Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Artur Xexéo


‘Não vou dizer que dei barrigadas de riso, que mal pude conter minha extrema felicidade. Afinal, aprendi, desde pequenininho, a não chutar cachorro morto. Pensando bem, não chuto cachorro vivo também. Mas deu para entender o sentido da coisa, não deu? Pois é. Ao ver na primeira página do jornal o casal Matheus associado à palavra ‘inelegíveis’, assim mesmo, no plural… tá bom, eu confesso, dei barrigadas de riso, mal pude conter minha extrema felicidade. E a primeira coisa que me veio à mente foi o ditado popular: ‘Quem pariu os Matheus que os embale.’ Se não é assim, é muito parecido com isso. Como não tenho nada a ver com o parto que deu ao nosso estado dona Rosângela e seu consorte, Tony, não pretendo embalá-los. Mas sei que não faltará quem o faça com talento e disposição.


Cassia Kiss, por exemplo, que já se mostrou tão empolgada com o crescimento do Estado do Rio e o trabalho ímpar do nosso casal de governadores – é um casal de governadores, não é? – já deve até ter ido consolar a dupla. E Deborah Secco, que ficou tão entusiasmada com a ‘volta para cima’ provocada pela dupla, também já deve ter ido prestar sua solidariedade no Palácio Laranjeiras. E Sandra de Sá, enfim, é a pessoa ideal para embalar os Matheus. Um bom embalo é feito com música. E ela canta tão bem o jingle de Tony e Rosângela que, certamente, saberá usar sua voz numa canção sobre a ‘injusta’ inelegibilidade. A única coisa que está faltando é essa gente toda vir a público dizer o que está achando da decisão da justiça eleitoral de Campos. Afinal, mesmo com cachê – pelo parecer da Justiça, sem cachê os Matheus não conseguem nem votos – eles deram seu apoio ao casal pelo rádio e pela televisão. Numa situação difícil como esta que a governadora e o primeiro consorte estão enfrentando, é natural que o povo queira saber o que a trupe de apoio tem a dizer. E não pode demorar muito.


***


Há muito de preconceito no protesto de Lygia Bojunga Nunes contra a lonjura do Riocentro, nestes tempos de Bienal do Livro. ‘O Riocentro é inadequado’, disse ela em fórum de debates na Bienal. ‘É longe, caro, um recanto privilegiado que não aproxima o livro do público, só afasta.’


Talvez seja caro mesmo: R$ 10 não é pouca coisa para quem quer levar toda a família para a festa. Mesmo assim, é mais barato que um ingresso de cinema. Agora, longe? Longe de onde, cara pálida? Talvez o Riocentro seja longe de Santa Teresa, aprazível bairro onde mora a escritora. Mas é perto de Jacarepaguá, Curicica, Madureira, Vargem Pequena, Recreio dos Bandeirantes e, com boa vontade, de Santa Cruz, Campo Grande, Guaratiba… Bem, destes últimos bairros, pelo menos, o Riocentro fica mais perto do que a Letras & Expressões. Na verdade, o Riocentro só é longe da Zona Sul, região que tem livraria à beça. E perto de muitos bairros que não abrigam uma livraria sequer. Elitista? O que afasta mais o público do livro: o preço (um livro de Lygia Bojunga de 140 páginas custa R$ 20) ou a lonjura do Riocentro?


***


Na verdade, escritores brasileiros que vão à Bienal mal conhecem a Bienal. Não estou dizendo que este seja o caso de Lygia Bojunga Nunes. Mas é muito comum o escritor chegar no Riocentro em carro com ar-refrigerado alugado pela organização do evento. Ao desembarcar na entrada VIP, bem longe das filas, das bilheterias e dos ingressos a R$ 10, eles são encaminhados para a sala VIP, onde encontram seus pares, uma bebidinha, alguns salgadinhos, e ficam ali até serem encaminhados, num carrinho que circula pelos salões, para um compromisso em algum estande. Dão autógrafos, conversam com outros pares, encontram alguns leitores e, findo o compromisso, voltam para o carrinho, para a sala VIP, para a saída VIP, para o carro alugado e, enfim, para o sacrossanto lar. No fundo, no fundo, quem a Bienal está afastando do livro é o escritor.


