Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um convite aos colegas da Veja

Gostaria de fazer um convite a todos os profissionais da revista Veja. Um convite que se estende do diretor de redação ao office-boy. Proponho um debate, no Observatório da Imprensa, sobre jornalismo e sobre a minha própria situação financeira. Isso porque, dias atrás, fui acusado, nas páginas da Veja, de favorecer uma quadrilha. Tal quadrilha seria formada pelas empresas Kroll e Opportunity. E eu, segundo relata Veja, a favoreceria com reportagens.


Comecemos com o debate sobre minha situação financeira. Tornei-me editor aos 25 anos. Hoje tenho 34 e acumulo a edição de duas publicações importantes: a seção de economia de IstoÉ Dinheiro e ainda Dinheiro Rural. Meu patrimônio se resume a uma casa em Cotia (SP) e dois carros: um Scénic 1999 e um Clio 2001 1.0, financiado em 36 meses. A casa, comprada com recursos do FGTS, foi avaliada pela Caixa Econômica Federal em R$ 250 mil. O Scénic vale R$ 20 mil. O Clio, por sua vez, tem valor próximo a R$ 10 mil – além do mais, foi comprado na cor branca porque, sem pintura, era 400 reais mais barato.


Qualquer repórter da Veja pode ir a minha casa para fotografar meus bens e analisar minhas declarações de Imposto de Renda. Basta me telefonar.


Triste memória


Passemos, pois, ao jornalismo. Ao atacar minha honra, Veja escora-se num relatório da Polícia Federal que me acusa de favorecer a suposta a quadrilha. Antes de fechar tal matéria, o jornalista Marcelo Carneiro, da Veja, me procurou. Disse a ele que a Polícia Federal já havia pedido a quebra do meu sigilo telefônico em setembro de 2004, apontando uma série de reportagens ao juiz Luiz Renato de Oliveira, da 5ª Vara Criminal de São Paulo. A Justiça entendeu que não há crime – apenas jornalismo. Várias reportagens, inclusive, eram furos jornalísticos.


Posso debater com os jornalistas da Veja se as matérias são ou não jornalísticas. Mesmo com a negativa do juiz, a Polícia Federal relatou as mesmas acusações contra mim no seu relatório final sobre o caso Kroll. Tal relatório é parte de um processo em segredo de justiça que foi vazado para a revista Veja. Meu nome estranhamente consta do relatório, sem que eu seja réu ou indiciado.


Mesmo ciente disso, Marcelo Carneiro, acompanhado da jornalista Thays Oyama, publicou as acusações numa matéria em que meu nome aparece cinco vezes – duas em caixa alta e uma ainda com destaque especial em amarelo. Por que tantas ofensas?


Meses antes, outro jornalista da Veja, Márcio Aith, publicou outra reportagem em que cita um e-mail que a Polícia Federal atribui a mim. No mesmo artigo, Aith afirma que a própria PF não pode assegurar se o e-mail é meu ou não. Antes ainda, Lauro Jardim, que edita a seção ‘Radar’, publicou três notas sobre a chamada Operação Gutenberg, relatando seu início, seu foco (o caso Kroll) e seu fim. Tais notas guardam perfeita sincronia com o pedido de quebra de meu sigilo telefônico e com a negativa judicial.


Portanto, se a Polícia Federal e Veja têm dúvidas a meu respeito, não é necessário pedir a quebra do meu sigilo telefônico num processo sigiloso. Eu abro mão dele e ainda quebro, espontaneamente, meu sigilo bancário.


Estou à disposição e pronto para o debate aberto e democrático. Um detalhe: já houve outra operação Gutenberg no Brasil, aquela que matou Vladimir Herzog.

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Editor de Economia da revista IstoÉ Dinheiro