Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Adriana Chaves

‘Fernanda Karina Somaggio, 32, ex-secretária do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, foi sondada pela revista ‘Playboy’ para posar nua. A ex-secretária, que ganhou notoriedade ao denunciar o esquema de corrupção envolvendo o PT, pediu R$ 2 milhões para aceitar a proposta da revista. A Folha não conseguiu localizar ontem à noite a assessoria da editora Abril para confirmar a proposta. Segundo o advogado de Karina, Rui Caldas Pimenta, representantes da revista já fizeram três contatos com ela, e eles voltarão a negociar nesta semana. ‘Inicialmente, eu disse que estava fora de propósito. Mas depois ela mesma abriu o diálogo.’ O dinheiro seria usado para financiar a campanha da ex-secretária à Câmara de Deputados, de acordo com Pimenta. ‘Estivemos várias vezes em Brasília e vi que despertou nela um interesse maior pela política. Ela me consultou e eu disse: ‘Sem dinheiro ninguém se elege, você vai precisar no mínimo de uns R$ 2 milhões’. Foi quando ela repensou a proposta da Playboy.’ Para ele, Karina virou uma ‘catalisadora de votos’: ‘Nos aeroportos e em tudo quanto é lugar que ela vai as pessoas pedem autógrafo, dizem que estão com ela. Ela morou dois anos na Inglaterra, é filha de professor universitário, tem uma visão política mais acentuada’, disse. Um representante do PSDB já teria consultado a ex-secretária, de acordo com o advogado. ‘Ela não tem preferência por partido, escolherá o que oferecer melhores condições e uma proposta mais ligada à área social. Ela tinha uma identificação com o PT, pelo histórico de honestidade, mas se sentiu enganada.’ Pimenta já sugeriu até um slogan para a campanha da cliente. ‘Eu até brinquei com ela e disse que o slogan tinha de ser ‘antes nua que corrupta’. O dinheiro tem de sair de algum lugar, então que seja das fotos, não da corrupção’, disse o advogado. ‘Ela é uma moça de classe média, modesta, acho que [a publicação das fotos na revista] criaria até um interesse maior do público, por ser algo mais secreto, mais indecifrável. Desde que não seja feito de forma escrachada. No caso dela, será um nu artístico mesmo, algo com sombras’, disse o advogado.’



O Estado de S. Paulo

‘Karina pede R$ 2 milhões para posar nua e financiar campanha’, copyright O Estado de S. Paulo, 25/07/05

‘A ex-secretária do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, Fernanda Karina Somaggio, que ficou famosa por suas revelações no escândalo do mensalão, deve mesmo posar nua para a revista Playboy. A negociação em torno do cachê, no entanto, ainda não está fechada. Ela quer R$ 2 milhões, a serem aplicados na campanha que deseja iniciar a fim de se eleger deputada federal nas próximas eleições.

O advogado de Karina, Rui Caldas Pimenta, confirmou que ela se reunirá com representantes da revista esta semana. Ele disse que a ex-secretária, que tem 32 anos e nunca foi modelo, se convenceu de que é preciso ter muito dinheiro para concorrer a uma vaga na Câmara. ‘Para se candidatar, ou tem de ser milionário ou é na base da corrupção. Eu até brinquei com ela que seu slogan poderia ser: ‘antes nua do que corrupta’.’

O partido ao qual Karina irá se filiar ainda não foi definido. Já houve conversas, segundo Pimenta, com o PSDB, mas não se chegou a uma conclusão. ‘Pode ser qualquer partido, desde que tenha consistência e um bom programa social. O que ela quer é acabar com a corrupção, porque isso faz com que falte dinheiro para investir na saúde, educação, saneamento básico.’

INTERNACIONAL

O valor de R$ 2 milhões foi estabelecido como condição para as negociações irem adiante. ‘Ela revolucionou o País. É a moça que acabou com o PT. Isso desperta interesse até internacional’, acredita, acrescentando que a beleza da cliente já foi comparada à da estrela do cinema Nicole Kidman.

Karina não pôde dar entrevista ontem porque, segundo o advogado, estava passeando com a filha, que tem 8 anos. O marido, gerente de uma empresa de logística, já teria concordado com o fato de a mulher ser fotografada sem roupa.’



