Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Arnaldo Jabor


‘A cada dia que passa, a depressão aumenta. A resistência do PT/governo diante das evidências dos crimes cometidos está desmoralizando a imprensa, pois nosso esforço de buscar a verdade na maior crise da história republicana está batendo numa barreira de mentiras e caindo no vazio. Não tenho procuração para falar por ninguém, mas sinto um desânimo conformado, um ceticismo amargo nas colunas de colegas jornalistas. Depois do vendaval de verdades que Jefferson jogou no ventilador, quando o povo viu por breves momentos a nudez da ópera-bufa, como que olhando pela porta de um bordel, as cortinas foram se fechando com habilidade e, aos poucos, os velhos lugares-comuns voltaram: ‘Tudo acaba em pizza, sempre foi assim, eu já sabia e o País não tem jeito.’ Trata-se da progressiva vitória que os stalinistas e cobras-criadas do Poder Central, ajudados por artes jurídicas e legislativas estão conseguindo: fazer tudo voltar a zero. Os envolvidos no grande crime de ataque à democracia ‘burguesa’ estão sorrindo, cumprindo uma ordem da direção: ‘Sorriam sempre, façam o ‘V’ da vitória que Maluf sempre ostentou, façam-se de despreocupados que tudo se ajeitará!’ Os comunistas e falsas virgens d’antanho descobriram, maravilhados, a tática malufista da negação infinita como, aliás, notou Marcelo Coelho na Folha. O malufismo tomou conta do petismo. Trata-se de, em nome de um emaranhado de dogmas que eles chamam de ‘causas populares’, ostentar um cinismo indestrutível, com a conivência meiga do cara-de-pau máximo, o ex-símbolo popular que se revelou incapaz de governar e capaz de manobrar piadas e carismas para ocultar as verdades mais óbvias. Lula ousa dizer que vê ‘leviandades e insinuações nas CPIs’.


Diante disso tudo, estou enojado. A grande mentira está derrotando a imprensa e adoecendo os homens de bem que romanticamente achavam que o Brasil poderia se modernizar. Os safados acreditam que o País não tem condições de suportar a delicadeza da democracia. E como o socialismo é impossivel (eles remotamente suspeitam), partiram para o mais descarado populismo para reeleger o Lula de qualquer maneira. Nada prova nada. Tudo fica impune e tudo marcha para a desconstrução do País que o período democrático conseguiu melhorar, apesar deles.


São hábeis os stalinistas. Convencem a população de que o ‘Caixa 2’ é crime menor. E até a imprensa morde a isca e tenta provar que ‘Caixa 2 é crime maior sim’, quando não se trata de caixa 2 maior ou menor, pois a dinheirama não veio de caixa 2 nenhum de campanha, veio de assalto programado aos cofres de estatais e fundos de pensão, de acordos milionários com empresários antes e depois das eleições, de superfaturamentos, de campanhas publicitárias fajutas, de empréstimos falsos em bancos, de dinheiro mandado a dólar-cabo para o exterior para pagar despesas aqui. O burocrata bochechudo com barbichinha Berzoini, truculento empregado do Dirceu, declarou: ‘Não devemos ser hipócritas. Caixa 2 é muito comum na política do País!’ Genial. Ele confessa um crime falso, exatamente como o marido que confessa à esposa ter papado uma garota de programa para esconder que tem uma amante há anos. O Land Rover, o apartamento da esposa de Dirceu, coisinhas assim, fazem parte do mesmo plano – dar anéis sem valor para manter os dedões ladrões. Não podemos cair nesse conto do vigário, santo Deus!


Outro dia escrevi um artigo irado (alguns reclamaram), mas aqui vai outro, pois a situação atual é um insulto a todos nós, da imprensa ou não. É um insulto vermos o regresso do Brasil a um passado pré-impeachment do Collor, a todos os vícios que pareciam suprimidos pela consciência da sociedade civil. Estamos descobrindo que não dispomos de instrumentos para modernizar o País – tudo parece ter uma vocação para a marcha-à-ré em direção ao atraso. Só nos resta reafirmar as convicções ‘sem provas’ para contrariar as mentiras deslavadas. O óbvio está berrando à nossa frente.


