Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um debate sem ideias

 

As edições de terça-feira (4/9) dos paulistas são cautelosos na análise do segundo debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo, transmitido na véspera pela RedeTV!. Nos destaques escolhidos para as edições de papel, pode-se observar o que os jornalistas consideram mais relevante entre os questionamentos que os candidatos fizeram entre si, mas, como em todas as escolhas, algumas sutilezas podem ter sido omitidas ou ignoradas.

Uma delas é a clara determinação do candidato do PMDB, Gabriel Chalita, de empurrar para baixo o ex-prefeito e ex-governador José Serra, que apareceu em circunstância desfavorável na última pesquisa de intenções de voto. Paralelamente, pode-se notar também que Celso Russomanno, líder nas pesquisas, adota uma estratégia cautelosa para guardar sua posição, de olho em possíveis alianças para o segundo turno. As ambiguidades provocadas pelo sistema de alianças partidárias fazem com que ele considere possível qualquer composição futura, caso venha a disputar a etapa final contra José Serra, Fernando Haddad ou mesmo Gabriel Chalita.

Mais além

Os demais participantes pareciam assumir o papel de coadjuvantes, com exceção da candidata Sônia Francine, do Partido Verde, que claramente funciona como força auxiliar da candidatura de José Serra.

Para Chalita, explorar a alta taxa de rejeição do candidato tucano pode parecer uma estratégia eficiente – talvez a única – para chegar ao segundo turno. Se José Serra aparecer em queda acentuada na próxima sondagem, ele pode se apresentar como um substituto palatável para o eleitorado do PSDB e coligados, por suas origens e sua ligação não questionada com o governador Geraldo Alckmin.

Sua pergunta sobre o fechamento das escolas em tempo integral, e a resposta de Serra, que geraram o mais agressivo bate-boca do evento, poderiam ter sido mais exploradas pelos jornais. No entanto, a cobertura se referiu ao que disseram os candidatos, sem que a imprensa se preocupasse em esclarecer o leitor sobre quem tinha razão.

Na verdade, o plano que integrava essas escolas foi feito no governo estadual, durante a gestão de Mario Covas, pela então secretária da Educação Rose Neubauer. Com a morte de Covas e a posse do então vice-governador, Geraldo Alckmin, foi Chalita quem começou o desmanche do projeto educacional de Rose Neubauer.

Se tivessem a preocupação de ir um pouco além das declarações dos candidatos, os jornais poderiam demonstrar que os dois mentiram. Mas, aparentemente, o interesse da cobertura da campanha eleitoral não é propriamente mostrar as qualidades dos projetos políticos com os quais os candidatos deveriam ser obrigados a se comprometer.

A mesma frustração

Nos raros momentos em que os concorrentes apresentaram algumas ideias para a administração da cidade, essa abertura não foi aproveitada pelos jornalistas convidados a fazer perguntas.

A tendência, em geral, foi associar a disputa municipal ao cenário político nacional. Assim, a questão do programa educacional para o município ficou restrita à discussão paralela entre Serra e Chalita e um possível debate sobre soluções para o problema do transporte público se limitou ao tema do bilhete único mensal, proposto por Haddad, e à nomenclatura de um sistema de transporte sobre trilhos, que o candidato Levy Fidelix, do PRTB, chama de “aerotrem”.

O eleitor que se deu o trabalho de assistir ao debate pode ter ficado com a sensação de perda de tempo. Exceto por raros momentos de confronto real, o que se viu foi a repetição dos discursos martelados diariamente na propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

A participação de jornalistas experientes não parece contribuir para transformar esses encontros em oportunidade para esclarecer o eleitor ou para fazer os candidatos se comprometerem publicamente, fora do discurso fabricado por seus marqueteiros, com aquilo que dizem ser seus programas de governo.

Como sempre, quem procura alguma substância no debate democrático encontra apenas o mesmo frustrante propósito de manipular a opinião do público com chavões e lugares-comuns bolados por profissionais de comunicação e repetidos pelos candidatos.

No fim das contas, tais eventos não funcionam nem mesmo como entretenimento.