Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Adriana Chiarini

‘Os crimes financeiros com ajuda da internet estão crescendo, diversificando-se e atingindo operações de compra e venda de ações e opções. ‘Isso é a pós-graduação no crime’, disse o promotor da Justiça Federal americana Stuart Berman, coordenador da área de crimes de telecomunicação e internet no Estado de Maryland. ‘Os bancos são constantemente assaltados via internet’, afirmou ao iniciar palestra ontem na sede do sindicato e associação dos bancos do Estado do Rio de Janeiro (Sberj/Aberj), sem ser contestado.

Ele não deu números e justificou que as estatísticas sobre o dinheiro desviado não são confiáveis pois nem sempre a fraude financeira é identificada ‘e nem tudo é notificado à polícia’. Segundo o promotor, a subnotificação é provocada tanto por funcionários que descobrem o problema mas temem punições quanto pelas instituições financeiras vítimas, com receio da repercussão da notícia, inclusive sobre suas ações em bolsa.

Nas fraudes com ações, a maior parte consiste em fazer o preço dos papéis de determinada empresa subir ou descer por meio de boatos na rede, em chats ou por e-mail, lucrando com isso. Berman explicou que em geral a empresa é uma companhia aberta com pouca liquidez, na qual uma ordem grande de compra ou venda possa de fato mexer com os preços. A mensagem costuma ser mandada sob identidade falsa e pode assumir a forma aparente de um relatório de banco.

Outros golpes mais tradicionais incluem a invasão de sistemas de bancos ou empresas como as de cartão de crédito, financeiras e de armazenagem de dados. São também casos já clássicos os de falsos e-mails tentando fazer a pessoa informar seus dados bancários ou instalando um programa espião no computador da vítima para pegar suas informações.

A melhor prevenção contra fraudes por e-mail é telefonar ao aparente emissor da mensagem e ver se ela é verdadeira, diz o consultor Gastão Matos, do Movimento Internet Segura (MIS). De acordo com ele, bancos e empresas que praticam comércio eletrônico de forma segura disponibilizam telefones nos sites e não mandam e-mail sem autorização.

Com medidas de cautela dos usuários, principalmente em relação a e-mails, é possível impedir a maioria das tentativas de fraudes na internet, segundo o MIS. Uma das empresas do movimento, a Symantec, concluiu que 74% dos códigos maliciosos implantados nos computadores vêm por e-mail e têm a intenção de roubar informações confidenciais – como dados de contas e senhas bancárias.

O MIS, que inclui também Microsoft, McAfee, Banco do Brasil, American Express, Serasa, Redecard e Visanet, entre outras, recomenda medidas preventivas como não fornecer senhas, só fornecer dados pessoais a sites de procedência confiável, desconfiar de ofertas tentadoras por e-mail e não abrir anexos de desconhecidos terminados em ‘.exe’ ou ‘.zip’.’



Elio Gaspari

‘A boa briga: Google x Microsoft’, copyright Folha de S. Paulo, 9/10/05

‘Quem fez mais pelo conforto e pelo bem-estar da classe operária: Fidel Castro ou Levi Strauss? Em 1873, na Califórnia, Levi cortou uma lona de carroça e produziu a primeira calça jeans. Naquele ano, notícia importante era a roubalheira do governo do general Grant, reeleito presidente dos Estados Unidos.

As grandes mudanças ocorridas na vida da humanidade geralmente acontecem sem grandes coberturas jornalísticas. Numa época em que lideranças como Lula e George Bush parecem ser o início e o fim das coisas, há uma boa briga para prestar atenção: Microsoft x Google. Ela junta criatividade, inteligência e riqueza. É um bálsamo contra mensalões e improvisos.

De um lado está a Microsoft de Bill Gates, 50 anos/US$ 46 bilhões. Do outro, o Google de Larry Page, 31 anos/US$ 4 bilhões, e de Sergey Brin, 31 anos/ US$ 7 bilhões. Gates vende programas e licenças. Os outros dão seus acessórios de graça. Tanto o instrumento de busca como um endereço eletrônico de 2 gigabytes (500 mil páginas de texto). Ganham dinheiro com a publicidade que vendem.

