Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Ancelmo Gois

‘O provedor Oi internet, de notícias, deixou de dar uma informação ontem a seus internautas — a dos negócios entre a Telemar e a empresa do primeiro-filho Fábio Lula da Silva, publicada até na ‘Folha de Morro Agudo’ e no ‘Frei Paulo Times’.


A Telemar é a dona da Oi.’


 


CASO JUDITH MILLER


Folha de S. Paulo


‘Jornais e governos’, copyright Folha de S. Paulo, 9/7/05


‘Thomas Jefferson, um dos ‘pais fundadores’ dos EUA, certa vez disse: ‘Se me fosse dado decidir se devemos ter um governo sem jornais, ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir a última’. Se ainda fosse vivo, o terceiro presidente norte-americano provavelmente teria ficado chocado ao receber a notícia de que uma repórter do jornal ‘The New York Times’, Judith Miller, foi condenada a até três meses de cadeia por desempenhar corretamente sua função.


Miller foi presa por desobediência civil ao recusar-se a revelar para a Justiça o nome de informantes que haviam conversado com ela com a condição de que fossem mantidos sob anonimato. Conhecido como ‘off the records’ ou apenas ‘off’, esse é um recurso clássico no jornalismo.


É claro que repórteres e editores prefeririam poder dar nome às suas fontes, mas isso nem sempre é possível. Principalmente em casos cuja divulgação contraria os interesses dos poderosos, detentores de informações muitas vezes só se dispõem a falar se não forem identificados.


Cabe ao jornalista zelar pela credibilidade da instituição do ‘off’, jamais traindo a confiança depositada pela fonte. Nesse contexto, a prisão de Miller converte-se num sacrifício pessoal à causa do jornalismo.


Matthew Cooper, repórter da revista ‘Time’ que se encontrava na mesma situação de Miller, conseguiu na última hora evitar o encarceramento, pois concordou em depor após sua fonte tê-lo liberado do compromisso de confidencialidade.


O lamentável aqui é que a Suprema Corte dos EUA, ao recusar julgar o recurso final de Miller, deixou de reconhecer -como já havia feito no passado- que esse tipo de sigilo está em algum grau protegido pela primeira emenda à Constituição, que estabelece a liberdade de imprensa. Como Jefferson já havia percebido com clareza, um jornalismo independente é crucial para um Estado equilibrado, capaz de defender-se de desmandos de seus governantes.’


 


TERROR EM LONDRES


Clóvis Rossi


‘De bombas e brumas’, copyright Folha de S. Paulo, 9/7/05


‘LONDRES – Estava mesmo precisando sair um pouco do atoleiro em que o Brasil se meteu. Mas não para cobrir atentados a bomba, a pior forma de atoleiro concebível.


O diabo, de um ponto de vista brasileiro, é que as coisas são menos desgraçadas em uma cidade vítima de atentados do que no Brasil. Depois que você lê as avaliações da crise que têm feito líderes do governo e do PT, depois daquela história idiota da conspiração das elites para depor Lula, você chega a Londres desconfiado de que coisas piores serão ditas aqui, sob o impacto de mais de 50 mortes, o que seria até relevável.


Mas não. Há um sentimento mais ou menos generalizado de que a vida tem de continuar e que não pode ser pautada pelo terrorismo, ao contrário do Brasil, onde está sendo pautada por costumes políticos podres.


Não me refiro às arengas dos líderes políticos, como Tony Blair. Espera-se de governantes que digam mais ou menos o que ele disse. O que é notável é que cidadãos comuns, alguns deles com dificuldade para falar inglês, leiam corretamente a situação.


Firaz, por exemplo, sírio, há quatro anos com uma lojinha de doces árabes na Edgware Road (a Beirute londrina, um dos quatro pontos em que estouraram bombas), constata o óbvio: não será com esse tipo de atentados que os terroristas vão dobrar o Reino Unido (ou os Estados Unidos). ‘Matam apenas pessoas inocentes’, lamenta Firaz.


