Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A despedida de Oprah


Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de dezembro de 2009


 


TELEVISÃO


Lúcia Valentim Rodrigues


Oprah anuncia saída de ‘talk show’ em programa emotivo


‘A apresentadora Oprah Winfrey não ficou milionária à toa. No dia do anúncio mais importante de seus 25 anos no ‘talk show’, ela deixa a novidade para depois. Os trechos principais do programa já caíram na internet, mas vão ao ar oficialmente no GNT na próxima sexta.


Primeiro, vem uma história que mobilizou os EUA: uma garota de cinco anos da Carolina do Norte é vendida pela mãe como escrava sexual e termina morta numa beira de estrada.


Oprah sabe emocionar. Ainda mais se o público olhar a sua vida: nasceu no Mississipi, onde foi molestada sexualmente e ficou grávida aos 14 anos -depois, a criança morreria. Ao vivo de Chicago, ela é o paradigma do que é certo. Negra e politizada, sua fundação doa 100% dos fundos para a caridade (cerca de US$ 51 milhões).


A próxima convidada é a atriz Gabourey Sidibe, que está no filme ‘Precious’. Na trama, uma garota sofre abusos da mãe autoritária. Gorda, fora dos padrões de beleza, Sidibe ganha elogio atrás de elogio de Oprah. A anfitriã tem lutado contra a balança recorrentemente e seu passado também tem ligações com o enredo.


Hoje, aos 55 anos, ela não tem problemas de audiência. É uma das pessoas mais influentes dos EUA e leva aproximadamente 7,23 milhões de americanos para a frente da TV. Então, por que sair? A última declaração do dia tenta explicar. ‘Quis que vocês ouvissem de mim’, diz, ao relembrar a estreia, em 8 de setembro de 1986. Chora. Diz amar o programa. ‘Ele tem sido a minha vida. Amo-o o suficiente para saber que é hora de dizer adeus. Vinte e cinco anos parecem o tempo certo em meus ossos e em minha alma.’


Marketing com emoção. Vai ser difícil substituí-la. Em janeiro de 2011, ela lança seu canal no Discovery, o OWN: The Oprah Winfrey Network. Mas, até setembro de 2010, continuará a poderosa do sofá. Para dar uma ideia, o especial de Natal deste ano terá o casal Obama mostrando a Casa Branca. Nos EUA, vai ao ar no dia 13. Vai ser difícil não vazar no YouTube e virar hit.


THE OPRAH WINFREY SHOW


Quando: na sexta, às 20h, no GNT


Classificação: não informada’


 


 


Silvia Corrêa


Zona de Impacto vai virar canal em 2010


‘A Globosat maior produtora de conteúdo de TV paga no Brasil lançará dois novos canais no começo de 2010.


Além do Viva voltado para o público feminino, cujo sinal estará disponível em janeiro, a empresa já formatou o Zona de Impacto. Com o nome de uma faixa da programação do SporTV, ele será dedicado a aventura e esportes radicais, a partir de março.


‘O SporTV seguirá mais fortemente voltado para a competição. O Zona de Impacto vai se dedicar ao prazer da aventura, com muito voo e ‘BASE jump’, exemplifica Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat.


Segundo Pecegueiro, produções independentes do Brasil e do exterior serão a base da programação do canal, montada sob o comando de Guilherme Zattar, diretor do Multishow.


A Globosat já iniciou conversas com a Sky e a NET para definir as operadoras que carregarão os sinais dos dois novos canais. Por enquanto, não há planos de exclusividade.


O Viva, que chegará primeiro aos assinantes, tem como maior atrativo editorial a oferta inédita do acervo de entretenimento da TV Globo: o canal vai reprisar novelas, séries e programas da emissora, em horários alternativos, como a Globo News já faz com os jornalísticos. ‘Estrelas’ e ‘Mais Você’ estarão na grade, que está sendo formatada por Letícia Muhana, diretora do GNT. Haverá produção inédita, mas a tendência é que o horário nobre seja destinado a filmes.


RETRÔ DO TAS


O primeiro ‘Plantão do Tas’ no Cartoon Network será uma retrospectiva de 2009, para crianças, que irá ao ar às 19h do dia 31. Marcelo Tas grava nesta sexta. A partir de 4 de janeiro, o ‘telejornal’ será diário, com dois minutos e reprises ao longo da programação.


