Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nome aos bois

A ombusdman da Folha de S.Paulo, Paula Cesarino Costa, levanta, em sua coluna de domingo, um importante questionamento na cobertura das eleições: por que a mídia estrangeira de inegável qualidade (The Economist, Financial Times, The Guardian, El País, The New York Times, The Washington Post, Le Monde, Clarín e La Nacion) usa variações semânticas do conceito de extrema direita para definir a candidatura de Jair Bolsonaro e o jornalismo brasileiro mainstream não o faz?

Paula faz menção a um comunicado interno distribuído pela Secretaria de Redação da Folha no início deste mês em que se afirma “não existir na atual disputa nenhuma candidatura que se enquadre nos extremos”. O comunicado se baseia no recém lançado manual de redação do jornal paulista, mais especificamente no verbete “Qualificação ideológica” que reserva o uso do termo para “facções que praticam ou pregam a violência como método político.”

Ouvido pela ombudsman, o editor executivo da Folha, Sérgio Dávilla, disse que atualmente não classifica nenhum líder no poder de extrema esquerda ou extrema direita, preferindo guardar essas qualificações para alguns movimentos isolados que atacam patrimônio e policiais, como o black blocks.

Paula conclui que “a candidatura do PSL representa corrente política militarista com demonstrações explícitas de defesa da violação dos direitos humanos, de questionamento dos direitos das minorias, que nega a ditadura militar e a ocorrência comprovada de torturas e que mantém reiterados flertes à quebra da normalidade democrática”. Motivos suficientes para enquadrar a candidatura Bolsonaro como de extrema direita.

Para além da gradação ideológica separando moderados de extremistas, o que está em jogo na discussão é a falsa equivalência que tem pautado grande parte da cobertura das eleições. As tentativas de igualar o que é desigual podem soar tão falsas quanto a avalanche de desinformação que varre as redes sociais nestes tempos de pós-verdade. O jornalismo é prática indissociável da democracia, por isso é fundamental que saia em sua defesa. Da mesma forma, é preciso que saiba identificar com clareza e nomear de onde vem as maiores ameaças.

**

Pedro Varoni é jornalista e editor do Observatório da Imprensa.