Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Arnaldo Jabor


‘Fernando Sabino cismou que, um dia, ia acordar e ver uma manchete de jornal, em letras garrafais, clamando: ‘O Inevitável Aconteceu!’ E ainda imaginava que ‘Aconteceu’ seria o nome de um homem nefasto, um ogre, um ciclope que destruiria o País todo. O Sr. Aconteceu arrasaria o Brasil. Enchentes? Aconteceu. Estupidez administrativa incomparável? Aconteceu. Incapacidade de articulação política? Aconteceu. Sinto informar que o Sr. Aconteceu está aí entre nós. Não. Não é o Lula; é uma entidade mais geral que percorre todos os homens do Poder atual. Porque vamos combinar, falando sério, a ‘coisa está ficando preta’, como proíbe a cartilha ‘Politicamente Correto’ do governo. Corruptos de direita dançando minueto com ‘burros comunistas’ estão aí, preparando a volta do ‘samba do crioulo doido’.


O FHC conseguiu subir o nível da estupidez nacional e eu achei que o Lula ia continuar mantendo esse ‘upgrading’. Mas, como diz a cartilha , o problema é que o ‘cabeça chata’ do Lula, atormentado pelas ‘ baianadas’ dos seus assessores e aliados, não está conseguindo unir seus homens porque eles, por serem ‘bugres’ sem competência, se desarticulam como ‘débeis mentais’ num hospício.


O problema deste governo é psiquiátrico. Conheço bem a cabeça dos petistas clássicos, dos trotskistas arrependidos e, como reza a Cartilha, digo: ‘Está russo!’ (com dois ss)


Fui do PCB, participei da fundação da Ação Popular, fui diretor da revista da UNE, um dos fundadores do CPC (Centro Popular de Cultura) e digo: Não existe nada mais platônico que um materialista dialético. Conheci vários que estão aí no poder, ainda bonitinhos e fogosos. Foram (fui também) formados por uma empada de retalhos ideológicos mal lidos na Guerra Fria. Fazíamos diagnósticos políticos simplistas e não sabíamos realizá-los. Tínhamos só fins e nenhum meio. Havia uma incompetência absoluta para concluir qualquer projeto. Ninguém tinha saco para administrar nada. Celebrávamos derrotas: 35, 64, 68. E, a cada derrota, mais fé, mais orgulho de um martírio vão, que levou ao suicídio da luta armada. Mas, como disse Glauber, ‘o fato de o cara ser herói, não o absolvia da burrice’. Todos tínhamos um desprezo calado pela democracia, um sólido horror à administração. Nada se resolvia, apesar dos inúteis GTs, os grupos de trabalho. Vejo com horror a continuação dessa incompetência. Parece que estou vendo os estudantes errando, discutindo ideologia. E a direita do Atraso ‘saca’ isso e cai matando.


A ilustração perfeita dessa loucura juvenil é José Dirceu. Toda a crise desse governo começou com ele, no Caso Valdomiro. Ele pula de galho em galho como um Comissário do Povo volante, figura nuclear de um vago centralismo leninista, como se ele pudesse filtrar e catalisar tudo – mas ele não resolve nada. A Casa Civil é o túmulo dos projetos dos ministérios. Lá morre a transposição do Rio São Francisco, lá está paralítico o saneamento básico, a ferrovia Transnordestina, o Fundeb. Lá se criam os GTs, os inúteis grupos de trabalho como na UNE. Igualzinho.


Por um lado, o Executivo se desmoraliza por suas derrotas sucessivas aqui e no Exterior (com quatro chanceleres). Lá fora, sua política terceiro-mundista é ridicularizada no Mercosul e na OMC e, dentro, por ignorância, não encontra alternativa para que se possam baixar os juros, deixando tudo para o Palocci segurar sozinho. O Executivo se suja em casos graves como o de Romero Jucá (que deve estar feliz por estar murchando na mídia) ou com a próxima marcha do MST a Brasília, financiado pelo Governo de Goiás e estamos tão anestesiados que vemos no jornal o Genoíno abraçadinho com o Stédile e não ficamos espantados. É coisa de ‘mongolóides’, como diz a Cartilha.


Por outro lado, o Legislativo vira a vergonha nacional, com o outro ‘cabeça chata caipira’ (Cartilha…) usando o Congresso como chave clientelista para seus sonhos de ‘bugre’, pois ‘Severino no volante, perigo constante’.