***


Ainda o fascinante mundo dos escritores brasileiros. Lygia Fagundes Telles também andou emitindo declarações bem estranhas. Vencedora do Prêmio Camões de cem mil euros pelo conjunto de sua obra, ela não parece muito satisfeita. ‘Estão me transformando em uma nova milionária literária’, queixou-se na casa do editor Paulo Rocco. ‘Estou preocupada. Brasileiro lida mal com essa coisa de milhões.’


Agora, me explica, num país em que escritores sempre reclamam de não conseguir viver de literatura, Lygia ganha um prêmio de R$ 300 mil e não quer ser considerada uma nova milionária literária? É a mesma quantia, por exemplo, que Sílvio Santos está oferecendo ao gordo que emagrecer mais no novo reality show do SBT. Convenhamos que o prêmio de Lygia é muito mais digno. E essa história de que ‘brasileiro lida mal com milhões’… não sei, não, mas acho que quem lida mal com milhões é só a Lygia Fagundes Telles.


***


Nesta sexta-feira estréia uma surpreendente comédia brasileira nos cinemas: ‘Bendito fruto’, primeiro filme de Sergio Goldenberg. Um filme simples, despretensioso, engraçado, sensível, profundamente carioca e com um elenco – Vera Holtz, Zezeh Barbosa, Otavio Augusto e Lucia Alves à frente – impecável. É de sair do cinema cantando.’



Dora Kramer


‘Atitude de garotinho ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/05/05


‘A reação de Anthony Garotinho à sentença da juíza Denise Appolinária já teria soado suficientemente imprópria fosse fruto apenas da manifestação de um secretário de Governo, duas vezes prefeito de Campos e ex-governador do Rio de Janeiro.


Adquire intensa gravidade, entretanto, quando quem diz o que ele disse a respeito da conduta pessoal da juíza, qualificando-a como ‘terrorista’ e ‘tendenciosa’, postula nada menos que a Presidência da República.


Pudéssemos classificar a reação do ex-governador – e da governadora Rosângela Matheus, também irada por ser considerada inelegível em sentença de primeira instância – de ingênua, certamente poderíamos evitar chamá-la de desrespeitosa e de cunho autoritário frente a uma decisão da Justiça.


Mas, por mais que a reação cólera e, esta sim, politicamente incorreta, tenha tido o condão de atrair sobre o casal uma onda de revolta e antipatia, Garotinho foi tudo menos ingênuo.


Revelou, antes, sofrer de mal assemelhado – e acentuado – ao que acomete também seu adversário o presidente Luiz Inácio da Silva: desapreço a formalidades, descuido com as palavras, presunção de autoridade absoluta e desconsideração pelo discernimento alheio.


Não são atributos que o ajudem a firmar junto ao eleitorado a imagem de que poderia vir a suceder Lula na chefia da Nação com chance de desempenho pessoal diferenciado – para melhor.


Ao contrário, do atual presidente da República já ouvimos muitas e nem sempre boas. Mas, afrontas a decisões da Justiça dele não vimos quando, por exemplo, foi condenado pela Justiça Eleitoral a pagar multa por uso indevido do cargo na campanha de Marta Suplicy à reeleição na Prefeitura de São Paulo. A Advocacia-Geral da União recorreu da sentença e ficamos por aí dentro dos limites da legalidade e da legitimidade.


Também o Supremo Tribunal Federal até recentemente tomou decisões contrárias às expectativas do Palácio do Planalto e nem por isso o presidente ou qualquer integrante do governo achou-se no direito de desancar publicamente a reputação dos ministros do STF.


Neste aspecto, Garotinho, tão rápido na formação de conceitos desabonadores a respeito do governo ao qual dá combate na política, mostra-se desde já em desvantagem.


Exibiu-se estouvado, mas não inédito, na resposta, indiferente à evidência de que não reina mais na província, não estava em cenário de disputa política e de que cumpre burilar seu comportamento caso queira mesmo integrar o elenco de líderes políticos de alcance nacional.


Dizem os advogados do PMDB que Garotinho e a governadora Rosângela não tiveram a intenção de ‘ofender’ a juíza. Pois se não foi isso, pretenderam, e conseguiram, agredir a instituição Justiça.