É óbvio, eu sei. Mas, no Brasil, há tanta coisa óbvia que, mesmo assim, não consegue espaço na cabeça das pessoas. Já não digo das pessoas comuns, mas dos iluminados da política, incapazes de perceber que estão a anos-luz do sentimento da rua.


Conseqüência: o Brasil vive um momento (mais um, aliás) de atonia, de perplexidade, de falta de rumo, de incapacidade de elaborar um projeto nacional de desenvolvimento, mesmo na paz. Aqui, as brumas duram os segundos que duraram as explosões. Depois, cabeça erguida, ao contrário do brasileiro.’


 


Yuki Noguchi


‘Celulares iniciam era da notícia instantânea’, copyright O Globo, 9/7/05


‘Do Washington Post. Algumas das imagens mais próximas das explosões em Londres foram feitas por telefones celulares equipados com câmeras fotográficas e de vídeo, o que demonstra como a tecnologia originalmente anunciada como de entretenimento veio a ter um papel significativo nas notícias de última hora.


A disponibilidade de câmeras, somadas à capacidade de transmitir imagens rapidamente está possibilitando assistir a notícias de forma quase simultânea às das vítimas e testemunhas.


Uma imagem mal iluminada foi captada por um telefone de um passageiro preso no metrô com dezenas de pessoas depois de uma explosão. A porta do vagão, parado num túnel em King’s Cross, está entreaberta para permitir a entrada de ar, pois o trem estava enfumaçado. Em questão de horas, a imagem já estava em TVs e páginas na internet.


Outras testemunhas enviaram fotos do ônibus de dois andares que fora destruído. Outro blogueiro colocou na internet uma foto dos londrinos caminhando pesadamente para casa com a manchete: ‘Londres sob caos esta noite.’


A história é repleta de jornalistas acidentais com aparelhos portáteis, desde Abraham Zapruder, que filmou o assassinato do presidente Kennedy, ao vídeo de Rodney King sendo espancado por policiais de Los Angeles, e fotos incriminadoras tiradas na prisão de Abu Ghraib.


BBC e CNN pedem imagens feitas por vítimas


Com telefones mais sofisticados e redes de alta velocidade surgindo, empresas começaram recentemente a oferecer câmeras de vídeo nos celulares, que podem quase instantaneamente transmitir imagens em movimento por e-mail. Dezenas de blogs pessoais e veículos de imprensa, inclusive BBC, CNN e o jornal inglês ‘The Sun’, solicitaram fotos e vídeos de testemunhas da carnificina.


Há, claro, um lado ruim em contar com imagens de repórteres amadores. As empresas não podem verificar a origem ou a veracidade de uma imagem enviada às pressas.’


 


Folha de S. Paulo


‘Homem que ajudou vítimas ganha fama’, copyright Folha de S. Paulo, 9/7/05


‘Paul Dadge, o britânico de 28 anos que apareceu ontem em foto nas capas de jornais do mundo todo auxiliando uma mulher com o rosto queimado, afirma que não é herói. ‘Eu estava no lugar do atentado e fiz o que tinha de ser feito’, diz.


Dadge, que, atualmente, trabalha como gerente de projetos no escritório londrino de uma empresa de comunicações, mas já foi bombeiro, estava a caminho do trabalho, num trem do metrô, quando a composição parou na estação da rua Baker.


Ele, então, abandonou o trem e, na superfície, quando chegou perto de King’s Cross, deparou com várias pessoas ensangüentadas na rua, saindo da estação de metrô. Dadge, que conhece primeiros socorros, começou a ajudá-las.


‘Eu acho que agi mais com base nos meus instintos do que em treinamento’, confessa.


Além da mulher que cobria o rosto queimado com um pano branco, o ex-bombeiro afirma ter auxiliado mais cinco ou seis pessoas. ‘A mulher a quem eu apareço ajudando nas fotografias chama-se Davinia e deve ter uns 28 anos’, disse Dadge, completando que gostaria de entrar em contato com ela para saber de seu estado de saúde.’