Aula aberta realizada pelo curso de Jornalismo da PUC/RS, nesta terça-feira, dia 25 de agosto, abordou o tema “Como cobrir as eleições de 2020“, tendo como convidada Angela Pimenta, diretora de operações do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, sob mediação do professor de Jornalismo e Mídia Digital, Marcelo Crispim. Durante o encontro, a diretora do Projor destacou diversos pontos do Manual GPI 2020, um guia criado para auxiliar na produção de conteúdo jornalístico de qualidade sobre as eleições municipais deste ano. O calendário eleitoral corre desde o dia 5 de março e, apesar do pouco destaque dado ao assunto na mídia até agora, muita coisa já acontece nos bastidores.
Angela Pimenta deu início à aula aberta enfatizando que, neste ano, as eleições serão atípicas, por conta da pandemia e situação de distanciamento social gerada pelo Covid-19. Diversas mudanças foram feitas no calendário eleitoral e nas regras do pleito e, segundo Angela, a maior dependência dos candidatos e candidatas em relação à comunicação por mídias digitais durante as eleições pode impactar de forma significativa os resultados das urnas. Isso porque, a campanha é marcada pela possibilidade de os candidatos realizarem anúncios pagos em sites e redes sociais — este é o primeiro ano em que é permitida a compra desse tipo de anúncio. Outro ponto de atenção, segundo a diretora do Projor, é o combate às chamadas notícias falsas e às informações distorcidas compartilhadas por leitores que são atraídos por manchetes sensacionalistas e por edições enganosas sobre fatos reais, por exemplo.
Neste ano, o TSE prevê a candidatura de mais de 700 mil políticos, número 68% maior do que no pleito de 2016, no qual participaram 479,9 mil candidatos.
A diretora do Projor também chamou a atenção para o fato de que as eleições municipais devem entrar definitivamente em pauta nas próximas semanas e, nesse contexto, o Manual GPI se oferece como uma “caixa de ferramentas” importante para fornecer dados e auxiliar o trabalho de repórteres durante o período eleitoral, principalmente para jornais locais e formadores de opinião na internet. “O manual é formado por diversas seções que completam as necessidades do repórter, desde de noções básicas e teóricas até ferramentas práticas e sugestões de pauta”, disse.
Ainda de acordo com ela, o processo eleitoral exige que se redobre a atenção com questões éticas e com a checagem de fatos, visando combater boatos e outras formas de desinformação. “Um dos problemas da desinformação é seu poder de distorcer o debate público e colocar em xeque informações verdadeiras, pois traz ao campo do debate democrático mentiras e informações irrelevantes que alteram o percurso do debate”, explicou.
Para destacar a importância do jornalismo de qualidade durante as eleições e o poder de propagação de teorias da conspiração, Angela relembrou reportagens produzidas pelo Comprova durante as eleições de 2018, particularmente uma que aborda um vídeo que mostrava teclas coladas em uma urna impedindo o voto em determinado candidato, que gerou grande repercussão entre eleitores e dividiu opiniões. Ela explicou que, após o projeto levantar a questão e desmentir o vídeo, houve uma diminuição no número de compartilhamentos e distribuição da notícia. “Hoje precisamos reafirmar questões básicas e continuar informando a população com dados reais, que coloquem em xeque as notícias falsas e as teorias da conspiração”, reforçou Angela.
Ela lembrou ainda que, para realizar uma cobertura jornalística esclarecedora, é importante que os jornalistas sejam capazes de formular boas perguntas aos candidatos e criar pautas que tragam informações relevantes para o debate. Nesse sentido, o Manual GPI oferece uma série de sugestões de perguntas que podem ser feitas aos candidatos com base em informações acuradas sobre políticas públicas e gestão municipal.
Outro tema abordado em discussão com participantes da aula foi a falta de veículos de comunicação em diversas cidades do país — como mostra os dados reunidos pelo Atlas da Notícia —, os chamados “desertos de notícias”. Para Angela, essa população carente de veículos de comunicação ou que se informa por fontes duvidosas está à mercê da opinião imposta pelas campanhas políticas e pelo discurso dos candidatos. “O jornalismo comunitário pode ser um diferencial importante nessas eleições, pela capacidade de produzir e espalhar fatos e ideias reais”, pontuou.
Sobre o Manual GPI – Eleições Municipais 2020
O Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, em parceria com o Insper, lançou o Manual GPI Eleições 2020. O guia é destinado aos interessados em temas relativos às eleições municipais e integra o projeto Grande Pequena Imprensa (GPI), idealizado pelo jornalista e fundador do Projor, Alberto Dines (1931-2018).
O website reúne, de forma acessível, ferramentas e teorias necessárias para quem realiza a cobertura jornalística e promove o debate democrático sobre a campanha eleitoral a prefeituras e Câmaras Municipais em todo o país.
O manual é composto pelas seguintes seções:
Raio-X Municipal: ferramenta interativa para análises de dados municipais e comparações customizadas a partir de bases do IBGE, INEP e Tesouro Nacional.
Vídeos: entrevistas com especialistas em políticas públicas e jornalismo, abordando questões críticas e dando dicas para a cobertura jornalística das eleições.
Panorama Municipal: contrastes socioambientais, máquina municipal, arrecadação e divisão de receitas e entidades representativas dos municípios.
Políticas Públicas: questões críticas (desafios para gestores públicos locais em meio à pandemia e crise financeira), planejamento territorial, direito à cidade, ferramentas de gestão pública, e marcos legais de políticas setoriais (educação, habitação, meio ambiente, mobilidade, saúde e segurança).
Transparência: marco legal (Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei de Acesso à Informação, Lei da Ficha Limpa e Lei Anticorrupção).
Dados: conceitos básicos, ferramentas e tutoriais para obtenção, análise e visualização de dados municipais.
TSE: a legislação e o calendário eleitoral.
Ética: os desafios históricos da imprensa brasileira e princípios éticos jornalísticos.
Checagem: os desafios jornalísticos ante à desinformação e tutoriais para verificar conteúdos suspeitos.
Impacto: como jornalistas podem observar e medir a repercussão de suas reportagens.
Perguntas: sugestões de perguntas sobre o perfil das candidaturas e conhecimentos sobre gestão municipal e finanças, transparência e prestação de contas, receita, gasto e dívida pública e políticas setoriais.
Mais: fontes de consulta aprofundadas sobre os temas tratados pelo Manual.
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Vitor Prado é jornalista e empreendedor na área de mídias digitais.