É óbvio que o crime contra Celso Daniel é a matriz sangrenta de tudo que veio depois. Não digo que o PT matou o prefeito, claro, mas que esconde o crime para esconder as motivações e esconder o esquema do tradicional ‘caixa 2 revolucionário’ instalado em todas as prefeituras do PT, fato sabido desde a denúncia daquele romântico Paulo Vensceslau, que foi expulso do partido pelo Lula. Sabemos que tudo que os irmãos de Celso Daniel dizem é pura verdade e que o resto é o crime de ocultação, ‘em nome do povo’. Sabemos que gastaram quase um bilhão do orçamento para comprar votos e eleger o pau-mandado Aldo para a Câmara, assim como sabemos que Delúbio Soares será expulso do PT, aquele empregado da direção suprema do partido, que é acusado de ter feito tudo sozinho. Delúbio – talvez até com seu heróico consentimento de tarefeiro obediente – será queimado vivo para salvar os chefes, na melhor tradição do stalinismo e do Carandiru.


Claro que haverá renúncias dos deputados, encomendadas pelo Lula, claro que não houve empréstimo nenhum do Banco Rural para o PT, como sabe até o vice-presidente Alencar, atual evangélico e ilustre coroinha de Edir Macedo (Salve-nos, oh santa Maria chutada pela Igreja Universal!…). Claro que sabemos tambem que ninguém empresta US$ 20 milhões a um partido sem fundos , com o distraído aval de ‘genoinos e valérios’, claro que todos sabem que o dinheiro está lá fora, tudo acertado antes e que aqui é só a lavanderia. Claro que há infinitas provas de tudo que está acontecendo, na melhor forma do direito, através das ‘provas indiciárias’, como ensinou o jurista Miguel Reale Jr. Claro que bancos públicos e privados demoram em entregar documentos, dando tempo para falsificações e para o esquecimento. Claro que Lula, Dirceu, Gushiken, Gilberto Carvalho, todos da executiva do PT e do governo sempre estiveram a par de tudo.


E dizem: ‘Sempre foi assim…’ Não. Nunca foi assim. Houve uma ‘revolução’ na sordidez nacional. Jornalistas, uni-vos!’



José Nêumanne


‘O panorama visto de cima do tapume ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 19/10/05


‘Um dia destes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, na Fiesp, o ‘denuncismo sem conseqüências’ que assola o País. Sua Excelência mesmo teve de abrir mão de seu ‘fac totum’, o gerentão e articulador-mor de seu governo, José Dirceu, atualmente réu em processo de quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara. E mais: o presidente dessa Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), segundo nome na eventual substituição do chefe do governo, teve de renunciar ao mandato, acusado de cobrar propina do concessionário de restaurantes da Casa; o presidente nacional afastado do PTB, Roberto Jefferson (RJ), foi cassado; e o ainda presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e os ex-líderes do PT Paulo Rocha (PA) e do PMDB José Borba (PR) pularam fora do barco antes de vê-lo afundar. O líder da oposição no Senado, Artur Virgílio (PSDB-AM), relacionou mais de cem vítimas do tal ‘denuncismo sem conseqüências’.


Depois de envergar um quimono para subir num tapume, o chefe supremo do governo federal reuniu a bancada do PT, seu partido. À boca pequena, dizia-se que apelara para que 7 dos 13 ‘cassáveis’ renunciassem para amainar a crise e, em compensação, teriam garantida legenda para tentar reeleição. O apelo foi negado, nunca por ele próprio, que, aliás, aproveitou a oportunosa ensancha para, com magnanimidade e absolutismo imperiais, perdoar os nobres companheiros que, segundo ele, erraram, mas não se corromperam. Acreditar na eficiência da renúncia (na prática, confissão de culpa) como solvente da indignação da sociedade contra seus representantes suspeitos de corrupção é apostar tudo na memória curta coletiva e insultar a inteligência da população. Ser condescendente com parlamentares acusados de vender idéias e posições por saques no ‘valerioduto’ é muito mais grave, pois pressupõe a convicção da própria natureza divina, adicionando à condição de infalível (que nunca erra) própria de único e supremo juiz do erro alheio. É como se, na condição de papa da fé petista, lhe fosse facultado decretar: ‘Nunca erro, portanto, posso perdoar os erros de vocês.’