CPI NA TV
Sérgio Augusto

‘Vossa Excelência, a CPI dos Correios’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/7/05

‘Saiu o Big Brother Brasil, entrou o Big Brothel Brasil – o reality show da vez ou, quem sabe, o reality show para acabar com todos os reality shows. Com muito mais ibope que os anteriores, é uma videocacetada cívica que só não me arrisco a comparar com a agonia do governo Collor porque naquela época ainda não havia a TV Câmara nem a Globo News para cobrir ao vivo as intimidades do bordel. Fomos mesmerizados pela CPI dos Correios, não perdemos uma edição do Jornal Nacional, não falamos de outro assunto com os amigos. Isso é muito chato.

A metástase da corrupção tornou-se uma idéia fixa nacional, e mesmo quem não tem culpa no cartório anda com medo de ver um homônimo despontar numa lista de propinas e saques ilícitos intermediados pelo Marcos Valério. Isso faz mal à saúde.

Os menos pessimistas se consolam com a esperança de que é para o bem do País tudo o que estamos vendo e padecendo. Espero que seja, embora duvide que ainda dê para consertar um país que nasceu e cresceu torto, e que poucas vezes em sua história teve um Congresso tão chinfrim e venal. A crise é do Parlamento, vive a me lembrar o cientista político Nelson Paes Leme, pensando na questão da representação popular, nos furos que permitem a eleição e reeleição dos severinos & cavalcantis.

‘O Brasil não tem quadros’, queixava-se o professor Eugênio Gudin. E o PT, como está se vendo, menos ainda. Mas os demais partidos não lhe podem atirar pedras. Com as exceções mais ou menos notórias, são lamentáveis, sob qualquer ponto de vista, os deputados e senadores que a crise em curso tornou mais próximos de todos nós, mais visíveis, freqüentes e desnudáveis.

Não são poucos os que demonstram despreparo técnico para participar de uma CPI, fazendo as perguntas erradas, deixando escapar detalhes preciosos ou simplesmente tumultuando o interrogatório, o que pode vir a beneficiar os pilantras envolvidos na crise e comprometer a devassa. Não são poucos os que persistem em fazer das sessões da CPI um palanque, um horário eleitoral gratuito (se você pensou logo no deputado Rodrigo Maia, meus parabéns). Ou um concurso de histeria (com a senadora Heloisa Helena ligeiramente à frente da senadora Ideli Salvatti).

E o que dizer do peralvinho ACM Neto? E do ‘schadenfreude’ estampado no sorriso de parlamentares que, não por acaso, zelam mais por sua carreira política do que pela coisa pública? E do linguajar de vários parlamentares, cheio de solecismos, derrapagens sintáticas e lugares-comuns? Para não falar da hipócrita etiqueta parlamentar, que assegura a qualquer mequetrefe o direito a um ‘vossa excelência’. Eu preferia ser tratado sempre por você, mas com carinho, a levar pela cara algo do tipo ‘Vossa Excelência é um ladrão contumaz, um salafrário!’

A CPI, por cujo sucesso torço fervorosamente, só teria a ganhar se a senadora Salvatti abusasse menos do advérbio ‘efetivamente’, se o netinho do vovô ACM refreasse o seu ruybarbosismo e fosse menos enfático e eloqüente (Pascal já dizia: ‘Eloqüência demais cansa’), se o deputado Eduardo Paes acertasse todos os seus pronomes pessoais. Pois já bastam os ‘esses’ e os plurais que Delúbio Soares, Marcos Valério e Silvio Pereira costumam comer, não para homenagear o presidente Lula, mas porque não sabem se expressar corretamente, mesmo.

George Orwell escreveu, em 1946, um ensaio muito lido e citado sobre a influência da política na língua inglesa, que teria ficado feia e imprecisa pelo excesso, no discurso político, mas não só nele, de clichês, jargões, adjetivos equivocados, palavras de sentido vago ou múltiplos sentidos, sinônimos pernósticos e metáforas incongruentes, facilitando o empobrecimento das idéias e, por conseguinte, a ocupação do poder por gente medíocre, desqualificada. Os políticos brasileiros nunca deixaram Orwell perder a atualidade.

