Tuesday, 03 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

A eleição do fim do mundo segundo Eduardo Jorge

Em entrevista concedida durante a palestra que fez esta semana no elegante Club Transatlântico fundado pela comunidade alemã e promovido pelas Eurocâmaras, Eduardo Jorge explicou o renascimento da extrema direita no Brasil como “obra do Lula”.

Eduardo Jorge (PV) é o vice da Marina Silva, que teria enorme influência no governo se não visse os votos da candidata da Rede vampirizados depois que Lula nomeou Fernando Haddad seu herdeiro. Pela reincidência de vices governando o país, o peso deles no Brasil é grande e Eduardo Jorge é um vice importante. Ex-Secretário de Saúde e de Meio Ambiente e deputado estadual (1983-87) e federal (1987-2003) por São Paulo, Eduardo Jorge já concorreu a presidente do país em 2014 quando Dilma ganhou.

“Lula instaurou a cultura do ódio no Brasil, fez ressurgir os inimigos do povo, o ‘nós e eles’, e agora ‘eles’ se organizaram. Lula criou Bolsonaro, Bolsonaro e o PT são faces da mesma moeda, é isso que estamos colhendo. O Brasil tem 30 anos de democracia. Isso dói, vamos atrasar tudo por quatro anos”.

Sem chance, pelo menos de acordo com as pesquisas, de vencer as eleições, e agora concorrendo a um lugar na terceira via com Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), a chapa Marina-Eduardo Jorge terá de escolher a quem apoiar num provável segundo turno. Bolsonaro ou Lula?

Eduardo Jorge escapa da pergunta mas se cala, e define o quadro como “a eleição do fim do mundo”.

“Extrema direita e extrema esquerda oferecem bóias de salvação para o povo, um coloca o general na frente do palanque, o outro, promete trazer o velhinho de volta que seremos felizes -são mágicos, ilusionistas de circo. Estão longe da cultura da democracia. Na hora de votar, as pessoas têm de pensar com quem os candidatos se aliaram no exterior para entender quem são, diga-me com quem andas…(refere-se ao apoio de Lula a Fidel e Hugo Chaves, e o fascínio de Bolsonaro pelo general chileno, Augusto Pinochet)”

O vice define a chapa que integra como de centro-democrático sem discurso raivoso, espírito de morte ou violência.

“Somos a voz sensata de recuperação, que leva tempo para ser apreendida. Por isso os mágicos saem na frente. Temos o país mais desigual do mundo, com quebradeiras de coco no Maranhão e empresários que vivem como europeus em São Paulo ao lado da nossa elite que pensa morar em Miami. Brasília, lá longe do Brasil. Nós queremos mais Brasil e menos Brasília, um país menos dependente de Brasília. Não importa as pesquisas, eu e Marina vamos na nossa proposta racional até o fim”

Ele prevê quatro anos de confronto. “O povo vai escolher, vai aprendendo…”. Médico sanitarista e ex-secretário de Saúde de Fernando Henrique que quebrou, junto com o ministro José Serra (“ele é hipocondríaco e adorou a idéia”) a quase invencível barreira dos laboratórios permitindo a entrada dos genéricos no Brasil, Eduardo Jorge e Marina formularam um plano de governo de 82 páginas. Saúde, transportes, educação, na economia contam com os economistas Eduardo Giannetti e um dos arquitetos do Plano Real antes do o Plano Cruzado, André Lara Rezende.

“Mas não propomos mágicas. Do jeito que as eleições são feitas o povo fica muito distante do poder e por isso a política foi o setor que menos cresceu neste país. Temos de modificar a forma de conduzir as eleições, adotar o voto distrital misto alemão, dividir o país em distritos para todos participarem, com as minorias presentes e os candidatos escolhidos no olho. Se não acabarmos com a macrocefalia no Brasil não vamos sair do lugar”.

Ele não desiste. Ainda há muito chão para percorrer, “Não podemos nos fiar apenas nas pesquisas, sempre patrocinadas, que já determinaram ‘Alckmin estagnou, Haddad cresceu e Marina morreu’. Ainda há muitos indecisos, as coisa podem mudar”.

Eduardo Jorge não se irrita apenas com as pesquisas determinando o voto. Reage a duas perguntas: aborto e generais na rua.

Sobre aborto, “Por que você não pergunta isso para o Haddad? Dilma? Lula? Alckmin? Ciro? Meireles? Amoedo?, Só à Marina? Só porque ela tem uma posição particular? Ela tem uma, eu, como médico que trabalhou no interior e viu muita mortalidade por lá, tenho outra, e vamos discutir a questão do aborto como questão de saúde, não religiosa mas filosófica e cultural”.

E com a pergunta da chegada dos generais em cena ele encerra a entrevista, “Para mim, lugar de generais é de pijama, em casa, na cama…”

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Norma Couri é jornalista