E se não tiveram nenhum dos dois propósitos, pior: não sabiam o que estavam fazendo, ou dizendo, quando a título de defesa buscaram desqualificar a juíza. Desse modo, abrindo mão da batalha no campo racional, aceitaram o pressuposto de que, no caso, contra os fatos relatados na sentença realmente não há argumentos.


Graças aos instrumentos conferidos pela Justiça, o ex-governador e a governadora têm direito a recursos a instâncias superiores e poderão, se reformada a sentença de Denise Appolinária, recuperar as condições de elegibilidade.


O dano político para ambos, porém, está posto. Sem entrar no mérito do arrazoado apresentado pela juíza – que recupera e fixa na memória nacional o que foi a campanha de 2004 no Rio, quando até o gabinete a governadora transferiu para Campos -, a reação de Anthony Garotinho ofereceu ao País um exemplo de como se porta um candidato à Presidência da República frente a uma contrariedade de ordem institucional.


Efeito especial


Se, como dizem vários próceres governistas, a conduta do funcionário dos Correios Maurício Marinho é ‘ato isolado’ e suas acusações fruto da megalomania de um leviano, por que tanta indignação e para quê também a abertura de inquéritos e sindicâncias? Bastaria demiti-lo que a República prosseguiria toda ela proba como querem fazer crer suas excelências.


A agitação em prol da moralidade – ressalvadas as reputações aliadas – é proporcional à necessidade de o governo tentar recuperar, no discurso, o capital ético gasto ao longo de dois anos e meio de gestos de condescendência diante de toda sorte de condutas: das meramente questionáveis às francamente condenáveis.


Pelo gongo


Se na reforma ministerial a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos tivesse ido junto com o Ministério das Comunicações para o PP, como reivindicava a partido, o ônus da corrupção ali descoberta hoje provavelmente estaria na conta do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti.


Inversão


A reunião marcada para hoje entre o presidente da República, a Mesa Diretora e os líderes da Câmara dos Deputados para discutir a pauta de votações é tão adversa ao trâmite institucional quanto seria um encontro dos deputados com o presidente e seus ministros a fim de dividir com eles a tarefa de governar.’



MEA CULPA DA NEWSWEEK


Pedro Dias Leite


‘Pressionada, revista ‘Newsweek’ se retrata ‘, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/05


‘A revista ‘Newsweek’, uma das principais dos EUA, retratou-se ontem de uma nota da sua edição de 9 de maio segundo a qual os interrogadores em Guantánamo desrespeitaram o Alcorão. O texto provocou a ira de afegãos, e a repressão às manifestações deixou 16 mortos no Afeganistão desde o dia 10. A Casa Branca, preocupada com a imagem dos EUA no mundo islâmico, havia feito duras críticas, cobrando a retratação da ‘Newsweek’.


Um parágrafo na revista dizia que uma investigação militar norte-americana havia achado provas de que interrogadores na base de Guantánamo tinham jogado privada abaixo uma cópia do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, para forçar seus prisioneiros a falar.


Os protestos se espalharam pela região por vários países com significativa população muçulmana.


A ‘Newsweek’ que chegou às bancas ontem já admitia que a informação podia não estar correta, mas não era categórica. Numa entrevista, o editor da revista, Mark Whitaker, havia amenizado ainda mais o pedido de desculpas: ‘Não estamos nos retratando por nada. Não sabemos com certeza o que estava errado’.


A publicação da revista ontem gerou uma forte reação dos principais representantes do governo americano, que jogaram todo seu peso contra a publicação. A Casa Branca, por meio do porta-voz, classificou a explicação como ‘incompreensível’.


‘Enquanto a Newsweek agora admite que os fatos estavam errados, eles se recusam a se retratar’, disse o porta-voz de George W. Bush. ‘Existe um certo padrão jornalístico que deve ser mantido. Nesse caso, não foi.’


A secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse que a reportagem ‘fez um grande mal’ às relações entre os EUA e os países islâmicos. O Pentágono também lançou duras críticas à revista.


Na edição impressa, a ‘Newsweek’ afirmou ontem que a fonte que havia fornecido a informação disse que não tinha mais como assegurar que seu conteúdo estava correto. A reportagem gerou uma investigação do governo, que não encontrou o relatório mencionado pela revista. No final da tarde, quando a pressão se acumulou, a revista foi praticamente forçada a se retratar formalmente.


