Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Sexta-feira, 20 de agosto de 2010 CONSELHO ANJ terá órgão de autorregulamentação A ANJ (Associação Nacional de Jornais) anunciou ontem a criação de um conselho de autorregulamentação como forma de reiterar o compromisso da entidade com a liberdade de expressão e com a responsabilidade editorial. O anúncio foi feito na abertura do 8º Congresso Brasileiro de Jornais, que termina hoje, no Windsor Barra Hotel, na zona oeste do Rio. ‘Definimos conceitos básicos para o estabelecimento de um conselho de autorregulamentação, composto por sete membros, que julgará casos a ele submetidos’, disse a presidente da ANJ, Judith Brito, diretora-superintendente do Grupo Folha. ‘Nos próximos meses, nosso compromisso é o de detalhar o regulamento e os procedimentos para que este conselho seja designado e comece a atuar’, afirmou. Judith Brito acredita que até o final do ano o novo conselho esteja em funcionamento. Outros setores contam com entidades semelhantes. A publicidade brasileira, por exemplo, é autorregulada pelo Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária), entidade não-governamental criada em 1978. ‘Sabemos que muitos jornais já têm seus códigos de ética. A própria ANJ tem seu código. Agora, trata-se de avançar num modelo que permita debater e avaliar nossos erros, de forma transparente’, disse. Em discurso, a presidente da ANJ lembrou a ‘decisão histórica’ do Supremo Tribunal Federal de, em abril de 2009, acabar com a Lei de Imprensa, definida por ela como ‘legislação antidemocrática com o objetivo de limitar a circulação de informações e opiniões, impondo um ambiente obscurantista para a sociedade’. ‘Os jornais não querem se isentar da responsabilidade que obviamente têm em suas funções de informar. Em nenhum momento propusemos impunidade, mas apenas nos defendemos contra a intolerável censura prévia’, declarou Judith Brito. A presidente da ANJ afirmou que a entidade é parceira das escolas de jornalismo, incentivando-as a serem ‘modelo de qualidade na formação humanística’, e disse que as empresas só têm a ganhar com profissionais oriundos das boas escolas. Mas a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, exigência também derrubada pelo STF, era um ‘claro embaraço à liberdade de expressão e era natural sua revogação’, afirmou. PUBLICIDADE Alguns dos debates do congresso discutiram o caminho da publicidade em jornais. A conclusão é que a publicidade em jornais impressos continuará prevalecendo e há espaço para seu crescimento, mas as empresas que produzem conteúdo jornalístico precisam buscar modelos de negócios que viabilizem suas operações em novas mídias digitais. Mesa discute ataques a jornais críticos Os jornais subsistirão aos desafios surgidos em razão das novas tecnologias, mas enfrentam hoje ataques ao seu papel de mediador social e dificuldades por serem críticos mesmo a governos com altos índices de sustentação popular. Essa é a síntese do debate de abertura do 8º Congresso Brasileiros de Jornais, que discutiu o futuro da democracia e o jornalismo, com a participação de Joshua Benton, diretor do Nieman Journalism Lab da Universidade Harvard (EUA); de Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha; e Demétrio Magnoli, sociólogo e colunista de ‘O Estado de S. Paulo’ e ‘O Globo’. A mesa teve mediação de Nelson Sirotsky, diretor-presidente do Grupo RBS. Benton definiu-se como um otimista a respeito do futuro dos jornais após o surgimento das novas mídias digitais. Demonstrou que a tecnologia aumenta o acesso a dados, de forma mais rápida, permitindo narrativas mais bem contextualizadas e facilitando o jornalismo investigativo. Ele acredita que as novas mídias são suplementares às formas clássicas, não substituidoras delas. Magnoli afirmou que a credibilidade dos jornais está associada ao custo de imprimir uma notícia. ‘Como publicar na internet tem custo marginalmente zero, a informação não tem valor associado a ela’, declarou. Citou o mote do jornal ‘The New York Times’ -todas as notícias que valem a pena ser impressas- para demonstrar o papel de seleção do que é relevante como fator de credibilidade. ‘Nem toda informação é notícia nem vale o custo de ser impressa.’ Otavio Frias Filho iniciou sua participação falando sobre o receio de ‘erupção de governantes autoritários’, que, embora preservando aspectos externos formais da democracia, exercem graus variados de tutela sobre ela. Citou como exemplos Rússia, Irã, Venezuela, Bolívia e Equador, que vivem ciclo de prosperidade em razão da alta do petróleo. ‘A situação brasileira me parece muito diferente desses outros países. Mas eu atribuo, muito menos do que a uma disposição benfazeja do governante de turno, ao fato de que a sociedade brasileira é mais complexa do que as que eu citei, sem nenhum demérito para elas’, afirmou. Para ele, a solidez da democracia no país deve-se à independência dos poderes Judiciário e Legislativo, à ação, ‘por vezes até agressiva’, do Ministério Público e à fiscalização da imprensa. Frias Filho recorreu ao historiador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859) para lembrar os riscos de uma ‘ditadura da maioria’ que possa emparedar minorias e direitos. ELEIÇÕES 2010 Editorial Tela, rede, papel Até meados do século 20, quando os comícios em praça pública e os discursos pelo rádio eram os instrumentos favoritos de contato entre candidatos e o eleitorado de massa, predominava um modelo ‘teatral’, para não dizer circense ou operístico, na linguagem dos postulantes a algum cargo eletivo. Os debates e entrevistas pela TV deram a medida de seu poder de influência a partir da década de 1960, nos EUA, com o célebre encontro entre Richard Nixon e John Kennedy, que consagrou não apenas as mensagens do jovem candidato democrata, mas também a importância da fotogenia, do estilo pessoal e dos recursos não-verbais de comunicação nas campanhas políticas. Atrasado em mais de 20 anos nesse processo, em consequência da ditadura militar, foi só na década de 1980 que o Brasil passou a conviver com a associação entre política e linguagem televisiva. Dos primeiros e tumultuados debates entre candidatos às cada vez mais refinadas (e repetitivas) técnicas do marketing profissional, um longo ciclo foi percorrido. Seria exagero dizer que se completou, ou mesmo que esteja entrando em declínio nas eleições de 2010. Mas é inegável que outros recursos tecnológicos aparecem em cena -e tendem, com o tempo, a alterar a própria conformação do processo político. Organizado pela Folha e pelo UOL, o debate entre Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva desta última quarta-feira marcou uma data na história desses encontros públicos entre candidatos. Em vez de eventos levados ao ar uma única vez, expostos à atenção evanescente e rápida do meio televisivo, o debate veiculado pela internet pode ser facilmente revisto, esmiuçado e comentado ao longo do tempo. Sobre cada promessa e pronunciamento, chovem então as checagens, contestações e comentários que, de modo mais geral, fazem da internet um veículo especialmente propício para elevar a temperatura das discussões políticas. Na interatividade do meio, que lentamente se estende para outros fatores de vital importância na democracia (como por exemplo o financiamento das campanhas), há muito de positivo e de renovador. No imenso ‘acelerador de partículas’ que é a internet, nem tudo tem carga positiva, entretanto. A disseminação de boatos, fraudes e insultos de todo tipo é o sintoma mais visível de um processo no qual parecem formar-se públicos estanques, sectarizados, avessos à constituição de um âmbito de discussão comum. Posições sedimentadas são reiteradas ad nauseum anulando de alguma maneira a tão valorizada interatividade. Há além disso, na internet, uma espécie de compulsão pela superfluidade e pelo entretenimento. Cabe ao jornal, seja na plataforma impressa ou na eletrônica, a manutenção do debate público plural e qualificado. O jornal sobretudo assume a função de potencializar, pela polêmica e pela crítica, a reflexão política, e a de assegurar a constituição de