Autorizado por esse cânone de pontífice máximo, o novo presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), cuja habilidade já fora demonstrada no Ministério da Previdência, ao impor aos idosos provarem em filas quilométricas que existiam, tipificou o ‘erro’ dos companheiros – receber e repassar ‘recursos não contabilizados’, ou seja, caixa 2, chamada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de ‘coisa de bandido’ – como ‘ilegalidade eleitoral’, por sinal, ‘algo muito comum na política brasileira’. Isso depois de a Polícia Federal ter fornecido à CPI dos Correios documentação suficiente para provar que o pretexto usado para rebaixar o crime de corrupção para o de sonegação fiscal não passou de uma farsa absurda. A deputada Denise Frossard (PPS-RJ), com a experiência de quem mandou para trás das grades os delinqüentes do jogo do bicho no Rio, já advertiu que caixa 2 é um expediente de burla do Fisco por empresas e nada tem que ver com o que o PT confessou e atribuiu aos adversários. Nada disso, contudo, fez Berzoini, autor da curiosa distinção entre ‘caixa 2 do Bem’ e ‘caixa 2 do Mal’, arredar de sua posição ‘contra o linchamento de lideranças’ e de sua recusa em agir ‘como carrasco, aceitando a discriminação contra o PT como dado da realidade’.


Um dado de tal realidade foi o surto de febre aftosa em Eldorado (MS), que, além de dar um prejuízo bilionário ao País, compromete a posição de destaque assumida pela pecuária brasileira de líder mundial na venda de carne bovina. A culpa, segundo garantiu Lula em Portugal, é dos donos de rebanho que não vacinam seu gado (ainda bem que ele não inculpou as reses infectadas!). O truísmo acaciano (apropriadamente usado perto de Póvoa do Varzim, cidade de Eça de Queiroz, criador do Conselheiro Acácio, símbolo do óbvio reiterado), se insere mais uma vez neste quadro de negação da própria responsabilidade e sua transferência para algum incauto à vista. Pois, diante da evidência de que as verbas para a defesa sanitária animal foram negligenciadas (contingenciadas, como se diz no jargão burocrático), a reação do em última instância responsável pela lambança foi apenas e simplesmente negar. ‘É uma coisa impensável, num rebanho de 582 cabeças (onde houve o foco da doença), você imaginar que uma coisa que ia custar R$ 800 poderia ter sido causada por falta de dinheiro’, disse, com sua lógica, de fazer corar qualquer estátua de Aristóteles, omitindo, não se sabe se por não saber ou se por ter certeza de que ninguém mais sabe, a obviedade ululante (que, no caso, muge) de que os R$ 800 que faltaram em Eldorado fazem parte dos milhões de reais que teriam de ser destinados a manter o rebanho sadio, mas foram reduzidos por absoluta falta de critério de um grupo de burocratas que corta tudo o que não seja financiamento das próprias ‘boquinhas’, por não terem idéia de como deveriam gastar esse dinheiro.


A falta de nexo entre os fatos e o panorama que Lula e o PT vêem de cima do tapume tem uma lógica maligna. Não lhes causa a menor mossa o prejuízo do agronegócio, pilar hígido da frágil economia nacional, pois bois não votam e seus donos não são em número suficiente para ameaçar seu projeto de reeleição. Importa, de fato, é nunca faltar dinheiro em programas assistencialistas como o Bolsa-Família, que hoje beneficia 7 milhões de famílias e pertinho da eleição, daqui a um ano, atenderá a 12 milhões. O total dessas famílias, cujos votos estão sendo comprados com dinheiro tomado do contribuinte, não bastará para garantir sua permanência no poder. Mas já representa um bom lastro, que explica a quase incolumidade de sua imagem, apesar da crise: efeito Teflon também se compra. José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde’



CRISE & INTERNET


Luís Nassif


‘Blogs, fóruns e intolerância ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/10/05


‘A disseminação da internet, dos blogs (nos quais o leitor pode se manifestar) e das listas de discussão trouxe novos pontos para a análise da representação da sociedade civil no novo mundo virtual. Em países de democracia madura, esse fenômeno significou avanços significativos no desenvolvimento de novas formas de representação e controle do Estado, complementando a democracia convencional -na qual o eleitor é chamado a se manifestar apenas de tempos em tempos. O espanhol Manuel Castels escreveu obras seminais sobre o tema.


Mas como fica a opinião pública brasileira nessa nova era tecnológica? A classe média midiática -consumidora do chamado jornalismo de opinião- passou a se consolidar no Brasil há muito pouco tempo, porque muito recente é a urbanização brasileira, e parte relevante do período foi tomado pelo regime militar.


Hoje em dia, ter opinião sobre tudo e sobre todos passa a ser um imperativo do cidadão moderno. Mas colocar-se onde, em um mundo de tal complexidade, com tantos temas sendo apresentados e exigindo que o leitor se posicione? Esse dilema torna a opinião pública média bastante suscetível a posições radicalizadas -porque simplificadoras- e a movimentos de manada. Ficar a favor da onda formada confere poder à ‘minha’ opinião, mesmo que não tenha nada de mais substancioso para fundamentá-la.


