Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Antonio Brasil

‘Cristiana Mesquita, mais uma vez, é a única jornalista brasileira a testemunhar os horrores de mais uma Guerra. Ela está em Faluja, cobrindo a notícia mais importante no mundo para as agências internacionais. Não lhe faltam experiência e competência para cobrir as pautas mais difíceis e perigosas do jornalismo internacional. Esteve na Bósnia, Haiti, Kosovo, Afeganistão e está no Iraque pela quarta vez.

Como já declarou várias vezes, gostaria de estar trabalhando para as empresas jornalísticas brasileiras. Mas, pelo jeito, não há um interesse sério no Brasil pelas notícias internacionais de verdade. Correspondente internacional de TV costuma depender do material das agências para produzir suas matérias e evita os perigos de guerras em lugares imprevisíveis como o Iraque.

Esta semana, Cristiana nos concedeu uma entrevista exclusiva diretamente da frente de combate em Faluja, no Iraque. Com o seu jeito humilde e meio ‘desligado’, Cristiana foge a regra do jornalismo de TV, principalmente do telejornalismo brasileiro. Ela faz muito e divulga pouco. Mas confessa que gostaria de poder falar mais regularmente para o nosso público. Diz que não há interesse. Jornalismo internacional de TV no Brasil ainda é feito no balcão de hotel no Kuwait ou em estacionamento de escritório em Londres ou Nova Iorque.

Mas, um dia, a imprensa brasileira vai certamente reconhecer o trabalho histórico dessa jornalista ‘sem diploma’, mas com muita garra e sempre em busca de notícia de verdade!

3, 2, 1… Corte para a entrevista com Cristiana via telefone internacional diretamente do Iraque.

Antonio Brasil – Cristiana, o que você está fazendo aí em Faluja e como está a situação?

Cristiana Mesquita – Estou ‘embedded’ (incorporada ou embutida?) com a MEF – Marine Expeditionary Force ou Força expedicionária dos fuzileiros navais americanos. Cheguei há duas semanas para acompanhar o treinamento e preparativos para a Batalha de Faluja, provavelmente a mais importante e decisiva batalha desde a invasão do Iraque no ano passado. Estou baseada com outros jornalistas em Camp Falujah, que fica a mais ou menos 8 quilômetros oeste da cidade.

Antonio Brasil – Em que esta nova cobertura de Guerra difere das demais?

Cristiana Mesquita – Esta missão foi considerada tão perigosa pelos meios de comunicação que foi decidido organizar um pool entre as principais redes de televisão dos Estados Unidos e Inglaterra para reduzir ao máximo o número de jornalistas na área. Raramente se vê uma BBC e ITN ou Fox e NBC ou ainda as arquiinimigas Reuters e AP trabalhando juntas. Cada empresa mandou um representante numa determinada função. Somos agora uma grande família. Eu sou uma das coordenadoras do pool de televisões e agências internacionais.

Antonio Brasil – E as condições de vida para uma jornalista brasileira?

Cristiana Mesquita – Camp Falujah não é tão mal. A comida é decente e, maravilha das maravilhas, temos água quente para o banho. Daqui saem todas as tropas e artilharia que estão nesse momento atacando Faluja. Jatos e helicópteros sobrevoam a área dia e noite e as explosões causadas pelos canhões da artilharia são ensurdecedoras. À noite os ataques se intensificam e devo dizer que há algo de sinistro ou bizarro em um bando de jornalistas deitados numa tenda no escuro ouvindo as explosões e pensando/rezando ‘ Outgoing. Outgoing’.

Antonio Brasil – Quais são as características mais peculiares dessa nova guerra para uma correspondente internacional tão experiente como você? E como estão se comportando os combatentes iraquianos ao enfrentar o enorme poderio militar americano?

