O Brasil é reconhecido mundialmente pela diversidade étnica de seu povo. No campo das comunicações, somos elogiados pela qualidade técnica e a criatividade de nossas produções. Mas, a mídia brasileira realmente contempla a diversidade étnica de nosso país?
Qual o padrão estético hegemônico nos meios de comunicação? Por que não vemos atores negros como protagonistas? O professor baiano Muniz Sodré cunhou o termo ‘síndrome de vampiro’, para denominar o fato de os negros, de modo geral, não conseguirem enxergar sua imagem no espelho da mídia.
De fato, se analisarmos a propaganda, as produções cinematográficas e principalmente a TV, constataremos essa triste realidade. Há uma tentativa sistemática da elite brasileira de deixar negros e índios distante dos meios de comunicação. Um exemplo disso foi a novela A cabana do Pai Tomás, veiculada em 1969 pela Rede Globo na qual, apesar de haver atores negros, foi colocado um ator branco pintado de preto para representar o papel principal. De lá para cá, os avanços foram mínimos. Basta observarmos o título de uma novela atual, Da cor do pecado.
O padrão eurocêntrico é dominante na mídia brasileira. Os negros ainda são mostrados na TV de forma estereotipada e em papéis secundários. Esse postura da mídia só contribui para diminuir a auto-estima da criança negra e aumentar o preconceito.
Estatuto da Igualdade Racial
Na publicidade a situação não é muito diferente. Sob o discurso de que não há modelos negros qualificados, as agências de publicidade insistem na estética ‘ariana’ em suas produções. Essa falta de representatividade é totalmente incoerente, pois estamos falando de um país como o Brasil, que, segundo o IBGE, abriga cerca de 42.5% de afrodescendentes. A nação com o maior contingente de negros fora do continente Africano.
Um outro problema que deve ser percebido pela sociedade é a ausência de afrodescendentes nas produções midiáticas. Em virtude do acesso à universidade ser um obstáculo histórico, a presença de negros em redações de jornais, agências de publicidade e outros veículos de mídia é inexpressiva. Nas faculdades de Comunicação, o tema não é discutido e as pesquisas sobre o assunto ainda são incipientes. Por outro lado, em países como Canadá e Estados Unidos a diversidade na mídia é garantida por órgãos de monitoramento, instrumentos legais e fundos de incentivo. Uma realidade bem distante da nossa.
Diante desses fatos, é necessário que a sociedade pressione as instâncias do poder público para a criação de ações afirmativas na mídia. Devemos pautar, por exemplo, a construção de uma estação de TV que contemple as questões de interesse da comunidade negra, que divulgue nossa cultura, religião e costumes. Em breve o Estatuto da Igualdade Racial será votado no Congresso, e nele há itens importantes para o combate ao racismo nos meios de comunicação, como cotas na publicidade e financiamento de projetos em mídia. Cabe então à sociedade civil cobrar a aprovação do estatuto na íntegra. É preciso urgentemente mostrar o negro por ele mesmo. Uma comunicação multiétnica é possível.
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Estudante de Comunicação e integrante do Núcleo de Estudantes Negros da UCSal (CUMBA)