um espaço qualificado de divergência e consenso. De certa forma, TV, internet e jornalismo impresso complementam-se -como vai se observando, aliás, na atual campanha. Fabio Victor, Catia Seabra e Ana Flor Serra agora gruda em Lula na TV, e PT recorre ao TSE No horário nobre do programa eleitoral gratuito na TV, ontem à noite, a campanha de José Serra (PSDB) repetiu o que já fizera a sua adversária Dilma Rousseff: grudou o tucano no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ‘Serra e Lula, dois homens de história. Dois líderes experientes’, disse o locutor logo na abertura da propaganda, enquanto eram mostradas três cenas dos dois juntos -numa, o tucano afaga o ombro do petista; noutra, eles cochicham. Aproximar Serra de Lula de forma tão escancarada e logo no início da propaganda eleitoral contrariou a ala do PSDB que defende uma oposição mais contundente. O PT anunciou que entrará com representação no Tribunal Superior Eleitoral contra a coligação de Serra pela utilização de imagens de Lula. O pedido terá como base o artigo 54 da Lei eleitoral (9.504), que permite a participação, nos programas de rádio e televisão gratuitos, de ‘qualquer cidadão não filiado a outra agremiação partidária ou a partido integrante de outra coligação’. Caso seja aceita, poderá acarretar perda de tempo na TV da coligação serrista. A iniciativa do marketing tucano veio casada com ataques a Dilma, no rádio e, em menor intensidade, na TV, numa estratégia para tentar conter perda de votos e apatia entre os aliados. Na avaliação de integrantes da cúpula tucana, para garantir um segundo turno, Serra terá que investir na ideia de que Dilma não tem experiência e depende somente do prestígio de Lula. No programa de TV, após a descrição de ações do tucano na carreira, o locutor afirmou: ‘Serra, a vivência que a Dilma não tem’. TIRA A MÃO Os programas de rádio foram mais críticos à adversária. Incluíram jingle que aponta Dilma como usurpadora das realizações de Lula. ‘Tira a mão do trabalho do Lula/ tá pegando mal/ que o Brasil tá olhando/ Tudo o que o Lula criou/ ela diz:/ fui eu, fui eu/ Tudo o que é coisa do Lula/ a Dilma diz:/ é meu, é meu’, afirma um trecho. A investida busca aplacar o desânimo de parcela do tucanato com a possibilidade de derrota. E acontece num momento em que, oito pontos atrás de Dilma, Serra corre risco de perda de votos no próprio eleitorado. A tentativa de desconstrução da imagem de Dilma vai ganhar corpo, gradualmente, na campanha. Pelo cronograma original, as peças seriam exibidas a partir de sábado. Mas, com crescimento da petista nas pesquisas, a estratégia foi antecipada. Dilma também atacou Serra, sinalizando que a cada dia aumenta a animosidade entre os adversários. ‘Ao mesmo tempo em que o candidato tenta, muitas vezes de forma patética, ligar seu nome ao do presidente Lula, ele fez oposição o tempo todo. Tem dia que ele faz crítica, tem dia que ele quer ligar seu nome ao projeto do presidente Lula. O candidato Serra é assim’. (leia na pág. A12). Ontem à noite, pelo Twitter, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, um dos coordenadores da campanha de Dilma, comentou via Twitter: ‘De dia o Serra esculhamba o governo, o PT e os petistas. De noite bota o Lula no seu programa. Na minha terra o nome disso é .. deixa pra lá’. Mais cedo, em entrevista sobre o ataque no rádio, Dutra descartou um revide no horário eleitoral e disse que o PT não mudará ‘em nem um milímetro’ a sua estratégia. ‘Isso me lembra um jingle do [petista Marcelo] Déda em 2006: ‘Eita que eles estão aperreados’. Mas não vamos entrar em baixaria. É a lei da política: quem está atrás, bate.’ Breno Costa Jefferson ataca marketing da campanha tucana Presidente do PTB, um dos principais aliados de José Serra (PSDB), o ex-deputado federal Roberto Jefferson sacou ontem sua metralhadora verbal, mirando especialmente a equipe de marketing da campanha tucana, comandada por Luiz Gonzalez. ‘Aquele rapaz, o Gonzalez, olha para nós com um pavor de ter que parar para dar bom dia. Vê e já está querendo correr de nós. Deve ter algum problema de rejeição à classe política’, disse à Folha. Jefferson chamou o programa de estreia de Serra na TV, centrado na saúde, de ‘hipocondríaco’ e disse que a criação do ‘Zé’, numa tentativa de popularizar a imagem de José Serra, é ‘muito artificial’. ‘O Zé que eu conheço é o Zé Dirceu’, disse o ex-deputado, que afirma não conseguir apresentar suas críticas diretamente ao tucano, com quem diz ter se encontrado apenas duas vezes nos últimos dois anos. ‘Eu nunca fui recebido pelo Serra. Não consigo. Ele não conversa, você não pode sugerir’, disse. Cassado por envolvimento no mensalão, em 2005, Jefferson foi o principal responsável pela formalização do apoio do PTB, que tem uma parcela de apoiadores do governo federal, a Serra. No debate on-line Folha/ UOL, anteontem, Serra foi questionado sobre sua aliança com Jefferson e defendeu o aliado, argumentando que ele foi o denunciante do mensalão. O ex-deputado afirma que se aliou ao tucano por considerar que ele seria um ‘anti-Lula’, mas se decepcionou com a campanha. ‘A oposição não tem identidade’, afirma. O aliado defende mudanças no tom em relação ao governo Lula e na estratégia de esconder o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). ‘Não adianta querer fingir que é Grêmio se você é Internacional. Tem que ter lado. Bota o Fernando Henrique para falar. Melhor do que aquela turma tocando pandeiro numa favela fake’, disse. Vera Magalhães Vaivém faz campanha parecer sem rumo ‘A pior coisa é querer ser o que você não é. Tenho que ser como sou. Prefiro ter uma cara só.’ A frase foi dita pelo então pré-candidato à Presidência, José Serra, em entrevista à Folha em abril. Com variações, esteve presente no discurso de lançamento do candidato e tem sido repetida ao longo da campanha. Pois o que se viu desde a estreia da propaganda eleitoral no rádio e na TV foi um Serra que ora soa oposicionista, ora quer ter sua trajetória associada à de Lula. Em apenas dois dias, a propaganda tucana mudou da água para o vinho. Depois de uma estreia em que Serra se fixou só na experiência no Ministério da Saúde e praticamente escondeu o resto de sua trajetória política e administrativa, o programa do rádio ontem tratou de reforçar outros pontos de sua biografia e partiu para a desconstrução do propalado protagonismo de Dilma Rousseff no governo Lula. Paralelamente à propaganda, Serra subiu em muitos decibéis o tom dos ataques à adversária e ao governo que a apoia, tanto no debate Folha/UOL quanto em participação no congresso da ANJ, ontem, quando acusou o governo de tentar cercear a liberdade de imprensa e financiar ‘blogs sujos’. Tudo levava a crer que Serra reforçaria, a partir de agora, seu papel de candidato de oposição, ainda que não atacando diretamente Lula. Qual não é a surpresa, então, quando o programa do PSDB, à noite, abre com imagens de encontros cordiais entre o tucano e o presidente, associando suas trajetórias. ‘Serra e Lula. Dois homens de história. Dois líderes experientes’, diz a peça. A guinada abrupta -logo no segundo dia do horário eleitoral- surpreendeu aliados, entre atônitos e constrangidos. Muitos se furtaram a comentar. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, antes apenas escondido, e agora relegado pelo candidato de seu partido, já manifestou sua contrariedade a correligionários. Antes mesmo do início da propaganda já havia na campanha de Serra a ideia de tentar mostrar que ele tem origem humilde, mais próxima à de Lula que a de Dilma, nascida em uma família rica em Belo Horizonte. Mas o fato é que tal estratégia soa a desespero, uma vez que o próprio Lula tem reiterado quem é sua candidata e aparece até em ‘primeira pessoa’ num jingle, dizendo que ‘entrega’ ‘seu povo’ a Dilma, numa mostra de que não haverá limites ao uso do messianismo e do paternalismo para tentar elegê-la. É difícil entender o que a campanha do PSDB espera conseguir tentando uma forçada ligação entre o ‘Zé’ e o ‘Lula da Silva’. Ainda mais quando essa colagem vem acompanhada de críticas da gravidade das feitas pelo candidato nos últimos dias. Uso de imagem de Lula incomoda tucanos O uso de imagens do presidente Lula na propaganda de José Serra incomodou parcela do PSDB e causou preocupação em outra fatia do partido. A exibição de fotos de Lula ao lado de Serra contrariou uma ala do partido. Entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já vinha se queixando da comunicação da campanha. Embora tenha sido informado da estratégia, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), evitou comentar. ‘Prefiro não opinar agora. A ideia é dizer que o Lula vai e agora o melhor é Serra’. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, não quis se manifestar sobre a eficácia do programa. ‘A estratégia do Gonzalez, pelo visto, é dizer que a Dilma não é o Lula. Imagino que eles estejam amparados por pesquisas. Vamos ver’. O governador Alberto Goldman elogiou o programa e disse que a fotografia retrata a história, um fato: ‘Serra tem história com Lula, mais do que a Dilma.Não estão na mesma canoa eleitoral. Mas é a História’. Um dos articuladores de Serra, Jutahy Magalhães (BA) disse que era ‘necessário’ exibir a imagem, para mostrar ‘que os dois têm um relacionamento civilizado, respeitoso e institucional Governo tira do ar programa com presidente O governo suspendeu, até o fim das eleições, a veiculação do ‘Café com o Presidente’, programa de entrevista com o presidente Lula que vai ao ar às segundas-feiras na Rádio Nacional, da EBC (Empresa Brasil de Comunicação). O anúncio sobre a suspensão foi feito ontem pela advogada da União Hélia Betero na sessão do Tribunal Superior Eleitoral -na qual os ministros julgariam a solicitação do PSDB para a retirada do programa do ar. O argumento do partido é que a ampla divulgação de ações governamentais interfere nas eleições. Ao saber que o programa deixará de ser veiculado, o TSE não chegou a analisar o pedido. Debate presidencial Folha/UOL registra 1,7 milhão de acessos A audiência do debate presidencial promovido pela Folha e pelo UOL na quarta-feira não para de crescer, já que o vídeo continua disponível na internet. Até as 15h30 de ontem, o vídeo do primeiro debate on-line entre presidenciáveis do Brasil foi visto 1.748.621 vezes. O número é cerca de 23% maior do que o relativo apenas à transmissão ao vivo. A repercussão do debate também aumentou no exterior. Ao longo da quarta-feira, a Folha.com registrou acessos de 170 países diferentes -eram 127 até a tarde do dia 18. Depois do Brasil, os países que mais deram audiência ao debate Folha/UOL foram EUA, Portugal, Japão, Alemanha e Reino Unido. No dia da transmissão do debate presidencial, o site UOL Notícias teve uma audiência 569% maior que a média diária e 70,6% maior do que o recorde histórico anterior, que havia sido durante a cobertura do julgamento do casal Nardoni. O confronto que reuniu Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) foi acompanhado por 190 jornalistas que estiveram no Tuca (teatro da PUC-SP), além daqueles que assistiram ao debate pela internet. Mais de 80 sites fizeram a transmissão simultânea do vídeo ao vivo. No Twitter, o evento chegou a liderar a lista de assuntos mais comentados no mundo e, durante o debate, esteve entre os temas mais citados na rede social. Antônio Gois, Elvira Lobato e Plínio Fraga Serra acusa PT de financiar ‘blogs sujos’; Dilma chama tucano de ‘patético’ O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou o governo Lula de ‘financiar blogs sujos para patrulhamento de jornalistas’ e usar dinheiro público para custear conferências que propõem a restrição da liberdade de imprensa. Em resposta, a candidata do PT, Dilma Rousseff, chamou o tucano de ‘patético’, por, segundo ela, um dia criticar Lula e no dia seguinte tentar ligar seu nome ao dele para se beneficiar da popularidade do presidente. Serra e Dilma participaram, em momentos distintos, do 8º Congresso Brasileiro de Jornais. O tucano falou por 30 minutos a partir das 13h, e a petista discursou três horas mais tarde por período de tempo semelhante. A plateia reunia cerca de 800 pessoas entre proprietários e profissionais de imprensa de todo o país. ‘BLOGS SUJOS’ Serra disse que o governo federal apoia o cerceamento da liberdade de imprensa e de informação. ‘Lula investe diariamente no desequilíbrio do jogo. Boa parte desta estratégia não deixa de ser alimentada por recursos públicos. Boa parte desses blogs sujos são mantidos com recursos dessa TV Brasil, que não foi feita para ter audiência, mas para criar empregos na área de jornalismo e servir de instrumento de poder para um partido.’ Para o candidato tucano, o governo Lula tenta intimidar a imprensa de três formas: por via legal, com a realização de conferências que sugerem o controle social sobre a mídia; pela publicidade oficial; e pela intimidação indireta de jornalistas. Depois de defender a liberdade da imprensa, porém, Serra se recusou a responder perguntas de jornalistas sobre a suposta falta de oposição no Brasil e sobre quais são os blogs sujos a que se referira. ‘Alguma outra pergunta?’, limitou-se a dizer cada uma das três vezes em que foram feitos questionamentos incômodos a ele. PAZ SOCIAL Dilma, em entrevista após seu discurso, criticou o que considerou ambiguidade de seu adversário. ‘Acho estranho porque, ao mesmo tempo em que o candidato tenta, muitas vezes de forma patética, ligar seu nome ao do presidente Lula, ele fez oposição o tempo todo. Tem dia que ele faz crítica, tem dia que ele quer ligar seu nome ao projeto do presidente Lula. O candidato Serra é assim. O que podemos fazer?’ Dilma tentou evitar responder sobre as críticas ao apoio e financiamento do governo a conferências com propostas supostamente contrárias à liberdade de imprensa. ‘Muitas vezes não concordamos com as reivindicações, mas não tememos os movimentos sociais e jamais vamos deixar de escutá-los’, afirmou a petista. Em seu discurso, defendeu a liberdade de expressão e de acesso à informação. ‘Não há liberdade onde falta informação. Prefiro o barulho da crítica ao silêncio da censura. A paz social não é obtida usando mordaça’, disse. Presidente da EBC e ministro divulgam notas O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins, respondeu ontem em nota à acusação de José Serra (PSDB) de que o governo tenta censurar a imprensa. ‘O candidato do PSDB a presidente da República, José Serra, acusou hoje o governo federal de cercear, constranger e censurar a imprensa. Trata-se de uma acusação grave e descabida, sem qualquer apoio nos fatos’, diz o texto. ‘A imprensa no Brasil é livre. Ela apura e deixa de apurar o que quer. Publica e deixa de publicar o que deseja. Opina e deixa de opinar sobre o que bem entende. Todos os brasileiros sabem disso’, diz a nota. ‘Para nós, a liberdade de imprensa é sagrada. O Estado Democrático só existe, consolida-se e se fortalece com uma imprensa livre.’ A presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Tereza Cruvinel, também divulgou nota, em que diz que as declarações de Serra ‘não correspondem à atuação dos canais públicos da EBC’. ‘[Serra] participou de uma série de entrevistas com presidenciáveis na TV Brasil, confirmando a observância dos princípios de isenção, apartidarismo e isonomia na cobertura’, diz a nota. TODA MÍDIA Nelson de Sá Só fato novo Na manchete da Reuters Brasil, ‘Ibope: só fato novo muda curso da disputa’. A diretora-executiva, Marcia Cavallari, diz que, ‘se nada acontecer, as chances de Dilma ganhar no primeiro turno são muito grandes’. E uma ‘surpresa’ precisa ir além da acusação, com provas. ‘Se ficar só no discurso, o eleitor já tem o filtro de falar que faz parte do jogo, de um ficar atacando o outro. O eleitor não gosta.’ A mesma Reuters despachou a longa reportagem, postada por ‘New York Times’ e outros, ‘Dilmaboy e Twitter: a eleição brasileira vai à internet’. A partir do debate de anteontem, que ‘permitiu as trocas mais agudas da campanha até aqui e foi transmitido ao vivo por Twitter e Facebook’, a agência faz um retrato das iniciativas on-line, como o vídeo com Lula pedindo apoio de blogs a Dilma e a contratação da Blue State Digital, que fez a campanha de Obama. Serra vs. ‘blogs sujos’ Na Folha.com e no G1, ‘Serra diz que governo financia ‘blogs sujos’. Paulo Henrique Amorim postou a notícia e cobrou, ‘Dá o nome, quem é sujo?’