‘Hoje, o jornalismo mundial deveria estar de luto. Além das diversas notícias sobre colegas seqüestrados ou mortos no Iraque, somos surpreendidos com notícias ainda piores aqui mesmo dos EUA.
Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nielsen, o Ibope americano, pela primeira vez na história, uma rede de TV a cabo, a polêmica Fox TV de Rupert Murdoch, uma rede abertamente conservadora e pró-republicana, bateu todas as tradicionais redes americanas (ver aqui). Pelo jeito, o novo modelo de jornalismo ‘engajado’ e patriótico da Fox está fazendo sucesso.
A cobertura da convenção do Partido Republicano nesta última terça-feira no horário de 22-23h rendeu um recorde de audiência para o Fox News. Bill Shine, vice-presidente da rede, fez questão de enfatizar o crescimento de mais de 267 porcento nos índices de audiência da emissora quando comparados à transmissão da convenção democrata. A Fox se identifica com o seu público republicano e as demais redes de TV americanas são simplesmente humilhadas. A Fox, apesar de ser a menor e mais jovem rede de TV, resolveu ir à luta e quebrar todos os paradigmas do tradicional jornalismo americano.
Em busca dos culpados
Os executivos e editores das grandes redes de TV americanas já estão avaliando os ‘estragos’ e reavaliando os seus próprios objetivos e estratégias. Segundo matéria do NYT publicada nesta sexta-feira (ver aqui).
Eles apostaram na indiferença do público de TV em relação às convenções dos partidos americanos. Protestaram contra o caráter meramente publicitário desses eventos e reduziram ao mínimo a cobertura jornalística. Fazem questão de dizer que não há notícias nas convenções dos partidos americanos e que não estão dispostos a fazer publicidade gratuita. É bom relembrar que nos EUA, não existe o nosso famigerado horário eleitoral ‘gratuito’ e obrigatório. Os executivos das redes americanas resolveram enfrentar a ditadura das convenções políticas e apostar na indiferença do público. Pelo jeito, alguma coisa saiu errada. O público republicano se identifica e reforça a audiência da Fox. A audiência dos demais telespectadores se pulveriza em todas as outras redes. O jornalismo mais sério e ‘equilibrado’ paga um alto preço e enfrenta desafios assustadores para o futuro. Esse tal jornalismo ‘sério’ e indefinível em rede de TV aberta pode estar com os seus dias contados.
Perder a liderança para uma outra grande rede não é problema. Tudo bem. Mas perder a liderança em um grande evento nacional durante o horário nobre para uma TV a cabo e ainda mais para a Fox, deve ser motivo de muita preocupação. Cabeças vão certamente rolar. Em verdade, o futuro do jornalismo em TV aberta é cada vez mais nebuloso e duvidoso. Também é bom lembrar que quase tudo que acontece no EUA, acaba acontecendo no Brasil.
O novo cidadão Kane
Para Rupert Murdoch, o barão de mídia, dono da News Corporation e da Fox vale tudo para conquistar o sucesso e audiência. Nada é sagrado na busca do sucesso, audiência e poder. Ele reinventa a TV e o jornalismo em diversas partes do mundo já foi até inspiração para grande vilão de filme de James Bond. Para Murdoch, jornalismo não é sagrado e assim como programas de entretenimento não passa de mais um produto. O jornalismo à Murdoch tem que se adaptar aos interesses dos donos do poder, se adaptar aos novos tempos e se identificar com o seu publico. Ou seja, produzo um jornalismo ao gosto do freguês. Um jornalismo ‘flexível’ que prioriza os resultados! Nada muito diferente do telejornalismo brasileiro atual. Muda o governo, muda o jornalismo da TV. Depois é só comemorar o aniversário de mãos dadas com o público e com os novos donos do poder! Mas isso é uma outra história.
Para quem não conhece, a Fox TV é aquela rede de TV americana que resolveu ignorar os princípios mais básicos do jornalismo como objetividade, imparcialidade ou equilíbrio na busca de uma identidade com o telespectador insatisfeito com o ‘liberalismo’ das demais redes de TV. Eles produzem um jornalismo segmentado e ‘engajado’ para um público específico. A Fox tem seus méritos. Eles perceberam uma mudança de atitude do público de TV americano. Após os atentados de 11 de setembro, muitas coisas mudaram nos EUA.