O maior desafio da mídia é como administrar as demandas desse bicho caprichoso que não chega a ter uma ideologia, que se move por impressões e procura sempre ficar a favor do vento e que trata a ‘sua’ opinião como se fosse uma propriedade particular, intocável. Se o bicho quer sangue, deve-se atendê-lo? Se quer atropelar direitos individuais, deve-se saciá-lo?


O Brasil é uma sociedade com várias camadas arqueológicas. Uma das práticas mais arraigadas, herança das camadas mais anacrônicas, é a idéia da polêmica como um combate de gladiadores, em que vale qualquer arma, do sofisma à desqualificação do oponente, e sempre ter que ter um vitorioso de um lado e um adversário destruído do outro. A boa polêmica não traz vitoriosos. Há o contraditório, a apresentação de argumentos e contra-argumentos e, no final do processo, tem-se as duas partes confluindo para pontos comuns.


Nesse cenário, o que se observa é a fantástica capacidade dessas novas mídias de disseminar esse espírito de intolerância, quando o ambiente é de intolerância; da mesma maneira que disseminou a representatividade em democracias mais maduras.


Recebo e-mails de leitores escandalizados com manifestações de intolerância em fóruns de discussão, com ofensas postadas em blogs, com radicalizações de toda espécie. Os leitores que se chocam, em geral, são os mais bem informados, mas nem tenho idéia de quantos são estatisticamente.


Talvez o Brasil se constitua no primeiro exemplo a se contrapor a essa idéia da internet libertária e democratizadora. E as eleições do próximo ano vão acentuar esse espírito de intolerância.’



REFERENDO NA MÍDIA


Esther Hamburger


‘Há algo de insuficiente na imagem grave do referendo ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/10/05


‘A campanha para o referendo sobre o controle de armas vem surpreendendo. O ‘não’, ou, é sempre bom lembrar, o apoio ao comércio de armas, cresce. Apesar do apelo razoável de inúmeras lideranças profissionais, artistas, articulistas e políticos.


Depois de meses de drama político no Congresso Nacional, a consulta popular sobre a proibição da venda de armas, também uma iniciativa do Parlamento, adquire um sentido diverso daquele imaginado por seus idealizadores. Técnicos no assunto, em tom muito razoável, fornecem dados que justificam o ‘sim’. Uma policial militar em particular me sensibilizou. Artistas que costumam colaborar também emprestam seu tempo e sua imagem para a causa justa.


Talvez diante do desenrolar da crise política, mas também de acordo com tendências internacionais, o apelo incisivo dos apoiadores do ‘não’, nas propagandas gratuitas no rádio e na televisão, fala de maneira contundente a um mundo onde o comércio de armas é central -na ficção e na realidade.


Depois de mais um capítulo no desgaste das instituições públicas, quem acredita que o Estado será capaz de dar conta de sua tarefa mais básica que é a segurança?


Indústria privada


No documentário ‘Violência S/A’, de Eduardo Benaim, Jorge Saad Jafet e Newton Cannito, que a TV Cultura oportunamente exibe hoje à noite, é possível tomar contato com uma variedade de tipos cuja vida se desenvolve em torno da segurança privada.


Diferente da maioria dos documentários que tratam do tema, ‘Violência S/A’ aborda vítimas da violência urbana -em geral brancos de classe média alta- e suas diversas estratégias de defesa. Simpáticos profissionais ligados ao comércio de carros blindados, sistemas de circuito interno de vídeo, militantes do uso privado de armas, uma sensual trabalhadora da segurança privada indicam que vivemos em um mundo que há muito legitimou o comércio da segurança. O legendário coronel Erasmo Dias tem mais uma chance de dar o seu recado.


A ironia com que a voz do narrador em ‘off’ comenta o universo retratado no filme procura sugerir que essas técnicas só contribuem para acirrar a violência. No filme como na campanha há algo de insuficiente nessa voz grave.


Para além da conjuntura brasileira, a campanha do ‘não’ sensibiliza os que reconhecem uma sociedade em que um galã como Brad Pitt pode interpretar um herói matador privado profissional, em ‘Sr. e Sra. Smith’. Aliás, a personagem que aparece na penumbra em ‘Violência S/A’ bem poderia ter se inspirado na mulher, também matadora, do personagem de Pitt.


Há um certo clima hobbesiano no ar. A incapacidade que as instituições públicas revelam em exercer sua autoridade na defesa da vida dos cidadãos legitima a busca de soluções bélicas individuais. Ao menos para quem pode pagar o aparato.