. Luiz Carlos Azenha postou que Serra age ‘em defesa do pensamento único’. E Luis Nassif postou a notícia e a resposta de Tereza Cruvinel, da TV Brasil. Reinaldo Azevedo postou que Serra diz ‘verdade’. Danilo vs. Rafinha Post ‘+ lido’ da Folha.com, ‘Danilo Gentili nega briga com Rafinha Bastos’. Os comediantes trocaram ‘tweets’ com mensagens sobre ‘se autopromover’ com polêmicas -e contra quem ‘acha que comédia é ser grosso’. Danilo disse ao site que não foi ‘nada demais’. E Marcelo Tas disse que ‘eles ficam se provocando, fazem isso direto’. EMPREGO CÁ, DESEMPREGO LÁ Manchete do UOL no meio da tarde, ‘País cria 182 mil vagas em julho; ano tem recorde’. No destaque da estatal Agência Brasil, ‘é o terceiro melhor resultado de julho desde 92’. Já no ‘NYT’, ‘Mercados caem com alta nos registros de desempregados’. E no ‘Wall Street Journal’, ‘Pedidos de auxílio-desemprego alcançam o nível mais alto em nove meses’. AO ATAQUE Três dias atrás no UOL, ‘Lucro da Petrobras bate recorde semestral de empresas brasileiras’. Ontem no UOL, ‘Ações da Petrobras caem mais de 6% em dois dias’. Na Reuters, ‘analistas se dizem ‘no escuro’ em relação aos rumos da capitalização prevista para setembro’, que poderá ser adiada, pelo que publicou ontem o ‘Valor’. Por outro lado, iniciando anteontem a queda de mais de 6%, como deu o ‘WSJ’, ‘Soros vende participação na Petrobras’, porém ‘não revelou por quê’. E ontem o ‘WSJ’ noticiou que outro aplicador americano apresentado como ‘mega’, ‘Sam Zell vende participação na Gafisa’, uma gigante brasileira do setor habitacional. CONTRA A BOLÍVIA No iG, Eike Batista disse ter convencido Lula sobre descoberta de ‘meia Bolívia de gás no Maranhão’. E o site da instituição Americas Society, de Nova York, já ressalta que o achado de Eike ‘pode afetar a Bolívia negativamente’ VALENZUELA LÁ Na manchete do estatal ‘China Daily’ de papel, ontem, ‘China ‘não é ameaça’ na América Latina’. Foi o que declarou Arturo Valenzuela, subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina, representante de Hillary Clinton. Ele diz que ‘considera’ a entrada da China no Banco Inter-Americano de Desenvolvimento e na Organização dos Estados Americanos, sediados em Washington. Para Sun Hongbo, analista de América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, as declarações ‘mostram que os EUA querem incluir a China no seu sistema do Hemisfério Ocidental’. Valenzuela citou que ‘o comércio da China com os países latino-americanos atinge só 5% de seu comércio muncial, comparados a 40% com os EUA’. CONTRA O ISLÃ Questiona a nova ‘Time’: ‘Os EUA são islamofóbicos?’. Diz que ‘os protestos [contra a mesquita em NY] revelam uma hostilidade crescente à religião’. A revista destaca que 61% dos americanos são contra construir a mesquita. E 24% acham que Obama é muçulmano, o que virou manchete no Drudge Report AMÉRICA LATINA Venezuela ameniza censura a jornais Após ser alvo de fortes críticas, a Justiça venezuelana recuou da lei que proibia toda a mídia impressa do país, por um mês, de publicar imagens ‘violentas, sangrentas e grotescas’. No caso do jornal oposicionista ‘El Nacional’ -que fora proibido de publicar, além de imagens, ‘informações’ e ‘publicidade’ consideradas de conteúdo grotesco- o recuo foi parcial. O ‘El Nacional’ poderá publicar reportagens e publicidade sobre violência, mas o veto para fotos seguirá até que haja decisão final da Justiça sobre a investigação aberta contra o jornal, que publicou, na sexta-feira, imagem de cadáveres no único necrotério de Caracas. A foto deu início à polêmica. ‘É uma revogação parcial e temporária. Amanhã eles podem mudar de ideia’, disse à Folha o diretor do jornal Miguel Enrique Otero. ‘Mas foi importante a pressão internacional e a solidariedade da mídia impressa. O governo havia subestimado.’ O veto ao ‘El Nacional’ e à toda a imprensa escrita vinha sendo alvo de protestos de meios de comunicação e entidades de imprensa. Ontem, comunicado conjunto das relatorias para a liberdade de expressão da ONU e da OEA (Organização dos Estados Americanos) instara ‘autoridades a revisar as decisões adotadas contra os meios de comunicação e a restabelecer as garantias plenas para o exercício da livre expressão’. Os organismos advertiram que a decisão obrigaria ‘os meios de comunicação a abster-se de informar sobre uma ampla gama de assuntos de interesse público’. Outras entidades como a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a ONG Repórteres Sem Fronteiras e a Associação Internacional de Radiodifusão (AIR) também haviam se manifestado contra a decisão judicial. FOTOS E RESTRIÇÃO Na sexta-feira, a edição do ‘El Nacional’ trouxe foto ocupando quase toda a capa com cadáveres dividindo macas e no chão, sugerindo o colapso operacional da morgue em meio ao aumento da violência no país. No mesmo dia, a Defensoria do Povo (equivalente à Ouvidoria Pública) acionou a Justiça, alegando que a imagem de violência prejudicava crianças e adolescentes. Após a mesma foto ser reproduzida pelo jornal ‘Tal Cual’, o Ministério Público apresentou petição similar. O governo chegou a dizer que a foto era antiga, de 2006. Depois disso, no entanto, nenhum meio de comunicação teve acesso ao necrotério, onde a segurança foi reforçada. O presidente Hugo Chávez, por sua vez, havia dito anteontem que ‘o país exige respeito’ ante a ‘pornografia’ praticada pela imprensa. O mandatário venezuelana também declarou que a publicação da foto fazia parte de uma ‘conspiração’ contra seu governo feita por setores opositores como parte de uma campanha voltada para as eleições legislativas do mês que vem. Com FLÁVIA MARREIRO, de Caracas Editorial Censura chavista Em mais um avanço do chavismo contra a imprensa crítica na Venezuela, um tribunal de Caracas determinou nesta semana que, pelo prazo de um mês, os jornais venezuelanos não podem publicar imagens ‘violentas, sangrentas e grotescas’. A decisão veio após a publicação pelo oposicionista ‘El Nacional’ de uma foto de cadáveres empilhados no necrotério de Caracas que aludia à escalada da violência no país. O objetivo declarado da Justiça com a proibição é preservar crianças e adolescentes da exposição a esse tipo de imagem. Mas a imprensa venezuelana e associações internacionais como a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) viram com razão ato de censura prévia imposta pelo governo Chávez, que tem longa folha corrida de perseguição à mídia. Em 2009, sob a mesma alegação de proteger a infância, o governo vetou notícias ‘que produzam terror nas crianças, incitem o ódio e atentem contra os valores sãos’. Há um ano, Chávez também tirou do ar 34 emissoras de rádio críticas ao governo, acusando-as de funcionar irregularmente. No caso mais rumoroso, não renovou a concessão do canal de TV RCTV, o mais assistido do país, por oposição ao governo. Agora, tenta outra fórmula com a Globovisión, única voz dissonante que restou no espectro televisivo. Pressiona a Justiça a intimar os proprietários com ordens de prisão e multas milionárias. A reação ao ‘El Nacional’ inscreve-se no contexto eleitoral. Pesquisas indicam que a questão da segurança é a principal preocupação dos venezuelanos às vésperas do pleito legislativo do mês que vem, que desempenhará papel crucial na definição do futuro do chavismo. As imagens publicadas são fortes, mas nada justifica a censura. Quanto mais livre a imprensa, mais democrático o país. Ofensivas contra a mídia como essa reiteram as conhecidas inclinações ditatoriais de Chávez e seus temores de que sua aventura possa estar chegando ao fim. Gustavo Hennemann Cristina anula licença de empresa de Clarín O governo da presidente argentina Cristina Kirchner anulou ontem a licença de operação da empresa Fibertel, que pertence ao Grupo Clarín e oferece serviços de internet a mais de 1 milhão de clientes. O anúncio alimentou a guerra declarada entre o governo e o Clarín, que detém grande parte do mercado