ANIVERSÁRIO


Depois dos nove anos do ‘Altas Horas’, Serginho Groisman comemora dez anos do ‘Ação’. Neste mês, o programa deixa o estúdio e terá edições na ilha do Marajó e no interior de Minas.


JORNADA DUPLA


Serginho também está gravando a nova temporada de ‘Tempos de Escola’ (Futura). Tem entrevista com ex-professores, boletins e fotos de uniforme de Fernanda Takai, Dan Stulbach, Cleber Machado etc.


DATA MARCADA


Vai ao ar no dia 2 de janeiro, à tarde, o programa especial com Ivete Sangalo na Globo, dirigido por Marcos Paulo. Será mais light do que o ‘Estação Globo’.


NOVA TEMPORADA


Alice Braga volta ao Brasil em janeiro e estreia em 19 de março no ‘Superbonita’ .


CLUBE DA LUTA


O Combate canal de lutas no sistema pay-per-view- chegou a 52 mil assinantes. É 44% mais do que no ano passado.


GLOBO RURAL


A dissertação de mestrado do repórter Viso Iasi, do Globo Rural, foi escolhida a melhor do ano na França pelo INA (Institut National de l’Audiovisuel). O tema: Globo Rural e o ‘terroir’ global. Ele recebe o prêmio em Paris, no dia 15.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘E a Yeda?’


‘Meio da tarde, manchete na Folha Online, ‘PSDB deixa governo Arruda e cobra respostas rápidas’. Fátima Bernardes entrou ao vivo na Globo, deu a notícia e perguntou à repórter de Brasília: ‘Que cargos o PSDB ocupa no governo aí?’.


Na resposta, ‘são três tucanos, o secretário de Governo, o secretário da Fazenda e o secretário de Obras, apontado como um dos beneficiários do esquema’.


Foi então que, ‘antes de entrar na reunião sobre o destino de Arruda’, o presidente do DEM foi questionado sobre ‘a posição do PSDB’ e ‘não perdoou’, segundo o site da ‘Veja’: ‘Sobre a Yeda?’


Fim do dia e, após muito debater, ‘DEM dá prazo para Arruda se explicar’, no G1.


FALA LULA


Destaque por todo lado ao longo do dia, até o ‘Jornal Nacional’, ‘Lula diz que imagens não falam por si’. Segundo Jair Rattner, da BBC Brasil, Lula negou ter visto os vídeos e falou: ‘A imagem não fala por si. O que fala é todo um processo de investigação, apuração. E quem vai fazer o juízo final é a Justiça’.


E FALA SERRA


Depois de Lula, José Serra. Ele havia dito que ‘os fatos revelados, inclusive por filme, são gravíssimos’.


Ontem, acrescentou que ‘as denúncias merecem ser muito bem investigadas, tem que ouvir os acusados, que têm direito de defesa, e no final a Justiça tem que fazer Justiça com as conclusões a que chegar’.


HONDURAS SEM FIM


No título do ‘New York Times’ para longa reportagem, ontem, ‘Destino de líder deposto torna nebuloso o resultado da eleição em Honduras’. Em suma, o eleito ‘não vai afastar facilmente o golpe e o impasse político’.


O jornal ouve uma representante do Carter Center, que se negou a enviar observadores à eleição, e um representante do Human Rights Watch, que relata ‘prisões, mortes e censura’ nos dias que precederam a votação. Por sinal, no título do ‘China Daily’, ‘EUA e Brasil se dividem sobre a crise hondurenha’.


OS CHINESES ESTÃO CHEGANDO


Deu no ‘NYT’ e nos financeiros, mas a cobertura maior foi no ‘China Daily’, ‘Wugang paga US$ 400 milhões por parte da MMX’. Com foto de um cargueiro de ferro, saúda que a estatal será a segunda acionista na empresa do ‘homem mais rico do Brasil, Eike Batista’


‘PORTOS SEGUROS’


O ‘Financial Times’, com eco na BBC Brasil, publicou a reportagem ‘Investidores rasgam as velhas regras de comportamento’, na resposta à crise de Dubai. Em suma, ‘os mercados emergentes da China e do Brasil viram crescer a entrada de recursos, com investidores tratando-os como portos seguros, por suas finanças públicas mais saudáveis’. Por outro lado, países menores da União Europeia viram as aplicações externas sumirem.