Apesar dos protestos, reportagens anteriores da mídia norte-americana já revelaram uma série de maus-tratos a prisioneiros em Guantánamo e outras prisões operadas pelos EUA.’



Márcio Senne de Moraes


‘Episódio é ‘trágico’ e mina EUA, diz analista ‘, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/05


‘O caso ‘Newsweek’ é ‘trágico’ porque, em razão da irresponsabilidade jornalística, ‘reforça o antiamericanismo e o antiocidentalismo’ e dá ‘crédito aos adversários da democracia no mundo’.


A análise é do sociólogo francês Dominique Wolton, autor de, entre outros, ‘Elogio do Grande Público, uma Teoria Crítica da TV’ (1990) e uma das maiores autoridades européias no estudo dos laços entre a mídia e a política. Leia trechos de sua entrevista à Folha.


Folha – Como o sr. analisa o caso ‘Newsweek’ e a utilização de informações em off (quando a fonte não é identificada) pela imprensa?


Dominique Wolton – Defendo o papel dos jornalistas, pois, quanto maior é a oferta de meios de comunicação, maior é o risco de publicação de textos irresponsáveis. Para salvar o caráter democrático da informação, deve-se permitir que ela seja controlada por jornalistas e exigir que haja mais sensibilidade cultural, para que a mídia ocidental não veicule besteiras.


Os jornalistas responsáveis precisam legitimar as informações e ter cultura político-religiosa para não confundir o que é ocidental com o que é universal. Para ser universalista, a informação ocidental deve assumir seu ‘ocidentalismo’ e perceber que as coisas não são vistas da mesma forma em Nova York e em Cabul.


Por outro lado, a concorrência internacional entre os meios de comunicação é tão forte que, em vez de comprovar as informações mais do que a concorrência, certos jornalistas fazem o inverso, publicando logo suas matérias para conseguir diferenciais em relação aos concorrentes. Assim, as informações em off não são um meio de expandir a informação, mas um modo de tentar bater a concorrência. Aí está o perigo.


Afinal, mesmo o público ‘voyeur’ critica os jornalistas que traem sua confiança. No caso da ‘Newsweek’, há todos esses problemas. Ou seja, jornalistas que propagam o imperialismo cultural anglo-saxão, têm pouca cultura sobre o restante do planeta e vivem num ambiente de concorrência terrível. Trata-se de um caso trágico, pois reforça o antiamericanismo e o antiocidentalismo, além de dar crédito aos adversários da democracia na Terra.


Folha – Como o sr. vê a tentativa do governo americano de controlar as informações veiculadas pela mídia, buscando inclusive saber nomes de fontes não identificadas?


Wolton – O paradoxo dos EUA é que, sobretudo em razão da Guerra do Iraque, que os colocou na defensiva em relação ao mundo, eles vêm negando o que sempre defenderam. O mundo todo vê agora que a mídia americana é como a de outros países. Ela tem problemas e é alvo de restrições.


Afinal, os EUA falam em liberdade de imprensa, mas vêm priorizando a salvaguarda de seus interesses políticos. Trata-se de algo positivo para a democracia, já que relativiza o mito da imprensa livre nos EUA. Com isso, os jornalistas americanos terão de ser menos arrogantes e mais abertos.’



Paulo Sotero


‘Uma nova mancha na reputação da mídia americana ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 17/05/05


‘O pedido de desculpas da Newsweek fez aos leitores, ao Pentágono e aos muçulmanos pela divulgação de um suposto ato de insulto ao Islã no interrogatório de prisioneiros na base de Guantánamo é mais uma mancha na reputação da grande imprensa dos EUA. O tropeço resume-se à não confirmação de uma informação divulgada pela revista, com atribuição a fonte oficial não identificada: a de que militares americanos teriam jogado uma cópia do Alcorão no vaso sanitário e dado descarga, para humilhar um ou mais presos. Embora tenha causado protestos com mortes em vários países, trata-se aparentemente de fato isolado e, nesse sentido, menos grave que a fabricação em série de reportagens por um jovem jornalista do New York Times, Jason Blair, que resultou na queda do diretor e do redator-chefe do mais influente jornal dos EUA e do mundo, em 2003.


