Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Antonio Brasil

‘A TV a cabo prometia ser a Nova TV ou a TV do futuro. As operadoras ofereciam aos telespectadores mais exigentes e com maior poder aquisitivo, uma programação melhor e mais diversificada. Mas segundo dados importantes divulgados essa semana pela imprensa especializada americana (ver aqui), as TVs a cabo atingiram o seu clímax e já estão em declínio. Pela primeira vez, desde que surgiu nos EUA na década de 50, o sistema de TVs a cabo diminuiu a oferta de canais. Confira os dados abaixo.

Número médio de canais de TV disponíveis nos lares americanos:

1985 18.8

1990 33.2

1995 41.1

2000 74.6

2001 89.2

2002 102.1

2003 100.4

Nielsen Media Research

Esses dados comprovam os limites no crescimento do meio. Trata-se de um marco importante na evolução da TV e pode significar o começo do fim. A verdade é que essas TVs criaram grandes expectativas e se tornaram uma grande decepção para o público.

A promessa original das TVs a cabo era uma oferta crescente de mais de 500 canais para o deleite do telespectador. Um sonho de programação de TV produzida para o gosto e interesse de telespectadores exigentes dispostos a pagar por um conteúdo melhor e mais variado. A realidade, no entanto, tem sido pacotes fechados, caríssimos com muitos canais medíocres, excesso de comerciais e nada para se ver de novo na TV.

No Brasil, TV a cabo tem sido mais do que uma uma grande decepção. Tem sido uma grande ‘enganação’. Não é à toa que estão à beira da falência. A produção de programas originais é mínima. O sistema privilegia a produção estrangeira de qualidade duvidosa com o objetivo de alcançar lucros máximos. O preço dos pacotes das TVs pagas no Brasil é um absurdo. Mas a resposta do público é proporcional e condizente. O mercado está estagnado, a inadimplência é crescente e o gato, ou seja, a ligação ilegal, é rotineira.

Para aqueles que consideram que TV nas é somente fonte de baixarias ou novelas a TV a cabo no Brasil não resolve.

Acabei de chegar e a minha primeira impressão da nova programação da TV brasileira, aberta ou paga, não poderia ser pior. Os programas continuam os mesmos. Insistem nas soluções mais fáceis e medíocres. A desculpa é sempre a mesma: não temos recursos. TV a cabo desenvolveu um sistema cruel e suicida de produção. Tem custos altos, segue o modelo operacional das TVs abertas, mas não tem o mesmo público ou os mesmos recursos. Ou seja, a falência e a mediocridade são inevitáveis. Tentam fazer TV aberta em sistema de TV paga. Precisam gerar recursos, não conseguem e assim começa a choradeira. Apelam para o excesso de comerciais na programação e o povo, que não é bobo, se afasta das TVs a cabo.

Telenovela é uma droga

Nas TVs abertas, a situação não é muito diferente. A programação da TV brasileira continua medíocre. Muito blá, blá, blá – uma excessiva dependência da palavra, as mesmas baixarias em programas de auditório e uma enxurrada de outras baixarias com o nome sugestivo de ‘telenovelas’. Um festival de bobagens diárias sobre os mesmos temas de sempre. Um mero folhetim que se auto-intitula ‘legítima cultura nacional’, ou produto cultural com valor estratégico. E ainda por cima exige do governo privilégios e garantias de monopólio.

Aqui entre nós, se o negocio é produzir conteúdo televisivo nacional em língua portuguesa para exportar com sucesso e de qualquer maneira, seria melhor produzir pornografia. Emprega muita gente, é mais barato, dá menos trabalho e vende muito mais, principalmente no exterior. Afinal, se o importante é exportar, qualquer coisa serve.

Se televisão é uma droga perigosa, a telenovela é ainda pior. Garante o eterno torpor da população brasileira. Um dia, daqui a muitos anos, vamos ser lembrados pelas gerações futuras, como aqueles brasileiros que viveram completamente imobilizados e drogados por uma televisão que somente produzia novelas.

Adoro televisão, mas não existe nada pior do que novelas. É a essência dos males da nossa TV: um rádio com imagens e temas bobinhos. Ignoramos os grandes temas, o cinema, as imagens e a nossa cultura de verdade na TV. Em troca, oferecemos diariamente um festival de baixarias em forma de folhetim. O problema é que novela vicia assim como outros escapismos inocentes como cigarros, bebidas ou drogas em geral. Eles nos ajudam a ignorar a realidade e postergar as soluções de nossos problemas. Televisão é somente um meio. Telenovela eh baixaria, muito lucrativa produzida e transmitida em sistema de monopólio disfarçado em ‘cultura nacional’. E ainda vai a Brasília e exige investimento do governo. Pobre Brasil!

