Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Antonio Brasil

‘A rima pode ser pobre, mas a essência é verdadeira. Em tempos de escândalos políticos graves, com um governo fraco, totalmente à deriva, mais uma vez, o ministério das Comunicações está nas mãos da Rede Globo. Em outros tempos, sempre em momentos de decisão, quando também era necessário defender interesses estratégicos – defenestrar a incômoda NEC do Brasil, por exemplo – outro ministro ‘global’, o velho ACM foi convocado para dirigir as Comunicações. Trabalhou bem e recebeu como prêmio algo mais precioso do que qualquer ‘mensalão’ ou concessão de TV. Na época, ACM recebeu, de mão beijada, a concessão da programação da Globo na Bahia. Lembram? Mais um dos muitos escândalos brasileiros que se perdem no passado.

Hoje, também estamos diante de decisões estratégicas para o futuro da TV em nosso país. Dentro de alguns meses, o todo-poderoso ministro das Comunicações vai bater o martelo para decidir o novo padrão digital da TV brasileira. Fomos convencidos pela própria mídia de que se trata de questão urgente, prioritária e inevitável! E não é mera coincidência que nesse exato momento o governo Lula, sob pressão de políticos e interesses poderosos, tenha escolhido o senador mineiro Hélio Costa para o ministro das Comunicações. Mera coincidência conveniente?

Ex-discreto jornalista da Voz da América, foi ‘catapultado’ à posição de correspondente internacional logo nos primeiros anos do Fantástico. Hélio Costa substituiu a talentosa, porém turbulenta e encrenqueira Cidinha Campos. Na época, foi retratado pelos nossos humoristas de plantão como ‘Nélio de Costas’. Aparecia sempre de costas nas entrevistas, mas também fazia questão de incluir seus próprios ‘contra-planos’ – suas perguntas frente às câmeras nas reportagens americanas compradas pela Globo.

Bom político, logo se tornou chefe do bureau da Globo em NY. Ficou famoso e ganhou uma concessão de rádio em Barbacena, sua cidade natal. Sempre com a ajuda da Globo, foi eleito para diversos cargos políticos. Muito ambicioso, tentou ser eleito governador de Minas, mas perdeu. Agora, em meio à derrocada petista, ganhou um lugar ao sol. Discretamente, se tornou Ministro das Comunicações. Quem sabe, em breve, volte a se candidatar. Com o apoio dos nossos ‘radiodifusores’, pode ser governador. Com o apoio da Globo, poder ser o nosso próximo presidente. Depois não digam que eu não avisei. Hélio Costa sempre foi um fiel defensor dos interesses da Globo e não é a toa que chegou onde chegou e está onde está nesse exato momento.

Manchetes digitais

As últimas manchetes na imprensa confirmam uma trajetória política bem planejada. Confirmam uma comunhão de interesses com os radiodifusores brasileiros em momento estratégico para o futuro da TV brasileira: ‘Costa descarta TV Digital brasileira’, ‘TV digital fica sem padrão brasileiro’, ‘Ministério descarta criação de sistema nacional de TV digital’, ‘Costa: é impossível criar padrão brasileiro de TV digital’, ‘Hélio Costa diz que Brasil terá ‘modelo’ e não ‘padrão’ próprio para TV digital’, ‘Universidades pedem a Costa continuidade das pesquisas’, ‘Implantação da TV digital no Brasil pode levar 10 anos, diz ministro das Comunicações’.

Mas a melhor de todas as manchetes foi publicada pelo velho e irreverente Estadão,

‘Jabuticaba digital’ – O Brasil finalmente está desistindo do sistema próprio de TV Digital, um sonho fora de propósito acalentado até agora pelo governo Lula, que na prática traria de volta a reserva de mercado, velha de guerra’.

O artigo também analisa o desperdício:

‘Perda de tempo e dinheiro

Como tanta coisa no governo Lula, comissões e equipes de trabalho gastaram horas em discussões para, dois anos e meio depois, concluírem o que já se sabia: que euforia e delírio só podem ser consumidos no momento adequado e na dose certa.’

