Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Garrincha, Alckmin e a nuvem

Cunha, Dilma, Lula, Aécio, FHC, Renan, Lava Jato, Zelotes, delações premiadas, impeachment, corrupção, STF, Janot, Congresso (para resumir). Quem disser que sabe como tudo isso vai terminar está mentindo. O case mais recente é o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Diz a lenda que na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, o técnico da seleção Brasileira, Vicente Feola, chamou o craque Garrincha para uma conversa na véspera da partida contra a União Soviética – uma das melhores seleções da época. Feola teria dito: “Garrincha, você pega a bola e dribla o primeiro beque. Quando chegar o segundo, aplique outro drible. Aí vá à linha de fundo e cruze forte para Vavá completar para o gol.” Garrincha ouviu calado, pensou e respondeu: “Tudo bem, mas o senhor já combinou com os russos?”

Dizem, também, que certa vez o banqueiro e velha raposa política Magalhães Pinto teria dito que “a política é como nuvem, você olha e está de um jeito, olha novamente e já mudou”.

O governador Geraldo Alckmin é – ou será que era? – candidatíssimo à sucessão de Dilma Rousseff. Mas parece não ter combinado muito bem com os estudantes, que reagiram à política de fechamento de escolas. Sem diálogo com a comunidade escolar, o governador de São Paulo optou por tratar a educação como um caso de polícia. Desde então, tem gerado uma sucessão de atos truculentos e de uso abusivo da força que só têm fortalecido o movimento dos estudantes e aumentado a indignação da população brasileira.

A nuvem já se moveu

Assim é que, em poucas semanas, um dos favoritos para a corrida presidencial vê o seu cacife político arrebentar-se na mesma proporção da brutalidade que tem infligido aos adolescentes por meio da polícia que comanda. Tudo executado de maneira autoritária, sem nenhum diálogo com a comunidade escolar. A coleção de imagens e fotografias que são o retrato da falta de democracia do governo Alckmin é suficiente para inundar vários programas eleitorais e fazer qualquer eleitor com um mínimo de decência e bom senso recusar um candidato que manda bater em estudantes de maneira covarde.

Por mais que Alckmin esteja blindado pelos principais veículos de comunicação, centenas de blogues, portais de notícias e internautas têm difundido para o país, em fotografias e vídeos, o que acontece em dezenas de escolas de São Paulo. Cenas chocantes, muito próximas de um passado de ditadura cujo fantasma, infelizmente, teima em continuar à solta.

Como alguém pode pensar, depois de tudo que aconteceu – e o que falta ainda acontecer? – que seria viável uma candidatura à presidência?

Alckmin, que tem essa ambição, mas não combinou com os estudantes, é provável que não tenha percebido, mas a nuvem já se moveu.

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Celso Vicenzi é jornalista