O medo provoca reações imprevisíveis e inesperadas, e a Fox, assim como o próprio governo americano, compreende muito bem que o medo é ‘conservador’ e adverso às mudanças. O telespectador da Fox se identifica claramente com os objetivos conservadores, patrióticos e republicanos da mais nova rede de TV americana. A Fox está somente há nove anos no ar, mas já é considerada uma rede de sucesso. Seus executivos criaram um novo modelo de jornalismo e TV que pode se tornar o modelo hegemônico. Afinal, se os árabes tem a sua Al-Jazira, os americanos tem a sua Fox TV.
Ao invés de buscarem informação e conhecimento, os telespectadores dessas redes buscam um novo jornalismo que despreza os fatos e prioriza a confirmação dos preconceitos. O telespectador dessas redes não assiste aos seus telejornais. Ele torce pelos seus ideais e seus novos heróis, os jornalistas ‘engajados’.
Além de competir com o entretenimento, jornalismo enfrenta um desafio ainda maior. O telejornal passa a ser uma espécie de esporte onde o jornalista e o público ‘vestem a camisa’ , desprezam os fatos, a isenção, o equilíbrio e buscam somente as noticias convenientes e ‘apropriadas’.
O Horror!
Esta semana, em entrevista recente para o Jornal do Terra, fiz questão de dizer que vejo essa situação com muita preocupação e certa ‘tristeza’ (ver aqui) . As outras emissoras de TV, com menos audiência, estão pagando um preço alto por adotarem uma postura mais equilibrada na cobertura das eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Temos poucas razões para sermos otimistas. Neste exato momento, a ascensão da Fox não pode ser considerada ‘mera coincidência’. Considerando as últimas pesquisas de opinião e o show de profissionalismo dos marqueteiros republicanos e principalmente a titubeante performance do candidato democrata, temos que nos preparar para o pior.
Como me disse outro dia um colega jornalista americano que apóia abertamente o Presidente Bush em tom de ironia, ameaça e premonição: Bush is going to win. But from now on, no more Mister Nice Guy ou Bush vai vencer. Mas, de agora em diante, não será mais ‘bonzinho’ ou algo parecido. Tomara que ele esteja somente brincando.
Em tempos de crise, seria bom lembrar o saudoso Marlon Brando em uma das melhores cenas de um dos melhores e mais importantes filmes de todos os tempos, o ‘Apocalypse Now’ …as últimas e ameaçadoras palavras do Coronel Kurtz, momentos antes de morrer…The Horror! Sem tradução.’
TV RECORD
‘Departamento Jurídico da TV Record confirma que emissora emitiu duplicatas falsas’, copyright Tribuna da Imprensa, 6/09/04
‘Sem saber que o bispo Edir Macedo Bezerra, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e acionista controlador da Rede Record de Rádio e Televisão S/A, já está sendo investigado pela emissão de dezenas de duplicatas falsas, entre agosto e novembro de 1998, cobrando por serviço de publicidade que não foi prestado, o Departamento Jurídico daquela empresa acabou confirmando a fraude.
Foi em resposta a um pedido de informações da Polícia de São Paulo que a diretora jurídica da Record, Simone Cosme, comprovou as suspeitas: a última divulgação televisiva através do disque 0900, ocorreu, de fato, em julho de 1998, e que não houve publicidade daqueles sorteios após aquela data, por força de decisão judicial.
Estelionato
O inquérito policial 392/2004 foi instaurado para apurar supostos crimes de estelionato e de emissão de duplicatas simuladas, que teriam sido praticados pela emissora do bispo Macedo contra a empresa Abba Produções e Participações Ltda, do empresário Waldemar Alves Faria Junior.
A TV Record, ligada à IURD, cobrou da empresa Abba cerca de R$ 15 milhões pela falsa veiculação de publicidade dos sorteios 0900, mesmo depois que a promoção foi retirada do ar, em 16 de julho de 1998. Assim, a inesperada resposta da Rádio e Televisão Record S/A acabou confirmando a ocorrência da prática criminosa, em favor da própria emissora e do patrimônio de seu acionista majoritário Edir Macedo.
Omissão
O ofício enviado pelo delegado de polícia do 36º Distrito Policial ao diretor jurídico da TV Record é sintético e não faz menção a nomes de investigados. Diz o documento assinado pelo dr. Marco Antonio Nogueira: ‘Pelo presente, a fim de instruir os autos do Inquérito Policial em epígrafe, que apura o delito Duplicata Simulada/Estelionato, solicito de Vossa Senhoria informar qual foi a última divulgação televisiva junto à TV Record, dos sorteios através do disque 0900 com a participação da empresa Abba Produções e Participações Ltda’.
