Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 25 de agosto de 2006
ELEIÇÕES 2006
Os bobos da Corte
‘Os artistas que agora levantam a bandeira do descaso à ética para justificar seu apoio à candidatura do presidente Luiz Inácio da Silva à reeleição não fazem bem a si nem ao candidato que defendem, e fazem muito mal ao País, pois emprestam sua popularidade ao mau combate.
Lançam diatribes aos políticos, associam-se às justas críticas ao Congresso, mas, tangidos pela pressa de justificar suas posições sem se dar ao trabalho de encontrar argumentos consistentes, não percebem que estão para a classe artística assim como mensaleiros e sanguessugas estão para a classe política.
O festim que reuniu nesta semana em torno do presidente Lula atores, produtores, cineastas e músicos não poderia ter resultado mais diabólico.
Um verdadeiro espetáculo de equívocos, a começar da convocação do ator José de Abreu aos presentes para uma saudação a gente denunciada pelo procurador-geral da República como integrantes de uma ‘organização criminosa’, passando pelo lançamento do lema ‘política só se faz com mãos sujas’, de autoria do ator Paulo Betti, tendo como ponto alto a declaração do músico Wagner Tiso de condenação aos indignados com os escândalos.
‘Não estou preocupado com a ética do PT, ou com qualquer tipo de ética’, disse Wagner Tiso, informando ao respeitável público que só está preocupado ‘com o jogo do poder’.
O festival de alienação, irresponsabilidade social e analfabetismo político teve sua culminância no dia seguinte, quando o produtor Luiz Carlos Barreto rasgou de vez a fantasia: ‘Se o fim é nobre, os fins justificam os meios’, afirmou. Para ele, ‘inaceitável é roubar’. E acrescentou: ‘Mensalão não é roubo, é jogo político.’
Ao senhor Barreto parece não ter ocorrido que o dinheiro do mensalão não brotou em árvores; saiu de empresas estatais – algumas das quais lhes financiam os filmes – ou de bolsos privados em troca dos serviços prestados por tráfico de influência no serviço público. É roubo, portanto.
E, ainda que não fosse, é corrupção, é desvio moral, é dissolução de costumes, é agressão ao preceito constitucional da probidade e da impessoalidade no serviço público, é a negação de princípios indispensáveis às sociedades democráticas e civilizadas.
Se são essas as companhias com as quais o presidente da República pretende se apresentar ao setor cultural, pobres dos artistas, pois já tiveram como porta-vozes gente de convicções mais altivas.
Cabe apontar que muitos dos que estiveram com o presidente no inacreditável encontro condenaram as opiniões dos colegas. Estavam ali de maneira legítima, emprestando apoio ao candidato que consideram o mais adequado para presidir o País e com o qual têm afinidades políticas.
Um exemplo foi o ator Tonico Pereira. ‘Não achei legal o que eles disseram. Se você não pensar nisso (a defesa da ética como valor de conduta) como possibilidade, então é melhor desistir, eu persigo a ética na política.’
A convicção de Paulo Betti sobre o imperativo das mãos sujas como prática aceitável, bem como a defesa do vale-tudo em nome da causa nobre feita por Luiz Carlos Barreto ou a preocupação exclusiva com o ‘jogo do poder’ manifestada por Wagner Tiso mostram total menosprezo pelos esforços de aprimoramento nos quais se engaja a verdadeira vanguarda cultural, social e política do Brasil e avalizam toda sorte de mazelas que infelicitam e atrasam o País.
Além de corroborarem a suspeita de que para certo tipo de gente ética só é boa como marketing eleitoral.
A classe artística está, agora, em situação semelhante à da banda saudável da política: obrigada a reagir se não quiser se confundir.
O problema se apresenta mais grave aos partidários de Lula que o apóiam não porque mandam às favas a moralidade, mas porque concordam com ele, consideram-no o melhor candidato, avaliam positivamente seu primeiro mandato e o vêem como capaz de fazer um bom segundo governo.