Quando a ditadura militar acabou, fiz por alto um balanço dos estragos acumulados, incluindo o período pré-64, e concluí que precisaríamos de pelo menos três presidentes como Franklin Delano Roosevelt, eleitos sucessivamente, para desviar a vaca para bem longe do brejo. E o que tivemos depois que o último soba fardado se foi? José Ribamar Sarney. Resultado: ficamos precisando de quatro ou cinco Roosevelts. Como depois nos sobreveio o Collor, desisti de refazer a conta.

Não sabia, portanto, de quantos Roosevelts necessitávamos quando FHC assumiu a Presidência, nem com quantos deveríamos sonhar depois que ele passou a faixa para Lula. Agora, receio, nem dez Roosevelts seguidos dariam jeito nisso aqui. Aparentemente, já tentamos de tudo. Elegemos um jovem bonito e bem nascido, comparado pelo Paulo Francis a um ‘herói de Plutarco’ e que, por ser rico, não iria nos roubar (tese do colunista social Zózimo Barroso do Amaral, R.I.P.), com as conseqüências de sobejo conhecidas. Aí tentamos um sujeito que conhecia mais do que qualquer um de nós os problemas do país: o ‘príncipe da sociologia brasileira’, Fernando Henrique Cardoso, um presidente tipo exportação, que só conseguiu reeleger-se apelando para uma mutreta cambial cujos danos à economia até os tucanos mais confiáveis reconhecem. Com Lula, ousamos, demos ao mundo um exemplo, alçando ao poder um operário. Se bacharéis de todas as plumagens não acertaram a mão, perguntou-se o eleitorado, por que não experimentar alguém sem anel no dedo – e com um dedo a menos?

Não sei o que mais nos resta a experimentar. Talvez um bombeiro, quem sabe, aquele bombeiro da Luma de Oliveira. Pior do que o Garotinho, por exemplo, ele não seria. E Garotinho, o Elmer Gantry fluminense, pode ser perfeitamente a próxima ousadia do eleitorado, hipótese só descartável se o arraial político sofrer nos próximos meses uma faxina ética e moral ampla, geral e irrestrita, acompanhada de uma reforma política radical o suficiente para tornar qualquer cargo público inacessível aos picaretas e canalhas de todas as colorações.

Quando Lula disse, em Paris, que ‘o Brasil não merece isso’, perguntei ao meu id: ‘Não merece exatamente o quê?’ E o meu id respondeu: ‘Um presidente como ele, que ou foi enganado ou se omitiu ou é conivente’. Meu id está por aqui com a crise do mensalão, com a evangelização do Roberto Jefferson (ídolo confesso do Thiago Lacerda, bem feito pros dois) e com duas coisas há dias salientadas por Tutty Vasquez, no site nominimo: a mediocrização do humor (todo mundo virou piadista no governo Lula) e a banalização da desonestidade depois que o último símbolo da moralidade nacional, Lula, veio ao chão.

‘Ficou mais fácil’, argumentou Tutty, ‘aceitar a idéia de que todos nós somos iguais: mentirosos, ardilosos, inescrupulosos, cínicos, espertos, caras-de-pau e debochados. Não somos, mas, não há como negar, estamos todos pela primeira vez rindo da mesma piada, o que para os humoristas é muito grave. A boa anedota é aquela que divide, faz rir a uns, irrita outros.’

Como aquela piada em que a Rosinha e o Garotinho… ah, deixa pra lá.’



Carta Capital

‘Show na telinha’, copyright Carta Capital, 27/7/05

‘De olho nas câmeras da TV Senado, os parlamentares da CPI dos Correios pautam suas atuações e intervenções. Sucesso de audiência e fonte de imagens e som para todas as emissoras, a TV Senado faz parte do show das investigações. Não sem algumas controvérsias.

Isso porque calha de ocorrer que alguns parlamentares depois de passarem horas a fio até ser chamados, muitas vezes ensaiando (nos depoimentos, a CPI recebe, em média, cerca de 30 pedidos de inscrição para perguntas, e cada inquirição dura 15 minutos), a intervenção sai do ar.

