas Josef Ruzimuradov e Mohammed Bekjanov foram condenados a oito e 15 anos de prisão, respectivamente, por suas contribuições ao jornal de oposição Erk, desde 1999 fechado pelas autoridades. Eles continuam presos. Atualmente, quase todas as empresas de mídia estrangeiras saíram do país; seus correspondentes locais são constantemente ameaçados, o que os impede de trabalhar livremente. Antoine Lambroschini, correspondente da AFP no Cazaquistão e ex-repórter da RSF em Moscou, foi feito refém brevemente em seu hotel em Andijan depois de chegar, no dia 11/5, para fazer uma matéria sobre o aniversário de um ano do massacre. Cerca de vinte homens e mulheres do grupo étnico Makhala acusaram o jornalista de pertencer ao serviço especial e o agrediram, no que parecia ser uma provocação orquestrada pelas autoridades. Lambroschini foi forçado a deixar a cidade.