LONGO PRAZO


O ‘FT’ acrescentou, em outra longa reportagem postada ontem, que a China e corporações brasileiras como a Petrobras já apontam uma ‘tendência promissora’ pós-crise, com a ‘emissão de títulos com prazos mais longos’.


POTÊNCIA BANCÁRIA


Em meio à crise de Dubai, a Al Jazeera, do Qatar, com o título acima, produziu um perfil do BNDES, com elogios ao presidente da instituição, Luciano Coutinho, mas também com críticas pelo apoio a projetos na Amazônia.


PRÉ-SAL ETC.


Com reportagens em áudio e texto sobre a nova classe média e o pré-sal, entre outros temas já conhecidos, a rede pública de rádio dos EUA, NPR, dedica a semana ao Brasil, falando em ‘Eldorado’ do petróleo e exibindo estaleiros em ação


DE LÁ PARA CÁ


Sob pressão no Brasil, onde a compra da GVT é questionada, a francesa Vivendi fechou a venda de sua parte na NBC, manchete on-line do ‘Wall Street Journal’ de ontem. Para o ‘FT’, o negócio de US$ 5,8 bilhões ‘alivia a pressão sobre a Vivendi após a compra da GVT por US$ 4,2 bilhões’. Segundo o ‘NYT’, ouvindo analistas, os franceses ‘não querem ficar fora dos emergentes, é o território quente’.’


 


 


TELES


Elvira Lobato


Projeto que libera TV a cabo para teles será votado hoje


‘O projeto de lei que autoriza as telefônicas a oferecer o serviço de televisão a cabo será votado hoje na Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara dos Deputados.


A última versão do projeto, apresentada pelo relator Paulo Lustosa (PMDB-CE), dá poder à Ancine (Agência Nacional de Cinema) para regular e fiscalizar a programação e o empacotamento de canais. Caberá a ela definir até o horário nobre na televisão paga.


De autoria do deputado federal Paulo Bornhausen (DEM-SC), o PL 29, como é conhecido, se arrasta há mais de dois anos por conta dos conflitos de interesse entre telefonia, televisão paga, radiodifusão e produção independente de conteúdo.


Ele prevê espaço para anúncios publicitários nos canais pagos igual ao da televisão aberta, do que alguns radiodifusores discordam. O SBT é contra tal proposta. ‘Achamos que as TVs pagas têm de se manter apenas com a receita da venda das assinaturas’, diz o diretor da emissora Guilherme Stoliar. A Record, segundo ele, tem a mesma posição.


A Globo, por sua vez, faz restrição ao poder conferido à Ancine para regular e fiscalizar um serviço privado.


Também os operadores de televisão paga e os programadores dos canais estrangeiros criticam o cunho estatizante do projeto. O advogado Marcos Bitelli, que assessora a Associação Brasileira dos Programadores de Televisão por Assinatura, diz que a palavra Ancine é citada 23 vezes no projeto. Para ele, as restrições aos programadores são inconstitucionais.


Dos quatro ramos empresariais da TV paga -produção de conteúdo, programação, empacotamento de canais e distribuição-, dois (empacotamento e programação) dependerão de registro prévio da Ancine para funcionarem.


O presidente da Ancine, Manoel Rangel, refuta as críticas. ‘Com a convergência tecnológica, é preciso haver regulamentação que separe a camada de audiovisual da de telecomunicações e proteger as empresas e o conteúdo brasileiros.’


O presidente da Sky (empresa de televisão paga via satélite, com 1,9 milhão de assinantes), Luiz Eduardo Baptista da Rocha, diz que o sistema de cotas obrigaria a empresa a descumprir contratos com seus atuais assinantes e com os programadores, pois teria que substituir canais estrangeiros por brasileiros para atender à cota.


Pelo projeto, um terço dos canais ‘qualificados’ exibidos pelas TVs pagas tem de ser de conteúdo brasileiro. Segundo o presidente da Sky, os canais considerados qualificados seriam apenas os de filmes.


Para ele, o sistema de cotas não é eficiente e estimularia a criação de companhias de fachada para preencher a cota de empresas brasileiras.


Principais interessadas na aprovação do PL 29, as telefônicas não se envolvem no embate. Segundo o presidente da Abrafix (que representa as teles fixas), José Fernandes Pauletti, o texto do relator é o possível, embora não agrade inteiramente a nenhuma das partes. O texto proíbe as teles de manter direitos de exclusividade para transmitir shows e campeonatos, do que elas discordam.


