‘HÁ QUATRO MESES ACOMPANHO COM fidelidade canina as desventuras dos personagens de ‘Lost’. Sou um fraco. Foi só ouvir falar, no fim do ano passado, que havia um seriado novo na televisão americana cujo sucesso o estava transformando em fenômeno que já fiquei interessado. Já disse que sou fraco. Fui fã de ‘Twin Piks’ antes mesmo de assistir a um só episódio. Mas aí já era covardia. Afinal, ‘Twin Picks’ era de David Lynch. Em relação a ‘Lost’, esperei ver para crer. E fui conquistado no primeiro capítulo. Entre outros motivos, porque o seriado insinuava que um labrador seria um de seus personagens principais. Além de não resistir a um bom seriado, não resisto também a labradores.
‘Lost’ chegou aqui já com ares de culto. Nesta altura do campeonato, é difícil imaginar que exista alguém que, mesmo sem nunca ter assistido ao programa, não saiba que o seriado acompanha a vida dos sobreviventes de um desastre aéreo – a rota era Sydney-Los Angeles – perdidos numa ilha misteriosa. E bota misteriosa nisso. A ilha, com ares tropicais, é habitada por ursos polares e javalis. Quem se aventura por seus bambuzais ouve sussurros vindos não se sabe de onde. Um monstro, que ninguém vê, ataca os personagens. Com o passar do tempo, descobre-se que há outros habitantes na ilha, talvez sobreviventes de outros desastres.
Os elementos de culto estavam todos ali. Grupos na internet passaram a discutir o que significava aquilo tudo. Todos estão mortos e passam pelo purgatório, diziam uns. Eles foram abduzidos e estão em outro planeta, apostavam outros. São objeto de pesquisa de um cientista maluco…
Tão misteriosos quanto os poderes da ilha são os tais sobreviventes. Um era paralítico, mas passa a andar depois do acidente. Há um ex-integrante de uma banda de rock, uma assaltante de bancos, um médico, um casal de coreanos que não fala inglês (quer dizer, ela fala, mas ele não sabe)… todos aparentando ser uma coisa que, na verdade, não são. Flashbacks tentam esclarecer para o espectador por que cada um estava naquele avião.
‘Lost’ é mesmo bem feita. E pega o espectador pelo pé pela quantidade de mistérios que apresenta. Como numa boa novela, é impossível não se ligar no episódio seguinte para entender porque essa ou aquela coisa aconteceu. O problema é que o capítulo seguinte apresenta novos enigmas e não revela nenhum dos anteriores.
Aqui no Brasil já foram ao ar 16 episódios de um total de 24 produzidos até agora pela TV americana. E nenhum, mas nenhum mesmo, dos enigmas apresentados desde o primeiro capítulo foi solucionado. Sente o drama: você assiste a 16 episódios de uma série de mistério sem desvendar mistério algum. E já deu para perceber que não adianta acompanhar os próximos oito capítulos. Tudo indica que os produtores acreditam que a graça é não solucionar nada mesmo.
Pode ser que os produtores tenham razão e que ‘Lost’ mantenha sua audiência intrigada exatamente porque não resolve nenhuma questão (parece que ‘Arquivo X’ também era assim, mas este não me pegou). Mas desde agora eles podem contar com um espectador a menos.
Acho que 16 capítulos é o máximo que sou capaz de seguir sem saber o que está acontecendo. O 17 não vai contar comigo. Além disso, o labrador quase não aparece, o que caracteriza propaganda enganosa! O assunto é ‘Lost’? Tô fora!’
DANÇA NA TV
Inês Bogéa
‘Série de TV mostra o alfabeto coreográfico do Brasil ‘, copyright Folha de S. Paulo, 20/06/05
‘Tem entidade na roda? ‘Quem tem olho para ver vê’, diz o tocador, seu José, 68, que observa o culto e espera sua vez. Mas a gente precisa de ajuda: ‘Veja o movimento mais intenso daquele e o balançar do outro, olhe os olhos. Ouça o som dos tambores’.
A série ‘Danças Brasileiras’, dirigida por Belisario Franca, com apresentação de Antônio Nóbrega e Rosane Almeida, quer registrar valores da nossa cultura na dança e no canto -onde ‘nossa cultura’ significa uma mistura incomum de marcas da colonização européia com elementos caboclos, africanos, indígenas, ciganos.
