A miséria invadiu os jornais. Não, não estamos assistindo por aqui uma reprodução das revoltas dos países árabes. A miséria ocupa grandes espaços nas edições dos jornais de quarta-feira (4/5) por conta de duas notícias.
A primeira, originada no Palácio do Planalto, dá conta de que o governo da presidente Dilma Rousseff definiu como alvos do plano de erradicação da pobreza extrema – núcleo de suas promessas eleitorais – os brasileiros que têm renda mensal de até R$ 70 por pessoa da família. A outra notícia, produzida por um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), revela que o porcentual de pobres no Brasil caiu 50,64% entre dezembro de 2002 e dezembro de 2010, período em que o país foi governado por Lula da Silva.
A primeira notícia se refere a uma radiografia realizada pelo governo em cima do censo feito em 2010 pelo IBGE, que aponta a existência de 16,3 milhões de brasileiros, ou 8,5% da população, vivendo na miséria.
Projetos eficientes
Há, em alguns jornais, um saudável debate sobre o critério adotado para definir a pobreza extrema, mas o mais relevante é o fato de que a base para os projetos sociais a serem implantados não foi considerada irrealista nem concessiva demais pelos especialistas consultados.
De modo geral, a imprensa considera positiva a definição de um patamar de miséria a ser eliminado do contexto social brasileiro, e concorda em que os projetos específicos para combatê-la devem ser extintos quando os objetivos forem atingidos.
Um dos dados mais chocantes apresentados no estudo sobre a miséria que o Brasil precisa extinguir se refere ao analfabetismo absoluto, dos cidadãos com mais de 15 anos de idade que não sabem ler nem escrever. Entre os extremamente pobres, esse indicador chega a 22% nas cidades e 30,3% na zona rural, o que aponta a educação como uma conquista intimamente ligada à ascensão social.
O retrato reproduzido pelos jornais não deve orgulhar os brasileiros. Como lembra um dos entrevistados, quase um entre dez brasileiros vive por milagre. Por outro lado, a dissecação da pobreza extrema permite a construção de projetos eficientes para eliminar essa vergonha do nosso território.
Mais e melhor educação
Não é de se esperar que a imprensa volte a se opor ao uso de verbas públicas, ou de receitas como as da exploração de reservas do pré-sal, para atacar diretamente a miséria. Mesmo porque, na outra notícia que transporta a pobreza para dentro dos jornais de circulação nacional está registrado o sucesso das políticas sociais de transferência direta de renda aplicadas no governo anterior. Até os mais resistentes entre os que se opuseram aos programas sociais do tipo Bolsa Família concordam hoje que tais projetos produziram resultados surpreendentes.
Com toda a miséria que ainda envergonha os brasileiros, o estudo conduzido pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, revela que o Brasil conseguiu superar, em menos de uma década, uma desigualdade social que havia se agravado nos 50 anos anteriores.
O porcentual de pobres caiu 50,64% no governo Lula, contra uma queda de 31,9% no período em que o Brasil foi governado por Fernando Henrique Cardoso, incluído o período de implantação do Plano Real.
Claro que essa constatação vai produzir muito barulho entre correligionários de um lado e de outro, mas há, no estudo da FGV, indicadores que mostram grandes diferenças entre o governo que estabilizou a moeda e o governo que distribuiu dinheiro e oportunidades de estudo para os mais pobres.
Segundo os jornais, nos últimos dez anos a renda dos 50% mais pobres cresceu 67,93%, enquanto entre os 10% mais ricos aumentou 10%. O autor do estudo considera que, se o período de FHC foi a década da estabilização, o período Lula deve ser considerado como a década da redução da desigualdade.
Mas o dado mais interessante se refere à educação, outra vez apontada como fator de desenvolvimento. Paralelamente ao crescimento da renda dos mais pobres, foi constatado que, nos últimos dez anos, a escolaridade aumentou 8,1% entre os 20% mais ricos, enquanto entre os 20% mais pobres subiu 55,6%.
Nenhuma dúvida sobre os caminhos que o Brasil deve escolher para o desenvolvimento. Todos eles passam pela educação de qualidade para todos.