nacional de TV, rádio, meios gráficos e telecomunicações. Há dois anos, a cobertura jornalística do grupo é explicitamente contrária ao governo, que ataca com ações administrativas e uma nova lei de mídia, aprovada em 2009 e atualmente suspensa pela Justiça. Segundo o ministro do Planejamento, Julio De Vido, a licença foi anulada porque o capital social da empresa foi absorvido por outra companhia do grupo, a Cablevisión, sem a autorização da Secretaria das Comunicações, que regula o mercado. Com a fusão, a empresa que havia sido licenciada em 2003 deixou de existir, na interpretação do governo, e o uso atual da licença pela Cablevisión é irregular. De Vido deu um prazo de 90 dias para que os clientes encontrem um novo provedor. Em nota, a empresa disse que a medida é ‘claramente abusiva e faz parte de um plano de travas e hostilização administrativa do governo’ contra o Clarín. O grupo disse que a transferência de licença de uma companhia para a outra foi aprovada por outro órgão do Executivo e que recorrerá à Justiça para reverter a decisão anunciada ontem. Ainda segundo o Clarín, o governo pretende anular a competição no setor de internet para favorecer companhias estrangeiras aliadas. TELEVISÃO Audrey Furlaneto ‘Dramaturgia está pronta para beijo gay’, diz autor O beijo gay exibido pelo PSOL no horário eleitoral pode ser avanço na opinião de pelo menos dois importantes autores de novelas da Globo -emissora que já gravou a cena, mas não a levou ao ar. Para Silvio de Abreu, de ‘Passione’, ‘a sociedade já está mais do que preparada para ver um beijo gay feito com elegância, bom gosto e emoção’. Ricardo Linhares, que escreve com Gilberto Braga a próxima trama global das 20h, ‘Insensato Coração’, concorda: ‘A dramaturgia brasileira está pronta para tratar da questão, sem qualquer receio’. Mas questiona: ‘Será que a classificação indicativa permitiria a veiculação?’. O Ministério da Justiça, que monitora e define classificações vinculando idade e horário de exibição, avalia apenas produtos de ficção (e não o horário eleitoral). Para Linhares, ‘o beijo gay é tabu apenas na TV aberta brasileira’. ‘Está toda semana na TV fechada, em ‘Brothers & Sisters’, por exemplo, que vai ao ar na TV aberta americana sem qualquer escândalo’, diz. ‘O marketing político não seria suicida de abordar um assunto que causasse rejeição ao partido.’ Dê um rolê Em ‘Passione’, na Globo, Totó (Tony Ramos) fez uma espécie de corrida maluca a pé pela cidade de São Paulo: saiu da avenida Paulista, andando no sentido Consolação, apareceu em seguida no viaduto da Liberdade, passou pela Estação da Luz e chegou à casa de Felícia (Larissa Maciel). Fica a dúvida: onde mora Felícia? Tá explicado O personagem percorreu a cidade relembrando cenas de ‘pegassione’ com Clara (Mariana Ximenes) de calcinha e sutiã. Por falar nisso No mesmo capítulo da novela, a feirante Candê (Vera Holtz) disse a um de seus clientes: ‘O que não falta aqui é nabo, Augusto! Igual a este você pode ter visto, mas nunca levou!’. Rádio legendado A Sony exibiu ‘America’s Next Top Model’ na última terça só com trilha sonora, mas sem os diálogos. Para o espectador, funcionou assim: ouvia-se a música e liam-se as legendas. Velhos tempos Pioneiro como humorístico na cobertura de eleições, o ‘Casseta & Planeta’, no ar desde 1992, também tenta driblar as leis eleitorais para brincar com as eleições. ‘Várias piadas que fizemos antes da lei [de 1997] não poderiam mais ir ao ar’, diz Hélio de La Peña. Sem choro Para não ficar no lamento, o ‘Casseta’ abusa da ficção. Fez o ‘Big Brother Brasília’, com Dilmandona e José Careca confinados e lança candidatos fictícios, como a Acarajete Love, na Bahia. Steven Tyler será júri do ‘American Idol’ O vocalista da banda americana Aerosmith será um dos jurados da décima temporada do programa de calouros da Fox, que revela cantores. Para a outra das vagas deixadas por Simon Cowell e Ellen DeGeneres são cotados nomes como os de Mariah Carey, Jennifer Lopez e Shania Twain. ************ O Estado de S. Paulo Sexta-feira, 20 de agosto de 2010 ELEIÇÕES 2010 Felipe Werneck Serra acusa governo federal e PT de tentar intimidar e censurar imprensa Posição. ‘Liberdade de expressão e de informação é a garantia da democracia’ O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou ontem o governo federal e o PT de tentarem, nos últimos anos, intimidar, manipular e censurar a imprensa, em duro discurso durante o 8.º Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), no Rio. Sem citar o presidente Lula, Serra afirmou que as tentativas de ‘cercear a liberdade’ se dão de três formas. A primeira, disse, é a ‘via democrática entre aspas’, pela realização de conferências como as de comunicação, direitos humanos e cultura, que ‘se voltaram de fato para um controle da imprensa, através do suposto controle da sociedade civil’. ‘Quantas pessoas podem ter participado dessas conferências? Quinze mil? Vinte mil? Isso não representa o povo brasileiro. Representa muito mais um partido e alguns setores que infelizmente revelaram certa porosidade e indulgência’, atacou o tucano. ‘Eu recusei como governador de São Paulo abrigar uma conferência estadual, coisa que me proporcionou moções de repúdio amplamente aplaudidas.’ Serra afirmou que essas conferências são feitas com dinheiro público e funcionam como ‘articulação de natureza partidária para dominar ou, pelo menos, porque esse é o resultado principal, intimidar a imprensa’. Segundo ele, esses encontros – que ‘são de partidos ou frações de partidos, basicamente do PT’ – geraram cerca de 600 projetos de lei ‘que permanecem como ameaças’ no Congresso. Programa. Ele lembrou que o PT incluiu questões levantadas em conferências na primeira versão do programa de governo de Dilma Rousseff, ‘registrado na Justiça Eleitoral e rubricado pela candidata’. E acusou: ‘Não foi por engano. Significa um endosso, como sempre significou, às posições de controle da imprensa.’ Para Serra, o segundo aspecto é a tentativa de controle econômico. Acusou o governo de usar a publicidade estatal como ‘instrumento com critérios de manipulação’. ‘Parece ser uma loucura com método, que se destina a intimidar.’ Também criticou a TV Brasil, mantida pela estatal EBC – ‘feita para não ter audiência, para criar empregos e servir como instrumento de poder para um partido’. Como terceira forma de cerceamento da liberdade de imprensa ele denunciou um suposto patrulhamento contra profissionais e classificou como ‘barbárie’ o projeto de criação de um Conselho Federal de Jornalismo, para controlar o exercício da profissão. O candidato admitiu que às vezes reclama da imprensa, mas afirmou que não o faz com o ânimo de quem quer censurar. ‘É muito diferente de ter um aparelho de Estado que se organiza para trazer sob seus desígnios o jornalismo, usar a opressão do Estado através de pronunciamentos, de pressão econômica, pressão de chantagem, pressão de patrulhamento em favor de um partido’, atacou. Depois do discurso, Serra assinou a Declaração de Chapultepec (documento lançado em 1994 no México em defesa da liberdade de imprensa). ‘Eu na Presidência vou respeitar até o fundo da alma essa liberdade de expressão e de informação, porque ela é a garantia da democracia’, afirmou, em entrevista. Bruno Tavares Serra usa imagem de Lula e ataca Dilma na TV O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, usou ontem em seu programa eleitoral na TV a imagem de seu adversário nas eleições de 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As imagens dos dois lado a lado ocuparam os primeiros 5 segundos do tucano no horário nobre da TV. O locutor os descreve como ‘líderes experientes’ e ‘homens de história’. Ao final, a voz emendou: ‘Serra, o mais preparado para comandar o País. A vivência que Dilma não tem.’ Foi a primeira alfinetada da candidatura tucana em sua rival desde o início do programa eleitoral na TV, na terça-feira. Mais cedo, no rádio, Serra já havia intensificado os ataques à petista. As peças publicitárias ironizavam as queixas de Dilma sobre o uso de uma voz semelhante a de Lula e, num jingle, insinuavam que ela se apropriava do que Lula fez. ‘Dona Dilma pega leve, que o povo tá reparando, tira a mão do trabalho do Lula, tá pegando mal’, dizia a música. Assim como nos primeiros programas na TV, Serra voltou ontem à noite a abordar temas relacionados à saúde. O presidenciável tucano falou mais uma vez sobre os remédios genérico, que ele carrega como marca de sua passagem pelo Ministério da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso. Em outra passagem, que lembrou formato adotado na campanha petista para a Presidência e para o governo do Estado, em que os protagonistas falam sem olhar diretamente para a câmera, Serra reconhece que ‘teve medo (que os genéricos) não desse certo’. ‘Mas aí você tem que enfrentar o medo’, concluiu. Além dos remédios, a propaganda enfatizou a redução de preço do coquetel antiaids, que o tucano também credita à sua atuação como ministro. Nessa passagem, o locutor apresentou o tucano ‘como o melhor ministro da Saúde que o País já teve’ e listou mais uma vez as iniciativas em que foi responsável pela implementação no ministério e no governo de São Paulo. O presidenciável foi retratado como um estadista de coragem, que ‘peitou os grandes laboratórios’. Crack. Serra dedicou boa parte do programa de 7 minutos e 18 segundos para falar sobre as drogas. O candidato prometeu instituir uma política nacional de combate às drogas, com ênfase no crack. E fez críticas ao governo federal por não oferecer prevenção ou tratamento público aos dependentes químicos. ‘Essa deve ser uma responsabilidade do presidente’, assinalou. ‘Temos de ter clínicas de recuperação para dependentes de drogas, temos de ter uma rede em todo o Brasil, pôr o governo federal para apoiar essas clínicas, o que hoje não existe.’ A exemplo de seus outros programas na TV, o tucano usou depoimentos de pessoas que se dizem beneficiadas pelos programas que capitaneou no Ministério da Saúde, na Prefeitura ou no governo de São Paulo. Ontem à noite, no entanto, dois médicos renomados deram seus depoimentos sobre as ações de Serra – o infectologista David Uip e o psiquiatra Ronaldo Laranjeiras. Reprise. A campanha de Dilma Rousseff (PT) reprisou o programa de estreia, exibido às 13 horas de terça-feira. Nele, a candidata narra sua trajetória de vida, da infância em Belo Horizonte até chegar ao posto de ministra-chefe da Casa Civil. Lula também deu um depoimento e destacou o papel de Dilma em sua gestão. CONSELHO Wilson Tosta Jornais terão órgão de autorregulação A Associação Nacional de Jornais (ANJ) criará, até o fim do ano, um Conselho de Autorregulamentação, com sete membros, para examinar questões envolvendo profissionais e empresas de comunicação filiadas à entidade, anunciou ontem a presidente da instituição, Judith Brito, na abertura do 8º Congresso Brasileiro de Jornais (CBJ). Ela explicou que os detalhes da ideia ainda estão em discussão, mas destacou que o conselho seguirá os princípios gerais do Código de Ética da ANJ e poderá ser aberto para examinar questões envolvendo direito de resposta. ‘Essa discussão existe, acho, desde que a ANJ existe. Com a queda da Lei de Imprensa, achamos que a gente devia essa discussão e devia essa resposta à sociedade’, afirmou Judith. Ela disse que o novo conselho não seguirá o modelo do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), mas o de órgãos semelhantes, voltados para o jornalismo, existentes em outros países. Embora dizendo esperar que o novo conselho comece a funcionar até o fim do ano, Judith afirmou não querer se comprometer com prazos. ‘Temos conceitos e premissas estabelecidos. Sabemos que esse conselho terá sete membros, agora, a forma de funcionamento é exatamente o que vamos estudar’, declarou. Lei. No discurso de abertura do congresso, a presidente da ANJ comemorou o fim da Lei de Imprensa, editada durante a ditadura e considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 2009. ‘Por ela, jornalistas podiam até ser presos em função do que escreviam ou jornais podiam ser recolhidos das bancas’, lembrou. ‘Essa Lei de Imprensa era tão absurdamente fora do contexto democrático brasileiro que mal vinha sendo aplicada pelo Judiciário. Mas era preciso jogá-la de vez na lata de lixo da história – e isso foi feito.’ Judith também elogiou a derrubada, pelo STF, da exigência de diploma universitário de jornalismo para exercício da profissão e condenou as iniciativas para retomar esse dispositivo em curso no Congresso. ‘Que fique claro: as empresas jornalísticas só têm a ganhar com profissionais oriundos das boas escolas de jornalismo. Todavia, a obrigatoriedade do diploma como condição de empregabilidade nas redações era clara forma de embaraço à liberdade de expressão, e era natural a sua revogação.’ Censura. A presidente da ANJ também mostrou preocupação com decisões judiciais que instituem censura prévia aos jornais, especialmente por decisão de juízes de primeira instância. Judith lembrou o caso do Estado, que, desde o ano passado, está proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, que investigou o empresário Fernando Sarney. ‘Um exemplo eloquente é a censura imposta há mais de um ano ao jornal O Estado de S. Paulo’, afirmou. ‘Por isso, uma das ações conjuntas dos Comitês Jurídico, de Relações Governamentais de Liberdade de Expressão da ANJ tem sido a de promover debates com magistrados, com o intuito de mostrar a importância institucional da informação livre para a consolidação da democracia’. O 8.º CBJ tem como tema Jornalismo e Democracia na Era Digital. Felipe Werneck Diretor do ‘WSJ’ reforça aposta na mídia impressa O jornalista Robert Thomson, diretor de redação do jornal The Wall Street Journal, reafirmou ontem, em palestra no 8.º Congresso Brasileiro de Jornais, sua aposta no jornal impresso, com a ressalva de que é preciso se adaptar à nova realidade, exemplificada no crescimento das vendas de tablets como o iPad. ‘O que não pode é ficar pensando em um passado de glórias’, declarou. ‘A nostalgia não é uma estratégia.’ Para Thomson, as novas tecnologias são oportunidade de agregar valor e aumentar o faturamento. Ele citou a chegada de 20 milhões de tablets ao mercado. O diretor disse que os jornalistas devem procurar experimentar esses novos equipamentos, apontados como ‘parte do futuro’. Para ele, o importante é que tipo de jornalismo é feito. ‘E torná-lo socialmente relevante.’ Na mesa Sustentabilidade nos Negócios de Comunicação, o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew, defendeu que se desmonte o ‘falso dilema entre responsabilidade social e sucesso empresarial, como se a opção fosse entre ser ético e pobre ou malfeitor e bem-sucedido financeiramente’. PRÊMIO Wilson Tosta Júlio César Mesquita representa SIP em prêmio Em nome da Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), o vice-presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Júlio César Mesquita, recebeu ontem o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa, no 8.º Congresso Brasileiro de Jornais. Foi ele quem leu o discurso de agradecimento do presidente da SIP, Alejandro Aguirre, por meio do qual o presidente da entidade esclareceu declarações que fizera com relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ressaltando que suas críticas diziam respeito apenas a alguns aspectos da política externa seguida pelo presidente do Brasil. No texto lido pelo vice-presidente da ANJ, Aguirre reconheceu que Lula ‘endossou e assumiu’ os princípios da liberdade de expressão incluídos na Constituição do País. ‘Recentemente fiz uma crítica ao presidente Lula, depois da reunião do nosso Comitê Executivo em julho passado, em Washington, e que pode ter gerado um entendimento inadequado, se isolado de seu contexto. Sei que o presidente Lula assinou a Declaração de Chapultepec em 2006, e, portanto, endossou e assumiu, assim, os princípios sagrados da liberdade da imprensa incluídos na nossa Carta Magna sobre liberdade de expressão.’ Segundo o discurso, sua observação se referia apenas ao contexto de da política externa de Lula, pois algumas de suas atitudes e medidas podem ser interpretadas como estando ‘em contradição’ com sua política interna, tornando-se, por isso, alvo de críticas’. No discurso de Aguirre lido por Mesquita, o presidente da SIP afirmou ainda que o presidente Lula ‘tem apoiado governos que suprimem ativamente a liberdade de imprensa’ e afirmou ter-se referido a ‘países e presidentes’ que também já critica, ‘em alguns casos, de forma bastante dura’. Disse também que ainda mantém sua posição crítica. ‘Minhas palavras não tiveram a intenção de diminuir o papel que o presidente desempenha neste próspero país, mas sim criticar algumas das posições que ele assume na esfera internacional’, ressaltou. Censura. Por meio do texto, Aguirre lembrou também que no Brasil ainda há problemas envolvendo a liberdade de imprensa – um deles, a censura judicial ao Estado, proibido pelo Tribunal de Justiça do DF, desde o ano passado, de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, da PF, que investigou o empresário Fernando Sarney. AMÉRICA LATINA Juiz venezuelano revoga medida que censurava a imprensa escrita O juiz venezuelano William Páez mudou ontem de parecer e levantou a medida que proibia a todos os jornais e revistas da Venezuela publicar ‘imagens violentas’ durante os próximos 30 dias. A informação foi dada pelo consultor jurídico da Defensoria do Povo, Larry Davoe, em entrevista à estatal Venezuelana de Televisão (VTV). No entanto, Davoe disse que a medida preventiva tomada na terça-feira será mantida para os jornais El Nacional e Tal Cual, que ‘ignorou a rejeição pública e publicou novamente a foto na segunda-feira’. A Defensoria processou os jornais El Nacional e Tal Cual – muito críticos do governo – por publicar na primeira página uma foto de cadáveres nus e ensanguentados empilhados no chão de um necrotério para denunciar um grande aumento no número de homicídios na Venezuela. A Justiça enviou ontem a polícia judiciária à redação do jornal El Nacional, em Caracas. Acompanhados de membros da Promotoria Pública, os agentes pediram o arquivo digital da foto publicada pelo diário na edição de sexta-feira. O jornal diz que a imagem foi captada em 29 de dezembro de 2009. Mas a polícia crê que a foto é de 2006. O debate é apenas parte de dois temas mais complexos: as denúncias de perseguição do governo Hugo Chávez aos meios de comunicação na Venezuela e a proximidade das eleições legislativas de 26 de setembro, que pôs na ordem do dia a discussão sobre os alarmantes níveis de violência em Caracas. ‘Todos sabemos que, na Venezuela, não há independência do Poder Judiciário. Uma ordem dessa natureza, ainda que tenha sido emitida por um tribunal, responde a uma política de Estado, ditada pelo Palácio de Miraflores (sede do governo), coerente com a perseguição sistemática contra meios de comunicação privados e independentes da Venezuela’, disse Luiz Pardo Sáinz, presidente da Associação Internacional de Radiodifusão, antes de o juiz revogar parcialmente a medida. Em protesto contra a censura prévia, os jornais El Nacional e Tal Cual circularam na quarta-feira com a palavra ‘censurado’ estampada nos espaços onde deveriam estar fotos sobre atos de violência. Ontem, os relatores para liberdade de expressão das Nações Unidas, Frank de la Rue, e da Organização dos Estados Americanos (OEA), Catalina Botero, tinham pedido à Venezuela que revisse a medida que proíbe a publicação de conteúdo violento, que qualificaram de ‘censura prévia’. Até mesmo o diretor do Últimas Noticias – diário considerado chavista -, Eleazar Díaz, criticou a decisão. Argentina proíbe ‘Clarín’ de vender banda larga O governo argentino proibiu ontem a empresa provedora de internet Cablevisión/Fibertel – um dos braços do Grupo Clarín, dono do maior jornal argentino, em rota de colisão com o governo da presidente Cristina Kirchner – de continuar prestando serviço a seus mais de 1 milhão de clientes, que terão agora 90 dias para buscar outro provedor. ‘Não podem fazer mais. Estão desautorizados a prestar serviço’, disse, taxativo, o ministro da Planejamento, Julio De Vido. Os serviços de internet representam 64,9% do faturamento do grupo, que classificou a decisão como ‘ilegal e arbitrária’ e prometeu contestar a medida. ‘Essa decisão busca reduzir drasticamente a competição e consagrar o monopólio das empresas de telefonia’, acusou uma nota divulgada pela empresa. Disputa política. Analistas dizem que Cristina estaria forçando a entrada de empresas estrangeiras no mercado argentino como forma de reduzir o poder dos meios de comunicação críticos a ela. De Vido, por outro lado, argumentou que a fusão entre a Cablevisión e a Fibertel não tinha sido aprovada pelo governo e a empresa ‘vinha operando ilegalmente’. Dias atrás, o governo argentino já havia ordenado que a empresa ‘parasse de contratar novos usuários’ em conjunto com a Fibertel. INTERNET Filipe Tavares Serrano Facebook terá nova ferramenta para agradar brasileiros Com pouco mais de 6 milhões de usuários no Brasil, o Facebook quer manter o rápido ritmo de crescimento da rede social no País, em um mercado atualmente ainda dominado pelo Orkut, com 26,9 milhões de visitantes por mês segundo os últimos dados do Ibope Nielsen. Responsável pela expansão internacional do Facebook, o espanhol Javier Olivan, de 33 anos, esteve ontem em São Paulo e afirmou que a rede social pretende anunciar novas ferramentas para tornar o site mais atraente aos usuários brasileiros. ‘Será uma ferramenta que vai ajudar as pessoas a usar os produtos do Facebook, especialmente se estão acostumadas a outros sites’, afirmou à reportagem, sem dar detalhes. ‘Deve ir ao ar provavelmente na próxima semana.’ Parte da resistência ao Facebook por usuários brasileiros acontece por causa da familiaridade como Orkut. Muitos novos usuários criticam o Facebook por ser muito complicado. ‘Ouvimos a mesma reclamação em outros países e por isso vamos fazer essas mudanças’, disse Olivan. O jovem espanhol conheceu Mark Zuckerberg por meio de um amigo da faculdade e entrou para o Facebook em 2007, quando site ainda era visto como uma rede social de usuários norte-americanos. A tarefa assumida por Olivan foi levar o Facebook a outros países. O primeiro passo foi traduzir o site, hoje disponível em 80 idiomas, com a ajuda dos próprios usuários – que ainda contribuem traduzindo cada nova ferramenta lançada pelo site. Três anos depois de Olivan assumir o cargo, 70% dos 500 milhões de usuários do Facebook já são de fora dos Estados Unidos. Apesar de ainda não ser tão relevante no País quanto o Orkut, o Facebook tem se expandido com rapidez. Há um ano, quando o fundador da rede social, Mark Zuckerberg, visitou o Brasil, eram apenas 1,3 milhão de usuários brasileiros. Um levantamento recente da consultoria de internet Pingdom coloca o Brasil na décima oitava posição entre os vinte países com mais usuários no Facebook. Segundo a empresa, seriam 6,2 milhões de usuários no País, próximo do número oficial divulgado pelo Facebook. O Brasil ainda está atrás de países vizinhos como México (8º lugar), Argentina (15º) e Colômbia (17º). E Olivan quer mudar esse cenário. ‘Estamos planejando novos produtos que podem facilitar o compartilhamento de conteúdo no Brasil’, disse. Características da internet brasileira, segundo ele, precisam ser levadas em conta, como o uso de lan houses e do celular. O acesso pelo telefone móvel tem crescido no País e é um dos principais focos do Facebook atualmente. Em maio, a rede social lançou um site especial que pode ser acessado gratuitamente por clientes de operadoras parceiras pelo mundo. No Brasil, a TIM oferece o serviço. Eleições. Para aumentar a relevância no Brasil, o Facebook tem buscado parcerias para participar da campanha eleitoral deste ano. A rede social quer fazer parte dos debates entre os candidatos e transmiti-los pelo site da mesma forma que fez com o discurso de Barack Obama, em 2008, depois que ele venceu as eleições nos Estados Unidos. Um debate esta semana entre os candidatos à presidência, realizado pelo site UOL e o jornal Folha de S. Paulo, teve transmissão online pela rede social. Expansão no celular A rede social anunciou nesta semana uma ferramenta para