Oásis
A decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro de avançar para além da jurisprudência de aceitar todo e qualquer tipo de registro de candidatos processados antes da condenação final é sinal de que nem tudo está perdido.
Enquanto artistas – tradicionalmente um grupo de vanguarda – defendem o atraso e levantam a bandeira do menosprezo à ética, a Justiça Eleitoral vai assumindo a dianteira no processo de depuração.
Falta, no caso das impugnações de candidaturas, a confirmação pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ontem, o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, já adiantou de certa forma que a tendência é o tribunal negar os recursos.
Foi ele, na verdade, a fonte de inspiração para as decisões dos juízes regionais. Em palestras feitas nos tribunais locais, o ministro Marco Aurélio transmitiu a eles a impressão de que poderiam seguir o rumo do rigor, pois suas sentenças teriam abrigo na instância superior.’
SANTA CATARINA
Grupo RBS compra concorrente em SC
‘O grupo gaúcho RBS vai incorporar o jornal A Notícia, de Joinville (SC), a partir de setembro. O negócio, anunciado ontem, é mais uma etapa da expansão do grupo, com sede em Porto Alegre e ramificações em Santa Catarina, Paraná, Rio, São Paulo e Distrito Federal. O A Notícia era o principal concorrente do grupo em Santa Catarina. Antes de assumir a gestão do jornal, a RBS lança, dia 28, seu terceiro diário em solo catarinense.’
WALL STREET JOURNAL
‘WSJ’ reduz espaço para cotações
‘O Wall Street Journal anunciou ontem que vai reduzir drasticamente suas tabelas com cotações de ações. A direção do jornal disse que vai retirar das tabelas boa parte das ações de pequeno valor incluídas nas tabelas diárias. As tabelas completas continuarão a ser publicadas apenas na edição de fim de semana. A justificativa do jornal para o corte nas tabelas é que as pessoas já conseguem essas informações via computador.’
TELEVISÃO
Xixi no ar faz sucesso
‘O vídeo do depoimento polêmico de uma senhora em Páginas da Vida, um dos mais acessados do site www.youtube.com (mais de 52 mil acessos), ganhou anteontem um forte concorrente. Até a tarde de ontem, mais de 10 mil internautas tinham acessado imagens do programa Mais Você de terça-feira, em que um cachorrinho Poodle faz xixi no ar nas costas da apresentadora Ana Maria Braga.
Ana, que fazia uma entrevista sobre cães em sua atração, soltou no estúdio alguns poodles enquanto conversava com os respectivos donos dos animais. Eis que um dos cachorros resolve levantar a perninha nas costas da apresentadora, para diversão do personagem Louro José, que não perdoa a gafe e até pede para reprisá-la. ‘Por isso que estava sentindo que tava esquentando’, brinca Ana.
A apresentadora cai na gargalhada e não consegue seguir com o programa, para desespero da dona do cão.
O portal de vídeos YouTube tornou-se uma verdadeira febre e os vídeos ligados à TV estão entre os mais acessados. Vídeos antigos, como um de Silvio Santos levando um banho em uma gincana em seu programa, já teve mais de 80 mil acessos.
entre-linhas
Topa Ou Não Topa, o game show com apresentação de Silvio Santos, se consagra como o mais novo sucesso do SBT. Durante a noite de quarta-feira, das 22h às 22h54, o programa deixou a concorrência para trás e garantiu a vice-liderança com 17 pontos de média e picos de 20.
Para quem é fã de Lost, o canal pago AXN leva ao ar amanhã, das 14h às 20h uma maratona do seriado. Serão apresentados os cinco últimos episódios da segunda temporada desta série.
A Record vai mexer em breve em sua programação vespertina de segunda a sexta. A emissora vem perdendo com freqüência em ibope para a RedeTV!, o que preocupa a direção.
Os assinantes do Premiere Futebol Clube pela Sky terão uma novidade neste fim de semana. Poderão votar por controle remoto em enquetes promovidas durante o Brasileirão.