A ‘roda’ digital

Mas na hora certa, ou seja, assim que assumiu, Hélio Costa fez questão de descartar o projeto ‘brancaleônico’ de um padrão de TV digital brasileiro: ‘Não vamos reinventar a roda’. Para o ministro, o importante é ‘não deixar acontecer o que aconteceu com o chamado PAL-M, sistema brasileiro que era incompatível com o do resto do mundo, causando transtornos aos usuários de videocassetes (sic).’

Por coincidência, essa também é a posição da Rede Globo. Os engenheiros do Jardim Botânico não querem nem ouvir falar de um novo sistema que se assemelhe às aventuras do padrão de cores somente para brasileiros, o Pal-M: Pal significa o sistema de cor europeu, M… Não precisa traduzir.

Mas alguns leitores podem dizer que tudo isso não passa de mais uma mera coincidência. Das tantas que têm acontecido no Brasil nos últimos dias. Mas também pode ser ‘coisas’ de um governo petista em crise que obviamente não deseja criar novos problemas e incomodar os interesses da Globo. Por enquanto, em meio a tantas denúncias, um gigante adormecido, mas não menos ‘perigoso’.

Nesse momento ‘delicado’ do projeto petista, faz-se qualquer negócio para evitar uma campanha televisiva pelo impeachment – no estilo caras pintadas globais – e garantir pelo menos a ‘sobrevivência’ do governo até o final do mandato. – Mas e a reeleição? – Difícil. Quase impossível! Porém, no Brasil, tudo é possível!

Para sobreviver e pela tal governabilidade, alguns ministérios importantes foram oferecidos a partidos políticos do resto da base governista. O das Comunicações, no entanto, ficou com o partido político mais poderoso do Brasil: o partido da Globo.

Mas o novo ministro é ambicioso, não quer problemas e precisa de aliados. Esta semana, o ministro global fez questão de explicar seus planos para milhares de pesquisadores brasileiros que se reuniam em Campinas. Em outros tempos, proferiu uma ‘pérola’ sobre a educação no Brasil e principalmente em relação aos professores de jornalismo: ‘Bem sabemos que quem sabe faz. Quem não sabe, ensina’. (Ver coluna sobre o ensino de jornalismo).

Mas os nossos pesquisadores não podem se dar ao luxo de contrariar ministros que garantem recursos milionários. Querem continuar a gastar de qualquer maneira – com ou sem padrão digital brasileiro – cerca de 65 milhões, vou repetir, 65 milhões das preciosas verbas de um governo em crise. A explicação é simples. Se não podem mais reinventar a própria roda, querem, pelo menos, reinventar qualquer coisa: os pneus, as calotas ou até mesmo do espelhinho retrovisor da ‘roda’ digital brasileira.

A preocupação dos pesquisadores brasileiros é evidente. Não se pode perder tanto dinheiro – ainda por cima, dinheiro do governo – assim de uma hora para outra. Com tanto publicitário financiando políticos corruptos, por que não financiar a reinvenção, quero dizer, a reengenharia de qualquer coisa?

TVs e indústria não bancam a TV digital

Não tenho nada contra a pesquisa de padrões, sistemas, modelos ou qualquer outra coisa para essa tal TV digital brasileira. Tem muito especialista ou pesquisador provinciano de universidade pública ou privada desinformado que nunca saiu do Brasil que não consegue viver sem mais uma ‘boquinha’ do governo.

A maioria desses pesquisadores depende exclusivamente de verbas públicas. Não consigo entender por que não conseguem e nem tentam convencer os principais interessados pela implantação de uma TV digital no Brasil: a indústria eletrônica e as grandes empresas de radiodifusão brasileiras. São todas empresas essencialmente comerciais, altamente lucrativas que não contribuem em nada para a educação ou para a melhoria do povo brasileiro. Mais uma vez insistem que a viúva tem a obrigação que financiar essa ‘aventura’ digital.