O relator, Paulo Lustosa, vê condições para que o projeto seja votado hoje. Ele diz que também tem ressalvas ao sistema de cotas, mas que ainda não houve alternativa melhor.


Se o projeto for aprovado, seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, onde não poderá sofrer modificações de mérito. Depois tem de ser aprovado no plenário da Câmara e no Senado.’


 


 


Julio Wiziack e Danilo Vilela Bandeira


Para a TV paga, alta nos preços será ‘inevitável’


‘Caso seja aprovado na íntegra, o projeto de lei 29 provocará quebra de contratos entre operadoras de TV por assinatura com seus clientes e fornecedores. Além disso, obrigará as empresas a reajustarem para cima o preço dos pacotes, diz o setor.


‘Será inevitável’, diz Luiz Eduardo Baptista, presidente da Sky. ‘Para cumprir as cotas que exigem canais nacionais na grade de programação, teremos de retirar canais internacionais e vendê-los ‘à la carte’. Em alguns casos, o custo por canal chegará a ser duas, três vezes maior. Não há quem não consiga repassar isso ao consumidor. Pode demorar um mês, dois meses, seis meses, mas uma hora vai repassar.’


O resultado disso será a ‘judicialização’ dessas mudanças pelos consumidores, reclamando nos tribunais sobre a retirada dos canais. É o que acredita Maria Inês Dolci, coordenadora da Pro Teste, Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. ‘É possível que, caso sejam retirados canais da grade ou os valores dos pacotes sejam reajustados, os consumidores acionem judicialmente as operadoras por quebra de contrato.’


O presidente da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), Alexandre Annenberg, também considera que o estabelecimento de cotas de canais produzidos por empresas com capital 100% brasileiro pode gerar um imbróglio jurídico.


‘Existe um contrato com o consumidor e vem um organismo de fora e obriga as operadoras a fornecerem um produto que não constava do contrato. Em última instância, a agência [Ancine] está forçando o consumidor a comprar algo que não lhe interessa. Isso vai contra a Constituição’, diz Annenberg.


Os problemas não param aí. Para as operadoras, o pior é a inexistência de oferta de novos canais brasileiros. O PL 29 define que as operadoras terão de reservar um terço de sua programação aos canais brasileiros ‘qualificados’ em seu horário nobre.


De acordo com o PL, estão fora canais religiosos, políticos, étnicos, de televendas, jornalísticos, esportivos e de auditório. Ficam excluídos da cota, por exemplo, GloboNews, SporTV e ESPN. ‘Na Sky teremos apenas seis canais’, diz Baptista. Para ele, até esses canais ficarão mais caros.’


 


 


INTERNET


Carlos Minuano


Usuário sempre vai driblar censura, diz cineasta


‘O inglês Jamie King não imaginava que sua vida não seria mais a mesma após lançar na internet seu documentário ‘Steal This Film’ (roube este filme), sobre confrontos envolvendo direitos autorais.


O filme, lançado em 2006 e disponível para download gratuito, foi visto por cerca de 5,6 milhões de pessoas. O documentário critica a investida de um lobby americano contra o site sueco Pirate Bay, considerado na época o maior tracker de BitTorrent do mundo.


Não deu outra: Jamie King tornou-se celebridade e um ícone da liberdade na rede. Ele esteve no Brasil, na semana passada, e conversou com a Folha durante o Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira, realizado em São Paulo.


FOLHA – Como surgiu a ideia do documentário ‘Steal This Film’?


JAMIE KING – O filme foi feito em 2006, momento em que a tecnologia peer-to-peer começou a ser muito utilizada para compartilhar mídias, filmes, músicas e literatura. Essa tendência desenvolveu um conflito entre as diferentes comunidades virtuais que surgiram na esteira da web 2.0 e os modos mais tradicionais de distribuição de filmes. Achei importante mostrar esse cenário do ponto de vista dos usuários da rede.


FOLHA – Você pode falar sobre a prisão dos criadores do Pirate Bay?