Mas é má sorte e não censura. Uma resolução interna do Senado diz que a prioridade de transmissão é das sessões do Plenário, da Comissão de Constituição e Justiça, da Comissão de Assuntos Econômicos, da Comissão de Relações Exteriores, nessa ordem, para só depois transmitirem as atividades das comissões de inquérito.

Aí está, ainda, o motivo que faz parlamentares chegarem cedo para suas aparições não coincidirem com as atividades do Plenário, que ocorrem no meio da tarde.

Por causa de cortes em seus discursos, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) chegou a manifestar desconfiança quanto ao uso dos critérios.

Hoje, a TV Senado faz parte dos pacotes da NET e SKY, atingindo um público potencial de 3 milhões de assinantes. Além disso, ela transmite em UHF para a região do Distrito Federal e é – vez que seu sinal é transmitido via satélite – captada por cada um dos 8 milhões de parabólicas instaladas no País. No total, 44 milhões de pessoas podem ter acesso à emissora, que, entretanto, não contrata serviços privados de medição de audiência.

Em sua última contabilidade, a TV Senado foi acessada por 289.426 pessoas pela internet. Com as transmissões da CPI, decidiu-se abrir um segundo canal da tevê que transmite on-line e sem interrupções as sessões. De acordo com informações do Prodasen (órgão do Senado responsável pelo suporte de informática), o número de acessos simultâneos via rede de computadores teve de ser dobrado para 400, graças à demanda da população.

Do mesmo modo, a central de relacionamento do Senado com o cidadão, o Alô Senado, um sistema de 0800, registrou significativo aumento desde a instalação da CPI dos Correios.

‘A programação de qualidade da TV Senado e as transmissões da CPI caíram no gosto do público’, diz o jornalista Armando Rollemberg, diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado.

Embalada pela audiência e pela repercussão, a TV Senado prepara-se para deixar de ser veiculada exclusivamente por assinatura. Fato que ampliará a audiência para faixas mais populares da sociedade. Até agora, transmitida em canal fechado, a TV Senado tem uma audiência restrita às classes de renda mais alta. O Senado obteve do Ministério das Comunicações a autorização para levá-la a Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus, cidades escolhidas por critérios demográficos e regionais e, sobretudo, pela disponibilidade de espaço na banda de transmissão de sinais de televisão.

Nos outros locais onde o dial está lotado, obteve-se o compromisso de tão logo seja adotado o padrão de transmissão digital, que aumenta em muito a capacidade de canais, a TV Senado receberá autorização para difusão em todas as capitais.

Hoje, cerca de 39% das transmissões são de programas ao vivo, enquanto os programas gravados compõem 21% da grade de programação, sendo a quase totalidade desses realizados pela própria equipe de comunicação da Casa. Como prioridade para o segundo semestre deste ano, está a produção de programas sobre o plebiscito do desarmamento.

Com um orçamento anual de quase R$ 21 milhões e uma equipe de 127 profissionais, o sistema de comunicação do Senado, do qual faz parte a tevê, passou a incomodar as grandes redes que vetaram, por exemplo, um decreto presidencial que, além de transformá-la em canal aberto, obrigava que 15% do conteúdo da grade de programação fosse produzido nos municípios.’



Veja

’24 horas de olho neles’, copyright Veja, 27/7/05

‘Nunca uma crise política no Brasil foi tão exposta em suas minúcias. Os depoimentos prestados à CPI dos Correios são transmitidos pelos canais de notícias 24 horas – que ainda não existiam, por exemplo, na época do processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo, em 1992. É como se a atividade da CPI estivesse sob permanente vigilância, em uma espécie de Big Brother da política – sujeito a momentos de tédio, mas também a formidáveis revelações. Essa programação tem obtido bons índices de audiência: nas duas ocasiões em que Roberto Jefferson depôs – na Comissão de Ética da Câmara e na CPI –, o canal de notícias Globonews foi sintonizado por mais de 1 milhão de pessoas, assumindo a liderança da audiência entre os canais pagos. O Jornal Nacional, o programa jornalístico mais visto do país, tem dedicado quase todos os seus blocos à cobertura do escândalo – e é acompanhado por cerca de 30 milhões de pessoas. Esses números revelam um interesse continuado do público brasileiro pelos desdobramentos do escândalo do mensalão. E mostram o vigor democrático da sociedade brasileira.