Insisto: por que tem que ser o governo com o nosso dinheiro e não a iniciativa privada – os únicos grandes beneficiários da TV digital – a bancar custos milionários de sua implantação. Televisão no Brasil é um meio em regime de quase monopólio, controle de informação através de um único telejornal e dedicado essencialmente ao ‘entretenimento’. Na falta de pão, um ‘circo eletrônico’ com excesso de baixarias.

E já que estamos em tempos de denúncias, de combate à corrupção, talvez devêssemos nos perguntar qual o sentido de financiarmos a implantação de uma TV digital com a mesma programação de sempre? Não acredito que a implantação da TV digital no Brasil seja mesmo urgente e ‘inevitável’. Mas se for, que seja bancada pelas empresas que tanto lucram e que só se lembram do governo em campanhas eleitorais ou em tempos de crise financeira. TV digital no Brasil não deveria ser bancada pelo povo brasileiro. Já somos contemplados com uma programação de péssima qualidade, com um excesso de telenovelas e Ratinhos. Querem gastar milhões para transformar as baixarias analógicas em baixarias digitais.

Padrão digital

Mas apesar dos argumentos lógicos, em diversas entrevistas, o ministro Hélio Costa já deu uma dica sobre a sua decisão. Apesar de todos os gastos com pesquisas em nossas melhores universidades públicas, pelo jeito, a decisão já foi tomada no Jardim Botânico. Há somente três padrões de TV digitais no mundo. Costa já descartou o americano. Sobraram dois: o europeu e o japonês. Durante o último Simpósio Internacional de TV Digital realizado no Rio de Janeiro no dia 17 de junho, os representantes da Engenharia da Globo deixaram bem claro, sem meias-palavras, que apoiavam o padrão japonês. E-diretor da Globo, Hélio Costa assumiu o ministério das Comunicações logo após. Agora, vocês ainda querem apostar qual será o próximo padrão da TV digital brasileira? Quem acertar, ganha um mensalão, um jipinho importado ou pelo menos uma cueca tamanho PT.

A ‘viúva’ banca tudo

Não considero o investimento em TV no Brasil, digital ou analógica, questão prioritária ou estratégica para o governo. Para qualquer governo. O investimento para essa transição que muitos consideram inevitável deveria ser bancado pelos principais interessados: empresas de radiodifusão e indústria eletrônica. Estratégico e prioritário no Brasil é ‘comida’ e emprego. Não deveríamos gastar recursos limitadíssimos de um governo à beira de um ataque de nervos – nosso dinheiro – para facilitar a vida de empresas privadas milionárias. Querem uma TV digital no Brasil, as nossas TVs, as mesmas que receberão as concessões que deveriam bancar a sua implantação.

Em outra época, os governos militares gastaram uma fortuna para conceder as TVs brasileiras e principalmente a Globo, o privilégio duvidoso de criar o atual sistema de rede, a Embratel. O governo, com o nosso dinheiro, bancou o sistema de rede que criaria esse mostrengo perigoso: o Jornal Nacional, o jornal que elege e derruba presidentes.

Anos depois, privatizamos essa mesma rede, a estratégica Embratel, a qualquer preço para empresas corruptas e falidas americanas. Agora, os tais ‘pesquisadores brasileiros’ aliados a essas mesmas empresas de radiodifusão pressionam o ministro global para que o governo banque a implantação da TV digital. Afinal, bem sabemos que, no Brasil, somente a viúva, o governo, financia qualquer tipo de pesquisa. Não cobra resultados e mantém sempre os mesmos privilégios.