Assim, temos vexames nas duas pontas do Poder, com o Lula na corda bamba no meio, botando boné e fazendo metáforas. Até quando ele agüenta só no gogó e na publicidade? O PSDB já perdeu a compaixão diante do oportunismo eleitoral e partiu para o ataque na base do ‘quanto pior melhor’, reunindo até com Severino. O PMDB terá candidato próprio, claro, o Garotinho. Ou seja, está pintando uma conjunção astral assustadora, como um filme andando para trás, reconstruindo o panorama perverso do passado político. Reconstrói-se um neojanguismo para se contrapor a um crescente contra-ataque do Atraso. São os dois pilares nefastos de sempre: populismo dos ‘burros’ de esquerda versus ‘ladrões’ espertos de direita – esquerda e direita acabam como ‘farinha do mesmo saco’. As ‘outras palavras’ que FHC trouxe e que oxigenaram os velhos discursos políticos estão desaparecendo em ‘rewind’. E esta volta ao passado não é por acaso. A lama que andava debaixo do tapete, está voltando por uma lógica estrutural de nossa formação política , uma vocação secular que teima em renascer, feito rabo de calango. O inevitável está acontecendo debaixo de nossos olhos impotentes, a máquina da sordidez nacional já ressuscita, como um monstro de ficção científica, um ‘Alien’.


O Inevitável Aconteceu: o Lula vai ser reeleito, aposto e registro em cartório. O perigo é ele topar tudo pela reeleição, mesmo que tenha de adotar um ‘chavismo’ estropiado, um neojanguismo provocador ou comícios ‘kirschnerianos’ feitos de bravatas terceiro-mundistas. Esta hipótese nos levará para um brejo deslumbrante. Toda a gana dos populistas ou idiotas – não sei como chamá-los pela Cartilha, sei lá, ‘deficientes, malucos’ é contra o Palocci. Eles sabem que ali está a única ilha de sensatez do Governo. Se afundarem essa ilha, cai tudo.


Será que Lula venderá até o Palocci, por trinta dinheiros, para ser reeleito?’



SEVERINO NA MÍDIA


Janio de Freitas


‘Mais razões’, copyright Folha de S. Paulo, 10/05/05


‘Há muito lero-lero sobre a inatividade da Câmara e o esfacelamento do dispositivo governista por lá. Alijado o lero-lero, o que aparece na inatividade é simples: são os governistas, com maioria feita pelo PT, os praticantes da obstrução impeditiva de votações.


A obstrução é recurso normal do jogo parlamentar. Próprio da oposição, como o PT tanto o praticou no seu passado de PT, mas não criticável se adotado pelo governo que prevê sua derrota nas votações vindouras. O que não tem sentido, politicamente, nem amparo factual é atribuir a ameaça de derrota do governo a articulações de severinos e a maquiavéis de jantares.


A insatisfação com o governo se alastra e se acelera, e a Câmara não é imune a contaminações assim. As críticas ouvidas de deputados ‘da base governista’ não são muito mais brandas, quando o são, do que as feitas de público por oposicionistas. Bastaria, a propósito, notar a fácil prorrogação do mandato de Michel Temer na presidência do PMDB, uma vitória significativa dos peemedebistas de oposição sobre os governistas que se impunham à direção partidária. Seja lá pelo que for, a mídia fez ao governo a gentileza de, distraída, não dar dimensão à virada no PMDB. Mas o fato não coube na gaveta, e está aí o governo, menos distraído e mais perturbado, incentivando possíveis reações judiciais e outras.


A moda é severinar tudo. Mas Severino Cavalcanti é muito menor do que a utilização que a mídia está fazendo dele.’



IMPRENSA EM CRISE


Carlos Heitor Cony


‘A crise na mídia’, copyright Folha de S. Paulo, 11/05/05


‘É comum a lamentação de que os jovens não gostam de ler revistas e jornais a não ser aqueles diretamente ligados ao seu universo específico. Além disso, a população madura vai também, aos poucos, questionando a oportunidade ou a necessidade de se informar na leitura diária e constante de um meio tradicional que hoje encontra novos e surpreendentes recursos de comunicação.


Há causas conhecidas do afastamento dos leitores. O jornal ainda é a referência principal e a mais categorizada da informação -as outras mídias estão baseadas nela. Já foi dito que o jornalismo dos demais veículos de comunicação é pautado pela mídia impressa, a mais responsável, a que mais investe na busca de informações. Tirante a internet, que atua num universo novo, as outras mídias vão atrás dela, desenvolvendo-a, ampliando-a, ilustrando-a.