marcar no mapa o local onde o usuário está, a partir de um celular com GPS, e ver recomendações geolocalizadas de amigos LIVROS ‘Papel continuará predominante’ ENTREVISTA Markus Dohle, diretor executivo da Random House Markus Dohle, de 42 anos, conversou com a revista Der Spiegel sobre os projetos da maior organização editorial do mundo para a era do livro eletrônico, as difíceis negociações com a Apple e os motivos pelos quais o livro impresso continuará predominando no setor. A seguir, trechos da entrevista. Quando o senhor vê pessoas lendo no trem, de quem gosta mais, do leitor com o iPad ou daquele com um livro? Gosto dos dois… Porque lucra com os dois. Mas é justamente essa a nossa oportunidade. Fico satisfeito ao ver um leitor que está lendo no seu iPad ou Kindle. Sem estes aparelhos, talvez não atingíssemos aquela pessoa naquele exato momento, porque ela pode ter deixado o livro em casa. Mas nós sempre a encontramos no leitor eletrônico. Aquele minuto de leitura é uma bênção. O senhor parece muito entusiasmado. Sim. Cresci na época do papel impresso, mas preciso admitir que estou surpreso com a rapidez com que os negócios digitais estão crescendo, principalmente nos Estados Unidos. Contudo, o livro impresso continuará predominando por muito tempo. Que porcentagem do seu faturamento representam os livros eletrônicos? Neste momento, cerca de 8% nos EUA, o que constitui um aumento enorme. É possível que no próximo ano superemos os 10%. A Amazon anunciou que em junho vendeu 180 títulos digitais para cada 100 livros de capa dura nos Estados Unidos. Os analistas calculam que, em 10 anos, apenas 25% de todos os livros serão vendidos em forma impressa. O senhor acha essa cifra realista? Não concordo com esse prognóstico. Acho muito agressivo, exagerado. É mais provável que a parcela de mercado dos livros eletrônicos, mesmo nos EUA, chegue a algo entre 25% e 50% até 2015. Mas esta será ainda uma enorme oportunidade para nós. Ela favorecerá um novo crescimento. Conheço pessoas nos EUA que dizem: comecei a ler de novo por causa do meu leitor eletrônico – e também os meus filhos. Entretanto, a euforia do senhor deve ter limites. Quando a Apple lançou seu iPad em janeiro, cinco das seis maiores editoras americanas eram sócias da iBookstore da Apple. Mas a Random House, a maior delas, ainda não aderiu a essa iniciativa. Por que essa hesitação? No mercado de língua inglesa, ao contrário da Alemanha, não existe um acordo de preço fixo para livros. O vendedor de livros estabelece o preço no varejo. Na iBookstore da Apple, cabe às editoras estabelecer os preços para o leitor. A Apple se mantém fora disso e recebe uma comissão. Precisaríamos examinar a questão com muito cuidado para saber se estaríamos dispostos a adotar essa mudança drástica no nosso modelo de negócios. O que há de tão ruim em poder estabelecer os próprios preços? Nos mercados em que não existem acordos de preços fixos para livros, significa que as editoras entram numa concorrência de preços que anteriormente dizia respeito apenas aos vendedores de livros. Entretanto, a questão está em saber se as editoras terão a capacidade de estabelecer o preço certo de varejo a fim de alcançar o maior número possível de leitores. Até agora, isso não cabia a nós. Em outras palavras, o senhor não quer que a Apple se livre do risco que anteriormente era dos livreiros, e agora é da Amazon? Isso mesmo, trata-se também de distribuir o risco. Até agora, vendemos conteúdo, desenvolvemos e comercializamos talento, e calculamos nossos preços de acordo. Nos EUA, o comércio de livros estruturou preços de varejo mantendo condições de mercado individuais. É preciso determinar se as editoras poderão realmente fazer ambas as coisas no futuro. O senhor realmente acredita que não precisa da Apple? A mudança para o livro digital provavelmente levará de cinco a sete anos, portanto 100 dias na iBookstore não permitem determinar se um livro é um sucesso ou um fracasso. Evidentemente, queremos ter uma presença em todas lojas digitais. E você não deve esquecer que nossos leitores nos EUA também leem nossos livros no iPad, usando aplicativos diferentes, mesmo que não façamos parte da iBookstore. Não acho que teremos grandes prejuízos a longo prazo. Na realidade, temos de agir de uma maneira muito cuidadosa, até encontrarmos um modelo adequado. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA QUEM É Markus Dohle estudou Engenharia Industrial e Administração na Universidade de Karlsruhe. Assumiu a direção da Random House em 31 de maio de 2008. Antes disso, ocupou vários cargos no Grupo Bertelsmann, gigante do setor de comunicação com sede na Alemanha. Ubiratan Brasil E-book fomenta debates O último fim de semana da 21.ª Bienal Internacional do Livro promete discussões sobre temas pontuais, além de programar tardes de autógrafos que já provocam alvoroço no Twitter. De um lado, livro digital volta a aquecer debates, como o que vai reunir amanhã os autores Ana Maria Machado e Moacyr Scliar, além do psicanalista (e também escritor) Contardo Calligaris. Juntos, vão tratar desde questões sobre a posição do amor e da paixão em tempos de banalização e individualização do afeto até o futuro da subjetividade do autor e do leitor com a consolidação, ainda que lenta, das mudanças tecnológicas no mercado editorial brasileiro. No início da semana, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, Scliar lembrou que a escrita, em tempos de internet, já é mais concisa, telegráfica até. ‘Os novos escritores já têm um pensamento mais fragmentado, sem que isso seja motivo de crítica’, alertou. Ele e Ana Maria já participaram de um evento em que se discutiram relações sentimentais, encontro que resultou no livro Amor em Texto, Amor em Contexto (Papirus 7 Mares). A Bienal comprovou que o livro digital está mais presente em discussões que à venda nas prateleiras. Uma pesquisa realizada por empresa especializada no mercado brasileiro, a GfK, mostra que 67% dos entrevistados não conhecem o e-book, como é chamado o livro digital. A sondagem, realizada em maio com mil pessoas a partir dos 18 anos e moradoras de 12 regiões metropolitanas, revela que mais da metade dos entrevistados que conhecem o e-book (56%) pretende adquirir um modelo caso o preço seja acessível. E a maior parte dos participantes da pesquisa (71%) não acredita que sua chegada ao mercado seja uma ameaça ao livro tradicional. Os dados mostram também que os consultados das classes C e D (76%), habitantes do Nordeste (74%), mulheres (72%) e pessoas com idades entre os 45 e 55 anos (72%) são os que ainda mais ignoram a existência do e-book. A tecnologia, no entanto, tem servido para divulgar com eficiência eventos, especialmente os que envolvem o público jovem. É o caso de A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr, que chegou a comercializar 4.600 exemplares pela internet antes de ser publicado em papel, pela Verus. E, nesse formato, manteve o ritmo de ascensão – na lista dos mais vendidos publicada no Sabático, o livro figurou na sexta colocação na semana passada entre as obras de ficção, galgando três posições na lista divulgada na semana anterior. Também aparece entre os Trending Topics (assuntos mais citados) do Twitter, além de inspirar fóruns e comunidades no Orkut e Facebook. O livro é centrado na figura de Ablon, um anjo renegado que vive o dilema de não poder juntar-se às tropas do Bem, mas também não querer ceder às tentações do Mal. O lançamento ocorre amanhã, no estande do Grupo Record, a partir das 15 horas. Hoje, os eventos que devem atrair grande público ocorre à noite. A partir das 19 horas, no Salão de Ideias, Ruy Castro, Carlos Heitor Cony, Heloisa Seixas e Patrícia Melo vão discutir sobre os cruzamentos entre ficção, história e memória no caminho da literatura. E, às 20 horas, no Espaço Gourmet, dois ‘lobatólogos’ de carteirinha, Vladimir Sacchetta e Marcia Camargos, conversarão sobre as receitas que figuram nas obras de Monteiro Lobato. E no domingo, às 15 horas, Laurentino Gomes revelará, no Salão de Ideias, detalhes sobre 1822, candidato a novo best-seller. ************