Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Argentina abre licitação para 12 emissoras de TV


O Estado de S. Paulo, 17/2


Marina Guimarães


Contra ‘monopólio’, Cristina abre licitação para mais de 12 TVs


De olho nas eleições presidenciais de outubro, o governo da Argentina vai abrir licitação para 12 emissoras de TV em Buenos Aires e várias cidades no interior do país. O objetivo da Casa Rosada é fazer com que as novas emissoras comecem a competir com a televisão a cabo antes de a população ir às urnas, como previsto na polêmica Lei de Mídia aprovada em 2009.


Há quase três anos, o governo de Cristina Kirchner trava uma dura batalha com a principal holding multimídia do país, o Grupo Clarín, dono da maior TV a cabo local, Cablevisión, e do maior jornal.


O governo pretende mudar completamente o mapa da mídia argentina. O responsável pela aplicação da Lei de Mídia, Gabriel Mariotto, concluirá, nos próximos dias, o chamado ‘plano técnico de TV digital’, que inclui um levantamento detalhado sobre as frequências disponíveis para a realização de licitações públicas. Mariotto é titular da Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca).


Atualmente, o Executivo possui seis emissoras próprias e outras cinco aliadas. Com as novas licitações, serão mais de 25 canais de televisão na TV aberta, que darão ao governo uma poderosa arma de propaganda.


A tarifa da assinatura básica da Cablevisión é de 141,80 pesos (cerca de R$ 60,00) e a Casa Rodada está convencida de que ‘será difícil alguém querer pagar para ver TV, quando houver tantos canais gratuitos à disposição’, disse um assessor de Mariotto ao Estado.


Poder. Com a morte do ex-presidente Néstor Kirchner, em outubro, a campanha para as eleições presidenciais ficou ainda mais incerta. A oposição está fragmentada e Cristina ainda não decidiu se será candidata à reeleição. A presidente espera a evolução das pesquisas de opinião e das negociações com os caciques do Partido Justicialista (peronista) para anunciar sua decisão.


Quando os Kirchners impulsionaram a Lei de Mídia, o objetivo era apenas um: reter poder da facção justicialista que eles criaram, a Frente para a Vitória, eleita em 2003, com a liderança de Kirchner.


A Casa Rosada quer que os documentos para abrir as licitações estejam prontos entre março e abril. Uma fonte do setor disse que as conversas com os empresários aliados para que entrem no negócio de TV a cabo já se encontram em andamento.


As licitações serão realizadas para as frequências da banda Ultra High Frequency (UHF), na qual o Estado está transmitindo atualmente um pacote gratuito de TV digital, dentro do Sistema Nacional de Mídia Pública, dirigido pelo cineasta Tristan Bauer.


É nessa banda que o governo está armando a estrutura do projeto ‘Televisão para Todos’, que prevê recursos de US$ 1,8 bilhão, conforme dados do Ministério de Planejamento, que coordena o setor. O Executivo está construindo uma plataforma oficial de fibra ótica para levar os sinais aos lugares mais remotos do país. O projeto teve início durante o Mundial de Futebol da África do Sul. / AGÊNCIA ESTADO


CERCO À MÍDIA


Restrição de publicidade: Empresas jornalísticas criticam o governo por distribuir publicidade oficial preferencialmente para meios de comunicação alinhados à Casa Rosada


Lei de Mídia: Norma implica em fortes restrições à atuação de empresas de meios de


comunicação


Fisco: Em 2009, mais de 200 fiscais fizeram uma blitz no jornal ‘Clarín’ para buscar evidências de sonegação fiscal. Mas nenhuma ação legal foi tomada após a operação


 


 


Folha de S. Paulo, 13/2


Igor Gielow


Jornalista revê guerra dos EUA ao terror em obra-prima imperfeita


Elaborar uma revisão do principal conflito do século 21 vista pelos dois beligerantes, Estados Unidos e Al Qaeda, é a promessa do jornalista americano Peter Bergen na introdução de seu novo livro, ‘The Longest War’ (‘A mais longa guerra’, ainda sem tradução no Brasil).