A Folha acompanhou a gravação do tambor de mina, em Maiobão, periferia de São Luís (MA). É um culto sincrético, de origem africana, mais conhecido em outros lugares como candomblé ou macumba. O ritual tem várias etapas: matança e ‘arriada’ de oferendas; insensação da casa, ladainha com orquestra e reza de vodum no altar; o culto, toque de tambor. Sempre com intervalos para comida e bebida.
Há também banhos de ‘limpeza’, feitos com ervas e com água guardada nas jarras do Peji, para purificar, curar e preparar o espírito. Pai José Itaparandi, 36, do Ilê Axé Ota Olé (Terreiro de Mina Pedra de Encantaria) explica que ‘como o candomblé, o tambor de mina é uma religião de transe e possessão, na qual entidades são evocadas por cânticos e danças, executadas ao som de tambores’.
Como nota Antônio Nóbrega, manifestações dessa ordem, em sua maioria, acontecem na periferia: ‘Todos os participantes vivem, quando não na miséria, na pobreza […]. O que mais legitima a cultura popular, o que lhe dá transcendência e perenidade, é o universo coletivo’.
Já a importância dos elementos indígenas é ressaltada por Rosane Almeida: ‘Eles têm presença muito marcante nos cocos e no samba de parelha, para ficar só nesses exemplos’.
Nóbrega e Almeida notam que uma única manifestação como essa do tambor de mina de Maiobão já bastaria para se construir um grande vocabulário. A idéia é compreender como as danças se dão, no sentido mais amplo: não só a interação entre linguagem corporal e música, mas a vida de seus fazedores. Com várias etapas do projeto percorridas, fica claro que há uma ‘identidade muito grande entre as várias danças, uma unidade dentro da diversidade’.
Além das danças na TV, a dupla fará posteriormente a estréia do espetáculo ‘Cancioneiro de Dança’. Nóbrega lamenta que os projetos e festivais priorizem hoje a dança contemporânea e a clássica. Quer dizer: ‘O chão para a dança brasileira ainda é de terra batida’. Mas não defende uma transposição direta: ‘Qualquer uma dessas danças, no palco, fica fora do seu habitat. O nosso papel é entender o que existe de substancial nelas’.
Nesse sentido, o projeto dá continuidade a um trabalho desenvolvido desde os anos 70, com o intuito de codificar uma linguagem gestual e corporal brasileira. ‘Provavelmente não seremos nós que vamos realizar esse sonho, essa utopia de que o Brasil, com toda a sua diversidade, ganhe representação enquanto nação. Mas estamos marcando posição.’
A crítica Inês Bogéa viajou a convite da Giros Produções.’
SBT
Cristina Padiglione
‘Pensa que é fácil dirigir o patrão? ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 20/06/05
‘Feito raro no SBT é diretor de programa do patrão dar entrevistas. E não é que César Scarpatto, incumbido dessa missão no Family Feud, ou O Jogo das Famílias, como batizou Silvio Santos, falou ao Estado? À primeira curiosidade de qualquer mortal – afinal, Silvio Santos se permite ser dirigido? – Scarpatto responde que sim: ‘É uma grade parceria’ trabalhar com ele.
‘É uma escola imensa, a gente aprende muito com o Silvio. Ele tinha exatamente na cabeça a forma e a cara que ele queria dar ao produto’, conta Scarpatto. ‘Junto com a equipe da Freemantle (produtora que detém os direitos do formato) fizemos a versão para o Brasil’, fala.
O programa vai ao ar de segunda a sexta, às 19h50, e é um game com prêmios em dinheiro, claro – ou isso não seria Silvio Santos – que prevê um embate de perguntas entre duas famílias. Os clãs (cinco membros cada) se cadastraram pelo site do SBT. Foi também pelo site, segundo o diretor, que a emissora coletou respostas, nas cinco regiões do País, para perguntas simples como ‘cite uma fruta verde’, ou ‘qual parte do corpo você lava primeiro no banho?’ ‘Não são perguntas com a pretensão de informar ou educar, como no Show do Milhão, são questões divertidas’, explica Scarpatto. Por meio de múltipla escolha, a família que mais se aproximar das respostas de maior incidência na pesquisa prévia acumulará mais pontos.
O Family Feud já foi feito em vários países, incluindo o México da Televisa, menina dos olhos do patrão. Aliás, para entender o jogo, as famílias daqui assistem à versão mexicana antes de gravar.’