Filhos impedem que mão seja estuprada em São Miguel do Tapuio. Quatro jovens são estupradas e espancadas – uma veio a óbito – em Castelo do Piauí. Poucos dias depois disso, outra mulher é esfaqueada durante tentativa de estupro, na mesma cidade. Mulher de 26 anos é estuprada em Parnaíba. Criança de nove anos é estuprada em Luís Correia. Mulher de 57 anos morre após ser vítima de estupro em Valença. Quantas mais notícias de estupro virão?
Numa rápida busca pelo Google, determinando o período de uma semana, podemos elencar essas chamadas noticiosas. Quantas vezes a palavra estupro foi repetida nas páginas e telas da imprensa piauiense na última semana? Essa é uma pergunta difícil por vários aspectos: tanto pelas mazelas que traz socialmente quanto pela função social da mídia. É sabido da necessidade de publicizar esse tipo de informação, mas até que ponto isso não acontece apenas de modo espetacularizado, reforçando tendências sensacionalistas de um jornalismo marrom, que bem poderia ser vermelho.
Acontece que as repetidas manchetes sobre estupros não prejudicam apenas a forma como a mídia lida com esse tipo de informação, também inferem nas estatísticas da violência, no feminicídio e de como a sociedade se comporta diante dos crimes de gênero. As notícias sobre estupros podem ser tão violentas quanto o crime em si e acabam por desenhar um Piauí machista e recheado de histórias que violentam as mulheres diariamente. Esse é um desenho perturbador: na consciência coletiva e na formação social.
Precisamos soluções urgentes
As repetidas histórias de estupros registradas pela polícia e pela imprensa chamam a atenção não só pela quantidade, mas pela necessidade da institucionalização de política públicas que permitam uma nova realidade, como da reformulação cultural sobre o tratamento que as mulheres recebem, principalmente aquelas que estão em condições de vulnerabilidade social. O Piauí, a terra dos “cabras-machos” está mais parecendo a terra da violência de gênero, onde a macheza é provada por meio de crimes. Não queremos crer que seja assim. E não tem que ser.
Se há uma onda de estupros espalhada pelo estado, não é possível afirmar. Mas que as estatísticas não favorecem isso é possível dizer. Nessa construção precisamos buscar soluções urgentes, tanto na forma como esse tipo de notícia deve ser publicada, para que estupro não seja um discurso naturalizado midiaticamente, como para que os números sejam outros. Que algum dia eles não existam mais. Essa sempre será a nossa meta.
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Thays Teixeira é jornalista e mestre em Comunicação