O Google está recrutando as melhores cabeças do mercado e acaba de comprar a programadora Sun. Oferecerá programas livres, como o OpenOffice, parecido, para pior, com o Office da Microsoft. Mais: anunciou que conectará os computadores de São Francisco por ondas de rádio, sem cabos, tarifa de banda larga ou mesada de provedor.

Ficção científica: o Google (ou a próxima fábrica de sucessos da rede) conecta os computadores das grandes cidades de todo o mundo, e a patuléia faz suas ligações telefônicas de graça. Em vez de comprar as caixas do Office Standard de Bill Gates por algo mais de R$ 1.000, o sujeito usa o OpenOffice baixado do Google.

Assim como Bill Gates sacou que os grandes fabricantes de máquinas não entenderam que o negócio de computadores estava nos programas, o Google pode ter sacado que na internet dá certo o que é grátis.’



Luciana Coelho

‘Wikipedia, a enciclopédia aberta, se agiganta’, copyright Folha de S. Paulo, 9/10/05

‘‘Wiki’, em havaiano, quer dizer ‘rápido’. Mas, quando batizou seu projeto mais ambicioso como ‘Wikipedia’, em 2001, o empresário americano Jimmy Wales não esperava que a enciclopédia eletrônica idealizada por ele e pelo então editor Larry Sanger atingisse, menos de cinco anos depois, um crescimento em velocidade exponencial.

Já alvo de uma média de 2 bilhões de acessos mensais, o website tem dobrado seu tráfego a cada três ou quatro meses, segundo dados citados por Wales. E acumula mais de 2,1 milhões de artigos em 180 línguas, do javanês ao esperanto -só em inglês, são 750 mil. Em português, outros 77,7 mil.

A idéia é simples: uma enciclopédia on-line gratuita, para a qual qualquer um com acesso à internet pode contribuir, editando ou criando novos verbetes.

Mas trata-se de uma enorme inovação. Em muito pouco a Wikipedia lembra seus antepassados em papel. Na evolução primeiro para o online e depois para o ‘wiki’ (nome do tipo de software que permite a livre atualização de um site pelos usuários), a irmã caçula de Barsas e Encartas tornou-se maior em tudo. Número de verbetes, número de colaboradores, extensão de textos, variedade de assuntos. Mas, também, em número de erros.

Tradicionalistas tendem a torcer o nariz. ‘É um banheiro público, você não sabe quem usou por último’, escreveu em um artigo um editor da Britannica.

Mas ‘nerds’ de carteirinha -e a geração do copy-and-paste- ficaram fascinados. ‘Trata-se do verdadeiro guia do mochileiro das galáxias’, regozijou-se o colunista Paul Boutin na revista eletrônica ‘Slate’, aludindo ao livro fictício imaginado pelo escritor Douglas Adams que traz respostas para quase tudo no universo.

Ambos têm razão. Com a promiscuidade do processo de edição, é impossível isentar o compêndio eletrônico de erros ou mesmo de cibervandalismo.

Dias atrás, o próprio verbete ‘wikipedia’, na versão em inglês, trazia no rodapé um vigoroso ‘Wikipedia sucks’ (algo como ‘a Wikipedia é uma droga’) em letras garrafais. Os mantenedores, então, contam com o princípio do darwinismo. Com a edição é aberta e contínua, erros graves não persistirão no ar, e apenas os melhores verbetes prevalecerão.

Para fazer a tese funcionar, criaram uma comunidade, na qual os usuários podem se cadastrar e, se desejarem, criar uma ‘lista de tópicos de atenção’ com assuntos sobre os quais tenham domínio. Assim, se você tem uma lista de atenção sobre ‘religião’ , toda vez que uma mudança for feita em um verbete sobre uma tradição islâmica ou a biografia de um santo católico, por exemplo, ou que um novo artigo for criado, você será alertado e convidado a revisá-lo.

Pop e ‘geek’

Como a medida evita apenas que os erros persistam no ar, mas não que eles apareçam, artigos sobre temas mais complexos e/ou delicados, como aqueles que envolvem religião e política, acabam fechados para a edição quando os mantenedores os consideram suficientemente completo.

Para os mantenedores, uma vantagem desse ‘darwinismo editorial’ é que os artigos acabam mais equilibrados do que seus pares em enciclopédias tradicionais. Como qualquer um pode mexer no texto, versões extremadas para qualquer lado não perduram.

