‘Para os apreciadores do gênero, Zezé di Camargo e Luciano formam uma boa dupla sertaneja, das melhores do país. Agentes da própria carreira, têm demonstrado competência: além da cobrança de cachês invejáveis, incluem nos contratos cláusulas preventivas que costumam livrá-los das armadilhas forjadas por intermediários espertos. Sobretudo, parecem administrar com muita eficácia o patrimônio material amealhado ao longo da carreira bem-sucedida. Estão cada vez mais ricos.
Só enriquece no Brasil quem sabe ser duro na queda, e isso pelo menos Zezé di Camargo, desde sempre chefe da dupla, isso Zezé aprendeu. Essa faceta foi escancarada entre 16 de dezembro de 1998 e 21 de março de 1999, enquanto durou o seqüestro do irmão caçula Wellington José Camargo. Deficiente físico, com problemas de alcoolismo, autor de composições medíocres, Wellington vivia com a mulher num subúrbio de Goiânia quando foi capturado por um grupo de encapuzados. Os capítulos seguintes, desdobrados por 94 dias, incluiriam momentos brutais. E a penosa exposição das fotografias das almas.
Zezé foi logo avisando: não haveria negociação com os bandidos. A polícia cuidaria do caso. Os detetives nativos fizeram as manobras previsíveis. Começaram a soltar, irresponsavelmente, balões de ensaio que a imprensa, também irresponsavelmente, cuidaria de amplificar. O primeiro deles insinuava que a vítima planejara o próprio seqüestro. Nas declarações iniciais, os Camargo famosos pareciam mais irritados com a descoberta do caçula incômodo que com o sumiço de Wellington.
Luciano, que na dupla faz a segunda voz, dessa vez preferiu nem piar. Para mostrar-se descontente com o solista Zezé, viajou para Miami, depois fez um cruzeiro pelas Bahamas. Na volta, refugiou-se na casa dos pais, que se limitaram a lamentos quase inaudíveis. Ouviu-se perfeitamente só a voz de Zezé, sempre ecoada por Emanuel, que completa o quarteto dos Camargo.
– Quero meu irmão de volta – repetia.
E a esse bordão acrescentava, invariavelmente, ressalvas perturbadoras para a gigantesca platéia interessada num final feliz.
– Vivo ou morto – reiterava Zezé. – E quem levou meu irmão precisa saber que não temos tanto dinheiro. Patrimônio é uma coisa, dinheiro vivo é outra.
Quanto queriam os seqüestradores? Nunca se soube com precisão. Imagina-se que acabaram recebendo, como resgate, entre R$ 300 mil e R$ 500 mil reais. O epílogo do drama foi marcado por traços brasileiramente dolorosos. Como o irmão milionário insistia em regatear no preço, o apresentador de TV Ratinho lançou em seu programa no SBT uma campanha para a coleta de contribuições. Mais de 150 mil espectadores enviaram donativos.
Como a polícia insistia na tese de que lidava com criminosos inexperientes, quase amadores, os carcereiros de Wellington resolveram mostrar que não estavam brincando em serviço. Mandaram aos familiares um pedaço da orelha do seqüestrado. Decepado a faca, sem anestesia. E enfim Zezé di Camargo decidiu pagar o que exigiam. Meio milhão de reais, talvez.
Pois foi essa a quantia reivindicada ao Banco do Brasil pela dupla, em busca de patrocínio para turnês. Nas últimas campanhas eleitorais, os cantores se aproximaram de figurões do PT, ficaram amigos até de Lula. Estavam na boca do cofre quando a imprensa descobriu a iminência do negócio, que acabou arquivado.
Para Zezé di Camargo, agora é quase ninharia o meio milhão de reais que não quis trocar pela vida do irmão. O Banco do Brasil deveria topar o contrato proposto pelo artista desde que incluída uma cláusula: entre as garantias estaria uma das orelhas da dupla. Qualquer uma.’
Artur Xexéo
‘Ligações perigosas no show da churrascaria’, copyright O Globo, 28/07/04
‘O triângulo amoroso que envolve o Partido dos Trabalhadores, o Banco do Brasil e a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano talvez esteja se transformando num quadrilátero que impeça um final feliz para a a relação de amor que envolve os outros três. A quarta ponta desta confusão seria a Churrascaria Porcão, de Brasília.