A novela Rebelde, que entra em sua segunda fase no SBT, vai virar seriado. Ao que tudo indica, Silvio Santos continuará exibindo os frutos da atração, que rende ótima audiência.
A TVA argumenta que também oferece um canal HBO só de séries, temporário, feito aqui anunciado outro dia como se fosse cereja exclusiva da Net.
Enquanto não alcança a vice-liderança no ibope, a Record vende bem, no momento, o fato de ser a segunda maior produtora de novelas do País.’
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Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 25 de agosto de 2006
ELEIÇÕES 2006
A margem de Alckmin
‘É O BORDÃO mais repetido desta campanha. A cada nova pesquisa, ‘crescem as pressões dos aliados’ para que Geraldo Alckmin avance sobre a jugular de Lula no capítulo corrupção, hoje marginal na propaganda do tucano. Não convém descartar a hipótese de Alckmin ceder no desespero -e será esse o termo se, em dez dias, os números permanecerem no patamar atual. Mas, até o momento, o candidato não dá sinal de mudança -falar grosso em eventos para públicos específicos é uma coisa; alterar o roteiro do programa de televisão, outra bem diferente. Ele finge que ouve os reclamantes -vide a recente visita a Cesar Maia- e segue fazendo tudo a seu modo. Revela-se menos maleável do que imaginavam seus padrinhos Tasso Jereissati (PSDB) e Antonio Carlos Magalhães (PFL). De cristianização a lulismo, há de tudo um pouco no coro de descrédito que cerca a campanha de Alckmin, inclusive compreensível indignação da parcela mais informada do eleitorado oposicionista. A novela em exibição no horário gratuito passa ao largo do mensalão e demais escândalos. Quem sabe o que aconteceu tem a impressão de estar diante de um caso de delírio coletivo ao ver Lula, livre de contestação, dar lições de ética aos adversários. Com a perspectiva de um único turno mais concreta a cada dia, aliados de Alckmin exigem providências. O problema é que talvez não exista nada de muito diferente a tentar. Sair batendo pode ser a pá de cal, que o diga Mercadante (comentário de entrevistada em pesquisa qualitativa sobre o programa do petista em São Paulo: ‘A gente nem sabe quem ele é, e ele já vem falando mal do outro’). Nem toda campanha negativa dá errado. Mas Lula conta com uma blindagem que torna qualquer operação desse gênero mais arriscada. Os responsáveis pela propaganda de Alckmin conhecem bem a reação refratária, quase arisca, de eleitores lulistas ou mesmo indecisos diante de referências pejorativas ao presidente ou da simples menção aos escândalos. Com margem de manobra assim estreita, a campanha tenta: a) dizer ao eleitor que tudo bem gostar de Lula; b) apresentar a ele um outro candidato ‘que também é bom’; c) mais adiante, sugerir que Alckmin pode fazer melhor. A questão ética entra nessa equação de forma subjacente, na esperança de que o eleitor tenha perdoado Lula, mas não esquecido, o que permitiria ressuscitar a rejeição. Vai dar certo? Chance pequena. Mas Alckmin, como todo candidato, quer ganhar a eleição, se for possível, ou, plano B, sair da campanha maior do que entrou (conhecido nacionalmente e com votação razoável). Seu negócio não é queimar navios.
RENATA LO PRETE é editora do Painel’
Débora Yuri
Classe artística repercute e reprova desprezo à ética de lulistas
‘O reconhecimento do músico Wagner Tiso e do ator Paulo Betti, segundo quem a política se faz sujando as mãos e a ética deve ser minimizada no exercício do poder, provocou mais reações, principalmente de reprovação, por parte da classe artística.
Apoiadores de Lula, os dois afirmaram não se importar com o mensalão e desprezaram a ética na política. Ontem, Betti enviou carta à Folha, na qual diz afirma que apenas fez uma constatação, sem dar aval a nenhuma prática.
O novelista Aguinaldo Silva, tucano e autor de ‘Senhora do Destino’, foi crítico. ‘O Paulo Betti e o Wagner Tiso estão falando besteira. Eles estão se envolvendo com a merda e, quando você se envolve com a merda, você acaba sujo’, afirmou. ‘Mas não sei se contesto o Paulo Betti. Esses artistas acham que são obrigados a ter uma posição política.’