KING – O Pirate Bay, no momento em que o filme foi feito, era considerado o maior tracker de BitTorrent do mundo e foi atacado pela polícia sueca devido a uma pressão feita por lobistas da indústria de distribuição de filmes sobre o governo sueco. Existem provas da participação dos Estados Unidos no caso. Eles utilizaram um documento internacional, o WTO, da OMC, que funciona como uma lista negra. Se o Pirate Bay não fosse tirado do ar pelo governo, a Suécia seria incluída na famigerada lista negra da OMC. Essa dimensão surpreendente do peer-to-peer na geopolítica nos fez ver que não estava em jogo apenas uma tecnologia, e sim algo bem mais importante, a nossa liberdade, fundamental para o desenvolvimento da sociedade.


FOLHA – Você acompanhou outro caso similar?


KING – Sim, houve todo tipo de ataque no mundo inteiro. Teve um caso de um rastreador de BitTorrent muito grande de música, no norte da Inglaterra. O proprietário sofreu uma invasão da polícia em sua própria casa, onde funcionava o rastreador. Acho que foi em 2008. Era chamado Oinc, se tornou famoso quando o vocalista de uma banda inglesa badalada afirmou que era seu site preferido para buscar música.


FOLHA – Ao mesmo tempo em que se observa um movimento a favor da liberdade na internet, aumenta também a demanda por leis e maior controle. O que você pensa disso?


KING – Estamos vivendo um período tecnológico e cultural singular. E, quando chegamos a momentos como este, é uma responsabilidade de quem sonha com um novo mundo torná-lo sedutor e positivo o bastante para atrair aquelas pessoas que ainda vivem no velho mundo. Acho perigoso ver esta relação como uma luta. Este novo mundo é cada vez mais interessante para artistas e criadores, porque oferece novos modos de distribuição, um imenso público e formas renovadas de obter reconhecimento, apoio, por meio de novos modelos de negócio que estão surgindo. Precisamos lembrar que no mundo antigo nem tudo é perfeito. É nosso dever encontrar novos caminhos, para que mais pessoas possam se expressar e alcançar público.


FOLHA – Qual é a sua opinião sobre a cultura digital no Brasil?


KING – Há um ditado que diz: ‘A grama é sempre mais verde do outro lado da cerca.’ É mais ou menos o que ocorre. Os EUA e o Reino Unido olhavam para o Brasil como se aqui fosse tudo livre, mas o fato é que os problemas dos nossos cineastas e artistas são os mesmos enfrentados pelos brasileiros, por exemplo, a falta de possibilidades de distribuição, maior entrave para qualquer criador.


FOLHA – Que outros problemas são semelhantes?


KING – O sistema antigo, do qual estamos emergindo, exigia grandes quantidades de capital monetário para a reprodução de trabalhos culturais. Os jornais, por exemplo, aqui ou em qualquer lugar, são propriedade de pessoas muito ricas, ou de um grupo de pessoas com muito dinheiro. Não quero dizer que sejam pessoas ruins, mas são ricos, e isso muda o que ouvem, o que podem dizer e influencia os tipos de visão que circularão no jornal. É uma consequência de um momento muito particular, no qual é preciso muito dinheiro para operar. Isso obviamente significa que diferentes grupos e ideias políticas tiveram menos representatividade. É assim no mundo todo. O ambiente digital muda o jogo, pois agora podemos publicar essas visões, não custa mais milhões de reais, libras ou dólares. Então, para um país como o Brasil, com tanta desigualdade social, os problemas não são diferentes, são mais urgentes. Meu objetivo é justamente mostrar às comunidades, que são naturalmente muito criativas, como elas podem usar as novas tecnologias para se expressarem, distribuírem seus conteúdos, serem reconhecidas e conseguirem suporte material para o seu trabalho.


FOLHA – As tentativas de controle da rede avançarão?


KING – Tenho duas respostas para essa pergunta. Primeiro, para preservar o modelo antigo, os defensores do que chamo ‘velho mundo’ exigirão a limitação ao uso de internet, vigilância total das pessoas, criminalização de atividades como copiar um CD ou um filme, e não fazem isso porque são ruins, mas porque acreditam ser o melhor modo de se estruturar uma sociedade, por isso são forçados a tomar ações muito extremas. Eles sabem que se uma cópia escapar o que virá depois é 1 milhão de copias. Entendo a posição deles, mas estão lutando uma batalha impossível. Infelizmente estão preparados para retirar algumas das liberdades mais fundamentais de nossa sociedade, por uma simples falta de criatividade em termos de pensamento sobre o futuro.