Cristiana Mesquita – Uma das primeiras lições de um correspondente de guerra é aprender a diferenciar ‘outgoing’ de ‘incoming’. ‘Outgoing’ significa que as balas e foguetes estão sendo disparadas por nós (no caso pelos fuzileiros a nossa volta), ‘incoming’ significa que alguém está disparando contra nós. Como vê uma diferença importante. Contrário às informações que tínhamos sobre o tipo de armamento dos ‘insurgentes’, alguns morteiros ou granadas conseguiram alcançar a nossa base nos obrigando a correr para o primeiro bunker. Um fuzileiro morreu.

Antonio Brasil – Como é a sua rotina de trabalho como produtora de uma agência internacional de notícias para TV em Faluja? Como está o controle de informações por parte dos militares americanos? Li hoje no NYT que não há possibilidade de utilizar videofone e que os militares americanos estariam bloqueando todas as ligações de celulares e videofones. Você confirma essa notícia?

Cristiana Mesquita – Temos equipes incorporadas com algumas das unidades que estão na linha de frente já na cidade de Faluja. São eles que, quando possível, nos passam algumas informações sobre o que está ocorrendo. Aqui na base só temos a versão oficial dos militares e, aqui entre nós, não se pode confiar em quase nada do que dizem. Estamos sob forte censura. Horas antes da invasão todos os sinais de telefone e nossa transmissão via satélite foram bloqueadas. Alguns jornalistas no campo não puderam usar seus videofones. Um repórter que estava acompanhando o primeiro grupo de fuzileiros conseguiu usar um telefone celular e reportar que parte da cidade estava em chamas e que acima dos sons da artilharia se podia ouvir gritos de Ala UH Akbar. Esse repórter foi expulso de sua unidade e obrigado a voltar a Camp Falujah. Um oficial vem até a nossa tenda verificar o material que estamos transmitindo. A desculpa é que não podemos passar nenhum tipo de informação que possa ajudar ao ‘inimigo’ como número de tropas, local da base e etc. Até aí tudo bem mas outras coisas demonstram bem a intenção de propaganda. Por exemplo: Temos pedido entrevistas com o comandante das operações mas ele se recusa a falar sem um comandante iraquiano ao lado. Os americanos estão divulgando para o mundo a importância da participação dos iraquianos na invasão de Faluja.

Antonio Brasil – Como está se comportando o novo exército iraquiano recém-formado e treinado pelos americanos. Deve ser uma situação difícil para iraquianos sob supervisão dos americanos terem que enfrentar iraquianos em Faluja?

Cristiana Mesquita – Os americanos querem nos fazer acreditar que essa é uma operação das forças iraquianas ‘apoiadas’ pelas tropas norte-americanas. Você deveria ver os bravos soldados iraquianos. São homens que até o ano passado ganhavam a vida como mecânicos, comerciantes ou pastoreando ovelhas e que, por falta de opção, se juntaram ao novo exército iraquiano para ganhar um punhado de dólares e sustentar a família. Algumas semanas de treinamento e são mandados para combater nas ruas de Faluja. Eles são a cara iraquiana que vai legitimar o ataque. Pelo menos 100 deles já desertaram mas nos não podemos falar nisso.

Antonio Brasil – E como está a cidade rebelde Faluja? Como está a relação dos americanos com o jornalistas e o acesso às informações durante os combates?

Cristiana Mesquita – Honestamente , não sei. Acho que vai levar meses ou até anos para saber exatamente o que está passando ou passou na cidade de Faluja. Por enquanto a mídia parece satisfeita em repetir os jargões militares como ‘base terrorista’ para descrever a cidade de Faluja esquecendo que ali estão também mesquitas, hospitais, lares, mulheres e crianças. E que tal ‘bombas de precisão’? Estamos sendo vergonhosamente manipulados e adorando. Os militares americanos são muito inteligentes. Não demorou muito para eles entenderem que a maior fraqueza dos jornalistas é a vaidade (lembra do filme em que Al Pacino é o diabo? ‘Vanity is my favourite sin.’) Nos botam no meio do campo de batalha vestidos de colete anti-balas e capacetes e ficamos felizes em mostrar nossa cara na TV fantasiados de correspondentes de guerra. Informação mesmo que é bom… nada.

Antonio Brasil – E a imprensa brasileira? Você encontrou algum colega jornalista brasileiro aí em Faluja ou no Iraque.

Cristiana Mesquita – Você também estava curioso para saber se havia algum jornalista brasileiro na área. Bem Brasil, acho que não. Desde que me mudei para Buenos Aires ando um pouco afastada da imprensa nacional mas, pelo que pude ler na Internet, os principais jornais do Brasil estão só traduzindo o material das agências. Quanto à televisão não tenho a menor idéia.

Antonio Brasil – Por que você acha que a imprensa brasileira ignora essa Guerra tão importante para o mundo inteiro? Será que é uma questão de falta de grana, falta de coragem ou interesse por parte dos nossos jornalistas ou total descaso das empresas jornalísticas brasileiras com a cobertura internacional?

Cristiana Mesquita – Confesso que não sei o que dizer a esse respeito. Talvez essa história não tenha a menor importância para o Brasil. Se for esse o caso, sinto pena do Brasil. Acho um erro acreditar que isso é um problema entre os Estados Unidos e o Iraque. Essa é uma guerra que diz respeito a todos nós. O intrépido GW Bush acaba de ser reeleito, o que significa carta branca para fazer o que quiser e bem entender. Quem sabe para que lado os canhões ianques serão apontados da próxima vez? Sei que essa não é uma matéria fácil de cobrir sem o apoio e infra-estrutura de uma grande empresa mas é, indiscutivelmente, a matéria do ano. Não é? Se eu fosse um jornalista interessado em cobertura internacional estaria fazendo greve de fome na porta do meu chefe ate ser mandado para cá.

Antonio Brasil – E o futuro próximo? Quais são os seus planos no Iraque? E as suas condições de segurança pessoal?

Cristiana Mesquita – Bem, vou continuar por aqui até podermos mover o circo para a cidade da Faluja. Não se preocupe que vou tomar muito cuidado. De uma certa maneira me sinto mais segura aqui do que nas últimas duas vezes em Bagdá. Sabe que essa é minha quarta viagem ao Iraque? Passei mais tempo aqui nos últimos 19 meses do que em qualquer outro lugar. Acho que chega né? Saudações tricolores.’



ENTREVISTA / MIGUEL URBANO
Ana Maria Straube

‘Miguel Urbano fala sobre jornalismo e o poder da mídia no Brasil’, copyright Jornal Contraponto – PUC/SP, 30/9/04

‘Perto de completar 80 anos, o jornalista português Miguel Urbano Rodrigues ainda tem fôlego para brigar com o sistema. Militante comunista, exilou-se no Brasil durante a ditadura de Antonio Salazar. Trabalhou como editorialista do jornal Estado de São Paulo entre 1957 e 1974, lutando também contra a censura e arbitrariedades impostas pelo governo militar em nosso país. Atualmente, mantém um site na Internet (www.resistir.info), onde procura dar uma visão crítica sobre diversos acontecimentos mundiais.

Por que a opção pelo jornalismo ?

Eu não tinha a menor vocação para o jornalismo. Meu pai era um jornalista conhecido em Portugal, tinha sido diretor de um jornal. Eu estava numa fase da vida em que não sabia para onde ir. Tinha estudado direito mas detestava aquilo então, acabei arrumando um emprego de repórter. Hoje tenho uma péssima idéia das coisas que fazia, tinha uma incapacidade de compreender como escrevia mal. Foi muito importante vir para o Brasil, escrever para uma sociedade diferente, para um jornal como o Estado de São Paulo.

Qual é a sua visão sobre o jornalismo brasileiro ?

Eu penso que em todo lugar há o mal, o bom, o péssimo jornalismo. No Brasil os jornais de família agonizam. O Jornal do Brasil tornou-se um ‘jornalzinho’, o Estado de São Paulo, quando eu trabalhei era um grande jornal, hoje acho decadente. Não sei mais quem tem o controle, acho que nem é a família Mesquita. A Folha de São Paulo é um jornal cheio de contradições. O Brasil tem excelentes jornalistas e maus jornais. Os pequenos jornais e pequenos sites me causam boa impressão, tenho boa impressão do que conheço da imprensa do MST, o Correio da Cidadania do Plínio de Arruda Sampaio tem coisas que boas. Em nível mundial penso que há uma cumplicidade muito grande com o poder que ameaça a humanidade, o poder imperial norte americano e o controle extremamente negativo que este exerce na mídia.

A Folha de São Paulo recentemente demitiu cerca de 200 pessoas e o Estado vem demitindo as gradualmente. Este enxugamento nas redações pode significar uma queda de qualidade. Como você acha que isto influi no exercício da profissão ?

Há todo um processo de intimidação. O jornalista acaba por encarar o seu trabalho como um emprego. Como se fosse funcionário de uma administração, e o jornalista, ao meu ver, não deve encarar a sua profissão com esta perspectiva. Não há jornalismo neutro, não há objetividade jornalística. Toda pessoa tem que ser comprometida. Às vezes não há consciência. Comprometido não significa uma opção partidária. O comprometimento é com um olhar sobre o mundo e uma atitude perante o significado dos atos humanos. Nós vivemos em um mundo profundamente injusto quanto à distribuição de riquezas. A mídia aparece ao serviço das forças opressoras, forças que querem impor à humanidade um projeto cada vez mais injusto. As demissões não são um problema só da mídia. Os direitos conquistados ao longo do século pelos trabalhadores só foram possíveis porque havia o medo da revolução. Quando os trabalhadores conquistam a jornada de oito horas, o décimo terceiro salário, as férias, têm acesso aos bens de consumo, vai diminuindo o ímpeto da luta de classes. Quando o medo da revolução desaparece vem a política das demissões, vem a política que nós chamamos de globalização neoliberal. Essa política na mídia é um reflexo de uma política que se encerra numa crise global da humanidade. A humanidade atravessa a maior crise de sua história. Hoje nós estamos no limiar de uma crise assustadora, uma crise econômica, política, cultural, uma crise global de civilização. O que se passa na mídia é um reflexo de um sistema doente que pretendem continuar impondo à humanidade.

Você acredita que dê para trabalhar hoje na grande imprensa da maneira que você trabalhou há anos atrás ?

Não, é completamente diferente. O Estado em que eu trabalhei era um jornal liberal. Eu estava lembrando ainda há pouco em uma palestra que uma vez o diretor me pediu opinião sobre um editorial que tinha publicado contra o Sartre. Eu disse que estava em completo desacordo. Ele disse: ‘então escreva o que o senhor pensa’. Eu publiquei, era completamente diferente. Era completamente possível eu que era e sou um marxista, um revolucionário, escrever e defender o Vietnã, a Argélia, a independência das colônias portuguesas e ser preso e continuar no jornal. Hoje, mesmo os grandes jornais estão integrados dentro desta perversidade midiática contemporânea. Há uma evolução muito negativa da imprensa escrita.

Qual a sua opinião sobre o Conselho Federal de Jornalismo ?

Não li o projeto mas parece sempre mal a palavra em si – fiscalizar. Soa-me mal. Eu como diretor de um jornal que servia aos trabalhadores, fui julgado 190 vezes. Eu creio que é um recorde mundial. Não pedi inscrição no Guiness porque é uma empresa reacionária mas, fui julgado precisamente por defender liberdades num processo revolucionário e fui acusado, com base em uma lei iníqua, uma lei de imprensa repressiva, por abuso de liberdades. Eu sempre penso que é ruim quando, de alguma maneira, o congresso, o governo procuram criar formas de limitar os direitos dos jornalistas. Se há o jornalismo perverso, o jornalismo apodrecido, o que é verdade, deve haver também um campo livre para que os jornalistas exerçam a sua atividade. Eu vivi no Brasil no tempo da censura, do AI-5. Sou absolutamente contra fiscalizações. E acho lamentável que o presidente Lula tenha usado a expressão ‘vocês são um bando de covardes’. Acho que essa atitude emocional me parece extremamente negativa. Sou contra.

Como você vê a guinada de posição de partidos que defendiam projetos de esquerda e aderiram à globalização como no caso do PT no Brasil ?

Uma coisa é rejeitar o que nos querem impor, outra é responder o que fazer, como encontrar uma alternativa. Só é possível que ocorra uma guerra tão monstruosa como a do Iraque, como a do Afeganistão, com mutilações, torturas, atos de barbárie porque as forças que se opõe a isso não se organizam. A mobilização anti-globalização em Seattle foi um ponto de partida, houve continuação. Cada vez que se reúne o FMI, o Banco Mundial, os jovens saem à rua para recusar este projeto de futuro. Mas até onde é possível ir com estes movimentos ? Há um espontaneismo, as pessoas saem às ruas, protestam contra a guerra mas no dia seguinte voltam para suas vidas. As atividades não organizadas têm seus limites naturais. Por outro lado, quem é que vai organizar o combate das massas ? Os debates nos Fóruns Mundiais têm colocado essas questões. Os partidos tradicionais, pertencem à burguesia e estão dentro do sistema, como o próprio PT no Brasil e na América Latina. Não se pode dizer que existam partidos revolucionários com capacidade para mobilizar. A força revolucionária mais constante na América Latina é o MST. Força no sentido de potencialidade. O caso do Brasil é muito interessante. Pela primeira vez conseguiu-se reunir forças que repudiam o sistema e querem transformá-lo. Elegeu-se um presidente que tinha uma trajetória de fidelidade a certos ideais, com o projeto de transformar a sociedade e torná-la mais justa por vias institucionais. Aí eu coloco uma grande interrogação. Essas instituições foram criadas pela burguesia, para atingir seus objetivos. É possível usar estas instituições para concretizar objetivos que são incompatíveis com os da burguesia que os criou ? Eu creio que quando se cede às engrenagens do sistema fica muito difícil. Só com a intervenção maciça das massas, só quando o povo se tornar sujeito da história é que será possível inverter o rumo do processo de integração ao sistema. Sem participação do povo, não há transformação da sociedade.

Qual seria o papel da imprensa neste processo ?

A imprensa está em sua esmagadora maioria controlada pelo sistema. Uma coisa são os jornalistas e outra os interesses que esta mídia serve. O jornalista como peça desta engrenagem, tem que tomar consciência de que é uma peça e só uma pequena minoria dos jornalistas tem consciência de como funciona esta engrenagem e do papel que está desempenhando.

O que deve fazer o jornalista que quer exercer sua profissão mas não quer compactuar com isto ?

As condições variam de país para país e não pode haver uma generalização. Eu não concordo com a frase de que a verdade é sempre revolucionária. Às vezes não podemos dizer tudo que pensamos mas nunca devemos fazer ou dizer o que não pensamos. Penso que um jornalista que diz ou escreve aquilo que não pensa e que segue por este caminho, deixa de merecer respeito. O jornalista não pode mentir, mesmo que isto signifique a perda do posto de trabalho. Mas a maioria dos jornalistas está inserida no sistema.

Você considera importante a formação acadêmica em jornalismo ?

É importante que o jornalista esteja preparado para exercer a profissão. As escolas de jornalismo são úteis na medida em que haja a consciência de que o jornalista deve ter uma formação cultural muito especial, voltada para as humanidades. A história, a geografia e as ciências sociais são fundamentais. Infelizmente a preparação do jornalista, em nível mundial, nestes conhecimentos básicos é muito deficiente. Além da formação, é muito importante que haja talento, paixão e capacidade de entrega. Também deve haver o entendimento de que o jornalismo tem que ser sempre comprometido com uma visão da sociedade e da motivação dos atos humanos, isto muitas vezes não se aprende nas escolas.