Subscrita pela advogada Simone Cosme, diretora jurídica da emissora, a resposta enfatiza que ‘Rádio e Televisão Record S/A – por sua advogada infra-assinada, vem em atendimento ao ofício em referência, informar que a última divulgação televisiva dos sorteios através do disque 0900 com a participação da empresa Abba Produções e Participações Ltda., ocorreu em julho/1998’.
Polícia não consegue intimidar Edir Macedo
A Polícia de São Paulo já expediu várias intimações para que o bispo Edir Macedo preste esclarecimentos. Porém, até agora essas iniciativas resultaram infrutíferas, já que, segundo se informou, o líder da Igreja Universal vem pouco ao Brasil, permanecendo a maior parte do tempo nos Estados Unidos.
Ouvido pela polícia, o empresário Faria Junior, que, juntamente com seu irmão e sócio, chegou a doar milhões de reais para uso pessoal do bispo Macedo, esclareceu que se sujeitou a pagar as notas fiscais simuladas emitidas pela TV Record porque dependia pessoal e empresarialmente da TV Record e do Bispo Macedo.
Sem os sorteios 0900, sua empresa não sobreviveria, e ele acalentava a esperança de que a decisão judicial cassando o disque 0900 fosse reformada e a Abba pudesse voltar a operar esses rendosos sorteios, que em 1997 e 1998 levaram para os cofres da Record cerca de R$ 120 milhões.
Fraude na publicidade foi de R$ 15 milhões
A denúncia contra a TV Record e seu controlador e beneficiário Edir Macedo relaciona-se justamente à emissão de duplicatas simuladas, em período que foi de agosto a novembro de 1998, no valor de R$ 15 milhões, por conta de veiculação de publicidade de sorteios que não mais existiam.
Portanto, a informação trazida ao inquérito pela própria diretora jurídica da emissora soou como reconhecimento de que as falsas duplicatas emitidas e recebidas visavam lesar a empresa de telemarketing Abba, pertencente a um ex-obreiro e dizimista da Igreja Universal e que dependia da TV Record para sobreviver, vez que sua empresa foi criada em fevereiro de 1997 para, com exclusividade, implementar aqueles sorteios na emissora do bispo Macedo.
Divisão
‘Por contrato, 70% da arrecadação líquida do disque 0900 ficavam com a TV do bispo Macedo’, acrescentou Faria Junior que chegou a ser um dos maiores contribuidores (dizimistas) da Igreja Universal. Mas a maior parte da comissão da empresa Abba, de 30%, acabou sendo tomada pela emissora do bispo, em conseqüência da quitação dessas milionárias duplicatas simuladas e indevidas.
Com a confirmação da proibição definitiva do ‘disque 0900’, o empresário então informou à polícia que sua empresa e ele ‘foram descartados pelo bispo e pela Record, sem nenhuma compensação pelo pagamento de duplicatas simuladas que fomos constrangidos a pagar para podermos sobreviver. Fomos enganados’. Nos autos do inquérito 392/2004 estão anexadas as duplicatas falsas que foram cobradas pela emissora do bispo Macedo.’
TV NACIONAL
‘TV Nacional estréia amanhã nova programação’, copyright Radiobrás (www.radiobras.gov.br), 5/09/04
‘A TV Nacional começa, a partir desta segunda-feira (6/9), nova programação incluindo na grade programas de todo o Brasil. Minas Gerais, Pará, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás e Ceará são alguns dos estados que prepararam programas educativos e culturais, infantis, de auditório, entrevistas e documentários.
No jornalismo, mudanças no cenário e no formato dos noticiários. O Jornal Local, que vai ao ar às 12h30, em Brasília, passa a ser transmitido ao vivo. Em sua estréia, o entrevistado será o Secretário de Infra-estrutura e Obras do Governo do Distrito Federal (GDF), Tadeu Filipelli.
Outro destaque é Pandorga – programa infantil que vai ao ar de segunda a sábado, às 13h30. Nele, reportagens sobre assuntos de interesse da criança, musicais e brincadeiras. Produzido pela TVE do Rio Grande do Sul, busca estimular a criatividade e a consciência crítica.
Pessoas desconhecidas também terão espaço na programação. Trata-se do ‘Anônimos e Sobreviventes’, documentários que apresentarão a vida de artistas da cidade de Ribeirão Preto, na Grande São Paulo. Vai ao ar às 18h45, de segunda a sexta-feira. A produção é da TV da Universidade Estadual de Ribeirão Preto.
Brasileirança (TVE Bahia), Ceará Caboclo (Fundação de Teleducação do Ceará), são outros destaques. Afiliada à Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), a TV Nacional é a representante da rede pública em Brasília e busca permitir o acesso da comunidade à emissora e estimular o interesse do telespectador, por meio de programas com contexto, diversidade de opiniões e análise.’