Não é à toa que também, ao contrário do que se esperava, os adeptos da liberdade de comercializar armas, de acordo com a pesquisa do Ibope, são em larga medida pessoas de alto grau de escolaridade e nível de renda.


Esther Hamburguer é antropóloga e professora da ECA-USP’



Keila Jimenez


‘Cast da Globo evita militância’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/10/05


‘Tempo de votação, tempo do ‘melhor não’ na TV. Muitos artistas da Globo estão se negando a dar seu posicionamento em entrevistas com relação ao referendo sobre o desarmamento alegando que a emissora pediu ao seu cast que evite manifestações a respeito.


A intenção da emissora seria impedir a exposição de suas estrelas na discussão sobre a proibição ou não da venda de armas no Brasil. É a mesma postura adotada pela casa em temporadas de campanha eleitoral.


A Globo costuma proibir nesse período a participação de políticos, candidatos ou de qualquer profissional envolvido em campanhas políticas em seus programas de entretenimento (novelas, humorísticos e de auditório). Para participarem de campanhas, artistas da rede precisam sair de licença. No caso da turma do jornalismo, é preciso pedir demissão.


Licença foi o caminho seguido por Paulo Betti e Antônio Fagundes quando fizeram campanha para o PT. O mesmo se deu com Patrícia Pillar na época da campanha de Ciro Gomes.


Segundo o diretor da Central Globo de Comunicação, Luiz Erlanger, a Globo não cerceia a liberdade de seus artistas de darem opinião sobre o referendo do desarmamento. A rede apenas pede, como nas campanhas eleitorais, que eles avisem com antecedência caso participem de campanhas, principalmente aqueles que estão no ar atualmente em alguma novela. Nesse caso, a emissora prefere que o artista não se envolva em campanhas para que sua imagem não seja confundida pelo público com a do personagem do folhetim no ar.


No caso de Xuxa, Luciano Huck, Fernando Montenegro e Marieta Severo, que estão participando da campanha, foi comunicado à Globo com antecedência que eles seriam garotos-propaganda do ‘sim’ no referendo.’


 



30 ANOS SEM VLADO


O Estado de S. Paulo


‘São Paulo homenageia Herzog’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/10/05


‘Culto na Sé domingo faz parte dos atos de 30 anos de sua morte


O culto ecumênico celebrado sob enorme tensão política na catedral da Sé, no centro de São Paulo, no dia 31 de outubro de 1975, em memória do jornalista Vladimir Herzog, será repetido no domingo, 23 de outubro, como ponto alto dos eventos que marcam os 30 anos da morte sob tortura do jornalista, no DOI-Codi do II Exército.


À frente do culto estarão dois personagens daquela tensa celebração – o cardeal d. Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel. O terceiro celebrante será o pastor presbiteriano Elias Andrade Pinto (o reverendo James Wright, terceiro concelebrante de 1975, já morreu).


No ato, se apresentará um coral de mil vozes. Uma extensa programação para rememorar a data foi elaborada por uma comissão comandada por Audálio Dantas, que era presidente do Sindicato dos Jornalistas em 1975, e integrada por vários colegas de Vlado, presos com ele à época.


Esta semana, espetáculos teatrais em cartaz em São Paulo farão leitura de um texto lembrando Vlado. No dia 22, sábado, será aberta a exposição ‘Caderno de Anotações – Vlado, 30 anos’, simbolicamente instalada na Estação Pinacoteca, onde era o antigo DOPS. Ela exibirá intervenções de 35 artistas plásticos em cadernos de anotações do tipo usado pelos jornalistas. Hoje será inaugurada, no Sindicato dos Jornalistas, exposição de fotos sobre Vlado e o período em que ele foi assassinado.


Quinta-feira, na Sala São Paulo, haverá um concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em memória de Vlado. No dia 23, o Coral de Cantores dará um abraço na Catedral da Sé, com apresentação do coral na escadaria, pouco antes do ato religioso.


Desde a semana passada está acontecendo o Ciclo de Cinema Vladimir Herzog, com filmes sobre o período militar nos cinemas Cinesesc (rua Augusta) e Galeria Olido. O Senado, a Assembléia Legislativa e a Câmara Municipal de São Paulo programaram sessões solenes em homenagem a Herzog.


Estão sendo lançados dois livros sobre Vlado. Um deles é Dossiê Herzog, de Fernando Pacheco Jordão, lançado em 1979, e que será relançado com atualizações no dia 19, também no Sindicato dos Jornalistas. Outro é Meu Querido Vlado, de Paulo Markun, que será lançado no dia 9 de novembro, mas chegará antes às livrarias.’