*colaboraram Arturo Hartmann e Raul Andreucci



ITÁLIA
Folha de S. Paulo

‘Procuradora pede 8 anos de prisão para Berlusconi por suborno a juízes’, copyright Folha de S. Paulo, 13/11/04

‘Uma procuradora italiana pediu a uma corte de Milão que determine uma pena de oito anos de prisão para o premiê Silvio Berlusconi por suposto pagamento de suborno a juízes romanos.

Os pagamentos teriam ocorrido para impedir que a cadeia estatal de alimentação SME fosse vendida para uma empresa rival de Berlusconi nos anos 80, antes que ele começasse sua carreira política.

O veredicto deve sair no início de 2005. Se considerado culpado, o premiê pode permanecer no cargo durante a fase de apelação.

Desde que começou carreira política, em 1994, Berlusconi tem sido investigado em uma série de processos relacionados às suas atividades empresariais.

Iniciado em 2000, o caso SME foi reaberto em abril deste ano depois que o Tribunal Constitucional da Itália anulou uma lei que dava imunidade ao premiê.

Referindo-se a Berlusconi como ‘o empresário que tinha juízes em sua folha de pagamento’, a procuradora Ilda Boccassini pediu aos três juízes que presidem o caso que o premiê, além de ser condenado a oito anos de prisão, seja impedido de exercer cargo público pelo resto de sua vida.

Berlusconi negou as acusações e disse ser vítima de uma campanha política movida por magistrados de esquerda.

Segundo seus advogados de defesa, o pedido de sentença não tem base, já que a procuradora não conseguiu rastrear o dinheiro supostamente transferido das contas da empresa Fininvest, de Berlusconi, às dos juízes envolvidos no caso.’



O Globo

‘Procuradora pede prisão de Silvio Berlusconi’, copyright O Globo, 13/11/04

‘Uma procuradora pediu ontem que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, seja condenado a oito anos de prisão por corrupção. Além da pena de detenção, Ilda Boccassini também quer que o político seja impedido de ocupar cargos públicos pelo resto de sua vida.

Berlusconi é acusado de ter comprado juízes para que um concorrente de suas empresas fosse impedido de comprar uma cadeia de produtos alimentícios na década de 1980. A defesa fará suas alegações em dezembro e o veredicto deve ser dado neste mesmo mês ou em janeiro.

Em novembro de 2003, o aliado político do premier, Cesare Previti, foi condenado a cinco anos de prisão pelo mesmo caso. Berlusconi não foi condenado devido a uma polêmica lei aprovada por partidos aliados em que o ocupante do cargo de primeiro-ministro ganhava imunidade. A Corte Constitucional, no entanto, considerou a lei inconstitucional e Berlusconi voltou ao banco dos réus.

O diretor e âncora do principal jornal da rede de Berlusconi, Enrico Mentana, foi afastado na quinta-feira e anunciou a decisão do premier no ar no horário nobre. Mentana era considerado um jornalista independente que não aceitava determinações de Berlusconi.’



MUDANÇAS NO NYT
O Globo

‘‘NYT’: menos anonimato, mais credibilidade’, copyright O Globo, 13/11/04

‘Depois que sua credibilidade foi abalada pelos escândalos Jason Blair — repórter que admitiu fraude e plágio — e armas no Iraque, o ‘New York Times’ decidiu criar um comitê para estudar maneiras de aumentar a precisão e a confiabilidade do jornal, segundo a revista eletrônica ‘Slate’.

Segundo o site, o editor-executivo assistente do ‘Times’, Allan Siegal, enviou um memorando aos repórteres e editores do jornal na quarta-feira, com o título ‘Reexaminando nossa credibilidade’, anunciando a criação do comitê.

O memorando, reproduzido pela ‘Slate’, pergunta como reduzir o número de fontes anônimas citadas e deixar de lado histórias ‘que não podem ser atribuídas a pessoas com nomes’.

Outros pontos são verificar possíveis plágios na internet e uma checagem posterior à entrevista com a fonte para saber se ‘as palavras e nuances foram apreendidas de maneira correta’. No memorando, Siegal pede à equipe que mande sugestões.’