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O público reagiu à altura, dando 52 pontos de audiência e 75% de share à estréia da novela, que, nos primeiros três capítulos, inovou também mostrando uma época ainda pouco explorada por nossos autores. Os anos de chumbo ficaram eternizados nos 30 capítulos da minissérie ‘Anos rebeldes’, de Gilberto Braga. Antes disso, em 1979, Mário Prata usou o tema em ‘Dinheiro vivo’ e mais tarde, em 86, em ‘Roda de fogo’, Eva Wilma fez o papel de uma guerrilheira política. Aguinaldo Silva resgatou a época e inovou mostrando o que acontecia no Nordeste sob a ditadura. Wolf Maia usou e abusou de planos de cinema e o resultado foi o que se viu. Um Nordeste bonito, diferente das imagens de miséria. Foi proposital, explicou o diretor, pois dessa forma seria fácil o público perceber a dificuldade de Maria do Carmo em abandonar sua casa e cair no inferno que era o Rio de Janeiro naquela época.
Com pequenos deslizes de produção – como a cena que mostra uma estudante sendo estuprada por policiais na rua – apontados por telespectadores atentos, todo o resto mostra uma reconstituição de época bem cuidada. E foi ótimo recurso mostrar como cada um dos personagens seria visto depois da passagem de tempo. Os telespectadores puderam, assim, desapaixonar-se sem traumas. Ou não…
A passagem para a segunda fase (1992, segundo o autor) mostrou um tempo mais ágil, mudou os planos abertos para os mais fechados, com os quais o público de novelas está acostumado. Para alguns, foi uma pena. Explica-se: o olhar do telespectador menos cativo anda carente de novidades em novelas, e os três primeiros capítulos de ‘Senhora do destino’ apontavam para isso. O que não tira o valor da trama, mas impõe à agenda de quem cria o tema como prioridade.
Susana Vieira vestiu bem o papel de nordestina; José Mayer (Dirceu) é o bom ator de sempre. Ponto para Du Moscovis (Reginaldo), vivendo seu primeiro vilão em novelas. Mas é mesmo só para exemplificar, já que todo o elenco está afinado com a trama.
A busca incansável de Maria do Carmo pela filha que lhe foi roubada por Nazaré (Adriana Esteves na primeira fase) não será o ponto nevrálgico da trama, explica Aguinaldo Silva. O público acompanhará, isto sim, a angústia de uma mãe que luta pelo amor da filha reencontrada. Pelo visto, vai valer a pena acompanhar.’
Esther Hamburger
‘Visão invertida marca retrato da história’, copyright Folha de S. Paulo, 7/7/04
‘Apesar de encurtada, a incursão de ‘Senhora do Destino’ na seara do docudrama histórico repercutiu na ‘Veja’, na Folha, em casa.
Por mais diversas que sejam essas fontes de opinião, elas concordam em um ponto: as seqüências que retrataram a repressão nas ruas do Rio de Janeiro foram excessivamente violentas.
As interpretações variam. Para Sheila Schvarzman, com a representação pesada dos eventos de então, a Rede Globo estaria buscando se redimir do apoio dado ao regime na época.
Ricardo Valladares observa que o exagero não corresponde à verdade histórica, já que, como afirma o próprio autor da novela, o dia do AI-5, um 13 de dezembro, teria sido estranhamente calmo.
Minha mãe e minha empregada mudaram de canal ou desligaram a TV para não ver cenas cinzentas de bombas, estupros e violações várias.
O drama daquela mãe recém-chegada à cidade grande, prestes a ter a filha bebê seqüestrada, envolvida em uma guerra civil que não houve, não colou.
Cada uma dessas explicações é ao menos um pouco verdadeira. A soma delas, acrescida da interpretação artificial de Marília Gabriela, talvez explique a abreviação da primeira parte da novela.
Em vez de terminar na quinta, o flashback acabou já no capítulo de quarta-feira, dando lugar a um salto de 20 anos para um dia tão esticado e cheio de acontecimentos que durou dois capítulos inteiros. Visões conspiratórias à parte, a arritmia da primeira semana pode ter a ver com uma rejeição do público. Afinal, aquelas cenas eram mesmo difíceis de assistir.
A história muitas vezes é contada com olhos do presente. Nesse caso, houve uma curiosa inversão. O Nordeste miserável da seca, que na década de 60 exportou contingentes significativos de sua população para metrópoles sulistas, apareceu nas lentes nostálgicas de hoje, abundantemente irrigado pelas fartas águas do rio São Francisco.
Já a ex-capital da República, na época imaginada como oásis de glamour, ganhou a cara que ela tem hoje, de palco do terror.
Talvez o público, que muitas vezes é bem mais sábio do que se imagina, tenha achado inverossímil essa transferência, para o passado, dos terrores do presente.’
CONTROLE DE PROGRAMAÇÃO
‘A audiência pode cair com o novo V-Chip’, copyright Gazeta Mercantil, 7/7/04
‘A partir de outubro de 2006 os brasileiros começarão a comprar aparelhos de TV com bloqueadores de programação, por causa da Medida Provisória, publicada semana passada, que dará a opção aos pais de escolherem o que os filhos irão assistir. ‘Algumas programações perderão audiência’, diz Elifas Gurgel, do Ministério das Comunicações. A MP exige instalação do V-Chip, de controle de programação, em todos os aparelhos até outubro de 2006. O chip poderá ser adquirido em separado para as TVs antigas.’