Telejornalismo modelo americano

O telejornalismo, obviamente, segue o mesmo caminho. Excesso de apresentadores e repórteres falando bobagens o tempo todo. Telejornais verborrágicos. Matérias previsíveis, pautas medíocres, pouquíssima produção de imagens e nenhum conteúdo original na linguagem televisiva. Muita forma, pouco conteúdo. No telejornalismo brasileiro nada se cria, tudo se copia. O modelo e formato seguem os padrões dos telejornais americanos. Muito cômodo, seguro e preguiçoso.

O público brasileiro continua sendo enganado pela nossa TV. O meio ainda prescinde de uma identidade nacional, principalmente em nossos telejornais. Meu Deus, como são chatos! Ainda fico admirado quando alguém me diz que assiste ao JN todos os dias. Deve ser falta de opção ou falta do que fazer.

Por outro lado, a verdadeira segmentação e experimentação no conteúdo televisivo TV avança pela Internet.

TVs na Internet

Em artigo recente para o Online Journalism Review, Mark Glaser, especialista em novas tecnologias, analisa e avalia as melhores e piores opções de vídeos e TVs na Internet. Essas alternativas às baixarias das TVs abertas ou pagas crescem com um ritmo vertiginoso na rede.

Outro Glaser, o Rob, presidente da Real Networks, criador de sistemas para transmissão de vídeos pela Internet, é ainda mais otimista em relação ao futuro. Em artigo para o Financial Times, com o título sugestivo de ‘Full Steam Ahead’, ou ‘Toda a força a frente’, Rob Glaser faz questão de confirmar o futuro do meio: ‘Hoje, os programas de recepção de vídeo pela Internet já estão instalados em milhões de computadores em todos o mundo. Atingimos o ponto em que a imagem oferecida pela Internet já pode, em muitos casos, substituir a televisão. Em outros, como eventos esportivos, musicais ou até mesmo jornalísticos, o vídeo na rede passa a ser uma alternativa melhor e mais viável.’

BBC digital

Não é à toa que no Reino Unido, os competidores da BBC exigem que a rede britânica limite seus investimentos na Internet (ver aqui). A BBC mais uma vez percebeu a importância de um novo meio e investiu pesado em diversas opções digitais. Colocou inclusive o seu arquivo histórico e sua programação disponível gratuitamente na rede.

O site da BBC é líder no competitivo mercado britânico. É também um dos sites mais visitados no mundo. Com a desculpa de que a rede deveria se concentrar em ‘outras’ prioridades, os competidores britânicos exigem a retração da BBC. Com isso esperar evitar uma ameaça maior: sua tradicional criatividade e ousadia. No passado, em tempos de supremacia do meio radiofônico, a BBC acreditou e investiu em novo meio: a TV. Acabou se tornando a primeira e melhor rede de TV do mundo. Agora, os magos da BBC apontam para o futuro e investem no mercado digital. Obviamente, tem gente que está incomodada, teme as mudanças e não investe no futuro.

TVs digitais de baixo custo

A tecnologia de transmissão digital avança ainda mais rápido. Todos os dias surgem opções novas e cada vez mais baratas. Em diversas partes do mundo, surgem novos sistemas de armazenamento e distribuição de imagens em movimento em tempo real. Ainda segundo Rob Glase, a próxima etapa é a eliminação dos computadores e das linhas tradicionais de transmissão de Internet. As imagens da nova televisão online viajam por sistemas de rádio e invadem os celulares ou qualquer aparelho móvel de recepção. A qualidade melhora todos os dias, a oferta de canais cresce e os custos diminuem.

Mas como sempre, no Brasil, tem professor medíocre na academia que ridiculariza a TV e o telejornalismo online. Considera a alternativa ‘fantasiosa’, insiste em falar bobagens, não apresenta alternativas para o presente e ignora as promessas do futuro. Mas isso não mais me surpreende.

Por outro lado, no mesmo país, o projeto pioneiro de TVs de baixo custo pela Internet desenvolvido pelo Prof. Nilson Lage, da UFSC, continua esquecido e sem recursos definidos. Uma solução criativa e barata para inundar o país com milhares de televisões comunitárias não consegue se impor às políticas que privilegiam as TVs abertas com tradição de monopólio e as TVs a cabo com programação enganosa.

Esse mal ainda é maior, considerando os investimentos das inúmeras TVs institucionais obrigatórias, verdadeiros cabides de emprego como as diversas TVs do legislativo, executivo, comunitárias e universitárias. Dinheiro público gasto para brincar de TV. São ignoradas pelo público e servem somente para alimentar vaidades pessoais e garantir uma aposentadoria disfarçada.