O certo é que a desilusão com o jogo político não se espalhou apenas entre os petistas -alguns tucanos também falam em desencanto. Diz Aguinaldo: ‘Eu sempre votei no PSDB, até descobrir que as pessoas do PSDB estão pairando acima do próprio país que elas querem governar. Não interessa se é PSDB, PT. Todos eles estão na sua trip pessoal de poder’.
‘Mais tucana que petista’, a atriz Nívea Maria enveredou pela mesma linha: ‘Em todos os partidos há pessoas que prestam e que não prestam, com caráter e sem caráter. Nunca fui petista, mas torci para que o governo do Lula desse certo’. Ela condenou Betti. ‘Eu me surpreendi porque o Betti tinha dito que nunca mais falaria de política. Isso é sinal de que ele realmente optou por se afastar da arte’, disse.
O ator Ney Latorraca, ‘tucano sempre’, retrucou a declaração de Betti de que ‘não dá para fazer [política] sem botar a mão na merda’. ‘Essa gente lutou tanto pela democracia… Não sou conivente com a afirmação dele, existem políticos e políticos, mãos e mãos. Isso vai estar na biografia dele, mas não quero julgar o meu colega, como não quero que o meu colega me julgue’, disse.
Mesmo o bloco dos ‘apolíticos’ reagiu. ‘A gente vive num país hipócrita, todo mundo está acostumado a fazer coisas erradas. Cada povo tem os políticos que merece. Nós precisamos ter um pouco mais de ética, e eles também’, disse a apresentadora Maria Paula, 35, do ‘Casseta e Planeta’.
Casada com o músico João Suplicy, filho da ex-prefeita Marta e do senador Eduardo, ela evitou criticar Betti e Tiso. ‘Cada um tem a sua ética, cada um faz o que dá pra fazer. Faço trabalho social na Rocinha. Sou apolítica, nunca fui ligada ao PT, mas tenho orgulho de fazer parte dessa família. A Marta nunca foi acusada durante os escândalos, e o Eduardo é o cara mais ético do mundo.’
A atriz Elke Maravilha, que se diz anarquista, ficou indignada com as declarações da dupla de artistas lulistas. ‘Meu Deus, que horror! Eu tenho 61 anos, mas sou romântica, quero consertar o mundo. Levei um susto, conheço o Betti e ele fala uma coisa dessas. E o Wagner Tiso? Meus conterrâneos estão mal. Gente jovem ser burra tudo bem, mas velho ficar burro?’
Elke fez um discurso em defesa da ética. ‘Nunca fui petista, nunca brinquei disso. Sei que não devo explorar ninguém, não devo puxar o tapete de ninguém. Não preciso segurar uma bandeira. Todos os ‘ismos’ nunca funcionaram’.’
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Autor muda personagem pró-candidata
‘O autor da novela ‘Páginas da Vida’, Manoel Carlos, pode ter problemas com a legislação eleitoral, caso coloque no ar a personagem juíza Tereza (interpretada por Renata Sorrah), que, segundo o próprio autor, foi inspirada na juíza Denise Frossard (PPS), candidata ao governo do Rio, conforme revelou anteontem o ‘Painel’ da Folha, editado por Renata Lo Prete.
O autor disse que já cogita a hipótese de mudar a personagem ou mesmo tirá-la da história. Ele afirmou que não permitirá que sua novela seja usada para fins de propaganda pró-Frossard.
De acordo com a sinopse original da novela, a juíza Tereza seria uma combatente do crime organizado, que, após sofrer uma ameaça de morte, passaria a andar armada. Renata Sorrah fez aulas de tiro para o papel.
A Lei Eleitoral, no capítulo que versa sobre propaganda eleitoral, diz que é vetado às emissoras de rádio e TV ‘veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente’.