Qualquer pesquisa sobre a questão revela que os leitores se queixam, sobretudo dos jornais, pelo espaço e pelo entusiasmo que dão à política e, sobretudo, aos políticos. Páginas e páginas sobre especulações, intrigas de bastidores, revelações de fontes abstratas -um ‘mix’ de fofocas que abastece grande parte do noticiário e a maioria das colunas especializadas.


Um fato: determinado líder convida outros líderes para um jantar comemorativo das bodas de prata ou de ouro de seu casamento. Outro determinado líder deixa de comparecer porque teve de ir ao velório do sogro de uma de suas filhas. Pronto. Está armado o circo de uma grande convulsão nacional.


Durante uma semana, ou mais, a fauna dos editores, redatores, repórteres e colunistas políticos entra em ebulição, extraindo do fato possível a possibilidade de uma crise, de um tsunami no Congresso, no núcleo do poder, nas relações externas, na taxa de juros e de câmbio e, nos tempos atuais, nos rumos da próxima sucessão presidencial.’



MUDANÇAS NO NYT


Katherine Q. Seelye


‘Painel do ‘NYT’ propõe medidas para aumentar credibilidade ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times , 10/05/05


‘Para recuperar a confiança dos leitores, uma comissão interna do jornal The New York Times recomenda várias medidas, entre elas que os editores seniores escrevam com maior regularidade sobre a operação do jornal, identificando erros de maneira sistemática e respondendo de maneira mais afirmativa às críticas ao jornal. O relatório da comissão recomenda também que o jornal ‘aumente a cobertura de religião nos Estados Unidos,’ e ‘cubra o país de maneira mais completa’, com mais reportagens na área rural, cultural e de estilo de vida. O relatório de 16 páginas entrou ontem no site do do Times (www.nytco.com).


A comissão foi instituída pelo editor executivo Bill Keller para estudar como o jornal poderia aumentar a credibilidade entre os leitores. Entre as medidas, o relatório também cita limitar as fontes anônimas, reduzir erros factuais e melhorar a distinção entre notícias e opiniões. Menciona que o jornal deve tornar suas operações e decisões transparentes para os leitores usando métodos como a exibição de transcrições de entrevistas no site da empresa e ainda que deve facilitar a comunicação com seus leitores, através de e-mails.


O relatório surge num momento em que a confiança na mídia continua em queda. Um estudo recente do Pew Research Center revela que 45% dos americanos acreditam em pouco ou nada do que lêem em seus jornais diários – um nível de desconfiança que pode estar inflado porque as perguntas foram feitas durante a contenciosa campanha presidencial, quando a própria mídia esteve freqüentemente em questão. Quando nomes de jornais foram mencionados, o New York Times teve 21% de leitores acreditando em tudo ou na maioria do que liam nele e 14% não acreditando em quase nada.


O relatório é resultado de uma reavaliação iniciada em novembro, mas cuja origem remonta a um dos episódios mais danosos da história do New York Times, quando se descobriu que um repórter do jornal, Jayson Blair, havia cometido fraude jornalística, como plágios, entre outubro de 2002 e abril de 2003.’



Pedro Dias Leite


‘Comitê propõe reformar ‘Times’ por credibilidade’, copyright Folha de S. Paulo, 10/05/05


‘Ainda sob efeito do escândalo Jason Blair, o repórter que inventava histórias, um comitê interno do ‘New York Times’ elaborou um relatório de 16 páginas para tentar aumentar a credibilidade do jornal para seus leitores.


Intitulado ‘Preservando a confiança dos nossos leitores’, o documento afirma que o jornal tem de reduzir ao mínimo o número de citações ‘off the records’, em que a fonte da informação não é identificada, e aumentar o contato entre os leitores e repórteres. O texto do relatório está disponível na internet (www.nytco.com).


O uso de fontes ‘em off’ é bastante comum em reportagens sobre política ou segurança, em que a pessoa que passou a informação teme represálias.


A comissão afirmou que repórteres e editores devem fazer pressão para que o entrevistado dê as declarações abertamente. Quando isso não for possível, a obrigação do jornal é fornecer o maior número de dados possível sobre a origem da informação: qual o interesse de quem a passou, como a teria obtido e a que área está relacionado o informante.


Sobre maior abertura do jornal a contestações de fora, uma das recomendações da comissão é a de que os textos colocados no site do jornal tenham o e-mail dos repórteres e editores responsáveis pelas matérias, mas com uma espécie de filtro para evitar spams e mensagens agressivas.