Mas, se o ‘conselho de geeks’ (gente viciada em tecnologia e informação) em que se transformou a comunidade da Wikipedia, segundo seu criador, consegue trazer equilíbrio e precisão ao compêndio, ele também dá cores próprias à gama de temas.

O lado positivo é que, dado o grau de devoção de seus usuários, a Wikipedia se mantém atualizada com uma instantaneidade de deixar para trás muitos sites de notícias. No dia dos atentados terroristas em Londres, em julho, o compêndio já contava, poucas horas após a explosão, com um verbete a respeito. Quando quase mil iraquianos morreram pisoteados em Bagdá não apenas surgiu um artigo para ‘tumulto em Bagdá’ como um para ‘mesquita Kadhimiya’ e outro para ‘ponte Aima’, cenas da tragédia.

E não se trata de verbetes sucintos. O brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por erro da polícia britânica em julho último ao ser confundido com um terrorista, conta com um artigo dividido em 12 itens e mais oito subitens que conferem um grau de detalhamento a sua biografia e ao incidente que poucos jornais, revistas e canais de TV foram capazes de incluir em um único texto.

O outro lado da moeda é que os assuntos prediletos dos usuários -normalmente política e cultura pop- ganham atenção demais.

Onde mais o verbete ‘Batman’, por exemplo, seria dez vezes maior do que aquele dedicado a Johann Gutenberg, o inventor da técnica de impressão?

Credibilidade

A reivindicação da Wikipedia pelo status de enciclopédia, segundo escreveram os próprios criadores, é controversa. Muitos não vêem no compêndio eletrônico credibilidade suficiente para conferir-lhe a condição de fonte de referência.

O próprio Larry Sanger, depois que migrou para o mundo acadêmico, culpou o perfil ‘antielitista’ do site pela percepção pública errada sobre ele. O problema ganha força em grupos como professores e bibliotecários, que, na falta de uma autoridade ou de alguma tradição por trás do projeto, recusam-se a usá-lo como fonte.

‘O problema não é que a Wikipedia não seja confiável. Independentemente de ser mais ou menos confiável do que uma enciclopédia tradicional, ela não é vista como confiável o suficiente por muitos acadêmicos’, escreveu Sanger em artigo. ‘A razão para isso é óbvia: eles sabem que qualquer um pode editar, e não há um processo formal de revisão, mesmo que o processo em vigor acabe funcionando e muita gente use o site’, acrescentou. ‘O problema é que a Wikipedia não tem como tradição o respeito pelo conhecimento de especialista.’

Wales afirma que há muitos acadêmicos entre os 20 mil colaboradores do site. Mas suas próprias declarações ajudam a dar base ao que diz Sanger. ‘Nós não olhamos o currículo da pessoa, mas sim a qualidade do trabalho dela na Wikipedia’, afirmou.

Outro ponto proposto que está longe de ser cumprido é a penetração. A Wikipedia tem como missão, segundo Wales, ser um ‘esforço para criar e distribuir uma enciclopédia gratuita da melhor qualidade possível a cada pessoa no planeta, em sua própria língua’. Problema: apenas 15% da população do planeta, segundo as estatísticas mais difundidas, tem acesso à rede.’



***

‘Criador ambiciona mais línguas e colaboradores’, copyright Folha de S. Paulo, 9/10/05

‘O empresário americano Jimmy Wales, 39, trocou uma bem-sucedida carreira no rentável mercado de opções e futuros por uma empreitada com ares megalomaníacos -e nenhum centavo à vista: criar uma enciclopédia on-line gratuita (e sem anunciantes) para toda a população do planeta. Se possível, em todas as línguas existentes.

Conseguiu, por enquanto, o que parecia ser seu objetivo primeiro: atrair atenção para o projeto. Tanta que a cobertura da mídia, diz ele, fez qualquer publicidade dispensável. De janeiro de 2001 até agora, a Wikipedia atingiu uma média de 2 bilhões de acessos mensais. Ganhou versões em cerca de 180 línguas e projetos-irmãos, entre os quais o Wikinews, onde qualquer um pode bancar o jornalista, é o mais proeminente.

O dinheiro para manter o projeto veio primeiro do bolso de Wales e, atualmente, de doações arrecadadas pela Wikipedia Foundation. Mas o custo é relativamente baixo, US$ 1 milhão por ano.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Wales, conhecido na comunidade de usuários como um ‘ditador benevolente’, concedeu à Folha por telefone, de sua casa na Flórida. (LC)

Folha – Qual seu próximo projeto?