Por uma TV ‘de pés descalços’

Em vez de reinventar a roda, deveríamos investir em pesquisas de conteúdo televisivo. É muito mais barato e garante empregos para gente talentosa que sabe fazer televisão. Mas a nossa engenharia de padrões de qualidade e reservas de mercado, mesmo nas universidades, ainda domina o setor e concentra todos os recursos. Sonham sempre com projetos mirabolantes e caros. Reinventam qualquer coisa com a chancela nacionalista. Quem os critica é imediatamente taxado de agente do imperialismo americano, ‘entreguista’. Gastam muito em pesquisas caras e inúteis. Não sobra nada para desenvolver outros projetos menos ambiciosos, porém muito mais efetivos e revolucionários como a implantação de milhares de TVs comunitárias pela Internet. Esse tipo de projeto que nos conduziria a uma produção televisiva mais democrática, diversificada e criativa, uma espécie de ‘TV de pés descalços’ não interessa aos nossos radiodifusores. Não garante bilhões dos cofres do governo direto para manter privilégios em mais uma nova aventura digital.

Futurologia: Nos EUA, Blogs desbancam as TVs – No Brasil, a Globo decide! Não sou o único que acredita que no poder de uma TVlog, uma TV na Internet. Esta semana, nos EUA, mega empresas como a Microsoft e a Motorola anunciaram a extensão de sua parceria para o mercado de IPTV – Internet Protocol TV. Estão apostando alto num modelo diferenciado de TV que privilegia a quantidade, a diversidade de conteúdos, com milhões de alternativas de baixo custo para um novo publico televisivo internético. Para isso, ao contrário dos nossos pesquisadores com verbas exclusivas do governo e que bancam o atual modelo de TV brasileiro, essas grandes empresas já trabalham para uma integração total de seus softwares e hardwares na rede. Sabem que o futuro da TV, analógica ou digital, está condenado.

Pelo jeito, os responsáveis pela Micrsoft e Motorola andaram prestando atenção às previsões de um dos mais importantes ‘futurólogos’ americanos da atualidade, George Gilder. Autor de inúmeros livros sobre o futuro das mídias, esta semana Gilder foi o principal palestrante da conferência AlwaysOn, realizada na Universidade de Stanford. Para espanto de muitos na platéia e na Internet, fez questão de dizer que ‘a TV está morrendo rapidamente, assim como Hollywood. Essas indústrias são alimentadas pela escassez. Há somente alguns poucos canais disponíveis e a TV foi uma tecnologia inventada por’ tiranos ‘O atual modelo televisivo é sustentado pela publicidade, nos anúncios de 30 segundos e esse modelo entrou em colapso’. Gilder tocou na ferida e citou as novas tecnologias que gravam a programação em uma espécie de computador que elimina os comerciais: ‘Ninguém mais vai ter que assistir a comerciais. A não ser que queiram, é claro’.

Mas, no final de sua palestra, em um tom otimista, George Gilder, que há muitos anos anunciou o advento dos ‘teleputers’, híbridos de computadores e TVs, fez questão de valorizar as tecnologias do passado e do futuro: ‘A cultura dos livros e dos blogs podem salvar a nossa civilização’.

E no Brasil? Qual será o futuro das nossas TVs? Isso depende. Como sempre, na última hora, a Globo decide.

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Renato Cruz

‘País ainda busca sua TV digital’, copyright O Estado de S. Paulo, 31/07/05

‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, assumiu a pasta batendo na assinatura básica do telefone e no sistema brasileiro de TV digital que, para ele, não deveriam existir. Em reunião com as operadoras, abrandou o discurso e prometeu buscar redução de impostos para baixar a assinatura. Para os pesquisadores do sistema brasileiro, Costa recomendou que continuassem o trabalho. O dinheiro já foi liberado pelas Comunicações e encontra-se nas mãos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Os consórcios de pesquisa estão confiantes que entregarão uma proposta de sistema brasileiro em 10 de dezembro. ‘O Brasil vai ter sua TV digital’, afirmou o professor Marcelo Zuffo, do Laboratório de Sistemas Integráveis da Universidade de São Paulo, que lidera as pesquisas sobre o terminal de acesso. Ou seja, a caixa que permitirá ver o sinal digital nos aparelhos analógicos e vai garantir a interatividade da televisão digital.