Foi lá, na churrascaria, que deu-se o show dos cantores cuja renda seria convertida para o fundo que junta dinheiro para construir a nova sede do PT em São Paulo. O Banco do Brasil entrou na história comprando 70 mesas do espetáculo (a R$ 1 mil cada uma) e estudando um pedido de Zezé e Luciano para patrocínio de uma turnê. A ética não transformou as ligações perigosas em pentágono.
O empresário da dupla, Rommel Marques, tenta esclarecer a confusão:
‘Como é do conhecimento dos meios de comunicação, o PT (Partido dos Trabalhadores) encontra-se em campanha para aquisição de sua sede própria, motivo por que a dupla se propôs a participar desta campanha (aquisição da sede) mediante a doação de um show que se realizou no dia 08/07/2004, no Teatro Olympia, em São Paulo.
Por outro lado, em cumprimento a um contrato firmado com a Churrascaria Porcão de Brasília, a dupla Zezé Di Camargo e Luciano se apresentou no dia 13/07/2004 para a realização de um show nas dependências daquele estabelecimento comercial, tendo para tanto recebido integralmente todas as despesas previstas em contrato, inclusive o cachê dos artistas, cabendo àquela empresa comercial destinar, da forma que lhe aprouver, os recursos auferidos com a venda dos ingressos. A vinculação que se pretende dar entre esses eventos artísticos e uma proposta de cunho comercial que a dupla Zezé Di Camargo e Luciano apresentou ao Banco do Brasil no início do corrente ano é atitude leviana, uma vez que a dupla não busca patrocínio, e sim um contrato publicitário de cessão de voz e imagem, prática comum com tantos outros atores televisivos, desportistas e artistas de um modo geral, quer seja em comerciais de empresas privadas (cervejarias, indústrias de alimentos, companhias aéreas etc), quer seja no setor público ou mesmo em instituições financeiras, inclusive no próprio Banco do Brasil que vem se utilizando desta prática usual em suas atuais campanhas publicitárias.
O que a dupla propôs ao Banco do Brasil e até o momento não foi atendida é que aquela instituição financeira, caso haja conveniência, também se utilize da imagem e voz destes artistas, tal qual se utiliza de inúmeros outros, para divulgar esse novo produto que está sendo colocado no mercado (Banco Popular), que se encontra atualmente pendente de divulgação junto ao seu público-alvo.
Por último, a dupla quer aqui consignar que em nenhum momento se utiliza ou se utilizou do fato de conhecer personalidades políticas para alcançar privilégios. Ao contrário, combate veementemente qualquer atitude neste sentido.’
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É bom saber que Zezé Di Camargo e Luciano combatem ‘veementemente’ as atitudes de artistas que usam de seus conhecimentos políticos para obter privilégios. Mas não basta dizer que combatem. Eles têm que demonstrar que combatem. Quando optou por fazer campanha pelo PT, a dupla deveria saber que não poderia ir atrás de patrocínio do governo. Tudo bem, não é patrocínio. Não deveriam, então, se oferecer para servir, em troca de pagamento, como garotos-propaganda do governo. São as agruras de quem se expõe politicamente. Zezé Di Camargo e Luciano fazem campanha pelo PT. Agora que o PT é governo, Zezé Di Camargo e Luciano não podem receber dinheiro do governo. Se não for assim, fica a impressão de que o governo está pagando, apesar de com atraso, o trabalho da dupla na campanha eleitoral. Ou então, para tudo ficar claro, a dupla deveria assumir que canta para o governo em troca de cachê e não se fala mais nisso.
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Além de Zezé Di Camargo e Luciano não terem se dado muito bem nessa história, acho que o PT também não vai tirar muito proveito. Afinal, quanto rendeu para o partido o tal show no Porcão? Se a churrascaria pagou o cachê e as despesas dos artistas, se ainda teve que devolver os R$ 70 mil que o Banco do Brasil tinha lhe repassado, quanto sobrou para a construção da nova sede do partido?
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Já há alguns anos vivendo na Bahia, Gal Costa tem planos de sair de lá:
– Moro em Salvador mas estou pensando em ter alguma coisa aqui no Sul. Lá fico muito isolada.
