É um fato. Brasil é líder na América Latina em qualidade de jornalismo de saúde. Ao menos, se se considera representativa a posição do país nos prêmios Roche de Jornalismo, onde concorrem com o resto da região.
Ao longo dos cinco anos de existência, entre um 26% e um 33% dos postulantes foram do Brasil, mas a ampla maioria dos trabalhos galardoados foi publicado ou emitido em português. O resultado final da edição 2017 vai ser anunciado no dia 6 de julho, porém considerando os trabalhos finalistas já não há dúvidas que ao menos um prêmio vai vir para o Brasil.
A glória verde amarela começou na primeira edição. Era 2013. No escritório da FNPI (Fundación Gabriel García Márquez para el nuevo periodismo Ibero-americano) onde funciona a Secretaria Técnica do Prêmio na cidade colombiana de Cartagena de Índias, apenas um de cada quatro postulações tinha chegado do Brasil.
Mas a medalha foi para Flávia Duarte, do Correio Braziliense, com uma série de reportagens focado na procura da longevidade por pessoas afetadas por doenças genéticas. Carlos Henrique Fioravanti da revista Pesquisa FAPESP ficou finalista, assim como Bianca Vasconcellos, da TV Brasil.
No ano seguinte, o prêmio da categoria rádio foi para “A volta da voz” da CBN. Hebert Araújo e Luís Henrique de Sousa da Silva foram destacados “por utilizar com eficácia as ferramentas da narrativa radial com momentos que não apenas comovem a mente de quem ouve, mas também a consciência”. E teve finalistas na categoria Internet: Alice Cristiny Ferreira de Souza e Camila Melo de Souza, do Diário de Pernambuco.
Passou um ano, chegou 2015, e a vergonha alheia aumentou. As duas medalhas, a de jornalismo escrito e a de TV e vídeo vieram para o Brasil. O mérito foi de uma equipe da Agência Pública (Gabriela Sá Pessoa Beatriz Anjos, e Natacha Cortez) e outra do Fantástico da TV Globo (Luciana Osorio, Dráuzio Varela, Wellington Almeida, Flávio Lordello, Amanda Prada Marconi Matos). E tinha mais uma equipe da TV Globo nos finalistas (Evandro Siqueira, Graciela Azevedo, Felipe Santana, Lilia teles e Renata Chiara).
No ano de 2016, os premiados foram do sul do pais. “Cicatrizes do trabalho”, do Jornal de Santa Catarina, foi escolhido pelo seu aproveitamento dos recursos audiovisuais da categoria Internet. Na equipe: Pamyle Brugnago, Arivaldo Hermes, Cleisi Soares, Rafaela Martins e Rafael Alvarez.
Este ano, há brasileiros entre os finalistas das duas categorias. Quem vai celebrar quando o anúncio for feito no dia 6 de julho em Buenos Aires?
Como eles conseguiram este placar? Se pergunta Ricardo Corredor Cure, diretor executivo da FNPI. Sabe que essa concentração de excelência tem que ter uma explicação, e a pede a quem compartilha com ele aquele meio-dia a mesa do almoço e o calor de Cartagena. Os olhares se cruzam, as ideias aparecem, se chutam explicações, pode haver desvios de seleção, aventura alguém. Mas a resposta certa de porquê o Brasil dá show de bola no jornalismo em saúde não existe.
Na FNPI a curiosidade tem um caminho, o prêmio Roche que em palavras do Diretor Geral Jaime Banfi “é um observatório privilegiado do que acontece da cobertura em saúde da região”.
Talvez o segredo esteja no próprio prêmio, que não é oferecido em dinheiro nem produtos de consumo. O tão desejado troféu é uma ajuda para continuar na excelência; os finalistas são convidados para um evento educativo de jornalismo científico, e um representante dos galardoados recebe uma bolsa para participar de uma oficina de jornalismo.
Como funciona
As categorias alternam-se. No ano 2017 foram TV-vídeo e jornalismo escrito, como foi no 2015 e 2013. Nos anos pares é rádio e Internet. As categorias são constantes; inovação em cuidado da saúde, biotecnologia, aceso a terapias, pesquisa e desenvolvimento em assuntos de saúde, regulação e políticas públicas e oncologia.
O Prêmio Roche de Jornalismo em saúde é uma iniciativa da FNPI (Fundación Gabriel García Márquez para el nuevo periodismo Ibero-americano) e Roche América Latina, mas as decisões jornalísticas ficam cento por cento nos ombros do FNPI. O Diretor do Centro de Jornalismo, José Luís Novoa faz questão de dizer que dispõem de liberdade total, para escolher os membros do jurado como os assuntos a premiar.
Há um comité de pré-seleção e um jurado, onde a participação brasileira, pelo contrário, é menor. Na lista dos que já tiveram essa reponsabilidade estão Bernardo Estevez, Joao Alegría, Veet Vivarta, Marluce Moura e, no presente ano Christiane Segatto e a argentina-brasileira que assina este texto.
O jurado e direcionado a tomar em consideração não apenas o tema, como o desenvolvimento jornalístico, os instrumentos, técnicas e métodos que o repórter utiliza para contar a sua história, as virtudes e problemas. Além de questões básicas do jornalismo, como o estilo ou se o analise responde adequadamente as necessidades de informação do público, na última edição foi especialmente considerado o rigor científico das peças. Porque a mídia tem uma dupla missão: contar boas histórias e ser veraz, exato.
A FNPI quer potenciar o jornalismo de qualidade em todos os países da América Latina, mas O que é o que o Brasil tem? Os leitores estão convidados a dar a sua opinião. Os jornalistas brasileiros ganham mais prêmios de excelência que o resto porquê?
1- Estão melhor preparados
2- Há treinamento constante
3- Estão mais motivados
4- Há mais investimento
5- Trabalham muito bem em equipe
6-Tem mais experiência
7- A criatividade é brasileira
8- Outros
Envie suas respostas para rtabakman@hotmail.com
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Roxana Tabakman é Jornalista científica. Autora de A saúde na mídia, medicina para jornalistas, jornalismo para médicos (Ed, Summus). Jurado da edição 2017 do prêmio Roche de jornalismo em saúde