‘Não é o apocalipse: a saída simultânea de figuras do segundo e do terceiro escalão do governo parece super-avaliada. A excitação que emana de Brasília quando alguém mexe nos comandos é diretamente proporcional à apatia que se irradia de qualquer máquina emperrada. A Capital Federal é um ser bipolar que sai da hibernação para a folia em questão de segundos, mistura de abulia com paranóia, incapaz de aceitar um tratamento estabilizador.
O professor Carlos Lessa, recém-saído da presidência do BNDES era um dos intelectuais mais fascinantes da equipe do presidente Lula. Cultura planetária, criatividade prodigiosa, retórica surpreendente, capaz de quebrar a sisudez de qualquer platéia com tiradas bem-humoradas ou mal-humoradas sendo que, ultimamente, preferia estas àquelas. Ferrou-se. Destoava visivelmente do conjunto de chatos, barbudos ou não, desprovidos de eletricidade que freqüentem a Esplanada dos Ministérios.
Não era mais nem menos esquerdista do que o sucessor, Guido Mantega – era keynesiano, um dos poucos capazes de lembrar-se do New Deal de Franklin Roosevelt e do espírito da Cepal que no pós-guerra gerou o BNDES. Mas também era inconveniente. E governo, qualquer governo – como toda entidade investida de algum tipo de poder – detesta ser desafiado.
Lessa foi demitido porque falou demais mas os demissionários desta temporada não abriram o bico. Não cansaram de Lula nem do PT, cansaram de ser governo – estado peculiar da Natureza onde impera a silenciosa mosca-azul capaz de desfibrar as mais sublimes convicções.
O governo promove a troca da velha guarda porque já está engrenado no próximo pleito. Faltam menos de dois anos para a disputa decisiva: a sucessão presidencial. Não pode desgastar-se, perder tempo. Mesmo vitorioso nas eleições municipais, teria que encarar a fatalidade dos prazos que nossos recessos tornam ainda mais exíguos.
No fim de 2004 já estamos em 2006 porque em outubro a ‘onda vermelha’, fremente de paixão, mostrou-se ineficaz onde mais era necessária. Além disso, derrubou o elaborado novelo de alianças políticas que tanto facilita as coisas, embora tão oneroso para os cofres públicos.
Está evidente que o governo começou a trocar os velhos e queridos idealistas pelos chamados ‘operadores’. Os amadores, com o seu estoque inesgotável de convicções, começaram a ser trocados por profissionais, o pessoal de colarinho branco. O pretexto é a competência, a palavra de ordem é coalizão. Foi deflagrada a temporada de resultados.
Em condições normais, quando um governo democrático resiste às tentações de passar ao largo dos compromissos republicanos, a escandalosa confissão do senador José Sarney de ter retirado suas economias do Banco Santos dias antes de sofrer uma intervenção, provocaria, no mínimo, uma investigação.
Aproveitar-se do cargo e das informações privilegiadas é infração. Se não dá cadeia, deveria dar demissão. Mesmo que o atual presidente do Senado e chefe do Legislativo esteja na corda-bamba, ameaçado de voltar a sentar no plenário como um mísero senador da República, seu poder é imenso. Se deixar de ser um dos mais poderosos condôminos do Estado continuará a ser o factótum do governo nas suas lides no serpentário do PMDB.
Além disso, Sarney é considerado como profissional, especialista em driblar crises e regulamentos. Escapará dessa evidente prevaricação como sua filha e genro (aliás afilhados do dono do Banco Santos) escaparam em 2002 do flagrante da Polícia Federal na sua coleção de notas de 50 reais.
Solitário ou não, o presidente Lula vai pisar no acelerador. Hora de apertar os cintos. E tapar o nariz.’
Irany Tereza e Alberto Komatsu
‘´Sou o ser mais demitido de todos os tempos´’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/11/04
‘RIO – Carlos Lessa recebeu ontem de manhã, no Hotel Glória, onde está hospedado, um telefonema do Palácio do Planalto avisando que o presidente Lula havia enviado ao Rio um avião da FAB para levá-lo a Brasília. Ele embarcou sem avisar ao restante da diretoria do BNDES. Voltou no início da tarde, demitido. Foi a confirmação de uma decisão tomada por Lula há uma semana – e antecipada pelo Estado.