FOLHA – E a segunda resposta?


KING – Eles nunca vencerão. Existem características fundamentais no período tecnológico em que vivemos. A rede não será removida e o formato digital não vai desaparecer. Os usuários consideram a censura algo danoso e sempre encontraram modos de se livrar dela.


FOLHA – Você ganhou dinheiro?


KING – O documentário foi visto por 5,6 milhões de pessoas, isso mudou minha vida. Surgiram novas oportunidades e convites de diferentes tipos. Creio ser um bom modelo a ser seguido por novos cineastas e criadores que pensem em usar a internet. Claro que não fomos pagos pelo filme, pelas cópias baixadas na rede, mas houve retorno mesmo assim.


FOLHA – Em que projetos você trabalha atualmente?


KING – Eu estou trabalhando num projeto chamado Vodo (vodo.net), que busca ajudar produtores culturais a fazerem uso das novas tecnologias. Descobrimos que, criando uma rede de comunidades de compartilhamentos de arquivos, conseguimos audiência para nossos criadores de filmes. O próximo passo é construirmos um público cada vez maior que curta fazer download de filmes livres. Estamos desenvolvendo novos modelos de negócios, novas maneiras de sustentar nossos trabalhos e famílias.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de dezembro de 2009


 


TELEVISÃO


Brian Stelter, The New York Times


Como as redes vão se virar sem Oprah


‘Não existe um candidato único à vaga que será deixada por Oprah Winfrey. Isso não é, necessariamente, uma afirmação da posição dominante ocupada por seu programa, The Oprah Winfrey Show, no ar há 24 anos. Trata-se apenas da realidade do sistema de redes que retransmite os programas televisivos pelo mundo inteiro.


Quando Oprah abandonar a programação da TV aberta daqui a dois anos, como anunciou na semana passada, um grande número de talk shows disputará a vaga atualmente ocupada pelo programa dela em mais de 200 emissoras. Não haverá um só substituto. Cada emissora deve fazer uma aposta diferente, alterando drasticamente sua programação televisiva diurna.


Assim como ocorreu este ano com a NBC e o apresentador Jay Leno, o tabuleiro de xadrez da televisão vê suas peças rearranjadas por um mero programa de entrevistas. Não é curioso? A ausência de Oprah pode afetar até os noticiários noturnos das emissoras. ‘Subitamente, vemos um grande número de peças em movimento no tabuleiro’, disse Bill Carroll, responsável por recomendar, em nome do Katz Television Group, os possíveis programas substitutos de Oprah.


Mesmo antes de Oprah declarar oficialmente que 2011 será ‘o momento certo’ de abandonar a TV aberta, executivos do ramo já se debatiam para promover Ellen DeGeneres, o Dr. Mehmet Oz, o Dr. Phil McGraw e outros apresentadores que pretendem se beneficiar com as alterações no sistema de retransmissão.


Analistas dizem que Ellen e o Dr. Oz devem obter vantagens, pois seus acordos com as emissoras têm data de renovação próxima ao encerramento marcado para a carreira de Oprah. Apresentadores novatos podem aproveitar a oportunidade para conquistar uma maior audiência. ‘Tenho certeza de que há muitas pessoas telefonando para seus agentes e dizendo, ‘Acho que eu poderia ser a próxima Oprah’, declarou Carroll.


Não importa o que aconteça, parece que Oprah, mesmo fora das telinhas, ainda assim sairá vencedora no mercado. Ela já formou e promoveu outros apresentadores em número suficiente para garantir outra década de sucesso para sua produtora. A apresentadora apoiou a carreira de McGraw em 2002, e o seu talk show, Dr. Phil, é atualmente o segundo mais visto, perdendo apenas para a própria Oprah. Ela logo lançou Rachael Ray em 2006 e, nos últimos meses, o programa The Dr. Oz Show. Este último já se tornou um sucesso. Agora, Oprah planeja um programa para Nate Berkus, seu decorador favorito.