Jimmy Wales – Não sei ainda. A principal coisa em que estamos focados agora no momento é ampliar o sucesso que obtivemos com a Wikipedia para muitas, muitas línguas diferentes. Muitas línguas importantes ainda têm Wikipedias pequenas, como o árabe, que só tem 5.400 verbetes. O que eu estou preocupado agora é em expandir o número de línguas, atingir mais gente.

Folha – Quantos colaboradores vocês têm?

Wales -Pelo número mais recente, que é de julho, temos um pouco menos de 20 mil colaboradores ativos, que editam pelo menos cinco verbetes em um mês.

Folha – Os artigos em outras línguas que não o inglês são escritos originalmente nessas línguas ou trata-se de traduções?

Wales – São originalmente escritos na própria língua. Em boa parte dos casos os conteúdos serão diferentes em duas línguas. Mas há coisas parecidas, especialmente porque para muitos tópicos há uma espécie de consenso sobre o que o verbete tem de dizer, e também há gente bilíngüe que contribui em dois idiomas.

Folha – Como surgiu a Wikipedia?

Wales -Nossa ‘missão’, genericamente, era criar uma enciclopédia livre para todas as pessoas do planeta em sua própria língua. Esse era o sonho que eu tinha e é o que estamos tentando fazer.

Folha – Como vocês financiam a Wikipedia hoje?

Wales – Recebemos doações do público em geral.

Folha – É suficiente?

Wales – Por enquanto tem sido. Na verdade, é muito menos caro do que se pensa, porque quase todos que trabalham nela são voluntários. O maior custo é com a compra de servidores.

Folha – Entre os acadêmicos, discute-se a confiabilidade da Wikipedia. Como vocês fazem para assegurar que os verbetes não contenham erros?

Wales – Cada mudança feita no website vai para uma página de ‘mudanças recentes’, que é divulgada na comunidade [de usuários] e em listas especiais que eles criam para determinados temas -por exemplo, se você é um especialista em determinada área, você acrescenta essa área à sua ‘watchlist’.

Quando algum verbete sobre o tema é alterado ou publicado, você será avisado. Logo, cada verbete é checado por diversas pessoas -em geral, gente muito geek, viciada em computador, e muitos acadêmicos e estudantes de pós-graduação. Pessoas muito inteligentes.

Folha – Como o sr. encara as críticas recebidas dos concorrentes?

Wales -Não ligamos muito. Claro, eles estão ameaçados pelo nosso negócio, então vão reclamar. Faz parte.’



O Estado de S. Paulo / Reuters

‘Microsoft e Time voltam a negociar’, copyright O Estado de S. Paulo / Reuters, 8/10/05

‘A companhia de mídia Time Warner e a gigante da tecnologia Microsoft reiniciaram as negociações acerca da possibilidade de uma aliança envolvendo suas unidades de internet, a America Online (AOL) e a MSN. A informação foi veiculada pelo diário americano The Wall Street Journal, que cita como fontes pessoas próximas às conversações.

As duas companhias estão centradas principalmente em combinar o conteúdo de internet da AOL com a tecnologia de busca da Microsoft, embora outros aspectos das negociações sejam ainda imprecisos. Não está claro, por exemplo, se as empresas consideram a fusão de seus negócios de conexão à internet, o que geraria muito dinheiro, segundo informações do jornal.

As empresas iniciaram as conversas em relação a algum tipo de acordo na internet no início deste ano, mas as negociações acabaram sendo interrompidas algum tempo depois por causa de uma série de problemas, entre eles os obstáculos técnicos e questões sobre o controle da operação.

Segundo o jornal, ainda existem muitos empecilhos para se chegar a um acordo. Ainda assim, o mero fato de que as negociações tenham sido retomadas reacende as esperanças de que se chegue a um entendimento até o fim do ano.

De acordo com uma fonte, se o acordo não for alcançado ainda este ano, o mais provável é que as negociações sejam definitivamente encerradas. Segundo o The Wall Street Journal, a Time Warner também mantém conversações com outras empresas interessadas em uma associação com a AOL. Microsoft e Time Warner não quiseram comentar as informações.’