Uma proposta e tanto, que ao final o repórter da rede de TV CNN acaba por não cumprir integralmente.


O que não deve demover o leitor interessado em entender por que ele não pode entrar com mais de 100 ml de líquidos em um avião. Aquele que busca compreensão profunda do embate Islã radical e Ocidente sairá algo frustrado, mas não terá nenhum desprazer na sua leitura.


ATAQUE AOS ‘FALCÕES’


Bergen é do ramo. Cobre o assunto desde os anos 90, e em 1997 produziu uma célebre entrevista do líder da rede terrorista, Osama bin Laden, à CNN.


Com linearidade, o jornalista disseca a incrível incompetência do time de George W. Bush ao lidar com a ameaça que explodiu no 11 de setembro de 2001 com uma mentalidade própria da Guerra Fria.


Os ‘falcões’ são demolidos em sua arrogância e depois indiciados pela criminosa manipulação dos motivos que levaram à invasão do Iraque e à lixeira moral da tortura e de Guantánamo. É preciso lembrar que Bergen tem lado: é alinhado aos democratas e brando em relação a Barack Obama, ainda que aponte que o atual presidente ampliou a estratégia de fim de mandato de Bush.


A mídia manipulada não escapa, nem a CNN (OK, numa rápida passagem).


Bergen inunda seu texto com depoimentos menores, na intenção de dar textura à narrativa. O resultado é ambíguo, assim como a linguagem do livro, que por vezes beira a frivolidade.


Mas são detalhes, assim como o fato de o texto refletir a maior experiência do autor com Afeganistão-Paquistão do que com Iraque.


OUTROS LADOS


A falha central está em não cumprir o prometido: o lado dos jihadistas, ainda que amparado por muitas histórias saborosas, não tem profundidade que garanta a isonomia pretendida.


O que não é difícil de explicar. Como o próprio Bergen conclui, o 11 de Setembro foi o ápice das operações de Bin Laden (pelo menos enquanto os fatos não provarem o contrário). Desde então, sua rede, a Al Qaeda, ainda oferece perigo, mas está sob pressão e em fuga.


Não é exatamente fácil entrevistar jihadistas, como qualquer repórter sabe no Paquistão, e não é casual que os melhores vislumbres deles saiam do relato de torturadores americanos.


Ainda assim, há momentos brilhantes, como a descrição da batalha de Tora Bora, quando Bin Laden escapou após a queda do Taleban, que lhe dava refúgio no Afeganistão. O desespero do agente da CIA que não consegue reforço terrestre para cercar os militantes é tão vivo quanto o relato do médico dos jihadistas.


Escrevendo para americanos, Bergen é menos feliz em considerações culturais, recorrendo a clichês -e naturalmente, em um tomo único, é impossível ainda aprofundar-se na origem histórica dos problemas.


Ainda assim, é educativo para aqueles que consideram a Irmandade Muçulmana apenas um ator benigno na atual crise que o Egito vive ler algo mais sobre Sayed Qutb, que é o inspirador do grupo -e de Bin Laden.


HISTÓRIA DO PRESENTE


Peter Bergen inscreve-se, assim, na linhagem do historiador britânico Timothy Garton Ash como testemunha da ‘história do presente’, refletindo sobre fatos que estão na televisão.


Como Garton Ash, Bergen corre riscos com sua assertividade analítica. Sem revelações bombásticas, o jornalista consegue montar um quadro abrangente em sua obra-prima imperfeita.


‘THE LONGEST WAR’


AUTOR


Peter Bergen


EDITORA Free Press


PÁGINAS 473


QUANTO US$ 16,80 na www.amazon.com, sem frete; US$ 11,99 na versão para Kindle AVALIAÇÃO bom