Apesar dos escândalos, muitos indicadores de saúde democrática vão bem. Ainda no âmbito da imprensa, hoje é inimaginável que ocorram episódios como a invasão do prédio da Folha de S.Paulo pela Polícia Federal, em 1990 – uma tentativa de intimidar os meios de comunicação quando pipocavam denúncias contra o presidente Collor (o governo petista tentou criar um mecanismo de controle da imprensa, o malfadado Conselho Federal de Jornalismo, mas a idéia foi abatida no nascedouro). Mesmo no aparato estatal, há instituições sólidas e independentes. Desde que viu sua autonomia ampliada pela Constituição de 1988, o Ministério Público tornou-se um órgão importante de combate à corrupção. O mesmo se pode dizer da Polícia Federal. ‘A verdadeira democracia tem de ser testada. São as crises que permitem constatar o vigor das instituições’, diz o historiador Lincoln Penna.

Outras comparações com o período da falência do governo Collor tornam mais claro como o Brasil avançou. Quando Collor foi apeado da Presidência, a inflação batia em 1.000% ao ano. A crise econômica não nasceu com as denúncias contra o presidente, mas viu-se ampliada por elas: a inflação mensal atingiu seu pico no mês do impeachment, setembro de 1992, com 27%. No terremoto atual, a economia se mantém estável. Não se fala em explosão inflacionária, e a confiança do mercado internacional não dá mostras de arrefecer: na semana passada, o Brasil trocou boa parte de seus C-bonds (títulos da dívida externa) por documentos com cláusulas mais favoráveis. Isso é possível porque o governo se mantém firme na rota do ajuste fiscal, mas também pela autonomia que instituições econômicas como o Banco Central têm demonstrado. Nas últimas semanas, por exemplo, o BC negou um empréstimo especial ao Banco Rural, instituição estreitamente ligada ao empresário Marcos Valério, operador do mensalão. Com seu nome associado a um escândalo de corrupção, o banco imaginou que seria possível blindar-se contra uma corrida de saques com um dinheirinho do governo. Se dependesse da cúpula petista, o desejo teria sido atendido. O BC, no entanto, manteve as portas do cofre trancadas.

Uma comparação com nações em estágio de desenvolvimento semelhante ao do Brasil é também eloqüente. Na Argentina, quando a crise econômica levou o presidente Fernando de la Rúa à renúncia, em 2001, houve saques e confrontos de rua em Buenos Aires. Não se vê nada remotamente parecido por aqui. ‘A democracia brasileira já é capaz de absorver as crises e demandas dentro de um marco institucional’, diz o jurista e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer. Também é alentadora a comparação do Brasil com países como China e Rússia. A Rússia, assolada por um nível quase endêmico de corrupção, ainda não se libertou da tradição autoritária herdada do comunismo: os canais de televisão, por exemplo, são controlados pelo governo. A China, embora desponte como um gigante econômico, não dá mostras de que algum dia vá instituir um estado de direito.

As atividades da CPI, é claro, também são um índice de força da democracia – ainda mais quando vigiadas pelo eleitor. ‘Uma CPI bem conduzida ajudará a dissipar a idéia de que os políticos são um bando de gaiatos’, diz o cientista político Bolívar Lamounier. Na semana passada, o senador Jefferson Peres (PDT-AM), em artigo no jornal Folha de S.Paulo, citou o Chile como exemplo positivo para o Brasil. Ele lembrava que, no fim da ditadura do general Pinochet, os partidos chilenos firmaram um acordo sobre os pontos da política econômica que deveriam ser mantidos. Nenhum pacto formal do gênero foi firmado pelos partidos brasileiros. Mas a sociedade brasileira chegou, sim, a um pacto tácito sobre os valores básicos que nem a mais grave crise política pode vitimar: estabilidade econômica, instituições democráticas, liberdades civis. Por mais que as investigações da CPI abalem o governo, o Brasil tem todas as chances de sair desse processo ainda mais fortalecido.’