BAIXARIA NA TV
‘Ministério Público quer policialescos após as 22 horas’, copyright O Estado de São Paulo, 6/09/04
‘O Ministério Público de São Paulo quer colocar os programas policialescos da TV na faixa das 22 horas. Essa é uma das exigências de uma ação civil pública proposta na semana passada pelo promotor João Lopes Guimarães Júnior, da Justiça do Consumidor.
O promotor conta que há muito tempo estava de olho nos abusos cometidos por atrações como Cidade Alerta, da Record, mas resolveu entrar com a ação somente após receber uma representação de uma cidadã comum. Na carta, a mulher denunciava o Brasil Urgente, da Band, por causa de uma reportagem sobre estupro exibida em 2003.
Antes de entrar com a ação, o promotor também recebeu pareceres sobre essas atrações do Conselho Federal de Psicologia e da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, comandada pelo deputado Orlando Fantazzini, criador da campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania.
‘Fica claro que esses programas causam prejuízos psicológicos aos telespectadores por causa do conteúdo violento. Eles não respeitam o fato de a emissora ser uma concessão pública, e, por isso, ter de atender ao interesse público com qualidade’, fala o promotor. ‘Esses programas não são jornalísticos, como dizem. A maneira como sensacionalizam a informação deixa claro que são entretenimento, e, como entretenimento, devem ser classificados para um horário próprio.’
Para completar a ação, o promotor fez questão de citar algumas das regras de ética no jornalismo da rede inglesa BBC, que, segundo ele, são completamente desrespeitadas pelas emissoras brasileiras (leia ao lado). Além de passar a exibição desses programas para a faixa das 22 horas, a ação também quer obrigar as emissoras a veicular no ar advertência aos telespectadores sobre o conteúdo violento desses programas. A violação dessas condenações propostas pelo promotor dá margem a cobrança de multa no valor de R$ 200 mil às redes infratoras.
As TVs envolvidas na ação – que não foi julgada – ainda não foram notificadas pela Justiça.’
NET & EMBRATEL
‘Embratel e Net já trabalham em projeto conjunto’, copyright Teletime News, 3/09/04
‘As sinergias operacionais entre a Net Serviços e a Telmex no Brasil devem começar a ser vistas bem antes do que se imagina, talvez antes mesmo da formalização da entrada dos mexicanos na sociedade da operadora de cabo. Está andando rapidamente, segundo fontes próximas às empresas, o primeiro projeto de telefonia envolvendo Telmex, Net e a operadora de telefonia Embratel (controlada pelos mexicanos). Serão serviços de telefonia residencial e corporativa oferecidos pela infra-estrutura da Net. Serviços esses que poderão ser vistos, provavelmente, já este semestre em algumas cidades. O modelo comercial ainda é algo que está sendo desenhado.
Tecnologicamente, a surpresa deve ficar por conta da opção pelo padrão Packet Cable, do CableLabs, tecnologia que vem sendo enfatizada e defendida pela Net em diversas discussões públicas. Foi assim, por exemplo, nas manifestações da empresa durante a ABTA 2004, principal evento do setor de TV paga, realizado em agosto, e onde a empresa inclusive demonstrava o serviço, ainda que sem dar muito destaque. A razão da opção pelo Packet Cable é a confiabilidade e a possibilidade de assegurar qualidade de serviço, algo mais problemático para as simples tecnologias de VoIP baseadas em SIP.
Vale lembrar ainda que a Embratel contratou uma rede NGN (de nova geração) da Huawei no início do ano, e não será surpresa se essa infra-estrutura for integrada à infra-estrutura da operadora de cabo.
Na semana passada, a Net Serviços deu a entender ao mercado financeiro que só ofereceria serviços de voz no final de 2005. Na verdade, fontes da empresa explicam que o discurso que a operadora tem repetido é que o planejamento é para ter serviços de voz até a metade de 2005. As mesmas fontes não confirmam nem desmentem a existência de um projeto mais imediato com Embratel e Telmex.
Destaque-se, também, que a Net Serviços deve ter, em breve, a Telmex como uma de suas sócias, mas isso ainda depende da conclusão do processo de reestruturação das dívidas da operadora de cabo, o que acontece até o final do ano, e de aprovação regulatória. A Telmex anunciou que tem a intenção de investir entre US$ 250 milhões e US$ 370 milhões na aquisição da Net e, se possível, deseja ter o controle da empresa, o que depende de uma mudança na Lei do Cabo.’