Além disso, o jornal deve criar uma coluna, provavelmente quinzenal, em que o editor-executivo, um dos cargos mais altos da hierarquia da empresa, discutirá os problemas do jornal.


Entre os jornais mais influentes e tradicionais do mundo, o ‘Times’ teve a credibilidade abalada com o escândalo Blair. Em 2003, descobriu-se que ele inventava reportagens, descrevia minuciosamente locais aonde jamais estivera e copiava entrevistas de outros veículos sem citar a fonte.


O caso teve ampla repercussão e desencadeou uma onda de demissões no ‘Times’ -que atingiu até o então editor-executivo, Howell Raines- e processos semelhantes de revisão de critérios e troca de profissionais em vários outros periódicos americanos.


Formada por 19 integrantes, entre jornalistas do ‘Times’ e consultores externos, a comissão estabeleceu diretrizes para tentar combater erros no jornal.


À semelhança da seção ‘Erramos’, da Folha, O ‘Times’ mantém um espaço fixo que, em 2004, publicou cerca de 3.200 correções de reportagens. Para a comissão, todos no jornal devem ser responsáveis por erros (repórteres, redatores e editores). Um sistema mais rígido de checagem, em que o repórter confirme com a fonte a informação antes e após a publicação, também foi recomendado.’



Helena Celestino


‘Comissão propõe mudanças para dar ao ‘New York Times’ mais credibilidade’, copyright O Globo, 10/05/05


‘O ‘New York Times’ deve sair do seu pedestal. Em resumo foi esta a conclusão do comitê formado por 11 editores, seis repórteres, um redator e um fotógrafo, que recomendou medidas a serem tomadas pelo jornal com o objetivo de aumentar sua credibilidade. Entre outras sugestões, o grupo defende que as críticas ao ‘New York Times’ devem ser respondidas mais diretamente, que editores e repórteres devem ser mais acessíveis aos leitores e que editores executivos sejam estimulados a ter uma coluna regular sobre assuntos do jornal.


‘Tem gente que adora odiar o New York Times. Acreditamos fortemente que não é mais suficiente dizer que nosso trabalho responde por nós. No ambiente da mídia atual, não dar respostas é danoso à nossa credibilidade’, diz o relatório de 16 páginas, entregue ao editor-executivo, Bill Keller.


Numa aparente resposta às críticas do governo Bush de que o jornal é esquerdista e voltado só para a elite das grandes cidades, o comitê recomenda uma cobertura maior da religião nos EUA, sugerindo que se dê mais atenção ao país como um todo, com mais reportagens sobre as áreas rurais e sobre estilos de vida. Propõe também que se crie um programa para evitar plágio de textos, reforça a recomendação de que os repórteres evitem recorrer a fontes anônimas de informação e façam clara distinção entre informação e opinião.


As principais conclusões do comitê foram publicadas na edição de ontem do jornal e o relatório ‘Preservando a confiança de nossos leitores’ estará disponível no website www.nytco.com. Não por coincidência, o ‘New York Times’ abre espaço na sua edição para mostrar que está repensando a relação com os leitores às vésperas de completar dois anos a embaraçosa descoberta de que um dos seus repórteres – o já famoso Jason Blair – durante três anos impunemente inventou notícias, plagiou histórias e fabricou personagens. O episódio é reconhecido como o mais danoso na história do jornal. Ano passado o ‘New York Times’ voltou a pedir desculpas por não ter assumido postura mais crítica diante de afirmações do governo de que o Iraque tinha armas de destruição em massa, nunca achadas.


Mas o próprio Keller duvida que as medidas no jornal sejam suficientes para tirar a imprensa da crise de credibilidade em que vive nos EUA. Pesquisa do Pew Research Center, citada pelo ‘New York Times’, mostrou que 45% dos americanos acreditam em pouco ou nada do que lêem nos jornais diários, o que é considerado consequência da polarizada campanha presidencial.


A confiança de que desfruta o ‘New York Times’ é um pouco maior do que a média: 21% dos leitores acreditam em tudo ou quase tudo o que publica. Para o editor-executivo, é crucial a redução das informações de fontes anônimas e isso vem sendo uma bandeira do jornal, que foi signatário de uma carta enviada pelas redações em Washington à Casa Branca, protestando contra as entrevistas dadas por funcionários do governo Bush sob garantia de anonimato.’