MÍDIA & POLÍTICA
Os novos coronéis do demo, 20/04/07
‘Não bastasse o efeito estufa, as propostas golpistas também estão no ar – e não estou me referindo tão-somente às tentativas de criar uma nova ‘crise militar’, açulando os bivaques, dessa vez da aeronáutica, como massa de manobra. Essas são muito transparentes e têm um toque ‘démodé’.
O golpismo ‘pós-moderno’ vem fantasiado de ‘reforma política’. A cláusula de exclusão, denominada ‘barreira’, que garfava a escolha dos eleitores (votou num partido pequeno, seu voto não vale), parece que caiu e não volta (será?), mas tem coisa pior no horizonte Uma é o voto’nhô-sim-seu-coroné’, vulgo ‘em lista’. ‘Que negócio é esse de Zé-Povinho querer escolher candidato?’, diria o bom oligarca. Isso é conosco, os cartolas: vocês assinam em cruz e olhe lá. Outra é o voto curral-fechado, dito ‘distrital’, algo do gênero, ‘na minha fazenda, cujos limites estabeleço como quero, mando eu. O negócio é bica d’água, centro social e obra de fachada superfaturada (pagos pelos Zés-Manés, claro), vocês podem escolher quem quiserem desde que seja o Juquinha, se der pra armar uma ditadura de minoria é tudo que eu, cacique, quero’. O coronelismo dispensa terminologia mais rebuscada.
É significativo que essas propostas de exclusão do povo da arena política tenham o apoio praticamente unânime dos ‘comentaristas políticos’. São eles que as apresentam como irrefutáveis e, obviamente, se recusam a dar espaço a quaisquer contestações, salvo para desconsiderá-las com muxoxos de superior.
Quem tiver qualquer dúvida, que olhe as folhas políticas dos nossos vetustos jornais. Taí uma patologia que mereceria ser examinada se houvesse disposição para tal. Toda essa’ tchurma’ foi (de)formada durante os Anos de Chumbo.Se antigos formatos deram lugar a blogs, aos ‘papos de cafezinho’ e às colunas de futricas interativas, a velha conversa de compadre que sempre pautou a relação fontes/ articulistas permanece a mesma.
São as mesmas agendas, os convites a convescotes e a tom familial que se sobrepõe a qualquer forma republicana de produção e difusão de informações.Pode-se, sem medo de erro, falar de uma imprensa nutrida no forno e fogão da velha Casa Grande. Um elemento central na versão política da nossa contra-reforma.
E tem mais coisa na fila. Uma é o voto ‘facultativo’, o voto de ‘qualidade’, que não ousa – por enquanto – dizer seu nome. Se bobear, criam um processo eleitoral por banda larga, via portais selecionados. Outra é o parlamentarismo, não por acaso ardorosamente defendido, hoje, na tribuna do Senado, por ninguém menos que Fernando Collor, aquele das cascatas de Shangri-la.
O sonho dourado dos demos pefelistas é esse: democracia sem povo. Maias e Netos estão indóceis. São os guris do patrimonialismo, do circo do atraso, das CPIs tão duvidosas quanto espetaculares. Os parceiros das redações já imaginam manchetes e suítes. Empregos garantidos por um bom tempo ainda renovam o ânimo e refinam o estilo.
Enquanto não chega a hora em que só reste tocar um tango argentino, recomenda-se atenção para o refrão: é preciso estar atento e forte. O circo Brasil já começa a ser diagramado. O problema é o espaço publicitário.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil, Observatório da Imprensa e La Insignia.’
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Agência Carta Maior