A TV digital garante imagem e sons melhores, permite que vários programas sejam transmitidos ao mesmo tempo em um só canal e abre espaço para serviços interativos, parecidos com os da internet.

A novela da televisão digital brasileira começou em 1994, quando os radiodifusores começaram a avaliar as alternativas tecnológicas existentes no mundo. O governo anterior planejava escolher um entre os três grandes sistemas existentes: o americano ATSC, o europeu DVB e o japonês ISDB. A Universidade Mackenzie chegou a testá-los em 2000, com vantagens de desempenho para o japonês. Os testes brasileiros foram reconhecidos pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência da Organização das Nações Unidas (ONU).

Quem inventou essa história de sistema brasileiro de TV digital foi o ex-ministro Miro Teixeira, o primeiro a assumir a pasta no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Com isso, paralisou o sistema anterior, que aparentemente está sendo retomado por Hélio Costa, para quem deve ser escolhido um dos três sistemas internacionais.

Ou não. Existe aí um jogo de palavras: o ministro fala em não a um padrão brasileiro, mas o que está sendo pesquisado é um sistema brasileiro. Um sistema é formado por vários padrões. Um para vídeo, outro para áudio, outro para transmissão, outro para o middleware (software que funciona com um sistema operacional da televisão), etc.

O dinheiro para a pesquisa – que era R$ 80 milhões e já caiu para R$ 38 milhões – e o tempo de trabalho não seriam suficientes para criar padrões. O que os pesquisadores brasileiros estão fazendo é pegar os padrões internacionais existentes e tentar adaptá-los ao que se imagina que será o sistema nacional.

O grupo do middleware, por exemplo, elegeu um padrão chamado Globally Executable MHP (GEM), que servirá de base para as soluções americana, européia e japonesa e deve se tornar um padrão mundial com a chancela da UIT. ‘Queremos ter uma tecnologia global’, explicou o professor Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba, que lidera o grupo de pesquisa do middleware. ‘Se tivesse 20 anos para pesquisar, poderia sugerir alguma coisa revolucionária. Com um ano, dá para estudar o estado da arte e propor extensões.’

O padrão GEM, em sua versão básica, não prevê software de navegação de internet e correio eletrônico, o que foi pedido pelo governo. Os grupos de pesquisa trabalham em soluções desse tipo para adaptar a tecnologia às necessidades locais, com o cuidado de não tornar as soluções incompatíveis.

Em reunião com os pesquisadores, há duas semanas, o ministro disse que não queria um novo PAL-M, padrão de TV em cores criado no País, com o qual disse que sofreu muito quando atuava como jornalista. Costa foi repórter do Fantástico, da TV Globo.

O governo bloqueou R$ 14 milhões que seriam usados pelo CPqD, de Campinas, que coordena os trabalhos de pesquisa, para comprar uma estação experimental, a ser usada nos testes dos protótipos. A estação não estava prevista nos editais do sistema brasileiro. O CPqD informou que existem soluções alternativas.’



TV CULTURA
Adriana Del Ré

‘Cultura passa a exibir hoje o ‘TV 5 Le Journal’’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/08/05

‘Estréia hoje na programação da TV Cultura o noticiário TV5 Le Journal, produzido pela emissora francófona TV5, com legendas em português. O telejornal, que vai ao ar de segunda a sexta-feira na TV5, às 18 horas, será exibido também diariamente na Cultura, à 0h30. Conhecida pelos assinantes de canal por assinatura, a TV5 – ou pelo menos o jornalismo realizado por ela – chegará ao bem público maior da televisão aberta.

A idéia da parceria partiu do diretor de jornalismo da TV Cultura, Marco Antônio Coelho. Ele fez a sugestão ao presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, Marcos Mendonça, que acatou a idéia. Coelho consultou os ‘franceses’, como ele diz, para checar a viabilidade dessa parceria inédita. Conversou com Loic Grosselin, da Midia Mundi, que detém os direitos da TV5 no Brasil (TV paga), que deu carta-branca ao projeto.