O TRE do Rio declarou que, ‘até o momento, nenhum partido se manifestou contra a veiculação da personagem’. Portanto, a assessoria do tribunal afirma que, até o momento, o assunto é apenas ‘hipotético’.’
TODA MÍDIA
É a economia…
‘E a economia, de uma hora para outra, já não vai tão bem. Nas manchetes dos portais e da Folha Online, ontem à noite, ‘Carga tributária sobe e bate recorde’. Foi de 35,88% do PIB em 04 para 37,37% em 05.
Mas a carga não foi a pior notícia do dia, para Lula. Outra manchete, desde a manhã na Folha Online e depois na escalada do ‘JN’, era ‘Desemprego atinge maior taxa em 15 meses e renda cai, diz o IBGE’.
Na observação do blog de Jorge Moreno, sob o título ‘A dança dos números’, ‘se os astros não ajudam Alckmin, agora também não estão ajudando Lula’.
SOB VARA
Só a Globo para tirar do papel o tal Gabinete de Gestão Integrada de Segurança Pública. Tirar e manter. Ontem à tarde, lá estava um repórter, ao vivo, do lado de fora:
– Nesta segunda reunião do GGI, o governo do Estado entregou às autoridades federais números de contas [do PCC]. O Ministério da Justiça pedirá bloqueio imediato. Uma nova reunião foi marcada para semana que vem.
De quebra, a Globo deu a seguir, como quem não quer nada, que ‘a penitenciária federal de segurança máxima tem 171 vagas’. No ‘JN’ , o recado foi ainda mais claro.
Ontem na home do ‘FT’, ‘São Paulo mostra o caminho’
DE DIADEMA
O editor para a América Latina do ‘Financial Times’ fez reportagem especial, abrindo a série Planeta Urbano. Sob o título ‘São Paulo mostra o caminho para civilizar uma megacidade’, tratou de… Diadema. Tomou a cidade, ‘gerida pelo PT por mais de duas décadas’, como modelo:
– A transformação de Diadema, de favela perigosa para um estável bairro de operários, é parte da ampla mudança nas cidades da América Latina… Em Diadema pelo menos, a sensação é que São Paulo está virando uma página…
LONGE DO HOLOFOTE
O ‘Valor’já cobre conversas de Lula para o ‘eventual segundo mandato’. Coisas como ‘vai tentar distender o relacionamento com o PSDB de Aécio Neves e José Serra’. Até ‘pretende procurar Serra’.
No PMDB, ‘conta manter boa relação com Jarbas Vasconcelos’ e dar ‘um papel a Jader Barbalho, longe dos holofotes’. Renan Calheiros e José Sarney estariam cobrando ‘uma área do governo, integralmente’. E Nelson Jobim para ministro da coordenação política. No palácio.
ORKUT E CRIME
Marcelo Oliveira, assessor do Ministério Público Federal, envia e-mail sobre a nota ‘Nem na China’, ontem, sobre o conflito com o Google:
– Na China, o Google aceitou a censura do governo… Entretanto, nossa questão com o Google não é desse gênero. O Orkut abriga criminosos que estupram crianças e divulgam ódio contra negros, anti-semitismo etc. Como o procurador da República Sergio Suiama destaca, a questão ‘é o acesso aos dados, e não onde estão armazenados’.
O PEQUENINO
Nem desemprego nem segurança nem campanha. Na primeira manchete do ‘JN’, na voz de Fátima Bernardes, ‘o pequenino Plutão deixa de ser considerado planeta.
E em primeiro lugar nos ‘+ lidos’ da Folha Online, o ‘Rebaixamento de Plutão não altera seu simbolismo em mapas astrais. Já para Tutty Vasques, no Nomínimo o ‘Rebaixamento acende a luz vermelha no Corinthians: não tem essa de não cair só porque é grande, não, meu’.’
INTERNET
AOL faz parceria com estúdios e oferecerá filmes
‘DA BLOOMBERG – A AOL, divisão de internet da Time Warner, fechou uma parceria com estúdios como o 20th Century Fox e a Universal para oferecer filmes entre seus vídeos on-line.