Na noite anterior, Lessa ficou reunido com os diretores do banco até as 22 horas. Ao voltar ao hotel (onde está hospedado desde o acidente doméstico em que machucou o joelho), exausto, ele novamente ironizou os rumores sobre sua provável saída do governo, dizendo que iria entrar para o Guiness Book, o livro dos recordes. ‘Sou o ser mais demitido de todos os tempos, mas que não foi demitido’, comentou.
Ontem, Lessa evitou aparições públicas. Reuniu novamente os diretores, que lhe entregaram seus cargos, em solidariedade. Fez questão de manter a agenda prevista, mas proibiu a presença de jornalistas. Antes do anúncio formal à diretoria, assinou com o governador de Sergipe, João Alves Filho, o primeiro contrato de repasse de recursos para microcréditos depois das mudanças nas regras do programa.
Até o início da noite, ele não havia falado publicamente. Está reservando o discurso para hoje, quando vai prestigiar o ato em desagravo à sua demissão, coordenado pelos aliados que, até ontem, tentavam mantê-lo no cargo.
De acordo com assessores, Lessa não apenas vai à homenagem como estará disposto a falar muito. Antes de entrar em uma espécie de ‘recesso de declarações’, ele havia disparado críticas contra a política monetária do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.’
ESTADÃO
EM ALTACarlos Franco
‘Credibilidade dá liderança ao `Estado´’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/11/04
‘O Estado de S. Paulo lidera o ranking dos jornais mais admirados do País pelo segundo ano consecutivo, em pesquisa realizada pelo portal Meio & Mensagem Online, exclusivamente com os assinantes do jornal desse grupo, especializado em publicidade e comunicação. Coordenada pela Troiano Consultoria de Marca, a pesquisa é realizada desde 2000.
O Estado obteve 68 pontos no Indice de Prestígio da Marca (IPM) numa escala de 0 a 100. O concorrente Folha de S. Paulo obteve a mesma pontuação, mas o Estado levou maior número de votos no critério credibilidade – o mais importante na categoria jornal em relação aos outros critérios analisados, entre os quais conteúdo, inovação e apresentação.
Para o diretor de Marketing do Grupo Meio & Mensagem, Marcelo Salles Gomes, a credibilidade é o que tem mais peso na mídia impressa e, por isso, foi o critério usado para desempate entre os 30 veículos de cada categoria avaliados pelo mercado publicitário e de comunicação. Salles Gomes diz que o critério de desempate é variável para cada um dos meios. No rádio, por exemplo, a criatividade é o critério mais importante, enquanto na internet o que pesa é a inovação.
A pesquisa do Grupo Meio & Mensagem levanta o IPM dos meios TV aberta, TV fechada, jornais, revistas, rádios e incluiu este ano internet. A Rádio Eldorado, do Grupo Estado, figura na terceira posição entre os concorrentes, com IPM de 39, atrás apenas de CBN (IPM de 46) e Jovem Pan (IPM de 41).
Entre os jornais econômicos, a Gazeta Mercantil foi o que obteve a maior pontuação, com IPM de 47, ocupando a quarta posição entre os jornais, onde a liderança é do Estado, seguido de Folha de S. Paulo e de O Globo. Em quinto lugar, aparece Zero Hora, seguido de Jornal do Brasil e O Estado de Minas.
Entre as revistas, a liderança é de Veja, seguida de Exame, ambas da Editora Abril; na terceira posição aparece a Istoé, da Editora Três, e em quarto a Época, da Editora Globo.
Entre as revistas, assim como as emissoras de TV aberta ou fechada (por assinatura), os critérios conteúdo e programação são os que têm maior peso.
Para Salles Gomes, ao figurar na relação dos meios de comunicação que serão alvo de análise mais aprofundada um veículo já pode comemorar, especialmente porque essas indicações e a votação partem de profissionais e empresários respeitados da área de publicidade e mídia, com grande influência entre os formadores de opinião.
No ano passado, o Estado liderou o ranking dos veículos de comunicação. A TV Globo é quem lidera este ano, com IPM de 70. Entre os meios de internet, que participam da avaliação pela primeira vez, a liderança ficou com o portal Uol e, em TV fechada, com a Globo News.
Entre as TVs abertas, a TV Globo não apenas registrou o IPM mais elevado como abriu grande distância à frente dos concorrentes. A segunda emissora a figurar no ranking é a MTV, com IPM de 40.’