Na nota que divulgou, o diretor de redação da Newsweek, Mark Whitaker, deixa aberta a a porta para uma confirmação futura da informação apurada pelos experientes repórteres Michael Isikoff e John Barry e renegada posteriormente pela fonte original, provavelmente sob intensa pressão e de forma que não exclui totalmente a possibilidade de que o fato relatado tenha mesmo acontecido. Nesse sentido, o episódio parece ser menos sério que o uso de documentos forjados pela TV CBS numa reportagem divulgada no ano passado, em plena campanha eleitoral, sobre um fato provavelmente verdadeiro: a falta de pleno cumprimento por George W. Bush das obrigações com o serviço militar, no início dos ano 70. Neste caso, cinco produtores da divisão de jornalismo da CBS acabaram demitidos e o âncora Dan Rather foi forçado a antecipar seus planos para deixar o comando do principal noticiário da rede.


Nos últimos três anos, reportagens forjadas abalaram a reputação de outras publicações de renome, como a revista New Republic e o jornal USA Today. Ao mesmo tempo, o Washington Post e o New York Times fizeram mea-culpa por não terem sido mais insistentes na cobertura dos fatos que antecederam a invasão do Iraque e por terem dado maior destaque a informações sobre o suposto arsenal de destruição em massa de Saddam Hussein, que serviu para justificar a guerra, mas revelou-se inexistente.


Independentemente da seriedade do deslize da Newsweek, seu efeito imediato será o de mais uma derrota da grande imprensa e continuará a alimentar a perda de credibilidade que a mídia tradicional enfrenta hoje entre os americanos. Segundo um levantamento que o Pew Center for the People and the Press faz periodicamente há 20 anos, a proporção dos americanos que acham que a grande imprensa reporta os fatos corretamente caiu de 55% em 1985 para 36% hoje. A erosão da credibilidade da imprensa tem facilitado a estratégia do governo Bush de não reconhecer o papel tradicional dos grandes veículos da mídia como canais de comunicação entre governantes e a opinião pública e negar a importância que eles julgam ter.’



O Estado de S. Paulo


‘Muçulmanos não aceitam retratação da ‘Newsweek’ ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 17/05/05


‘A retratação feita pela revista Newsweek em relação à divulgação de uma informação sobre a profanação do Alcorão durante um interrogatório de presos islâmicos na base naval americana de Guantánamo, em Cuba, não convenceu líderes muçulmanos. A publicação da notícia de que interrogadores americanos de presos lançaram um exemplar do Alcorão num vaso sanitário provocou furiosos protestos no mundo islâmico. Só no Afeganistão, 17 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas. Também houve protestos no Paquistão, Indonésia, Malásia, Índia e territórios palestinos, entre outros.


No domingo, a revista admitiu que sua fonte já não estava tão certa sobre a veracidade daquela informação e expressou solidariedade às famílias das vítimas e também aos soldados americanos prejudicados. Ontem, num comunicado, voltou a retratar-se.


‘Não vamos nos deixar enganar por isso’, reagiu o clérigo afegão Sadullah Abu Aman, de Badajshan, norte do Afeganistão. Ele atribuiu a retratação a pressões da Casa Branca e do Pentágono: ‘Foi uma decisão dos EUA para se salvar. Até um agricultor analfabeto sabe. Não aceitamos isso.’ Aman lidera um grupo de religiosos islâmicos que no domingo deu três dias à Casa Branca para prender e entregar-lhes os militares que profanaram o livro sagrado. ‘Caso contrário, vamos declarar guerra santa aos EUA.’


O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que a revista não cumpriu os mandamentos do jornalismo ao fundamentar-se apenas num informante anônimo que não tinha meios de comprovar a alegação: ‘Isso teve sérias conseqüências. Muitas pessoas perderam a vida e a imagem dos EUA ficou muito prejudicada.’ A secretária de Estado, Condoleezza Rice, também lamentou: ‘A versão da revista causou grande dano aos esforços dos EUA para aproximar-se do mundo islâmico.’’



Folha de S. Paulo


‘Fontes anônimas geram furos e maus exemplos’, copyright Folha de S. Paulo, 17/05/05


‘A história das relações entre a mídia e fontes anônimas do governo americano traz episódios exemplares, como o caso Watergate e os ‘Papéis do Pentágono’.


Watergate é um complexo imobiliário em Washington, onde em 1972 o Partido Democrata, de oposição ao então presidente Richard Nixon, mantinha seu comitê de campanha presidencial.


Um sistema de escuta encomendado pela Casa Branca procurou espionar os adversários. O ‘Washington Post’ investigou o caso até o fim. Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein receberam informações de uma fonte até hoje apenas conhecida pelo pseudônimo de ‘Garganta Profunda’.


Nixon renunciou em 9 de agosto de 1974 para não sofrer o impeachment.


As 7.000 páginas dos ‘Papéis do Pentágono’ foram em parte publicadas em junho de 1971 pelo ‘New York Times’. Eram secretas e esclareciam o envolvimento americano no Vietnã. Deram uma nova interpretação ao incidente do Golfo de Tonquim -ataque a uma embarcação da Marinha no litoral norte-vietnamita. De vítima dos comunistas, o Pentágono surgiu como autor de uma armação.


Os ‘papéis’ empurraram a maioria dos americanos para a oposição à guerra.


Há também maus exemplos de informações anônimas do governo. O ‘New York Times’, em 2003, acreditava que o Iraque de Saddam Hussein possuísse arsenais de destruição em massa. A repórter da área, Judith Miller, foi iludida por informantes do Pentágono. O ombudsman do jornal, Daniel Okrent, comentou o caso em maio de 2004.


Neste ano a revista ‘New Yorker’ disse que os Estados Unidos se preparavam para invadir o Irã. Mas a reportagem de Seymour Hersh estava equivocada. Os preparativos não ocorreram.’



***


‘‘Newsweek’ deve reparar dano, diz Casa Branca’, copyright Folha de S. Paulo, 18/05/05


‘A Casa Branca disse ontem que a revista ‘Newsweek’ deve ‘ajudar a reparar o dano causado’ no mundo islâmico pela publicação de uma nota, em 9 de maio, segundo a qual os interrogadores na base americana em Guantánamo (Cuba) desrespeitaram o Alcorão. A revista já se desculpou pela nota e, anteontem, se retratou. Segundo Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, a retratação é um primeiro passo, e agora a revista deve explicar ‘o que aconteceu e onde errou’. ‘Eles podem ainda falar sobre as políticas e práticas das forças militares americanas, que se esforçam para tratar o sagrado Alcorão com grande cuidado e respeito’, afirmou. McClellan disse, porém, que ‘não está na posição de dizer às pessoas o que elas podem ou não podem publicar’.’



O Globo


‘Sob pressão do governo, ‘Newsweek’ desautoriza formalmente reportagem’, copyright O Globo, 17/05/05


‘Sob pressão do governo dos Estados Unidos, a revista ‘Newsweek’ desautorizou ontem formalmente a reportagem em que afirmara que exemplares do Alcorão tinham sido profanados na base de Guantánamo, em Cuba. A Casa Branca fizera duras críticas à revista por causa dos violentos protestos em países muçulmanos causados pela história, segundo a qual interrogadores jogaram uma cópia do Alcorão na privada diante de muçulmanos em Guantánamo – onde estão prisioneiros das guerras no Afeganistão (2001) e no Iraque. Para a Casa Branca, a reportagem foi imprecisa e prejudicou a imagem dos EUA no exterior. Já o Pentágono a considerou falsa.


Publicada no último dia 9, e baseada em fontes anônimas, a reportagem provocou protestos violentos no Afeganistão – onde pelo menos 16 pessoas morreram – e em países como Paquistão, Índia e Indonésia. Cerca de cem pessoas ficaram feridas nas manifestações.


Para Condoleezza, reportagem causou danos


Na edição da ‘Newsweek’ desta semana, publicada domingo, o editor Mark Whitaker admitiu que a reportagem era imprecisa. Segundo ele, um alto funcionário do governo americano que relatara a profanação do Alcorão disse depois que não estava certo se verificara o fato em documentos. Mas o governo considerou insuficiente a atitude da revista, o que acabou forçando-a a retratar-se mais uma vez, de forma inequívoca.


– É estarrecedor que agora a ‘Newsweek’ reconheça que apurou os fatos erradamente mas se recuse a se retratar. Acho que há um certo padrão jornalístico a ser seguido e que neste caso não foi. A reportagem teve sérias conseqüências. Pessoas perderam a vida. A imagem dos EUA no exterior foi prejudicada – afirmou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.