O download dos filmes custará entre US$ 9,99 e US$ 19,99, informou a AOL. Após o download, os filmes poderão ser assistidos off-line, em outros computadores pessoais ou dispositivos portáteis.
A AOL está incorporando filmes a seu site, que já oferece episódios de programas de TV e videoclipes, para atrair usuários e anunciantes. Mas a empresa está entrando em um mercado que já tem várias opções nos EUA. A CinemaNow e a Movielink são algumas empresas que já oferecem filmes on-line.
Os estúdios que formarão a parceria com a AOL são a Fox, a Universal, a divisão de vídeos domésticos da Sony e a Warner.’
TELEVISÃO
Globo terá manual para novelas e jornais
‘A Globo decidiu elaborar um manual com princípios e normas para a produção de novelas e telejornais. O documento, numa iniciativa inédita na TV, poderá ser transformado em livro. Funcionará como auto-regulamentação e como resposta ao Manual de Classificação Indicativa, do Ministério da Justiça.
O manual da Globo será uma atualização ampliada dos ‘Princípios Globo de Qualidade’, documento de dez páginas instituído em 2001, que traz as orientações fundamentais da rede, como princípios éticos, missão e responsabilidades.
Os ‘Princípios’ (que determinam, por exemplo, que atores que estão no ar não podem aparecer no horário eleitoral) serão revistos por uma comissão criada por Octavio Florisbal, diretor-geral. ‘Será um trabalho de fôlego, que levará vários meses para ser concluído. Estamos na fase de montagem do projeto’, diz Florisbal.
Se vier a ser publicado, o documento irá incorporar o manual de telejornalismo, que já existe. A Globo também estuda publicar em livro só o seu manual de telejornalismo.
Ao contrário do manual do Ministério da Justiça, o da Globo não deverá ter orientações sobre o que pode e o que não pode conter cada faixa de horário. Os executivos da Globo não vêem a classificação indicativa com bons olhos, porque, além de ser uma espécie de intervenção externa, ‘engessa’ o conteúdo e ‘limita a criação’.
CANETADA 1 O ministro Hélio Costa (Comunicações), que tem sido um ‘pai’ para as TV em geral, deu um jeito no mais novo problema de rede do SBT, que acaba de perder suas afiliadas em Maceió e Aracaju para a Record.
CANETADA 2 Em portarias publicadas ontem no ‘Diário Oficial’, Costa concedeu dois canais para o SBT, um em cada cidade. Mas a situação da rede nas duas capitais ainda é precária: os novos canais poderão apenas retransmitir o sinal gerado em São Paulo. Não poderão ter programação e publicidade locais.
É PROIBIDO CHIAR Um apresentador da Band recebeu uma advertência por ter falado mal da emissora no intervalo de seu programa. A reclamação foi gravada.
CADEIRA VAZIA 1 A TV Cultura finalmente fechou as datas das entrevistas com os presidenciáveis, que terão meia hora cada, no programa ‘De Olho no Voto’ (19h50). Serão de 11 a 15 de setembro.
CADEIRA VAZIA 2 Todos os candidatos confirmaram presença, menos Lula _que, depois do sofrível desempenho no ‘JN’, acabou não indo à entrevista no principal telejornal da Rede TV!, que seria na última segunda.’
Rafael Cariello
Ernesto Varela está de volta!
‘Boa parte da imprensa brasileira ainda se acostumava com a liberdade de expressão, no início dos anos 80, quando o apresentador e jornalista Marcelo Tas, então com 23 anos, resolveu levar a idéia a sério e encarnou o repórter de óculos de aros vermelhos Ernesto Varela.
O personagem reaparece em projeções de vídeo na peça-palestra ‘A História do Brasil Segundo Ernesto Varela – Como Chegamos Aqui?’, que estréia hoje no Tucarena, em São Paulo. Varela mostrava que a grande conquista da liberdade era a possibilidade de fazer ‘perguntas óbvias’ e desconcertantes às figuras públicas. Está lá, como atração do espetáculo, por exemplo, a entrevista em que interpela Paulo Maluf, questionando se ele é corrupto.
