A página 6 do caderno ‘Cidades’ da edição de sexta-feira (20/3) do Estado de S. Paulo lembrou as manchetes dos jornais populares de antigamente. Não pela forma como as notícias foram escritas, mas por trazer três notícias policiais daquelas que embrulham o estômago dos leitores mais sensíveis:
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‘Mulher agride babá e criança e é presa’**
‘Irmãos passam mal ao comer bolo com veneno’**
‘Duas meninas são vítimas de violência em Goiás’A edição corrente da revista Veja (nº 2105, de 25/3/2009) não ficou atrás, com a chamada de capa de sua matéria especial: ‘Violadas e feridas, dentro de casa’.
Crime em destaque em jornais e revistas ‘sérios’ (termo usado para diferenciar da imprensa chamada ‘popular’) não é exatamente novidade. A morte de Aída Cury, estuprada e jogada de um prédio por playboys cariocas, agitou a imprensa nos anos 1950. Outro grande impacto foi a morte de Ângela Diniz, em 1976, e o julgamento do seu assassino, o famoso Doca Street, iniciando uma série de defesas baseadas em ‘legítima defesa da honra’. Os crimes contra mulheres continuaram e o destaque nos jornais também.
Em meio à violência, surgiram as delegacias de mulheres, a Lei Maria da Penha, enfim, mecanismos de defesa que, se não resolveram o problema, estão ajudando a diminuir a impunidade dos agressores.
Esclarecer e mobilizar
Agora temos uma novidade: além das mulheres, as crianças passam a ser as vítimas preferenciais. Cada vez mais, os jornais e revistas dão notícias que falam de violência física, abuso doméstico e exploração sexual não só de menores, mas de crianças, e crianças cada vez mais jovens.
A primeira reação do leitor pode até ser de curiosidade. Mas logo em seguida vem a repulsa, a vontade de seguir em frente e não tomar conhecimento dessas histórias cruéis.
Felizmente a imprensa parece ter aprendido uma boa lição com o caso da Escola Base, em São Paulo – quando os donos da escola foram acusados de pedofilia e depois provaram sua inocência. Hoje não se fala em culpado, mas suspeito. Não se revela o nome das crianças, enfim, não se acusa sem provas. Mas, se existe na mídia – como as matérias revelam – uma verdadeira indignação com os fatos noticiados, está na hora de ir além.
É hora da mídia alertar os leitores sobre esse tipo de violência, discutir suas origens, mostrar a pais e mães os sinais de que as crianças têm problemas. Está na hora, principalmente, de cobrar do governo uma forte campanha de esclarecimento sobre os direitos da criança, os deveres dos pais e a punição para os agressores. Hora de mobilizar o governo, os educadores e a sociedade em defesa das crianças. E isso é uma coisa que a imprensa pode – e deve – fazer.
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Jornalista