Durante o dia, Bryan Whitman, porta-voz do Pentágono, afirmara que a reportagem era ‘demonstravelmente falsa’. Já a secretária de Estado, Condoleezza Rice, afirmou:


– Isto causou muitos danos.


No Afeganistão, líderes muçulmanos receberam com ceticismo as reações nos EUA. O clérigo Sadullah Abu Aman não aceitou as explicações. Ele é líder de um grupo que ameaçou convocar uma guerra santa contra os EUA se os interrogadores que supostamente profanaram o Alcorão não forem entregues à Justiça.


– Não vamos ser enganados por isto. Esta é uma decisão dos EUA para salvarem a si próprios. Mesmo um camponês analfabeto sabe disso e não aceitará – afirmou.


Eleito com apoio dos EUA, o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, expressou descontentamento com a ‘Newsweek’ por ter publicado a reportagem ‘sem uma prévia verificação’. Já o governo do Paquistão, outro aliado de Washington, voltou a pedir uma profunda investigação do caso. Apesar do desmentido da revista, o Exército disse manter uma investigação sobre a denúncia.’



***


‘Americanos desconfiam da imprensa’, copyright O Globo, 17/05/05


‘O público americano desconfia cada vez mais da imprensa do país, segundo uma pesquisa da Universidade de Connecticut divulgada ontem. Seis em cada dez americanos entrevistados consideraram tendenciosa a cobertura jornalística nos EUA. Só quatro em cada dez disseram que a mídia está fazendo um trabalho bom ou excelente. Mas sete em cada dez jornalistas qualificaram seu trabalho como bom ou excelente.


Já do Centro de Investigação Pew indicou numa pesquisa recente que 45% dos americanos não acreditam em nada ou quase nada do que lêem nos jornais. Citando esse estudo, uma comissão do ‘New York Times recomendou um plano para reforçar a credibilidade do jornal que incluísse a limitação do uso de fontes anônimas em reportagens.


Na mídia americana, são inúmeros os casos recentes de retratações devido a reportagens relacionadas ao governo. Em maio do ano passado, o ‘New York Times’ admitiu ter publicado informações questionáveis em sua cobertura da guerra no Iraque, baseadas em fontes duvidosas. ‘Não fomos tão rigorosos como deveríamos’, disse o jornal.


Dois meses depois, o ‘New York Times’ fez mais um mea-culpa: reconheceu que errara ao concordar com o presidente George W. Bush que Saddam Hussein escondia armas de destruição em massa. ‘Estávamos errados em relação às armas’ disse.


Em agosto do ano passado, outro importante jornal americano, o ‘Washington Post’, fez uma dura autocrítica a sua cobertura da guerra, considerando-a benevolente demais com o governo Bush. E em março deste ano, o âncora da TV CBS Dan Rather se demitiu depois de admitir que baseara em documentos falsos reportagens sobre supostas irregularidades de Bush para escapar do serviço militar no Vietnã.’



NYT COBRA ACESSO


O Globo


‘NYT’ terá acesso pago a colunas e editoriais na web‘, copyright O Globo, 18/05/05


‘O ‘New York Times’ (‘NYT’) anunciou ontem que vai passar a cobrar o acesso online a algumas colunas e editoriais. O objetivo da medida é estimular o aumento da venda de assinaturas, apesar dos investimentos que o jornal vem fazendo em seu serviço gratuito.


Segundo a holding homônima do ‘NYT’, que controla ainda o jornal ‘The Boston Globe’, o novo produto, TimeSelect, vai ser lançado em setembro e sua assinatura anual custará US$ 49,95. A empresa disse, no entanto, que o acesso online à maioria de suas histórias permanecerá gratuito. A assinatura dará acesso a arquivos do jornal desde 1980.


Empresa comprou site para crescer no setor online


O TimeSelect representa o esforço da empresa para criar novos produtos online, gratuitos e pagos, com o objetivo de estabilizar o incerto mercado de publicidade da versão impressa do jornal.


O ‘NYT’ comprou o site About.com por cerca de US$ 410 milhões no início do ano, justamente para aumentar seu fluxo de anúncios online. A assinatura do jornal impresso dará acesso gratuito aos colunistas na versão online.’