A crise nas TVs a cabo era previsível. Prometeram e não cumpriram. A grande questão agora é saber para onde está migrando o público que abandona as TVs a cabo? Eles podem estar aqui mesmo na Internet assistindo às novas TVs online como a tão bem sucedida all TV. Quem sabe, um dia, esse mesmo público vai trocar as TVs a cabo por uma futura TV Comunique-se Online. Pura questão de tempo, oportunidade e ousadia!’



TV ALERJ
O Globo

‘Filas para aparecer na televisão’, copyright O Globo, 11/7/04

‘A TV Alerj é um antigo sonho dos deputados e principal projeto do atual presidente da Alerj, Jorge Picciani. Em pouco mais de quatro meses de transmissões, a programação chega a 20 dos 92 municípios do estado. A audiência do canal 12 da Net nunca foi calculada ou estimada, mas mesmo assim a presença das câmeras no plenário mudou o comportamento dos deputados nas sessões. Mesmo em dias menos concorridos, os parlamentares fazem fila para discursar no parlatório.

A estréia na telinha mexeu até com a vaidade dos deputados. Leandro Sampaio (PMDB), um dos responsáveis pela montagem da TV, prometeu na véspera da primeira transmissão recauchutar o visual:

— Já estou de regime. Até emagrecer, vou fugir das câmeras — brincou, à época.

A programação tem como atração principal as sessões plenárias, transmitidas ao vivo três vezes por semana. O restante do tempo é preenchido com telejornais, programas de entrevistas, debates e até videoclipes.

A estréia da TV aconteceu, ainda em fase experimental, no dia 18 de fevereiro. Foi marcada por problemas técnicos e um atraso de sete horas. Como o sinal da emissora não chegava à sede da Net, o jeito foi gravar a sessão e exibi-la à noite juntamente com um programa especial em que deputados falavam sobre a importância do canal.’



CONTEÚDO BRASIL
O Globo

‘Meta a atingir’, copyright O Globo, 11/7/04

‘Realizado em fevereiro em São Paulo, por iniciativa conjunta da PUC e da TV Globo, o ‘Conteúdo Brasil — Seminário de Valorização da Produção Cultural Brasileira’ foi uma tentativa de formular respostas a desafios sem precedentes enfrentados hoje pela cultura nacional. Desafios que não encontram repercussão na Constituição de 1988, por ela ter sido elaborada numa época em que não se tinha conhecimento, por exemplo, da telefonia celular ou da internet.

Mal se esboçava então o extraordinário crescimento de toda a gama dos meios de comunicação e seu contínuo aperfeiçoamento tecnológico — processos que, aliados à acelerada globalização, trouxeram transformações revolucionárias e também o risco real da desnacionalização da produção cultural brasileira.

Do seminário, que reuniu mais de 70 personalidades, resultou um raro consenso, expresso num documento agora entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que em resumo solicita a adoção de uma política de Estado para valorizar a cultura brasileira e mantê-la em mãos de brasileiros. A premissa básica é que, tanto quanto aço, petróleo ou energia elétrica, a cultura é um setor-chave para o desenvolvimento do país, e como tal exige uma estratégia de ação pública capaz de preservar a sua brasilidade.

Rejeitando políticas cartoriais de reserva de mercado e o decorrente isolacionismo, ou de medidas que cerceiem a liberdade de expressão, o documento enfatiza a necessidade de uma ação vigorosa em prol da educação — única maneira de gerar demanda genuína de bens culturais.

De fato, o Estado é presença indispensável na luta pela preservação da identidade cultural do país, que enfrenta hoje desafios inéditos. Mas sua ação, que não pode se resumir à ampliação de cotas de tela para o cinema nacional e medidas afins de caráter protecionista, precisa basear-se numa interpretação clara e abrangente do problema.

Por tudo isso, o documento produzido pelo seminário merece ser acolhido com toda a consideração pelo governo como ponto de partida para uma política de valorização da cultura nacional que o Brasil de hoje não pode dispensar.’



TV CULTURA
Laura Mattos

‘Cultura troca infantil por novela japonesa’, copyright Folha de S. Paulo, 11/7/04

‘A TV Cultura está negociando troca de programação com a NHK, a maior rede de TV do Japão. A idéia é que a emissora brasileira exiba ‘Haru e Natsu’, uma novela japonesa que está sendo gravada em Campinas (interior de SP) e no Japão. A história, sobre a imigração nipônica no Brasil, seria legendada na Cultura. A exibição na NHK está prevista para 2005.

Em contrapartida, a NHK, emissora também pública, levaria ao ar no Japão o ‘Cocoricó’, premiado infantil da TV Cultura. A negociação começou na semana passada num encontro entre representantes da rede japonesa e Marcos Mendonça, novo presidente da Cultura.’