Coelho explica que os telejornais brasileiros dão informações do mundo a partir do ponto de vista norte-americano, já que são abastecidos por redes como a CNN. ‘Queremos ter outra visão’, diz Coelho. ‘A TV é veículo de informação, não só mais de entretenimento.’ Para ele, mesmo a rede inglesa BBC segue uma linha editorial mais americanizada.

E como a TV5 não está só sob a direção dos franceses, mas também dos belgas, canadenses e suíços, o ponto de vista das notícias se torna efetivamente europeu e não unilateralmente francês.

Além disso, para Coelho, existiria uma equivalência editorial entre o jornalismo realizado pela TV Cultura e pela TV5. ‘É parecido com o nosso. Nosso jornalismo é de reflexão, de tentar entender melhor a notícia.’

É uma nova atividade nas instalações da Cultura. Desde a gravação do noticiário francês até a legendagem dele, todo o processo leva cerca de cinco horas. Mas com a prática, o diretor de jornalismo acredita que esse tempo deve diminuir. ‘Podemos usar imagens do Le Journal nos nossos noticiários’.

A parceria dá direito também ao uso de imagens do programa Kiosque, que faz uma revisão reflexiva sobre a semana, englobando comportamento, moda, política, economia e variedades. ‘Queremos também fazer co-produções de filmes e documentários com eles.’’



JANETE EM DISPUTA
Laura Mattos

‘TVs disputam obra de Janete Clair’, copyright Folha de S. Paulo, 1/08/05

‘Janete Clair (1925-1983), uma das principais novelistas da Globo, tem seu nome agora disputado por Record e Bandeirantes. E a Globo perdeu por duas vezes a oportunidade de evitar que obras da escritora pudessem ser utilizadas por outros veículos.

Autora de 18 novelas da Globo (‘Irmãos Coragem’, ‘Pecado Capital’, ‘Pai Herói’ e outros sucessos), Clair tem 34 histórias que não pertencem à emissora.

Em 1996, o dramaturgo Dias Gomes, viúvo de Clair, assinou com a Globo um contrato de venda de todas as novelas escritas por ela para o canal (até então, o direito autoral pertencia aos novelistas, e Clair chegou a vender tramas globais a outros países).

Na ocasião, Dias Gomes ofereceu também à Globo as 31 novelas escritas para o rádio -muitas das quais obtiveram grande audiência entre as décadas de 40 e 50-, duas para a TV Tupi (‘O Acusador’, 1964, e ‘Paixão Proibida’, 1967) e uma para a TV Rio (‘Acorrentados’, 1969).

O departamento artístico concordou com a compra, mas o financeiro fez uma proposta muito abaixo do que a família acreditava que valesse o pacote.

Após a morte de Dias Gomes, em 1999, os originais de Clair passaram de seu escritório para a casa de um dos filhos do casal. Há dois anos, os herdeiros voltaram a procurar a Globo para vender os títulos. A emissora disse que poderia guardar os papéis e comprar o direito autoral por motivos afetivos, mas que não tinha interesse de readaptar nenhuma história antiga. Novamente a família não concordou com a proposta nem com o valor oferecido.

Agora nas mãos de um agente, as 34 histórias de Janete Clair foram oferecidas a outras emissoras e despertaram o interesse de Record e Bandeirantes. As redes voltaram recentemente a investir em teledramaturgia, e Clair seria uma grife importante na busca por anunciantes e audiência.

Uma das novelas que chamou a atenção dos possíveis compradores é ‘Véu de Noiva’. Apesar de ter sido exibida pela Globo em 1969/70, pode ser regravada por outro canal pois foi originalmente escrita para o rádio.

Os papéis datilografados por Clair, já em estado de degradação, estão sendo recuperados pelo núcleo de telenovelas da Universidade de São Paulo. Pesquisadores irão digitalizar os textos e conservar adequadamente os originais para os herdeiros.’