Mas quando Gal fala em Sul, ela se refere ao Rio ou a São Paulo?
– Já morei no Rio por mais de 20 anos. Acho que vou experimentar São Paulo.
É ou não é mais uma prova de que o Rio caminha para a decadência cultural?
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‘Senhora do destino’ tem sido marcante ao escalar atores que estavam afastados da TV. Depois de Neusa Amaral, Reynaldo Gonzaga e Sílvia Salgado, vem aí Terezinha Amayo.’
Andréa Michael
‘Monitoramento é desagradável, diz Casseb’, copyright Folha de S. Paulo, 29/07/04
‘O presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, manifestou ontem indignação com o monitoramento da Kroll do qual foi alvo. ‘Esse tipo de coisa invade a gente, é desagradável. Se encontrarem qualquer coisa, que publiquem tudo. Não existiu nada. Não tenho nenhum motivo para ter qualquer questionamento.’
A invasão de privacidade de que foi vítima, segundo o presidente do BB, seria um tipo de ocorrência que ‘faz com que muita gente competente não queira trabalhar em governo, porque cria uma exposição que desagrada’.
Em seu primeiro pronunciamento público após a divulgação dos relatórios que apontavam a espionagem, Casseb, visivelmente irritado, disse que, na reunião que teve com executivos da Telecom Italia em Lisboa, no ano passado, tratou de ‘assuntos de interesse comum’ ao governo e à empresa, sem detalhar quais seriam os temas abordados no encontro.
Conforme reportagem da Folha, a reunião foi monitorada pela Kroll, empresa contratada pela Brasil Telecom para espionar a Telecom Italia. O caso foi descoberto pela PF em março, nas investigações relacionadas à falência da Parmalat.
Um dos espiões contratados pela Kroll, o português Tiago Verdial, preso no último sábado, recebeu por e-mail a declaração de Imposto de Renda de Casseb.
‘[Tratei de] assuntos referentes a empresas, assuntos de interesse comum [na reunião]. Se eu tivesse que defender interesses de alguém, seriam os da Previ, que é [o fundo de pensão] dos funcionários do BB’, afirmou, logo depois de pronunciamento feito à imprensa, ao final do qual ele disse que não responderia a perguntas.
O questionamento quanto ao assunto tratado com os executivos Nicola Vircchio, Carmelo Furci e Giampaolo Zambeletti, no hotel Four Seasons Ritz em Lisboa, no dia 26 de maio de 2003, foi feito ao final do pronunciamento de Casseb, quando ele deixava o auditório do 20º andar da sede do Banco do Brasil em Brasília.
Casseb integrou o conselho da Telecom Italia até 2000. E foi justamente sobre esse ponto que começou seu pronunciamento de ontem. ‘Eu saí [da Telecom Italia] muito antes [de ingressar no governo]. Eu já não tinha mais nenhum vínculo com a Telecom Italia quando vim para cá, e não tenho nenhum interesse na companhia, nenhum relacionamento com eles’, declarou.
E continuou, agora falando sobre a reunião com os executivos italianos: ‘Recebi a Italia Telecom, como recebi a própria Brasil Telecom -a própria Carla Cicco [presidente da Brasil Telecom] esteve aqui comigo. Eu recebo todas as empresas. Faz parte do meu trabalho recebê-las’.
O encontro em Lisboa, segundo Casseb, se deu porque ele estava na cidade para uma reunião do conselho da empresa de cartões de crédito Visa, do qual faz parte. O BB é o maior emissor de cartões Visa no país, segundo o banco.
‘Eu faço parte do conselho da Via, e estava no hotel, em Lisboa, onde estava se realizando o [a reunião do] conselho. Viagem normal, como outra qualquer. E, em qualquer viagem que eu faço, para o exterior ou para qualquer Estado, você recebe as empresas que tiver para receber. Nada de anormal em nenhuma dessas coisas.’
Casseb encerrou sua fala sobre o tópico relacionado à espionagem da Kroll dizendo que assumiu o cargo para ‘ajudar o Brasil, para fazer alguma coisa pelo país. Não quero ser agredido dessa forma’.’