Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Um problema de todos

A catástrofe nuclear ocorrida no Japão, na usina de Fukushima, produziu e continuará produzindo tremendas conseqüências, atingindo imediatamente o povo japonês, mas, como já vem sendo constatado, havendo grande possibilidade de que, através da movimentação de pessoas e de meios de transporte, os efeitos do desastre nuclear japonês atinjam populações situadas em locais bem distantes do centro da tragédia. Assim, como foi noticiado, dois japoneses que viajaram para a China tiveram que ser hospitalizados logo após sua chegada, por apresentarem um nível anormalmente elevado de radioatividade. E eles não viviam perto da usina nuclear, mas em locais distantes mais de 200 quilômetros do complexo nuclear.


A tragédia sofrida pelo povo japonês deve servir de alerta, estimulando a busca de outras fontes de energia, para atendimento das necessidades básicas das populações do mundo, mas também influindo para que se faça ampla divulgação dos aspectos básicos das opções existentes, informando o povo e dando-lhe a possibilidade de acompanhar as discussões e, mesmo, de participar das decisões sobre o assunto.


A catástrofe de Fukushima já deixou mais do que evidente que o uso da energia nuclear implica enormes riscos, podendo acarretar tragédias que atingem todo um povo, como está acontecendo no Japão, onde milhões de pessoas ficaram sujeitas aos gravíssimos efeitos da elevação dos índices de radioatividade.


Energia alternativa


É óbvio que os cientistas especializados no assunto deverão ter um papel importante nessa discussão, que deverá incluir também considerações de outra natureza, como as implicações políticas e econômicas e ambientais. Mas pelos efeitos que uma opção nessa área terá, forçosamente, sobre todo o povo, não se pode admitir que sejam ouvidos apenas os cientistas, os governos, os economistas e os estrategistas militares, devendo ser considerados todos os aspectos humanos e sociais envolvidos nessa questão.


E isso acarreta enorme responsabilidade para a imprensa, que deve procurar transmitir o máximo de informações, com objetividade e clareza, para que o maior número possível de pessoas saiba quais as opções existentes e suas implicações. Exemplo desse esforço da imprensa é o jornal Le Monde, que na edição de sábado (26/3) dedicou grande espaço ao assunto, transmitindo informações extremamente interessantes.


O diário informou, com expressiva ilustração, que na Espanha, perto de Sevilha, na região da Andaluzia, já está em funcionamento uma central solar, a Central de Sanlucar. Ali há um grande número de espelhos, fixados ao solo, e os raios de sol são concentrados pelos espelhos para um ponto de uma torre. Em conseqüência, um fluido, assim aquecido, aciona uma turbina, que produz eletricidade.


Objetividade e imparcialidade


Na mesma edição o jornal divulga informações sobre os estudos de dois cientistas da Universidade Stanford, da Califórnia, Mark Z. Jacobson e Mark A. Delucchi, que realizaram pesquisas e montaram um plano, publicado na revista Energy Policy, propondo um Plano B para substituir a energia nuclear e o petróleo, sintetizando sua proposta na expressão ‘VentoÁguaSol’, que são as alternativas já disponíveis. E no Brasil podemos acrescentar a bioenergia, já amplamente utilizada.


Em conclusão, aí está um tema de fundamental importância para toda a humanidade e que deve merecer especial atenção da imprensa. Obviamente, pela importância social e política do problema, pelas implicações econômicas das opções, assim como pelas conseqüências que elas poderão ter sobre os direitos fundamentais das pessoas e das instituições sociais, deverá sempre estar presente o cuidado de promover as discussões e de obter as decisões por processos democráticos e respeitando os direitos de todos.


Isso exige que haja objetividade e imparcialidade no tratamento da matéria, para garantir a possibilidade de conclusões que sejam, efetivamente, as melhores para todo o povo.

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Jurista, professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo