Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Antonio Brasil

‘Adoro jornalismo e TV. Aqui nos EUA, se não fosse pela HBO, BBC e o Daily Show, já teria jogado a TV pela janela. Mas, por obrigação profissional ou por vício – ainda não estou certo – assisto regularmente aos principais telejornais americanos. Não é tarefa fácil. Todos se parecem muito e estão cada vez mais ‘americanos’. Difícil saber qual é o ‘menos ruim’. É inacreditável! Todos começam a mesma hora, tem o mesmo formato e até os breaks comerciais coincidem. O controle remoto é inútil. O telespectador pode escolher entre seis ou meia dúzia.


Os canais de notícias como a CNN e Fox são ainda piores. Custam caro e não dizem nada de novo durante 24 horas. No passado, viviam em função das guerras e dos desastres. Hoje, perdem audiência qualificada para a Internet. E o maior problema dos telejornais em geral é a estratégia de ‘saturação’ de notícias. O telespectador não tem opções na TV. As notícias do furacão – qualquer notícia – derruba todas as pautas. Cobrir um único assunto ad nauseum é provavelmente mais seguro e econômico. Lavagem cerebral. O pobre do telespectador assiste muito do mesmo. O mundo se resume ao noticiário nacional, que é o furacão. O problema é que ainda acredito que jornalismo, mesmo na TV, tem prioridades acima da audiência. Informa e educa. Também acredito na necessidade de um ‘espaço reservado’ para a cobertura internacional na TV. Não podemos ignorar o mundo. É muito perigoso! Mas como competir com ‘o maior furacão de todos os tempos’ todas as semanas?


Furacão patriótico


Semana passada, o Katrina, monopolizou a pauta dos telejornais americanos. Não agüentava mais. O resto do mundo e a guerra no Iraque ‘sumiram’ da TV. Muito conveniente. Por alguns dias, o presidente Bush se sentiu aliviado. O problema foi a avalanche de críticas às operações de socorro.


Na TV, até mesmo os bichinhos de estimação mereceram matérias lacrimogêneas. Mostrava-se tudo, menos os corpos das vítimas. A cobertura era um reflexo dos novos tempos. Engajada ou embutida. Pode-se criticar o governo. Mas, assim como no Iraque, o jornalista não pode mais mostrar imagens chocantes. Americanos mortos em Nova Orleans ou em Bagdá passaram a ser questão de segurança nacional ou ‘patriotismo’.


Segundo alguns blogs (ver aqui) a cobertura da mídia foi ‘patética’. Assim como no Iraque, os jornalistas e, principalmente, os fotógrafos estão sendo ‘pressionados’ a não mostrar a verdadeira ‘cara’ do desastre. E todos parecem concordar com essa nova estratégia. Morto derruba governo. Mas também derruba a audiência. As imagens chocantes dos jovens soldados americanos diariamente na TV americana são lembranças do passado. Nunca mais! Vivemos tempos de cobertura consensual entre editores e governo. A cobertura jornalística agora é essencialmente ‘pasteurizada’.


Enquanto tantas pessoas e muitos soldados americanos morrem todos os dias no Iraque, os telejornais americanos decidiram se concentrar nos desastres naturais. Hoje, o furacão Katrina mudou de nome. Agora se chama Rita. Haja paciência com um jornalismo de TV em crise de objetivos e de imaginação. Na dúvida, todos cobrem as mesmas histórias do mesmo jeito e não arriscam nada.


Enquanto isso, no Iraque…


No Brasil, cobertura de furacão na TV tem algumas diferenças. Tem nome masculino, mas também muda. Começa se chamando Roberto Jefferson e depois passa a se chamar Marcos Valério, José Genuíno, José Dirceu, e agora, acho que se chama Severino. Mas é a mesma fórmula. O mesmo jornalismo de saturação e falta de imaginação. Para muitos editores, reféns de audiência, a beira de um ataque de nervos e de um desemprego anunciado, a cobertura internacional se tornou ‘dispensável’.


E não faltam notícias do Iraque todos os dias. Há alguns, mais de mil iraquianos morreram em uma mera ‘ameaça’ de bomba na ponte em Bagdá. Essa notícia, no auge do furacão Katrina, rendeu matérias rápidas sem repórter nos telejornais americanos. E olha que, segundo os dados oficiais, morreram mais iraquianos naquela ponte do que em todo o ‘Katrina’.


Na mesma semana, também morreram soldados americanos em diversos combates. O Iraque está se ‘desintegrando’. Ainda não é uma guerra civil. Mera questão de tempo. Enquanto a imprensa se concentra nos furacões, estamos a cada dia mais próximos daqueles números mágicos que agradam tanto aos editores. Já morreram no Iraque 1902 soldados americanos. O maior número de mortes depois da Guerra do Vietnã (1965-75).


Em poucos dias, quando chegar a 2000, a imprensa vai acordar e certamente fazer uma festa! Em setembro de 2004, os meios de comunicação americanos deram um grande destaque à superação da barreira dos mil soldados americanos mortos depois da invasão do Iraque, em março de 2003.


Mais uma vez, a mídia vai mostrar as fotos dos soldados mortos, recitar os nomes e prestar homenagens. Infelizmente, não é possível fazer a mesma coisa com os iraquianos. Não há números mágicos ou sequer estatísticas para contabilizar os mortos. ‘Mas por que deveria me importar com os americanos ou iraquianos? Afinal, sou brasileiro. Tenho meus próprios problemas’.


Por que cobrir o Iraque?


Pode ser. Mas quem garante que um dia você também não vai enfrentar os mesmos ‘problemas’ no Brasil? Em um mundo cada vez menor, o noticiário internacional consegue sempre uma maneira de nos atingir. Distância não é mais um problema. Em tempos de globalização, noticiários locais, nacionais e internacionais se confundem. Um dia, quando menos esperamos, somos surpreendidos. A guerra no Iraque gera inflação, causa mais desemprego, aumenta o preço da nossa gasolina ou explode prédios. Você escolhe! Ignorar o mundo não nos faz mais seguros. Somos reféns de nossos limites. Mas também somo cúmplices das nossas escolhas. A cobertura internacional nos ajuda a distinguir as ‘ameaças explosivas’ das ‘alternativas criativas’ para os nossos velhos problemas.


Enquanto os furacões dominam os telejornais americanos e brasileiros e rendem muita audiência, o noticiário internacional enfrenta um impasse. Cobrir a guerra no Iraque é muito perigoso para os jornalistas e caro para as empresas. A organização Repórteres sem fronteira (ver aqui) divulgou que ‘Novos assassinatos elevam para 71 os jornalistas mortos no Iraque’. Só esta semana, mais três colegas foram assassinados (ver aqui). ‘Os jornalistas continuam sendo alvos privilegiados no Iraque’, denunciou a entidade de defesa da liberdade de imprensa.


E os correspondentes brasileiros?


Os telejornais americanos e brasileiros insistem em concentrar o noticiário em uma única história. Praticamente ignoram o banho de sangue no Iraque nos últimos dias. Mas por que deveríamos nos importar com o Iraque? Afinal, a guerra acontece tão longe. Não temos nada a ver com isso. O problema é que vivemos no mesmo planeta. O destino de toda a humanidade pode estar sendo decidido em lugares distantes como o Iraque. A história recente nos ensina os perigos de ignorar as notícias internacionais. Ignorar o mundo não só é burrice, como é muito perigoso!


Mas não faltam desculpas. Cobrir a guerra no Iraque é muito caro. Não temos dinheiro. Mas se a Ana Paula Padrão ou alguns dos nossos âncoras estelares aceitassem reduzir um pouquinho seus salários milionários, talvez sobrasse algum dinheiro para as coberturas nacionais e internacionais. Mas enviar o âncora ou jornalista famoso para fazer meras ‘passagens’ além-mar é jogar dinheiro fora. Jornalismo de verdade com credibilidade, principalmente em cobertura internacional, requer permanência e persistência. É um trabalho árduo e constante de educação tanto para o profissional como para o público. É investimento a longo prazo. Mas também pode ser uma boa alternativa para salvar o jornalismo de TV. Não deveríamos copiar sempre o pior dos telejornais da Globo e dos telejornais americanos.


Hoje, temos correspondentes em lugares distantes e estranhos como Tel-aviv, Beirute, Pequim e Buenos Aires. Fantástico! Mas quem trabalha para a Globo ou para os demais veículos de comunicação brasileiros no Iraque? Por que não temos um correspondente brasileiro, um freelancer, por exemplo, enviando notícias para o Brasil diretamente do Iraque? Ou, se ninguém que ir e se arriscar, por que não ‘terceirizarmos’ essa cobertura. Será que em todo o Iraque, não ha ninguém que possa enviar matérias para o Brasil? Temos que depender totalmente das agências de notícias?


Apesar dos riscos, certamente, lugares como o Iraque rendem grandes matérias. Questão de vontade, determinação e sorte. Hoje, cobrir favelas no Rio ou São Paulo também é muito perigoso. A cobertura internacional pode ser cara e arriscada. Mas ainda é fundamental. Ignorar o mundo pode ser ainda mais caro e perigoso. Um dia você acorda e o Brasil… também sumiu!’




JORNALISMO DA GLOBO
Daniel Castro


‘Globo reforça chefia de jornalismo em SP’, copyright Folha de S. Paulo, 24/9/05


‘O jornalismo da Globo em São Paulo terá nova estrutura a partir de segunda-feira. Luiz Cláudio Latge continua como diretor regional de jornalismo, mas terá uma diretora-adjunta, Cristina Piasentini, para dividir tarefas, além de dois chefes de redação.


Até ontem, o jornalismo da Globo em São Paulo, principal cidade do país e maior concentração de repórteres especiais da emissora, era todo centralizado no diretor regional e em apenas um chefe de redação. O diretor paulista, que responde tanto pelos jornais locais como pela produção no Estado para telejornais de rede (como o ‘Jornal Nacional’), estava ‘sobrecarregado’, avalia-se.