Oprah e Ellen DeGeneres se tornaram próximas ao longo dos anos, o que levou a especulações de que Oprah estivesse preparando Ellen para sua sucessora. As duas estão na capa da revista O, The Oprah Magazine. Oprah ‘será eternamente a rainha da programação diurna’, disse Ellen à plateia de seu programa – ‘Ela disse que deixará para mim todo o seu dinheiro’, acrescentou, brincando. TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL’


 


 


Keila Jimenez


À espera de um sinal


‘Há quase três anos em vigor, a classificação indicativa dos programas de TV ainda não foi completamente entendida pelos telespectadores. Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça, cerca de 21,5% das pessoas ainda não reconhecem na TV os símbolos da classificação indicativa. Para 15,8% dos entrevistados, os símbolos de conteúdo inadequado e idade apropriada para os programas aparece rápido demais na tela, e 12,5% reclamam que falta áudio associado para melhor compreensão.


O estudo, realizado com 4004 pessoas, metade adultos, metade crianças e adolescente, foi uma encomenda especial para o Seminário Internacional de Classificação Indicativa, que aconteceu nos 26 e 27, em Brasília, visando entender a quantas andam as novas regras.


Segundo 42,3% das crianças e adolescentes do estudo, a mãe é responsável por escolher a programação que eles assistem na TV, ante 19,4% que acreditam ser o pai o responsável por isso. Entre as maiores preocupações dos pais sobre a influência da TV em seus filhos, a violência, 27,7%, aparece em destaque, passando por sexo 14,6%, e drogas, 12,5%.’


 


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Moacir Assunção


‘Censura ao Estado é inconcebível’


‘O presidente da entidade Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo), Jorge Donizete Sanchez, vê como ‘inconcebível’ a censura ao Estado, mantida por ordem judicial desde 31 de julho. ‘É realmente um absurdo. Primeiro, que a censura tenha sido determinada em pleno regime democrático e, mais ainda, que ela se mantenha por tanto tempo, apesar dos vários recursos do jornal’, disse.


Para Sanchez, advogado que dirige, como voluntário, uma das mais atuantes organizações não-governamentais (ONGs) do País, na fiscalização de prefeitos e vereadores, a mordaça determinada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) contraria frontalmente o artigo 5º da Constituição Federal, que trata da liberdade de expressão.


De acordo com o advogado, a mordaça ao Estado demonstra que o País ainda tem muitas deficiências a corrigir. Ele ressalta que a Constituição prevê o acesso à informação pela população de forma irrestrita, de forma a permitir que os cidadãos formem conceito sobre temas controversos.


A censura foi baixada pelo desembargador do TJ-DF Dácio Vieira, a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Fernando foi investigado e indiciado por vários crimes pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica. Vieira é do círculo de relações da família. O Estado, pela sentença, não pode noticiar o caso.


INTERFERÊNCIA


Na visão de Sanchez, interesses políticos influindo nas decisões da Justiça explicam a censura ao jornal. ‘Conheço muito bem São Luís, a capital do Estado em que vivem os Sarney, e é muito fácil perceber a influência que o senador e sua família exercem’, afirmou o advogado, que visitou o Convento das Mercês, na capital maranhense, onde funcionou a extinta Fundação Sarney, alvo de várias investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.


‘No caso, ao que parece, a famosa divisão tripartite dos Poderes, de Montesquieu, não tem validade. É difícil entender a submissão do Judiciário à vontade de uma pessoa somente’, comentou. ‘Em termos jurídicos, sociais e até pessoais, essa decisão é lamentável.’


Medidas como o impedimento determinado contra o jornal demonstram, para Sanchez, que o Brasil ainda está muito distante de ser uma verdadeira democracia. ‘Temos muito a caminhar nesse sentido. Infelizmente, ainda não podemos nos considerar uma democracia de fato e de direito.’’


 


 


STF vai julgar recurso no dia 9


‘O Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar no próximo dia 9 o pedido de liminar do Estado para que seja derrubada a censura que impede o jornal há 124 dias de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica.


Na reclamação protocolada na corte, os advogados sustentam que a mordaça contraria decisão na qual o STF revogou a Lei de Imprensa e reforçou o pleno direito à liberdade de informação.


No último dia 19, o relator do recurso no Supremo, ministro Cezar Peluso, preferiu não decidir sozinho o pedido de liminar e levou o caso para o plenário do STF, integrado por 11 ministros.


Já o empresário Fernando Sarney protocolou uma petição pedindo que a censura seja mantida pelo Supremo.


O anúncio da data do julgamento foi feito pelo STF por meio do Twitter. O tribunal inaugurou ontem a sua página nessa rede social e já tinha mais de 600 seguidores.’


 


 


 


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