Tas afirma que a idéia da peça surgiu após começar a fazer ‘um circuito de palestras’ por universidades, em que apresentava os vídeos. ‘As pessoas diziam que eu estava contando a história do Brasil. Pensei que podia dar uma ‘turbinada’ nessa palestra, e virou uma peça.’
A HISTÓRIA DO BRASIL SEGUNDO ERNESTO VARELA – COMO CHEGAMOS AQUI?
Onde: Tucarena (r. Monte Alegre, 1.024, SP, tel. 0/xx/11/3670-8455)
Quando: qui., às 20h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 26/11
Quanto: R$ 30 (qui.); R$ 40 (sex. a dom.)’
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Varela retorna em ano eleitoral frio
‘No dia 25 de abril de 1984, ao chegar ao Congresso Nacional para acompanhar a votação da emenda Dante de Oliveira, ponto culminante da campanha das Diretas Já, o jornalista e apresentador de TV Marcelo Tas percebeu que no crachá que lhe daria acesso ao plenário era outro o nome que aparecia: Ernesto Varela.
O funcionário do Legislativo tinha entendido tudo. Afinal, Varela, o personagem que fazia ‘perguntas óbvias’ e desconcertantes a políticos e celebridades, criado no ano anterior por Tas em parceria com o hoje cineasta Fernando Meirelles, já havia se tornado àquela altura uma espécie de repórter-símbolo da redemocratização.
Mais de duas décadas depois, num ano eleitoral que desperta quase nenhum entusiasmo, suas entrevistas e reportagens históricas reaparecem na peça-palestra ‘A História do Brasil Segundo Ernesto Varela – Como Chegamos Aqui?’, que trará, após as sessões da próxima quinta-feira, convidados para debaterem o país. Já estão confirmados Meirelles, o publicitário Washington Olivetto e o filósofo Roberto Romano.
O ano de surgimento do repórter, que fazia suas matérias para a TV Gazeta (SP), na companhia do câmera Valdeci (Meirelles), foi o mesmo das primeiras manifestações públicas favoráveis às eleições diretas para presidente da República no país.
Um dos mais antigos vídeos na peça é de 27/11/1983, quando a dupla filmou em frente ao estádio do Pacaembu o primeiro ato paulistano do movimento. Lá estavam, mais jovens e saudáveis, petistas como Luiz Inácio Lula da Silva, Marta e Eduardo Suplicy -este nem tão saudável assim, já que, recém-acidentado, era empurrado pela então mulher numa cadeira de rodas. A eles todos Varela perguntava: ‘Qual é o prazer da política?’.
Lula responde que o prazer é que o povo participe, Marta diz não saber exatamente por que, afinal, tem que dividir com a política seu marido, e Suplicy, bem, Suplicy, enfaixado, pede para Varela, por favor, ‘não bater aí nas minhas costas, porque é um dos lugares em que está doendo’.
A pergunta se torna mais simples e óbvia num dos primeiros encontros registrados entre Varela e Paulo Maluf, que se repetiria várias vezes dali por diante, quando o repórter pergunta ao então candidato da situação à Presidência da República se, como dizem, ele de fato é corrupto. Maluf, de cara amarrada, abandona o entrevistador sem lhe dar resposta.
‘Perguntar para o Maluf se ele é ladrão é uma pergunta óbvia. O Varela sempre faz perguntas muito simples e óbvias’, diz Tas. ‘Não valorizamos o óbvio. Às vezes é ele que traz as maiores revelações.’
Contrastes
A comparação, inevitável durante a peça, entre aqueles anos que conjugavam esperança e informalidade, de um lado, e um ranço autoritário de poderosos de ocasião, resquício militar, do outro, e os anos que correm, de desesperança na política, faz Tas falar com respeito até de quem era o inimigo público nº 1 da época. ‘Maluf não mudou muito. É candidato de novo e um exemplo de perseverança impressionante. Perto desse cinismo de hoje, de mensaleiros e sanguessugas, ele é um homem coerente.’