‘Estamos reforçando a estrutura de comando em São Paulo. No Rio, a direção do jornalismo já está presente’, diz Carlos Henrique Schroder, diretor da Central Globo de Jornalismo, que atua no Rio e anunciou as mudanças ontem.


A ‘reformulação’ põe fim a uma série de especulações de que Luiz Cláudio Latge iria deixar a direção regional. Jornalistas da Globo reclamam que têm tido dificuldade de acesso e negociação com Latge e acreditam que ele se desgastou com a saída de Ana Paula Padrão para o SBT (não conseguiu evitar que vários profissionais acompanhassem a apresentadora do ‘SBT Brasil’).


São Paulo terá agora um chefe de redação para os jornais locais (Denise Cunha) e outro para os de rede (Mariano Boni).


OUTRO CANAL


Aquisição 1 A Rede TV! está comprando os direitos de exibição do ‘reality show’ ‘Dr. 90210’, já apresentado pelo canal pago E! Entertaiment, do qual o cirurgião plástico Robert Rey, nascido no Brasil, é uma das estrelas. O programa mostra cirurgias plásticas feitas por especialistas que atendem as estrelas de Hollywood.


Aquisição 2 A Rede TV! pretende exibir ‘Dr. 90210’ das 22h às 22h30. Assim, o ‘Superpop’ entraria no ar meia hora mais tarde e se livraria do ‘massacre’ no Ibope promovido por ‘América’.


Desencanou A direção da Record já desistiu de bancar o ‘reality show’ ‘The Bar’, algo como um ‘Big Brother’ rodado dentro de um bar. A justificativa é que a emissora irá centrar suas forças, no início do ano que vem, em ‘Cidadão Brasileiro’, texto de Lauro César Muniz que irá inaugurar seu segundo horário de telenovelas.


Mina 1 O SBT descobriu no acervo da falida ‘Manchete’ uma mina de ouro. Com o sucesso de ‘Xica da Silva’, negocia a compra de outras novelas da emissora, entre elas ‘Mandacaru’ (1997/98).


Mina 2 Se pudesse, o SBT compraria outros títulos da Manchete, como ‘Pantanal’ (1990), mas só pode negociar as tramas que não fazem parte da massa falida da Manchete. Essas são as novelas produzidas a partir de meados dos anos 90, pela empresa Bloch Som e Imagem. ‘Mandacaru’ deve substituir ‘Xica da Silva’.’




Carol Knoploch


‘Ana Maria Braga tira bonitão do ‘SP-TV’’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/9/05


‘Fabrício Battaglini largou o terno e a gravata e aderiu às roupas esportivas. A partir de segunda-feira troca as reportagens do SP-TV e a previsão do tempo (também para o Jornal Hoje e Jornal Nacional) por matérias de comportamento no Mais Você, ao lado de Louro José e Ana Maria Braga. Se a beleza do moço contribuiu para o remanejamento? Ele agradece a referência e mantém-se reticente: ‘Se isso ajudar…’ Battaglini, 30 anos, que começou como rádio-escuta da Jovem Pan, conversou com o Estado na sucursal da Globo em São Paulo, já com novo figurino: camiseta e tênis.


Por que trocou o jornalismo por um programa feminino?


Estou mudando do Departamento de Jornalismo para a Central Globo de Produção, mas não vou deixar de fazer jornalismo. Minhas reportagens serão para o Mais Você.


Por que trocou?


Vou ter a oportunidade de aprender mais e mostrar o que posso fazer. O SP-TV é um jornal curto. Uma matéria forte, denúncia, por exemplo, tem uns 3,5 minutos. Normalmente, têm 1 minuto. No Mais Você posso confeccionar matérias de até 10 minutos, tempo de reportagem do Globo Repórter ou Fantástico. São mais trabalhosas, com textos mais apurados.


E mais lights.


Essa é a diferença: a suavidade do assunto. Já fiz matéria sobre as cafeterias e sobre o hábito do brasileiro de deixar tudo para a última hora. Também poderei entrar ao vivo nos links.


Do que não sentirá falta? Temas pesados, como rebelião?


Gosto de tudo na nossa profissão, mas não me identifico com esporte. Mas pratico. Jogo vôlei. Acho que não sentirei falta de reportagens que, se pudesse, não noticiaria. Quem gosta de entrevistar a mãe de alguém que foi assassinado? Às vezes ficava constrangido… Mas sentirei saudade do jornalismo diário.


O fato de você ser bonito e o Mais Você ter maior audiência feminina influenciou?


Obrigado. Se isso ajudar… Já tinha participado do programa em 2004 por causa do Catarina, que atingiu o litoral sul. Talvez aquela ocasião abriu um precedente.


O Mais Você dá ênfase à culinária? Sabe cozinhar?


Não (risos). E acho que meu batismo será esse: cozinhar algo para a equipe…’