Resquícios do militarismo ainda se faziam sentir em 1986, quando Varela entrevista Nabi Abi Chedid, deputado e cartola da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que fica irritado com a interpelação de Varela sobre política e o acusa de ser um mau patriota.
De outro lado, a nos basearmos na entrevista que o repórter da Globo Tonico Ferreira concede a Varela durante comício das Diretas em São Paulo, a informalidade também era grande, e profissionais de grandes veículos da mídia e da imprensa pareciam lidar com desenvoltura com os constrangimentos de seu ofício.
Comentando seu passado em ‘jornaizinhos’ alternativos na faculdade, Ferreira é questionado por Varela: ‘E agora?’. ‘Agora eu faço o jornalão da situação’, responde.
Para outra pergunta ‘simples’ de Varela, sobre o fato de a Globo não ter ‘divulgado tanto’ o movimento pró-Diretas até aquela data, Ferreira é, mais uma vez, direto, afirmando que se trata de uma ‘decisão da empresa’. A Globo havia escolhido ‘não cobrir’ até aquele comício, ele diz.
ISTO É VARELA
‘Valdeci, vamos tomar cuidado que esses homens daqui a pouco vão ser muito importantes aqui no Brasil’
para seu câmera, Fernando Meirelles, em 84, ao lado do palanque das Diretas Já, em São Paulo, logo depois de ter entrevistado FHC
‘O sr. acha que a beleza física do sr. prejudicou-o nesta campanha?’
para Maluf, depois de mais uma campanha e de mais uma derrota
‘Governador, qual foi a última vez que o sr. foi ao cinema?’
para o então governador de São Paulo, Franco Montoro
‘Acho que foi na semana passada’
respondeu Montoro
‘O que o sr. assistiu?’
retruca o repórtes
‘Eu fui… [pausa] Aquela fita famosa… [pausa]’
diz o ex-governador
‘Deputado, o sr. acredita no que diz?’
para o deputado federal Nelson Marchezan, que havia dito que representava ‘o povo que sofre’
‘O sr. é brasileiro?’
para Nabi Abi Chedid, vice-presidente da CBF
‘Uma pergunta futebolística para encerrar a entrevista: qual a sua próxima jogada?’
para Nabi Abi Chedid, de novo
‘Atrás de quê os pilotos de Fórmula 1 estão correndo?’
para Nelson Piquet
‘Atrás da grana, meu amigo. Atrás da grana’
respondeu o piloto’
Marcos Augusto Gonçalves
Boa tentativa de renovar o jornalismo
‘Faz bem Marcelo Tas em criar meios para divulgar o seu repórter Ernesto Varela. Talvez para alguns que tenham convivido com o personagem em sua época, quando o país transitava, aos trancos e barrancos, do regime militar para a democracia, a volta de Varela possa ter um sabor passadista. Mas o fato é que as performances de Tas revistas hoje adquirem renovado interesse.
De um lado, pela oportunidade de reencontrar o ambiente político daquele período, no qual transitavam figuras que vieram a desempenhar papel crucial na vida pública democrática do país -casos de Fernando Henrique Cardoso e Lula. De outro, pela qualidade do repórter, um achado que deve ser visto com um ‘case’ da TV e do jornalismo no país.
Varela pertence a uma turma que foi atraída pelas então novas tecnologias do vídeo e pela idéia de renovar as formas de expressão do jornalismo televisivo, surradas por anos de ditadura. Foi uma turma forte em São Paulo, que deu frutos bastante interessantes.
A grande estrela veio a ser Fernando Meirelles, diretor, ao lado de Kátia Lund, de ‘Cidade de Deus’, filme que já vai se consolidando como um dos marcos do cinema brasileiro.
Marcelo Tas conseguiu com seu Varela criar um jornalismo autoral tenso, bem-humorado e informativo, que merece ser visto pelas novas gerações e revisto pelos que o acompanhavam naqueles tempos.’
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